A vitória de Joe Biden pelo progressista Partido Democrata nas últimas eleições americanas trouxeram um caso curioso: a vitória do segundo presidente católico na história dos Estados Unidos da América. Mas isso é algo a ser comemorado pelos católicos? O presidente está comprometido com a Sã Doutrina e com o Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo? Nesse artigo, busco explicar o que representa a eleição de Biden para ocupar, nos próximos cinco anos, a presidência americana.
Análise da Situação Atual da Igreja Católica dos Estados Unidos
Antes de começar a análise de Joe Biden, faz-se necessário entender qual é o contexto do catolicismo nos Estados Unidos. Em primeiro lugar, vemos que o catolicismo americano está passando por um processo de mornidão e acídia, uma vez que os católicos americanos estão deixando de frequentar os sacramentos, muitos não estudaram o Catecismo da maneira correta e, aos domingos, a maior parcela dos católicos que vão à missa são os idosos. Em segundo lugar, é importante notar que a maior parte dos católicos americanos moram no Nordeste, no Leste e no Oeste do país, regiões predominantemente progressistas. Por fim, o catolicismo nos Estados Unidos da América passa por uma crise vocacional em decorrência do avanço de pautas progressistas.
O cenário é desalentador para os católicos que permanecem firmes, uma vez que os pilares do catolicismo estão sendo atacados de forma violenta e a defesa da fé está enfraquecida. Como exposto no primeiro parágrafo, há um problema demográfico nos Estados Unidos, uma vez que as pessoas não estão recebendo o batismo, o Crisma é raro e os matrimônios são escassos. Nesse sentido, nota-se que os católicos mais fiéis à Sã Doutrina são os mais idosos, fazendo com que a vitalidade da Igreja seja menor. Soma-se a isso ao programa Alpha que, ao invés de levar a doutrina na catequese, ensina um catolicismo ecumênico e liberal. Consequentemente, os católicos são formados para não criticar os protestantes, mas sim para buscar um diálogo inter-religioso.
A situação fica mais complicada quando se analisa a dispersão geográfica dos católicos americanos. Dos 50 estados americanos, 33 deles possuem os católicos como a maior denominação cristã, porém o dado aterrorizante é que em 20 deles, Joe Biden venceu com grande margem. Estados como a Califórnia e Nova York, dois dos maiores colégios eleitorais, foram vencidos com grande margem pelo candidato democrata. Nos outros estados com maioria católica, Joe Biden venceu amplamente, conseguindo estabelecer vitórias importantes no Minnesota e Wisconsin, cuja população é quase 30% católica. Esse panorama é importante, uma vez que mostra o nível de penetração do progressismo nos Estados Unidos, principalmente nos estados mais católicos.
Como se não bastasse esses dois problemas, vê-se um grande problema no clero norte-americano. Em primeiro lugar, pelo fato de muitos bispos, decididamente, apoiarem as pautas progressistas, principalmente na temática sexual. Somente no ano de 2018, vários bispos estavam fazendo vista grossa em suas dioceses a respeito dos padres que apoiavam a contracepção e o sexo fora do casamento. Em segundo lugar, muitos bispos desejam ter estabilidade política para lograr postos mais visados e, com isso, deixam de combater os erros. Consequentemente, os seminários são esvaziados, tem-se uma grande dificuldade de formação de bons sacerdotes e a população perde os seus exemplos de ortodoxia.
Breve contexto histórico do catolicismo nos EUA (1930-2020)
O cenário atual é vergonhoso para a Igreja Católica nos Estados Unidos e a situação piora quando se nota o desenvolvimento histórico da Igreja naquele país. Entre os anos de 1870-1930, muitos italianos e irlandeses[1] começaram a desembarcar[2] nos EUA, e eram perseguidos pelos protestantes. Então, para se resguardarem, buscaram criar comunidades sólidas. Os bairros de Little Italy, em Nova York, e as comunidades em Boston são exemplos disso. À medida que os católicos chegavam ao país, o governo americano passou a notar uma grande preocupação, uma vez que as disputas se tornavam mais intensas e solapavam as bases da estabilidade política. Na década de 1930, durante o governo do maçom Franklin Dellano Roosevelt, as leis de imigração foram mais duras.
