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Natividade (verdadeiramente) ecumênica no Tibet

Padre Javier Ravasi - Natal no Tibet
Por Padre Javier Olivera Ravasi

– “Tenho vários amigos judeus”.
– “Tenho muitos amigos homossexuais”
– “Tenho um grande respeito por todas as religiões”
– “Sou 100% ecumênico”

São todas afirmações que, por mais politicamente corretas que queiram ser, corroboram justamente com o contrário, de modo que quem as diz em uníssono só nos possibilita inferir que estamos diante de um antissemita homofóbico (aqui sim, excelente uso do eufemismo) e intolerante.

Pois bem. Eu careço de todas essas aparentes virtudes e nunca me imaginei que aqui, em plena altitude tibetana e a milhas de quilômetros de distância de minha terra, iria me converter não só em um artífice do verdadeiro ecumenismo, mas também em um dos seus firmes defensores.

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Porém, O que é o ecumenismo? Pois bem: diferentemente do “diálogo inter-religioso” (que segundo Ratzinger, estritamente falando, não pode existir), o ecumenismo esforça-se justamente, como o próprio termo indica, para buscar a união, a comunidade, o que une, ou seja, a Nosso Senhor Jesus Cristo, que se fez Carne para salvar o gênero humano. O verdadeiro ecumenismo, portanto, quer aproximar os hereges da verdade completa para que pertençam à Igreja Católica Apostólica Romana, a única Igreja fundada por Jesus Cristo.

Contudo, O que é o ecumenismo hoje, em muitos lugares? Na práxis não deixa de ser um carnavalesco intercâmbio insípido onde nem se prega sobre Jesus Cristo, nem se deseja cumprir com aquilo que Deus pediu quando rezou (Jo 17,21): para “que todos sejam um” e exista um só rebanho e um só pastor (Jo 10, 16).

Aqui, no confim do Himalaia, existem pouquíssimos cristãos (apenas umas 20 ou 30 famílias, talvez) graças à pregação de alguns missionários protestantes finlandeses do século XVII. Desde essa época, os protestantes (simplesmente “christians” por aqui), tentaram se manter fiéis às tradições por meio de suas pregações permanentes e de seu “culto” (principalmente a leitura e comentário das Sagradas Escrituras). O que chama a atenção é que esta gente crê na divindade de Jesus Cristo e até na Maternidade Virginal de Maria. Isso, segundo relatam, é graças à desvinculação que possuem com outras seitas protestantes e por buscar seguir rigorosamente à Bíblia.

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O certo é que, em um contexto budista e hinduísta, o fato de encontrar cristãos de boa fé, que buscam seguir seriamente os ensinamentos de Jesus e praticar suas virtudes, é como encontrar um oásis. Estou falando sério.

É tamanha a ignorância na qual se veem perdidos os “leigos” budistas e hinduístas por meio de seus “hippoches” ou “gurus” orientais, que conversar com estes protestantes é, se não com um irmão, ao menos estar com um primo distante.

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Pois bem. Chega de papo, vamos à coisa.

Com a chegada do Natal, queríamos passá-lo catolicamente, e, vejam só, um dos pastores protestantes nos propôs para fazer um 25 de dezembro cristão, em um lugar absolutamente pagão, onde nem sequer conhecem a expressão “Christmas” [Natal] ou o nome de Jesus Cristo.

Como fazer? Nós não tínhamos experiência nestas coisas, então nos adiantamos e já deixamos um sim de resposta; então lhes entregamos o seguinte programa:

– 10 AM: Canções Natalinas (Já tínhamos escutado alguns dos que cantavam e eram cantos belos e dignos)
– 11 AM: Presépio vivo feito com crianças pagãs e protestantes, dirigido por uma voluntária belga, católica praticante, que lá estava há algumas semanas para dar “aulas de inglês” (catolicismo em inglês, digamos…)
– 12 AM: Santa Missa católica segundo o rito extraordinário…
– 13: Almoço
– 14: Pregação de alguns dos pastores
– 14:30: Pregação de alguns dos nossos, os padres
– 15: Jogos e algum filme para as crianças sobre a vida de Jesus
– 17: Benção final

Alguém poderá dizer:

– “Mas que coisa simples! Nós também fazemos isso aqui na minha paróquia!”

Pois é! O problema é que nem se dão conta de quão ousado foi isso neste contexto, no norte da Índia, onde o budismo, principalmente, é a religião predominante, sendo que os monges budistas não são os cordeirinhos que a new age mostra para nós, os ocidentais, consumidores crônicos de estúpidas ilusões.

Por que a missa tradicional? Foi de caso pensado. Como por aqui nos disseram que o sânscrito é a língua litúrgica e tradicional (embora ninguém fale), julgamos que, uma vez que ninguém aqui conhecia a missa católica, poderíamos lhes apresentar este tesouro muitas vezes centenário que a Igreja possui e que assim seguramente apreciariam.

No total, esperam-se umas trezentas pessoas, cem das quais seriam “párias” (pessoa trabalhadora que vive na rua) e absolutamente pagãos que… iriam à missa pela primeira vez!

Já fizemos 100 pequenos missais latim-inglês; as leituras serão feitas em nepalês com tradução simultânea do nepalês ao hindu, donde aproveitaremos para ensinar o que é a Santa Missa, o próprio Sacrifício de Cristo na Cruz de modo incruento, que se renova por nossa salvação.

Para os protestantes, será um ensinamento complementar; para os pagãos, uma completa novidade, pois seus ídolos jamais se entregariam à morte por cada um dos homens. Em breve narraremos as repercussões.

A Missa de Angelis, por sua vez, soará pela primeira vez nestas terras orientais, com o monte Kantchenzonga de fundo.

Pedimos por orações para que a Verdade, o Bem e a Beleza comovam essas almas afastadas deste Deus que se encarnou por nós há mais de dois milênios.

E viva o (verdadeiro) ecumenismo que converte!

Padre Javier Olivera Ravasi, 23/12/2016.

Fonte: Que no te la cuenten

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