O Catequista fez uma sequência de stories dizendo que, antes do Concílio Vaticano II (CV II), os fiéis sofriam uma epidemia de escrúpulos e que o Concílio ajudou a diminuir com a mensagem mais focada no perdão e na misericórdia.
A página cita como fonte de apoio o artigo “Divine madness: the dilemma of religious scruples in twentieth-century America and Britain” (2009) de Joanna Bourke.
O problema é que o artigo não diz que foi a “mensagem de perdão” do CVII que diminuiu os escrúpulos, e sim “o relaxamento das regras, juntamente com o questionamento generalizado de alguns dos princípios da fé” (p. 597) que “minou grande parte da angústia por trás do escrupulosidade“. Substituiu-se, ou seja, a consciência escrupulosa pela consciência laxa e assim os escrúpulos “desapareceram”.
O que artigo dá como exemplos as seguintes “contribuições” pós-conciliares:
- (1) a diminuição da frequência obrigatória da confissão de mensal para anual;
- (2) o fim do jejum quaresmal;
- (3) o declínio do cumprimento de preceito nos dias santos e de guarda;
- (4) a queda da prática da abstinência de carne nas sextas-feiras do ano (mesmo ainda sendo obrigatória)
- (5) a desilusão geral dos católicos com a doutrina da Igreja na década de 60.
Portanto, o artigo defende que os escrúpulos oriundos da religião diminuíram porque a influência religiosa na sociedade diminuiu, não porque a maturidade católica aumentou.
A autora também indica como causa dessa diminuição o avanço da psicanálise e da psiquiatria para lidar com os escrúpulos de origem clínica. Hoje essa causa de escrúpulos pode ser tratada por médicos e por especialistas em ciências da mente.
Em outras as palavras, o artigo não é uma defesa do Concílio, mas da ciência contra a religião, ainda que de maneira sutil e educada, tendo em vista que indica que a medicina para os escrúpulos é a ciência e o abandono da religião.
Nenhum católico, contudo, pode aceitar a conclusão de que o remédio para a consciência escrupulosa seja o questionamento e o abandono da fé. Também não pode aceitar que a cura dos escrúpulos seja o laxismo.
A consciência escrupulosa está curada, na verdade, quando é capaz de manter seus deveres religiosos sem angústia e ansiedade.
É um erro imperdoável “defender a Igreja” desse jeito, isto é, jogando ela ao escárnio dos ímpios.