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Cardeal Müller diz que o Sínodo da Sinodalidade está sendo usado para preparar na Igreja a aceitação de falsos ensinamentos

Trabalhos da primeira assembleia do Sínodo da Sinodalidade
Trabalhos da primeira assembleia do Sínodo da Sinodalidade - Reprodução (Vatican News)

O prefeito emérito da Congregação para a Doutrina da Fé avalia a primeira fase do encontro sinodal no Vaticano.

CIDADE DO VATICANO – O cardeal Gerhard Müller, ex-prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, diz que o Sínodo da Sinodalidade não é uma assembleia episcopal, mas uma reunião sinodal anglicana, e está sendo usado por alguns participantes como meio para preparar a Igreja Católica a aceitar ideologias contrárias às Escrituras e à Tradição.

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Numa extensa entrevista de realizada em 24 de outubro ao NC Register, o Cardeal Müller também alertou que alguns na assembleia estão “abusando do Espírito Santo” para introduzir “novas doutrinas”, como a aceitação da homossexualidade, mulheres sacerdotes e uma mudança no governo da Igreja.

Como um dos 52 delegados escolhidos pessoalmente pelo Papa Francisco para participar das reuniões que ocorreram de 4 a 29 de outubro (a primeira de duas assembleias que serão concluídas em 2024), o cardeal alemão participou de toda a sessão deste mês antes de partir cedo, em 25 de outubro, para ordenar novos sacerdotes na Polônia.

O Cardeal Müller disse que a reunião sinodal foi “muito controlada” e bastante manipulada, com a maioria das intervenções vindo de apenas alguns oradores principais que lhes falaram como se não conhecessem teologia. Disse que ele próprio teve apenas três minutos para falar a toda a assembleia.

Entrevista realizada por Edward Pentin

Eminência, qual foi a sua avaliação geral do Sínodo da Sinodalidade?

Fui convidado pelo Papa a participar, como bispo, como ex-prefeito da Congregação [da Doutrina da Fé], o que já demonstra minha competência teológica. Perguntaram-me qual é a diferença com os antigos sínodos, também em termos de método. É muito claro que, nos antigos sínodos, os bispos eram os sujeitos que lideravam tudo. A sua organização e o seu contributo não vinham de cima.

Nos antigos sínodos, todos os bispos no plenário podiam falar sobre o que quisessem. Agora tudo é conduzido, tudo está pré-organizado, e é difícil falar no plenário porque é pouco o tempo dado e, de acordo com as regras, só se pode falar uma vez, e apenas por três minutos.

O senhor teve apenas uma oportunidade de falar ao plenário, à assembleia plenária?

Sim.

Gostaria de ter falado mais?

Sim, mas não foi possível. Para a próxima parte deste Sínodo, será importante reorganizar essa questão – a fim de dar mais liberdade, mais oportunidades aos bispos para que apresentem as suas ideias. Deve tornar-se mais como um Sínodo dos Bispos, para que os bispos recuperem o seu papel como conselheiros e como testemunhas da verdade revelada.

Houve uma grande ênfase no Espírito Santo neste sínodo. O que o senhor achou disso?

Alguns oradores disseram que devemos estar abertos ao Espírito Santo, mas as vozes do Espírito Santo eram as pessoas convidadas a falar à assembleia. Estas eram as vozes do Espírito Santo, como se fôssemos iniciantes no estudo da teologia.

Foi como no seminário ou na universidade, mas um sínodo não é [uma] escola para iniciantes — e mesmo assim eles estavam falando conosco como se […] os bispos não soubessem muita teologia. Muitos bispos participantes entendiam teologia, mas não puderam falar [do seu conhecimento].

O senhor pode dar um exemplo de como os organizadores do Sínodo entenderam que o Espírito Santo estava trabalhando?

Sim. Um dos oradores designados […], que é influenciado por sua ideologia “LGBT”, falou de um parente que era bissexual e que se suicidou, e a conclusão foi que a Igreja deve estar aberta, não a estas pessoas, mas à ideologia.

Mas a ideologia é que é a culpada pela tragédia. E não podemos resolver questões e problemas teológicos através da emoção. Isto é apenas falar emocionalmente sobre o Espírito Santo.

Disseram-nos também que não deveríamos criar controvérsias, que falar [duramente] contra qualquer coisa não era permitido, pois seria estigmatizado como inimigo do Espírito Santo.

Como eles sabem que este é o Espírito Santo?

Não falam do Espírito Santo, apenas do “Espírito”, mas a Primeira Carta de São João, Capítulo Quarto, no início, diz:

 Caríssimos, não deis fé a qualquer espírito, mas exa­minai se os espíritos são de Deus, porque muitos falsos profetas se levantaram no mundo. Nisto se reconhece o Espírito de Deus: todo espírito que proclama que Jesus Cristo se encarnou, é de Deus; todo espírito que não proclama Jesus, esse não é de Deus.  

