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Tucho dá a ré, mas ataca

O Arcebispo Víctor Manuel Fernández (tucho), nomeado prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé pelo Papa Francisco em 1º de julho de 2023, é retratado nesta foto de arquivo na conclusão do Sínodo extraordinário dos Bispos sobre a família no Vaticano, em 18 de outubro de 2014.
O Arcebispo Víctor Manuel Fernández, nomeado prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé pelo Papa Francisco em 1º de julho de 2023, é retratado nesta foto de arquivo na conclusão do Sínodo extraordinário dos Bispos sobre a família no Vaticano, em 18 de outubro de 2014. (CNS photo/Paul Haring)
Por Bruno M.

Duas semanas depois de nos afirmar que a declaração Fiducia supplicans era “suficiente” e não era necessário “esperar outras respostas” (FS 41), o Dicastério para a Doutrina da Fé publica outro documento sobre o tema, uma nota à imprensa para esclarecimento. Parece que o fato inaudito de que uma multidão de bispos e conferências episcopais de todo o mundo tenham rejeitado a declaração original obrigou o Dicastério a publicar urgentemente algo, o que quer que fosse, para tentar esconder a bagunça. O resultado é uma nota de imprensa que cheira a pânico e desespero.

Na nota são feitas referêncais às “compreensívels manifestações de algumas Conferências episcopais” frente a Fiducia supplicans. Se essas reações foram inauditas, mas ao mesmo são compreensíveis, não significa necessariamente que o documento foi uma patifaria inaudita? Porque, se os bispos, que nunca se atreveram a questionar o que vem de Roma, imediatamente rejeitaram em grande número esta declaração e essa reação é “compreensível”, somos obrigados a deduzir que há um grave problema na própria declaração.

Mas é claro que o Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, o cardeal Víctor Manuel Fernández [vulgo Tucho], não reconhece esse grave problema, senão que, como é habitual, pretende “esclarecer” sem deixar claro o que está esclarecendo. Por isso, como infelizmente também é habitual nos últimos anos, a nota carece de certo compromisso com a verdade, dizendo, por exemplo, que o que foi expresso pelas conferências episcopais “não pode ser interpretado como uma oposição doutrinal”, algo que é evidentemente falso para qualquer um que tenha lido as declarações das conferências e de bispos que se opuseram a Fiducia, os quais, na maioria dos casos, o fizeram por razões doutrinais. Recordemos, por exemplo, ao cardeal Müller, que afirmou que “tais bênçãos contradizem diretamente e gravemente a Revelação Divina e a doutrina e prática ininterrupta da Igreja Católica, incluindo o magistério recente do papa Francisco”. “Fiducia supplicans deve ser rejeitada em sua totalidade”, disse contundentemente Dom Njiru. E um longo etcétera que simplesmente faz com que quem afirme o contrário não faça outra coisa que um brinde ao sol.

No mesmo sentido devemos entender a desculpa de que, na realidade, os bispos estão preocupados com as legislações africanas que proíbem as relações homossexuais. De novo, é evidentemente falso. Se fosse assim, esses bispos não teriam falado contra a declaração vaticana, mas contra essas legislações. Ou no máximo teriam guardado um prudente silêncio. Mas falaram contra o documento e o fizeram com grande coragem e clareza por razões doutrinais. O mesmo fizeram os bispos de vários países, como Ucrânia, Polônia, Peru ou Uruguai, onde não há legislações desse tipo.

Seja como for, a estratégia do cardeal Fernández é a de diluir o máximo possível a declaração original. A posição agora é que só eram “reflexões”, que requerem “um generoso esforço de recepção” (não obediência). A Declaração “convida particularmente a um aprofundamento que enriqueça a prática pastoral” e “requer um esforço de reflexão serena, feita com coração de pastor, livre de toda ideologia”. O papa nos pediu “para crescer na compreensão mais ampla das bênçãos pastorais” e “nos convida a valorizar a fé do Povo de Deus”. Ou seja, em linguagem clara, na realidade Fiducia supplicans não obriga a nada, nem afirma nada, apenas se limita a sugerir possibilidades hipotéticas. Como disse um ilustre blogueiro, a nada com sifão.

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Às vezes, a justificativa toma contornos ridículos. Segundo nos diz o cardeal Fernández, “A verdadeira novidade desta Declaração (…) não é a possibilidade de abençoar casais irregulares”, mas “o convite a distinguir duas formas diferentes de bênção”, as litúrgicas e as pastorais. Claro que sim, a novidade é que se descobriu a sopa de alho. Vamos lá, nós que não somos burros. Bênçãos na liturgia e fora da liturgia sempre houve, portanto apresentar isso como a “verdadeira novidade” é uma clara demonstração de desespero ante um erro grosseiro de proporções bíblicas. E, ademais, para crer nisso é necessário esquecer caritativamente tudo o que disse anteriormente o próprio Prefeito sobre a declaração, a qual sempre estava centrada nessas bênçãos a casais em situação irregular e, sobretudo, do mesmo sexo.

Depois disso, no documento justificativo, quase comicamente nos é assegurado que as bênçãos pastorais “devem ser sobretudo muito breves”, “de poucos segundos”, como se isso fosse uma categoria teológica. E nos diz que nessas bênçãos “simplesmente implora-se ao Senhor paz, saúde e outros bens” para quem as recebem, que é o que toda a vida chamou-se oração (e não uma bênção): Padre, reze por mim. Tal distinção e nada é a mesma coisa. Para esta viagem não faziam falta os alforjes.

