A sociedade em que vivemos, o ambiente em que estamos imersos, tende a desequilibrar as faculdades superiores da alma, que são duas: a mente e o coração. Ou, se preferirmos, a inteligência que nos foi dada por Deus para conhecer o que é verdadeiro, e a vontade, com a qual somos chamados a amar o que é bom. A Verdade e o Bem não se distinguem do próprio Deus, Sumo Bem e Verdade absoluta, nossa causa primeira e fim último, já que tudo vem de Deus e tudo reconduz a Ele.
A realidade psicológica de nossa pessoa está feita de ideias, concebidas por nossa inteligência; de sentimentos, que brotam do coração, e de ações às quais nos impulsionam a inteligência e a vontade. Entre ideias e sentimentos, entre inteligência e vontade, entre mente e coração, deve existir um equilíbrio. Do contrário, corre-se o risco de cair no intelectualismo ou no sentimentalismo; ou seja, em uma hipertrofia da razão ou da vontade que produz uma dissociação em nossa pessoa e tem consequências catastróficas no plano de nossos atos.
Depois do iluminismo do século XVIII, o regime em que viveu a humanidade tem sido nada mais que a ditadura da inteligência; uma inteligência que quis emancipar da realidade para construir um mundo próprio que se oponha à realidade. Por essa razão, o século XX foi o das grandes construções intelectuais sob a forma de sistemas filosóficos como o idealismo e o marxismo. O homem presa deste desvio se insere em um mundo mental feito de utopias, de cálculos abstratos e, no fundo, de meras palavras.
A filosofia racionalista de Kant, Hegel e Marx está em crise, porque o sonho da construção intelectual do século XX fracassou, mas está sendo substituído por outra mentalidade que, mais que dos iluministas, deriva de Rousseau e do romantismo do século XIX. Poderíamos qualificá-la de sentimentalismo, porque supõe o domínio do sentimento sobre a razão; a ditadura dos sentimentos ou, como dizem alguns, a ditadura das emoções. Entre essas emoções costumam destacar a ira, o desespero e o ódio à realidade que nos rodeia. Assim como o intelectualismo, o sentimentalismo põe o eu no centro de tudo. Podemos qualificar estas atitudes dizendo que são uma forma de narcisismo, intelectual ou sentimental, dependendo dos casos.
Bento XVI cunhou a expressão ditadura do relativismo, referindo-se a esse racionalismo dissolvente que pretende eliminar todo o rastro de verdade. Um sacerdote americano, o Padre Dwight Longenecker, escreveu um livro intitulado Beheading Hydra (decapitar a hidra), no qual, por sua vez, fala da ditadura do sentimentalismo. Segundo o Padre Longenecker, o sentimentalismo faz parte do código genético da sociedade ocidental moderna. É tão onipresente como o ar que respiramos: está na publicidade, na política, no sistema educacional e nos meios de difusão, já que, seja onde for, nossos atos sempre são motivados por sentimentos. O mundo das redes sociais muito se presta à tirania do sentimentalismo porque permite desafogar de forma imediata e irreflexiva as próprias emoções.
Coloquemos um exemplo concreto para que não fiquemos também no abstrato e no genérico. O intelectualismo e o sentimentalismo também se infiltraram no mundo católico, que atravessa atualmente uma das crises mais graves de sua história. Crise que parece não ter solução, porque no fundo afeta o próprio papado, que foi instituído por Jesus Cristo. Por isso, as palavras e gestos do Papa Francisco nos impactam a muitos, até o ponto de pôr em dúvida a legitimidade de seu pontificado. A postura intelectualismo é a dos que reagem à presente crise colocando-se a teorizar e analisar desde o ponto de vista jurídico a renúncia de Bento XVI ou a eleição do Papa Francisco, para convencer-se a si mesmos e aos demais da invalidade da renúncia do primeiro ou da eleição do segundo, a fim de eliminar a este último do horizonte da Igreja. Mas semelhante raciocínio prescinde totalmente da realidade, que está na aceitação universal sem disputa do Pontífice por parte do colégio cardinalício, do episcopado e do povo católico, e destrói um dos pilares fundamentais da Igreja fundada por Jesus Cristo: sua necessária visibilidade até o fim dos tempos.
A postura sentimental é, em contrapartida, a daqueles que estão motivados por um sentimento de aversão e repulsa para com o pontífice atualmente reinante e, para que não se considerem cismáticos nem excomungados, se atrincheiram em um contraditório sedevacantismo de fato, que não se apoia em motivos racionais, mas em emoções flutuantes.
Como se pode adotar uma atitude moderada diante de tão dramática situação? Tendo presente que a fé católica é uma experiência que se vive, mas que essa experiência não é nem puramente racional nem puramente sentimental. Nasce do equilíbrio entre ideias, sentimentos e atos. Assim tem sido o cristianismo dos santos ao longo da história.
Em momentos de incerteza, dúvida e confusão, não depositemos nossa confiança em elucubrações intelectuais nem no que apela a nossos sentimentos. Imitemos, pelo contrário, o exemplo dos santos. Quem imita aos santos nunca se equivoca.
Fonte: Adelante la Fé