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Coração Afligido de Jesus, Abismo Insondável de Dor

Santo Afonso Maria de Ligório e Nossa Senhora

Alma fiel, eis aqui a Hora Santa! Voltemos a Getsêmani e procuremos sondar o abismo de dores em que se afunda neste momento o Coração de Jesus. Mas que digo? Quem poderá jamais exprimir ou somente conceber a extensão das angústias que Jesus padece, mil vezes mais cruciantes que todos os suplícios que o esperam em Jerusalém e sobre o Gólgota, tão violentas, numa palavra, que bastariam para lhe tirar a vida? “Minha alma – diz Ele – está bem triste até a morte”. Mas por que não morre? Ah! É que Ele prolonga sua vida para sacrificá-la na cruz.

É verdade que um anjo veio do céu para fortalecê-lo, mas este socorro, longe de aliviar sua pena, não faz senão aumentá-la. O anjo reanima suas forças, para o ajudar a padecer mais tempo pela salvação dos homens. Ele o alenta representando-lhe a grandeza dos frutos de sua Paixão, mas sem diminuir a dor dela. Também logo depois da aparição do celeste espírito, Jesus cai em agonia e seu sangue corre em tal abundância que a terra fica banhada.

Eis aqui então, ó alma fiel, eis aqui a mais cruel de todas as horas que o Coração de Jesus passou na terra, eis aqui sua dor chegada ao extremo grau. À vista dos tormentos que vão terminar sua vida, Ele fica tão espantado, que suplica a seu Pai que o livre deles: “Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice”. Entretanto Jesus não faz esta oração precisamente para escapar ao suplício que o espera, pois a Ele voluntariamente submeteu-se, mas quer nos fazer entender as agonias que o torturam ao pensar em morte tão amarga quanto aos sentidos. Mas, falando logo segundo o espírito, tanto para se conformar a vontade de seu Pai, como para nos obter a salvação, objeto dos mais ardentes desejos do seu Coração, ajunta: “Todavia, seja feita vossa vontade, não a minha!” E continua a orar e resignar-se desta maneira durante três horas, Ele se pôs pela terceira fez em oração, repetindo sempre as mesmas palavras.

Que abismo de aflições deve ser o inferno, pois que Deus quis ser submergido em tão insondável oceano de amarguras para nos preservar dele! Desgraçados daqueles que forem separados para sempre d’Aquele que tanto padeceu para lhes obter a salvação! Ah! Não serão tanto as trevas, a infecção, os gritos, o fogo, que constituirão seu inferno. Será antes a dor de ter perdido a Deus. “Todos os tormentos juntos – diz São Bruno – não podem igualar esta pena”. São João Crisostomo afirma que mil infernos nada são em comparação deste tormento.

Para nos dar alguma idéia dele, considerai que, se alguém perde, por exemplo, uma pedra preciosa do valor de cem escudos, experimenta grande pena, mas se ela vale duzentos, a pena será dobrada, se quatrocentos, o pesar crescerá em proporção, assim a pena que sentimos com a perda dum objeto, cresce na razão de seu valor. Ora, que bem o condenado perdeu? Um bem infinito, que é Deus, portanto o pesar que esta perda lhe causa, é então de algum modo infinito – diz Santo Tomás.

Sobre a terra só os servos de Deus é que avaliam esta desgraça, os pecadores nem sequer dão por ela, vivem meses e anos longe de Deus, e com isto não se inquietam, por quê? Porque vivem nas trevas. Contudo, a hora da morte, reconhecerão a grandeza do bem que por sua culpa perderam. Ai! Ai! Será então muito tarde, muito tarde para sempre.

Trecho do livro Sagrado Coração de Jesus segundo Santo Afonso Maria de Ligório

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