Assustadoramente, no novo documento, o Prefeito cita a si mesmo em uma entrevista!, e precisamente naquela em que ofereceu um triste exemplo do uso do sentimentalismo para confundir uma questão moral:

Dado que alguns manifestaram dúvidas sobre como poderiam ser estas bênçãos, vejamos um exemplo concreto: imaginemos que em meio a uma grande peregrinação um casal de divorciados em nova união diga ao sacerdote: “Por favor, nos dê uma bênção, não conseguimos encontrar trabalho, ele está muito doente, não temos uma casa, a vida está se tornando muito pesada: que Deus nos ajude!”.

O que tem a ver que os destinatários da “bênção” estejam doentes ou sãos que tenham trabalho ou estejam desempregados? Nada, é obviamente uma forma de obscurecer a questão apelando aos sentimentos. Isso é algo que todo Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé deveria saber ser completamente inadequado para um teólogo ao considerar um caso moral. É o sentimentalismo como lugar teológico: um completo desastre e, sobretudo, uma confissão de que, no fundo, não há uma autêntica reflexão teológica.

O que é significativo é que, imediatamente após dizer que o importante não eram as bênçãos aos casais “irregulares”, o Prefeito volte à briga para nos explicar que sim, que o importante são as bênçãos a casais do mesmo sexo, que é aquilo que todos nós já sabíamos. Ou seja, que o “esclarecimento” consistem em sim, mas em não, nem branco, nem preto, muito pelo contrário. Benditos esclarecimentos que não esclarecem nada, senão que só deixam as coisas mais obscuras.

Em uma frase retorcida, talvez, contudo, a mais importante do documento, o Prefeito tenta colar, sem que se note muito, um parágrafo que nega tudo o que antes foi dito na nota de esclarecimento:

Cada Bispo local, em virtude do próprio ministério, tem sempre o poder do discernimento in loco, isto é, naquele lugar concreto que ele melhor que outros conhece, porque é o seu rebanho. A prudência e a atenção ao contexto eclesial e à cultura local poderiam admitir diversas modalidades de aplicação, mas não uma negação total ou definitiva deste caminho que é proposto aos sacerdotes.

Ou seja, os bispos podem discernir, mas não podem proibir que os sacerdotes deem essas “bênçãos” aos casais de divorciados ou do mesmo sexo. Que discernimento é esse? Não estávamos falando de pastoral e de que cada bispo é quem realmente conhece o seu rebanho? Tudo isso não se tratava de meras reflexões? Não nos dizia o Prefeito que a novidade era uma reflexão sobre as bênçãos pastorais e não a transmissão de bênçãos aos casais “irregulares”? Ou seja, que, na realidade, o que era verdadeiramente importante, o indiscutível, o irrenunciável, eram, com efeito, as bênçãos a casais “irregulares”? Se os bispos não podem rejeitar de forma definitiva as bênçãos a esses casais, é porque a doutrina o exige, porém, não nos assegurava no mesmo documento que, na realidade, não havia desacordo doutrinal?

Ou seja, embora o Prefeito bata em retirada, ao mesmo tempo pretende impor aos bispos, sem apelação possível e simplesmente porque ele o diz, a licitude das bênçãos a casais de divorciados e do mesmo sexo. E afirma que não podem proibi-las “de forma total ou definitiva”. E isso sem dar o mais mínimo argumento ou fundamento para basear essa afirmação, simplesmente quia nominor leo, contra grande quantidade de bispos e toda a Tradição anterior. Talvez confie que a confusão do texto “esclarecedor” faça com que os bispos que se pronunciaram contra Fiducia supplicans não percebam este novo ataque a sua autoridade como sucessores dos Apóstolos. Duvido que tenha êxito e espero que os bispos rejeitem esta manobra para impor por decreto algo completamente alheio ao depósito da fé. E inclusive contrário a esse depósito.

Enfim, muitos pensarão que, ante o patente fracasso da declaração, junto com outras declarações lamentáveis anteriores, como balanço de seus três meses à frente do Dicastério, o melhor e mais elegante seria que o cardeal se demitisse. Não causaria nenhum alvoroço, porque nem todo mundo tem competência para ser Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé.

Outra possibilidade seria que esta debacle lhe servisse para aprender que o Dicastério para a Doutrina da Fé não está aí para dar publicidade às opiniões teológicas de ninguém, nem para oferecer novidades, mas o contrário: para recordar e preservar o que na Igreja foi crido semper, ubique et ab ómnibus, isto é, sempre, em toda parte e por todos. É uma missão humilde, mas fundamental, porque a Igreja não inventa coisas, senão que só oferece a Revelação realizada em Jesus Cristo de uma vez para sempre, a qual deve custodiar como um verdadeiro tesouro, ainda que o leve em vasos de barro.

Ou talvez o novo Dicastério (antes Congregação) tenha uma missão distinta, segundo disse o próprio Papa Francisco ao cardeal Fernández: “o que espero de vós é sem dúvida algo muito diferente”, em contraste com o que foi feito durante séculos na Igreja. Se for este o caso e o novo Dicastério ser, simplesmente, um megafone para opiniões particulares, convém sabê-lo, para não dar a seus documentos mais valor que o do prestígio teológico e sabedoria próprios de seu autor, que são o que são. Nesse caso, todo mundo deveria considerar-se livre para não os levar em conta.

Fonte: Espada de doble filo

Obs: A tradução do título contou com um pouco de criatividade da nossa parte. Mais concretamente, o título original seria: “O cardeal Fernández bate em retirada, porém atacando“.

Sobre Bruno M.

Conselheiro de Redação de Infocatolica

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