Na década de 1940, os católicos foram fundamentais para os Estados Unidos, principalmente para compor as forças militares para o combate na Segunda Guerra Mundial. Consequentemente, os protestantes diminuíram os ataques aos católicos e passaram a ter maior interesse em conhecer a doutrina católica. Além disso, é fundamental perceber que, até a década de 1940, a identidade católica estava ainda preservada e, na esfera cultural, os católicos dominavam o debate. Para se ter uma ideia, foi nas décadas de 1940 e 1950 que o Venerável Fulton Sheen apresentava-se na televisão nova-iorquina e era grande a sua audiência. Tudo isso, no entanto, seria solapado na segunda metade da década de 1950 e explodiria na década de 1960.
A partir da década de 1950, os católicos passaram a se identificar mais como americanos e, portanto, a identidade religiosa foi deixada de lado. Aqui, vale recordar que o americanismo é uma doutrina condenada pela Santa Igreja Católica. Além disso, foi nesse mesmo período que a maçonaria exerceu um plano de derrubada da influência católica em Holywood e nas televisões. Por fim, a Casti Connubi do Papa Pio XII fez com que a moralidade sexual católica fosse mantida, em um contexto em que os protestantes já haviam cedido à contracepção e, com isso, o único ponto de contato entre as duas doutrinas foi deixado de lado.
Na década de 1960, ocorreu a grande explosão cultural no país, principalmente pelos desdobramentos da Escola de Frankfurt[3]. Dentre as principais teorias, o Feminismo e o Sexo Livre foram aquelas que tiveram maior penetração na sociedade americana e, consequentemente, fizeram com que houvesse um grande debate a respeito dos costumes. Soma-se a isso o fato de que a Santa Madre Igreja passava por momentos de grandes turbulências, levadas à cabo pelo Concílio Vaticano II e, portanto, possibilitava uma tempestade perfeita para que as revoluções começassem a penetrar na Igreja Católica dos EUA. A partir de então, os seminaristas passaram a ser formados em uma teologia pós-conciliar que tinha como objetivo, na esfera americana, o apoio ao ecumenismo e o fomento às mudanças no campo sexual.
As duas décadas seguintes (1970 e 1980) foram o momento no qual essas transformações se enraizaram na sociedade americana. Infelizmente isso adentrou entre os católicos e, consequentemente, o ambiente cultural foi de combate à ortodoxia, a verdadeira fé, e à Tradição. Houve uma grande transformação nos seminários e nas Escolas Paroquiais, fazendo do catolicismo uma religião soft e sem o aspecto fundamental do combate. Esse era o terreno que prepararia a última fase da Igreja nos EUA, entre décadas de 1990 e 2000, para que Joe Biden começasse a ganhar protagonismo político.
No início do século XXI, a situação na Igreja Católica dos EUA era de completo enfraquecimento. A doutrina estava diluída e completamente revolucionária. Os leigos sem formação estavam dominados pelo pensamento progressista, pois os católicos foram para as universidades e, da mesma forma que no Brasil, o meio universitário americano estava contaminado. A Universidade de Notre Dame, famosa pela sua catolicidade, inclusive apoiou movimentos abortistas, levando católicos fiéis à doutrina a questionarem a posição do reitor, um caso que gerou muita repercussão na mídia católica americana.
As ideias de Joe Biden e o desenvolvimento da carreira política
A história política de Joe Biden começa em 1973, quando ele se torna Senador do Estado de Delaware, um dos estados mais progressistas dos Estados Unidos da América. Essa eleição, no entanto, ocorreu em um momento de grande turbulência na vida de Joe, uma vez que sua esposa Neilia Hunter e seu filho sofreram um acidente de carro e morreram. A partir de então, Biden, que havia recebido uma educação católica, começou a questionar a Providência de Deus. Além disso, a sua formação na Universidade de Siracusa, em Direito, foi responsável pela sua propagação do positivismo e do progressismo cultural como instrumentos para o bem-estar social.
