O “Dicastério para a Doutrina da Fé” publicou um novo documento pouco antes de Pentecostes. É o terceiro no mandato do controverso Cardeal Prefeito Fernández e é provável que cause tanta perturbação entre os católicos de todo o mundo como os dois anteriores. – Deixe-me dizer desde já: gradualmente chegará o momento de renomear o dicastério: “Dicastério por falta de fé” ainda seria o nome mais inofensivo.
Mas vamos por partes: o novo documento não parece muito entusiasmante: “Normas para proceder no discernimento de presumidos fenômenos sobrenaturais”.
Todavia, o que se esconde por trás deste título enfadonho é algo tóxico: em poucas palavras, trata das aparições marianas e de como é possível neutralizá-las ou cancelá-las.
Isto não está isento de explosão, porque inúmeros católicos são significativamente inspirados por tais fenômenos nas suas vidas religiosas. Dificilmente, portanto, o novo documento – e sobretudo a sua aplicação – encontrará uma generalizada aprovação entre os fiéis. E menos ainda quando se observa o que está por trás das declarações .
O procedimento é sempre o mesmo: o Cardeal Fernández dá uma aparência de fidelidade à fé para minar a fé. Isto pode ser observado no documento de bênção herética “Fiducia supplicans”, bem como, de modo um pouco mais sutil, em “Dignitas Infinita”, que tratou da dignidade humana.
Agora é a vez das aparições marianas, e Fernández sublinha que são sempre “revelações privadas” que não fazem parte do depósito da fé. Sim, não há nada de novo nisso, mas esse não é o ponto.
Trata-se, em contrapartida, de algo que nem sequer é dito: trata-se do fato de tais fenômenos simplesmente acontecerem e, sobretudo, do fato de serem muito inquietantes. Não importa se são fenômenos históricos e reconhecidos pela Igreja, como em Lourdes (1858) e Fátima (1917), ou atuais, como em Medjugorje (desde 1981).
Mas a quem exatamente esses fenômenos dão fastio?
Certamente não para os milhões e milhões de peregrinos que experimentam a graça, a conversão e a cura através deles. Mas dão fastio a todos aqueles que já não acreditam em Deus e sobretudo àqueles que ocupam cargos eclesiásticos cada vez mais elevados, isto é: Fernández e seus associados.
Aqueles que querem construir uma Igreja “sinodal” artificial e falsificar a fé de acordo com as suas próprias ideias não veem nenhuma utilidade nas aparições marianas. Afinal, indicam como um ponto de exclamação que Deus é o Senhor da Igreja; e nos recordam que estamos comprometidos apenas com ELE e com SUA revelação final. – Mas isto é muitas vezes o contrário do que o Cardeal Fernández ensina em nome do Papa.
Para encurtar a história: as aparições marianas não podem ser usadas para a propaganda dos “reformadores da Igreja” sinodais e, portanto, devem ser relativizadas.
Por esta razão, as novas “normas” certificarão, na melhor das hipóteses, no futuro, a inocuidade de tais fenômenos, mas não mais – como antes – o seu caráter sobrenatural. Isto significa: a Igreja, no máximo, coloca um ponto de interrogação em tudo o que é sobrenatural e no fundo deixa as coisas como estão.
Naturalmente, esta regulamentação também afeta indiretamente fenômenos já reconhecidos, porque a “norma” deixa claro: não existem afirmações confiáveis a respeito do sobrenatural.
Esta visão é escandalosa e também herética, porque nega indiretamente o próprio Deus ou, ao menos, o seu poder de intervir em nossa presença.
Neste sentido, o novo documento vai muito além das aparições marianas. Lança uma luz significativa sobre o atual desequilíbrio na Igreja, no qual a fé sobrenatural já não desempenha qualquer papel.
Os documentos “Fiducia supplicans” e “Dignitas Infinita” já o demonstraram. E o “Sínodo Mundial” não serve para defender ou aprofundar o depósito da fé, mas antes para adaptá-lo ao espírito dos tempos.
Para que isto funcione, recorre-se a um truque que em linguagem sinodal está se chamando: “Diálogo no Espírito Santo”: trata-se de escutar o “Espírito Santo” e o que – presumivelmente – ele diz à “Nova” Igreja.
Não é fantástico? Com efeito, ainda que o Espírito Santo realmente falasse ao Sínodo, seria um daqueles “fenômenos sobrenaturais” que as novas “normas” negam.
E o resultado seria algo que segundo a doutrina da Igreja não existe, isto é, uma nova revelação de Deus que não mais tem correspondência com a anterior.
Por isso, permitam-me dizer as coisas como realmente são: os supostos “fenômenos sobrenaturais” só serão agora aceitos se corresponderem à agenda politicamente destrutiva do Papa para a Igreja. Todo o resto – e isto inclui também as aparições da Santíssima Virgem Maria – será futuramente considerado, na melhor das hipóteses, como “inócuo” e, portanto, privado de significado.
Porém, há um problema: mesmo que as aparições sejam “revelações privadas”, Deus sempre teve prazer em falar e guiar o seu povo, porque só Deus é o Senhor soberano da Igreja, e não Francisco e nem mesmo Fernández.
As novas “normas” não podem impedir isto, razão pela qual poderão em breve ser superadas pelo céu. Há uma coisa que o próprio Deus ou a Santíssima Virgem Maria não precisam: o reconhecimento do Papa ou do seu Prefeito da Fé.
O exemplo mais famoso é representado pelo milagre do sol em Fátima, ocorrido em 13 de outubro de 1917 para cem mil pessoas: este milagre foi tão avassalador e tão evidentemente sobrenatural, que o reconhecimento das aparições pela Igreja acabou sendo uma formalidade posterior.
Também hoje podemos ter essa certeza: a Santíssima Virgem, que esmagou a incredulidade dos comunistas portugueses, destruirá também a nova incredulidade na Igreja; Francisco e Fernandez poderão experimentá-lo enquanto ainda estão no cargo. – Afinal: em Medjugorje foram anunciados dez segredos para o futuro próximo, que devem ser revelados ao mundo três dias antes de acontecerem.
E em Garabandal (1961-65). A Santíssima Virgem predisse um aviso, depois um milagre e finalmente um julgamento.
Aliás, diz-se que tudo isto ocorreu após um evento desconhecido na linguagem da Igreja da época, ou seja, depois de um importante “sínodo”!
O tempo de vida da nova “norma” poderá, portanto, ser muito breve; o da “Igreja Sinodal” infiel e do “Sínodo Mundial” também. – Veremos!
Fonte: STILUM CURIAE