Eis que em seu twitter, o Cardeal Dom Odilo Scherer, responsável pela arquidiocese de São Paulo, fez uma sequência de posts para defender a Missa Nova e o Concílio Vaticano II mediante a denúncia do Abuso Litúrgico que representa a Missa Tridentina. Sim. Para Dom Odilo, a Missa Tridentina é, atualmente, um abuso litúrgico. O que esse prelado tem na cabeça? É o que comentarei.
Se é a regulação do Magistério, então temos direito à Missa Tridentina, pois a mesma foi regulada e canonizada por um Concílio, o de Trento… A não ser que se admita que o Concílio Vaticano II tenha sido uma ruptura com o de Trento, que é justamente o que parece estar sendo admitido aqui, como veremos mais adiante.
Ora, mas a Missa Tridentina não pode ser abrrogada nem proibida, justamente porque o Espírito Santo não é esquizofrênico.
Mas Cristo deixou uma Igreja com poder de disciplinar o rito. E sua disciplina pode tornar-se imutável e perene via magistério ordinário, que é justamente o caso da Missa Tridentina.
O truque aqui é usar “magistério vivo” no sentido de magistério progressista. Heresias nas alturas.
Retiremos o vivo e a frase fica absurda, pois o magistério já definiu a excelência da Missa Tridentina. Alguém ousaria afirmar que o magistério infalível e o Espírito Santo podem ser incoerentes?
Este carteiraço é tanto atrevido quanto absurdo e revelador.
Ora, se tirarmos o “vivo“, veremos que Dom Odilo está em desunião com os concílios anteriores da Igreja, embora pose de unificador. Dom Odilo revela cada vez mais sua hermenêutica rupturista, o que equivale à blasfêmia de dizer, junto com os modernistas, que o Espírito Santo é esquizofrênico.
Mera petição de princípio. Trata-se de um anacronismo, porque a Igreja antes não era tão burocratizada e legalista como hoje. Era mais o espírito que vivifica que dava as ordens, e por isso havia muito mais coesão e unidade litúrgica.
Por outro lado, na Igreja de hoje, temos mais a letra que mata (por mais que se tagarele o Espírito Santo. Aliás, essa tagarelice é justamente sinal de que não está presente, pois Deus é excelente em – como diz o Padre Faber – ocultar se mostrando) e por isso esses carteiraços litúrgicos de Dom Odilo & Cia matam a fé em vez de “enviar o vosso Espírito para renovar a face da terra”. E é por isso que o Novus ordo ao mesmo tempo que carrega o espírito burocratizado e legalista da Igreja após o Concílio Vaticano II, carrega a desunião na própria liturgia que finge querer a unidade e a comunhão. Com efeito, o Novus ordo de São Paulo VI é fonte infinita de desobediência via abusos litúrgicos (e contra fatos não há argumentos).
Se não há nem unidade no próprio rito novo, como pode vir Dom Odilo dar uma de tigrão exigindo unidade e comunhão em torno desse rito?
O Concílio Vaticano II, do ponto de vista político, é o navio quebra gelo para novidades heretizantes. Para que pudesse ser engolido na época, dizia-se ser meramente pastoral (o que equivale aos pecadores impenitentes pedirem tolerância em suas condutas imorais), mas depois essa suposta pastoralidade se transformou em aplicação modernista sob o prisma da mudança de doutrina, onde escândalos são justificados pelos documentos problemáticos do próprio concílio (é quando o revolucionário que pedia tolerância assume o poder e começa a perseguir quem discorde de suas opiniões iníquas).
Vamos a um exemplo recente: Sem mencionar o Arthur Roche que diz que a doutrina mudou e por isso o rito da Igreja mudou, temos em nossas terras a Dom Deixa Geremias Latir dando comunhão a um muçulmano e justificando esse sacrilégio com a Unitatis redintegratio.
Ou seja, de “é só pastoral” passou a ser “é dogmático, e quem critica é católico malvado, desobediente e que não quer a união”… Pena para dom Odilo que esses truques demonizantes contra os críticos – argumentos falaciosos, pois jamais entram no mérito da critica que compara doutrinalmente o CVII com a Tradição – são cada vez menos eficazes. É a verdade que liberta, e não as narrativas protoheréticas.
Então obedeça o Concílio de Trento. Ou não é mais Magistério?
A mentalidade de dom Odilo soa disruptiva: antes do CVII seria magistério morto; depois, vivo. Deve-se obedecer apenas a este último quando em confronto com os anteriores. Sendo assim, é o caso em que o tempo e a novidade acaba tendo um peso maior no discernimento do que a Tradição pura e simples.
O problema para dom Odilo é que essa mentalidade não é católica (mentalidade católica = fé), mas oriunda da heresia protestante da qual bebeu filosoficamente Hegel.
Em certo sentido isso está correto: é o mesmo Cristo presente na Eucaristia.
Porém, em sentido concreto, não. Os recortes foram tantos, a distorção ritualista foi tão acentuada no novus ordo missae, que para um católico honesto em contato com os dois ritos é quase impossível que não se pergunte: por que avacalharam com o rito tradicional em vistas a um rito tão anárquico como é o novo?
A missa nova é inferior em orações, em seriedade, em simbologia, em estética, em percepção sensorial das verdades da fé, enfim, em todos os aspectos sacros.
Mas vou me limitar a falar da questão psicológica. Vamos para a fenomenologia da missa nova!
Em termos psicológicos: a Missa Tridentina transmite virilidade, exala austeridade, posiciona-se com autoridade e favorece a meditação via faculdades superiores; a missa nova é vaidosamente feminina: muita falação, muito desejo de diálogo, muita dissipação emocional e todo um joguete com as faculdades inferiores (sentimentalismo).
Sendo assim – continuando nossa fenomenologia da missa nova – a Missa Tridentina agrada aos católicos que querem progredir na fé, seja homem ou mulher, porque os homens respeitam o que é viril e as mulheres amam a virilidade que as ordena em seus turbilhões interiores. Por outro lado, a missa nova será agradável a quem? Às mulherzinhas mundanas e aos gays não continentes, dado seu caráter igualitarista e participativo (traduzindo: anárquico e dissipativo).
E como a boiolagem tomou conta da hierarquia eclesial, é natural que turma do armário odeie a Missa Tridentina e defenda a Missa Nova.
E aqui só estou no aspecto psicológico-sexual da questão. Se elevarmos a discussão para para o simbólico e ainda mais para o teológico-liturgico, será dificílimo ver continuidade entre um rito e outro.
E o próprio Dom Odilo sabe disso, mas inverte a solução do problema. A Missa Tridentina, que é a solução correta, tenciona para a Tradição e, portanto, para uma posição no mínimo crítica quanto ao Concílio Vaticano II. Já a Missa Nova tende ao favorecimento e adaptação das novidades, facilita inclusive – como faz a CNBB – os sacrílegos ritos interreligiosos e ecumênicos. É bem coisa de mulher vaidosa: quer ser elogiada por todos e guarda rancor de quem a critica, sobretudo aqueles que a criticam com razão.
Em suma, a missa nova produziu sim algo novo e contraditório com o rito tradicional: uma postura leviana e mais mundana de “participar” da própria missa. É tanto anseio por “diálogo e participação” que a fé fica eclipsada. Evidencio-o: filas de comunhão cheias, confessionários vazios, e a iniquidade social não pára de crescer. Algo de ruim certamente foi produzido por este combo da micaretagem, o CVII e sua missa vaidosa.