Tal era o gênio de Benson, que não se viu limitado por nenhum gênero literário. Além de seus romances históricos, era igualmente especialista em romances de ambientação contemporânea, como Os negromantes, um conto preventivo sobre os perigos do espiritismo, ou com fantasias futuristas distópicas, como O Senhor do Mundo, que merece um lugar junto a Aldous Huxley e seu Admirável Mundo Novo ou o 1984 de George Orwell como um clássico da ficção distópica e como uma obra de profecia.
Cada um destes contos de advertência ambientados em um futuro imaginário tem um elemento profético que continua sendo tão relevante como sempre. Huxley alerta sobre a influência corruptiva da busca da comodidade, mostrando uma sociedade dormente na escravidão luxuriosa; Orwell mostra o puro horror do controle totalitário sobre a vida das pessoas; Benson mostra como o ateísmo, disfarçado de humanismo secular, surge como uma religião rival do cristianismo, com a intenção de dominar o mundo.
Os personagens principais de O Senhor do Mundo estão representados com realismo e simpatia, inclusive aqueles que defendem o novo ateísmo. Este enfoque equilibrado e genuinamente humano da dignidade da pessoa humana é uma característica de todos os romances de Benson. Nunca cai na armadilha de reduzir seus personagens a caricaturas bidimensionais. Não há vilões diabolicamente malvados ou psicopatas, e não há santos angelicais, livres de pecado e cobertos de açúcar. Tal realismo salva sua obra da pregação que é a morte de muita ficção cristã. (De fato, o trabalho de Benson deve ser estudado diligentemente por todos aqueles que desejam escrever bem uma ficção cristã).
Os dois sacerdotes no centro de Lord of the World são o Pe. Percy Franklin e o Pe. João Francisco. O primeiro é devoto, embora turvado pela dúvida; o último é um apóstata que se converte num praticante de alto perfil da nova “religião” humanista secular. Os outros personagens principais são Oliver e Mabel Brand, um político socialista e sua esposa. Ambos são simpáticos, na medida em que são genuinamente idealistas e creem plenamente no credo do humanismo secular, e na medida em que se amam genuinamente como marido e mulher, desejando cada um o bem do outro.
Tal é a habilidade e delicadeza de Benson como narrador de histórias, que quase cremos que o novo humanismo “progressista” pode ser realmente benéfico para a humanidade, substituindo as religiões antiquadas “de outro mundo” do mundo, para mudar, com planos práticos, este mundo para melhor. Tudo parece tão plausível, principalmente quando defendido por Julian Felsenburgh, o mesmíssmo “Senhor do Mundo”, elusivo mas onipresente, que viaja pelo mundo pregando a paz. Tais são seus dons carismáticos e retóricos que não só prega a paz, mas também faz a paz persuadindo as superpotências globais para que se retirem da linha de uma guerra iminente.
O êxito político e diplomático de Felsenburgh, que traz harmonia em nome da humanidade, transforma-o em uma celebridade mundial cujo nome está na boca de todos. A devoção à sua personalidade e às políticas que defende adquire um fervor pseudorreligioso. Logo se torna a força mais poderosa da política mundial. Os governos nacionais prostram-se a seus pés, dando-lhe o controle absoluto dos assuntos mundiais.
A única oposição a este domínio globalista se encontra na Igreja Católica, as outras denominações cristãs foram seduzidas pelo modernismo e submetidas ao espírito secularista da época. As religiões não cristãs sucumbiram aos encantos de Felsenburgh e acomodaram-se aos seus planos para o mundo.
À medida que o verdadeiro espírito do “Senhor do Mundo” se torna evidente na perseguição cada vez mais brutal contra a Igreja, a fortaleza do heróico Pe. Franklin é posta à prova até o limite, igualmente o idealismo de Oliver e Mabel Brand é posto à prova em seu encontro com as políticas inumanas do regime humanitário de Felsenburgh.
Tendo em conta que O Senhor do Mundo foi publicado em 1907, vinte e cinco anos antes da publicação do romance de Huxley e quarenta e dois anos antes que 1984 de Orwell, pode reclamar a preeminência em favor de seu poder profético. Huxley e Orwell escreveram depois da revolução bolchevique e da marcha sobre Roma de Mussolini e puderam ver as consequências do totalitarismo comunista e fascista com a sabedoria da retrospectiva.
Benson, por outro lado, escrevia dez anos antes da Revolução Russa e quinze anos antes do surgimento do fascismo na Itália. O Senhor do Mundo, na realidade, predisse uma revolução em 1917, embora ocorrida na Grã-Bretanha, não na Rússia, que resulta num estado socialista totalitário de partido único. O romance também previu o uso de máquinas voadoras para bombardear a população civil nas cidades, aparecendo para predizer o lançamento de bombas que são tão poderosas, que cidades inteiras podem desaparecer, o que prefigura o lançamento das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki.
O Senhor do Mundo também previu com assombrosa presciência o surgimento do culto à personalidade (encarnado no romance pela idolatria a Julian Felsenburgh) muito antes da ascensão de Lenin, Stalin, Mussolini e Hitler. Quando Orwell nos apresenta o Grande Irmão no final da década de 1940, recorda-nos dos tiranos totalitários que já haviam desonrado e desfigurado a história; mas o “Senhor do mundo” de Benson adianta-se a seu tempo e é muito mais sutil, crível e agradável que o brutalista “Grande Irmão” de Orwell, além de ser em última instância demoníaco, não simplesmente monstruoso, e portanto muito mais repugnante.
Sobretudo, o clássico de ficção distópica de Benson prevê e pressagia o surgimento do globalismo e do ateísmo humanista secular como uma nova religião sem Deus. Sua visão cautelosa do futuro está tornando-se o tempo presente em que nos encontramos.
O mundo retratado em O Senhor do Mundo é aquele onde o secularismo progressista e o humanismo ímpio triunfaram sobre a moralidade tradicional. É um mundo onde o relativismo filosófico triunfou sobre a objetividade; um mundo onde, em nome da tolerância, a doutrina religiosa não é tolerada. É um mundo onde, ao mesmo tempo que a eutanásia é amplamente praticada, a religião quase não o é. O senhor deste mundo terrível é um político de aparência bondosa, com intenção de tomar o poder para promover a “paz” e com a intenção de destruir a religião em nome da “verdade”. Num mundo assim, somente uma pequena e enxuta Igreja se posicionará resolutamente contra o demoníaco “Senhor do Mundo”.
Quanto à relevância perene do romance, tornou-se evidente em 1992 quando o Cardeal Ratzinger o citou como uma forma de criticar um discurso recente em que o presidente George H. W. Bush chamava a “uma Nova Ordem Mundial”. O futuro Papa tratou de recordar ao presidente dos Estados Unidos que o romance de Benson já havia descrito “uma civilização unificada similar e o seu poder para destruir o espírito. O anticristo é representado como o grande portador da paz numa nova ordem mundial semelhante“. O Cardeal Ratzinger depois citou a encíclica Bonum sane do Papa Bento XV de 1920:
“O advento de uma república universal é esperada pelos piores e mais distorcidos elementos. Tal república, baseada nos princípios de absoluta igualdade entre homens e uma comunidade de bens, acabaria com todas as distinções de nacionalidade. Não daria nenhum reconhecimento à autoridade dos pais sobre seus filhos, ou de Deus sobre a sociedade humana. Se estas ideias chegarem a ser postas em prática, haverá um inevitável reino de terror”.
Tal estado está previsto em O Senhor do Mundo, razão pela qual deveria estar na lista de leitura de todos os amantes da autêntica liberdade humana.
Fonte: Crisis Magazine
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