Entre os anos de 1973-2008, Joe Biden consolidou-se como um senador de grande importância para o Partido Democrata. Em seus primeiros anos como senador, ele debruçou-se sobre questões de defesa do consumidor e proteção ambiental. É curioso notar que Biden foi um grande entusiasta da Conferência de Estolcomo de 1972 da ONU, que consolidou o Neomalthusianismo como programa para as políticas de controle de natalidade no Ocidente. Aqui já tem início a sua posição de apoio à contracepção que, posteriormente, transformar-se-á na defesa do aborto. Na década de 1980, Biden buscou se tornar o candidato democrata à presidência nas eleições de 1988, porém foi vencido por Jimmy Carter que, por sua vez, perdeu feio para Ronald Regan naquela eleição. Ao retornar para o senado, as atenções voltaram-se para a pauta feminista, principalmente na aprovação de leis que favoreciam as denúncias sem provas.
À medida que Joe Biden ganhava posição de revelo no Senado, os grandes nomes do Partido Democrata passaram a trazê-lo para as conversas. Na década de 1990, Biden foi um dos grandes responsáveis por conseguir os votos necessários para a absolvição de Bill Clinton do processo de Impeachment, causado pelo escândalo sexual[4] com Mônica Levisnki. No início do século XX, suas atenções estavam voltadas para a política externa, principalmente para a Guerra do Iraque. As posições contrárias a George Bush fizeram com que Barack Obama, um paladino de Saul Allinsky, considerasse a possibilidade de que ele fosse vice-presidente dos EUA em sua chapa. Em 2008, nas eleições, Obama derrotou John Mccain e se tornou presidente.
É durante o seu período na vice-presidência que Joe Biden começa a adotar as posturas mais progressistas. Logo que assumiu a cadeira, foi duramente criticado pelo bispo Michael Saltarelli por não ter se colocado contra o aborto durante a campanha. Esse fato motivou muitas dioceses americanas a impedirem que ele recebesse a Santíssima Eucaristia. A recusa de muitos padres americanos em darem a Comunhão para Biden expôs todo o problema da Igreja Católica nos EUA: muitos leigos tornaram-se liberal e afirmaram que questões morais não poderiam ser discutidas no governo.
Em 2012, Joe Biden afirma que estava completamente tranquilo com relação às pessoas do mesmo sexo se casarem. A partir dessa declaração, os católicos americanos foram levados para outra discussão bastante acalorada, fazendo com que houvesse mais um processo de ruptura da unidade católica nos EUA e, consequentemente, fizesse com que a tentativa de estancar o sangue fosse deixada de lado. Essa declaração, por outro lado, foi muito bem vista em grandes veículos de mídia como o New York Times, ABC e NSBC. O establishment americano deu maior impulso para Joe Biden, que continuou, em 2012, compondo chapa com Barack Obama, mais uma vez vencedor, dessa vez contra Mitt Romney.
A partir do início de 2013, Joe Biden, como bom revolucionário, decidiu apoiar a restrição de posse de armas de fogo, atentando contra a Legítima Defesa, um pressuposto católico fundado na Lei Natural e na Lei Divina, e também contra a Segunda Emenda da Constituição Americana de 1787. Assim sendo, nota-se que o Partido Democrata, uma vez gerando o caos na esfera cultural, começa a se preparar para iniciar o processo de imposição de um estado controlado por uma elite financeira e burocrática que tem ódio pela Santa Madre Igreja. Esse é um aspecto fundamental que deve se ter em mente em relação a todos os processos políticos nos séculos XIX e XX: os revolucionários querem retirar os meios de resistência contrarrevolucionários.