Alguns oradores falaram ainda de abertura e definiram o que é a tradição, [dizendo] que ela “não é estática; mas dinâmica.” Todavia, no fim, todas estas ditas reflexões sinodais visam preparar-nos para aceitar a homossexualidade. Só isto. O que não se falou foi sobre Jesus Cristo [ou] da Revelação divina, da graça das pessoas humanas criadas à imagem e semelhança de Deus, e de Deus como fim da nossa existência humana.

Tudo está mudando, de forma que agora devemos estar abertos à homossexualidade e à ordenação de mulheres. Se você analisar, tudo isso diz respeito a nos converter a esses dois temas.

E sobre o governo da Igreja? O senhor acha que também é uma tentativa de derrubar o governo hierárquico da Igreja?

Sim, alguns têm esta imagem de uma “pirâmide invertida” de governo, onde no centro desta pirâmide estaria a vontade pessoal do Papa e dos seus conselheiros e colaboradores. Esta pode ser uma imagem didática para as crianças, mas uma “pirâmide” ou “poliedro” não é uma imagem bíblica da Igreja. Elas são imagens que saem da geometria matemática. Em vez disso, deveriam olhar para as imagens bíblicas da Igreja na Lumen Gentium: o pastor e o rebanho, todas estas imagens de uma vinha e assim por diante.

Alguns oradores tinham uma ideia sociológica da Igreja, uma compreensão naturalista da Igreja, sem ter a compreensão teológica. Eles estão sempre falando do Espírito, mas o Espírito não é um fluido. O Espírito na Igreja é a Terceira Pessoa da Trindade. Ele é uma Pessoa. E nunca podemos falar do Espírito Santo sem o Filho e o Pai. Sempre e em todos os momentos falamos do Espírito do Pai e do Filho.

Quase nunca foi mencionado Jesus Cristo – quando o foi, usou-se da pedagogia de modificar as parábolas e o seu significado: Jesus não condenou a mulher em adultério, por exemplo. As intervenções falaram da nossa relação com Jesus, mas não de Jesus como a Palavra de Deus, dada a nós, uma vez e para sempre.

Até que ponto foram mencionadas a doutrina, a fé e a moral?

Somente nas mesas. Podíamos falar um pouco sobre essas questões, mas apenas por alguns minutos. Foram mais uma coleção de impressões do que um pensamento teológico profundo. Como isso é possível neste contexto? De resto, só havia possibilidade de algumas intervenções, mas tudo era um pouco manipulado e dependia de quem tivesse permissão para fazer as intervenções teológicas – eles que eram os guias espirituais.

Observando para os delegados, muitos deles eram pessoas com cujas opiniões teológicas que Bento XVI e o Papa São João Paulo II discordavam. Qual seria a opinião de Bento sobre este Sínodo?

Um teólogo escolhido para discursar na assembleia falava o tempo todo de Joseph Ratzinger, mas tudo era uma trapaça. Não foi uma verdadeira reverência por ele, por sua teologia. Querem revitalizar o velho modernismo referindo-se a Ratzinger, mas Ratzinger não tinha nada a ver com o modernismo.

São Paulo, por exemplo, falou contra a homossexualidade, mas eles dizem: “Temos as nossas novas percepções, reveladas pelo Espírito Santo”, e assim, a partir de agora, os atos homossexuais ou a bênção dos atos homossexuais devem ser uma coisa boa. É assim que eles pensam. Abusam do Espírito Santo para introduzir doutrinas que são abertamente contrárias às Sagradas Escrituras.

Eles dirão: “Sim, estamos em continuidade. Temos o entendimento correto da Tradição e das Escrituras”, e coisas do tipo, ou ainda, “O tempo todo estamos nos referindo a Jesus Cristo”, mas permanece sendo um caminho opcional, como se Jesus fosse apenas um professor de moral, como Gandhi e semelhantes. Eles nunca dizem ou aceitam que Jesus é a Palavra de Deus que se tornou carne, a Encarnação.  

Um bispo alemão que participou do Sínodo disse aos repórteres durante o Sínodo que é importante colocar Cristo no centro, mas, ao mesmo tempo, “nós precisamos de deixar de lado a Tradição apostólica”. O que ele quis dizer com isso?

Este é um truque que eles estão fazendo. Não estão apresentando diretamente essas ideias, mas enviando pessoas como este bispo para dizer tais coisas. Fazem isso para depois dizerem que é apenas a sua opinião pessoal, quando, na realidade, estão desenvolvendo um entendimento que não é coerente com a fé católica.

Um proeminente bispo alemão no Caminho Sinodal Alemão disse a este sínodo que todos os temas que eles levantaram na Alemanha deveriam tornar-se o exemplo da Alemanha para o mundo. Mas nos últimos anos, a Igreja na Alemanha perdeu um terço dos [seus] membros, tem poucas vocações, e a frequência à missa dominical entrou em colapso. Esse não pode ser o caminho para o futuro da Igreja.

O Papa apelou aos bispos alemães para que se concentrassem na evangelização, mas eles fizeram o contrário.

O que o senhor diz às críticas de que este não é um Sínodo dos Bispos, pois quase um quinto dos participantes são leigos, os quais, pela primeira vez, têm direito a voto? Acha que há um problema com a legitimidade canônica do Sínodo?

Os organizadores do Sínodo reafirmaram ontem que é um Sínodo dos Bispos, mas como pode sê-lo quando os leigos têm a mesma voz, têm o mesmo tempo para falar e diminuem as oportunidades para os bispos [terem] a possibilidade de falar?

Na realidade, não é um Sínodo dos Bispos, mas sim um entendimento anglicano de sínodo, com três câmaras fazendo acordos para um parlamento mundial. Isso não é a Igreja Católica. Eles precisam esclarecer o que é.

A constituição deste Sínodo dos Bispos baseia-se no sacramento da ordem ou é como um seminário de baixo nível?

Vários participantes disseram que o Sínodo pareceu muito controlado.

Sim, muito controlado. Apresentaram uma “Carta ao Povo de Deus” e nos disseram para aplaudir por cortesia, dizendo que era o consenso de todos. O aplauso foi o voto. Eles então levaram a carta para todas as mesas e disseram que todos deveriam assiná-la. Uma mulher ou um homem tirou fotos de todo mundo assinando, e todo mundo estava assinando. Então disseram que tínhamos até as 16h para enviar qualquer emenda – mas primeiro tínhamos que assinar.

O senhor pensou em sair do Sínodo como forma de protesto?

Não.

O senhor ainda vê isso como uma “tomada hostil”, como disse antes do Sínodo?

Não está claro. Eles não dizem abertamente o que querem.

Eles não podem dizer abertamente: “Queremos contradizer a Palavra de Deus”. Mas estão introduzindo uma nova hermenêutica, com a qual querem reconciliar a Palavra de Deus com essas ideologias – ideologias anti-cristãs. Conteudo, não é possível reconciliar Cristo e o Anticristo. Essa ideologia homossexual, “LGBT”, é, no seu cerne, uma ideologia anticristã. É o espírito do Anticristo falando através deles. É absolutamente contra a criação. E o truque deles é misturar a pastoral para com essas pessoas com esta ideologia anticristã. Nós, a Igreja, somos os únicos que respeitamos a dignidade de todos, dos pecadores, das pessoas com problemas em todos os âmbitos. Só que a solução para estes problemas é o caminho de Jesus Cristo. O Bom Médico deve dar o melhor remédio, e não dizer “Está tudo bem”.

É comum que as palavras de Cristo para “não pecar mais” nunca sejam mencionadas e, em vez disso, parecem querer falar principalmente sobre acolhimento.

Eles estão mudando a definição dos pecados. Não existem pecados [para alguns deles]. “São apenas pessoas feridas. Não são pecadores. São pessoas feridas, feridas pela Igreja – pela doutrina da Igreja”. Eles não acreditam no pecado original, ou no pecado como um ato. Eles não negam isso teoricamente, mas na prática.

A Igreja para eles é o agressor, e por isso a Igreja deve ceder – a Igreja é a culpada. Mas o que é a Igreja para eles? Na verdade, eles estão falando de si mesmos. Eles dizem: “Nós somos a Igreja”. Mas se estão falando negativamente da Igreja, então falam da Igreja como um objeto.

O Artigo 11 da constituição do Concílio Vaticano II, Lumen Gentium, diz que a Igreja é o corpo santo de Cristo, e podemos ferir o corpo de Cristo com os nossos pecados. Mas para alguns dos presentes no Sínodo, Cristo está nos ferindo. Se estou roubando seu dinheiro e você me chama de ladrão, para eles é você quem está me ferindo.

Para onde tudo isso está indo? Como será no próximo ano ou nos próximos? Quais serão as consequências disso?

Penso que o objetivo é fazer com que a Igreja se conforme cada vez mais com esta Agenda 2030 internacional . E vemos [isso] na política de quem é convidado a visitar publicamente o Papa. Não são famílias normais com cinco filhos – nunca são convidadas. Não, geralmente são bissexuais, transexuais e assim por diante. E isso tudo é uma provocação – há por trás toda essa propaganda. Não há bispos ortodoxos reunidos com ele, mas o partido do aborto está sempre lá.

Jesus disse para irmos a todo o mundo, a todos, e fazer-lhes discípulos. Ensinar-lhes a fé e batizá-los se aceitarem a fé. Isso significa ir para o mundo inteiro – não convidar o mundo e deixar que todos sejam o que querem ser.

Fonte: National Catholic Register

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