A atuação de Joe Biden foi, após 2016, para a esfera cultural, uma vez que Donald Trump conseguiu vitória expressiva no pleito e, com isso, conseguiu frear o avanço da agenda progressista. Nesse sentido, Biden foi para a Universidade da Pensilvânia e passou a advogar a favor das pautas identitárias[5], que atualmente são os grandes cavalos de batalha dos progressistas nos EUA. Assim sendo, os imigrantes, os LGBT’s e o Acordo de Paris foram os assuntos mais tratados por Biden. Aqui se encontra a base de todo o pensamento do progressista católico Joe Biden e que, infelizmente, está sendo defendido por outros católicos no Brasil
Como se não bastasse esse tipo de defesa, Joe Biden é acusado de ter cometido crimes de assédio sexual com uma legisladora de Nevada, Lucy Flores e também por estar envolvido em um grupo chamado NXIVM, que é liderado por grandes nomes da elite financeira americana e por importantes nomes do Partido Democrata. Por essa razão, muitos católicos, durante a campanha eleitoral de 2020, lançaram vídeos mostrando a rejeição de crianças quando Biden se aproximava, insinuando toques libidinosos. É fundamental que todas as investigações sejam feitas para que as pessoas possam ver a verdade dos fatos.
Em política internacional, Joe Biden está vinculado ao globalismo, principalmente na defesa da ONU e OMS. Em 2020, como o tema central do debate nos EUA foi o Coronavirus e as políticas identitárias, Joe Biden afirmou que, caso eleito, iria colocar os EUA novamente na OMS e no Acordo de Paris. É fundamental lembrar também que Biden criticou a aliança internacional contra o aborto e disse que os imigrantes muçulmanos são fundamentais para o desenvolvimento da cultura diversificada dos Estados Unidos da América. Nesse sentido, pode-se notar que Biden é um candidato do Deep State[6] e que possui profundas raízes anti-católicas e maçônicas.
Depois de uma eleição com grandes indícios de fraude, Joe Biden assume a presidência americana, sendo o segundo católico a ter esse posto (o primeiro foi John Fritzgerald Kennedy) e, em seus primeiros movimentos, já retirou o país do acordo internacional contra o aborto e retomou contatos com a OMS. É, portanto, um movimento claro de que a Nova Ordem Mundial começará a ser estabelecida pelo país mais poderoso do mundo. Por isso, para os católicos, é crucial que seja entendido o que vem a ser essa nova ordem, quais são os seus atores e os seus principais agentes. Somente assim, o combate será feito de maneira mais assertiva.
A eleição de Joe Biden, diferentemente do que muitos católicos estão pensando, é completamente prejudicial para a defesa da Santa Religião. Em um momento no qual as forças anti-católicas estão se articulando para a imposição de uma Nova Ordem Mundial, a vitória do candidato democrata faz com que os globalistas tenham em seu poder a maior potência do mundo ao seu dispor. Soma-se a isso o fato de que a Igreja Católica enfrenta uma crise sem precedentes, facilitando, portanto, uma conjuntura favorável para grandes transformações políticas, religiosas e sociais.
Notas:
[1] Os católicos americanos são descendentes, principalmente, de irlandeses, italianos e mexicanos imigrantes.
[2] Para quem quiser saber mais a respeito desse momento histórico, assista o filme Gangues de Nova York, protagonizado por Leonardo DiCaprio.
[3] A Escola de Frankfurt começa na Alemanha, na década de 1920, porém, na década seguinte é obrigada a sair do país por conta de Adolf Hitler. O destino é Nova York e os intelectuais são recebidos por judeus que desejavam criticar as bases da cultura cristã. Na década de 1950, as primeiras obras ganham espaço na academia.
[4] Um dos traços mais aparentes do liberalismo é esse: a imoralidade sexual pode ocorrer, porém se forem pegos, haverá uma grande pressão para que os “valores” sejam respeitados. É a hipocrisia de todo o protestante.
[5] O Movimento Black Lives Matter (BLM) é um caso típico de como que a estratégia da esquerda americana está em colocar as “minorias” como instrumento de aquisição de poder e de geração de caos na sociedade.
[6] Conjunto de pessoas, grupos e instituições que formam o grosso do poder político nos EUA.