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A Educação Católica: um mapa do caminho

Por Rodrigo Müller do Valle

Educar é fazer de uma criança um homem; de um homem um cristão e de um cristão um santo, um eleito”. — Monsenhor Pichenot.

A última década, em termos educacionais e culturais, foi primorosa para o rompimento da hegemonia intelectual do establishment imposto no Brasil desde, pelo menos, a década de 1960. O aumento do número de livrarias e publicações católicas e clássicas lançadas no mercado editorial brasileiro foi algo expressivo e, com isso, grande parte do público passou a conviver com autores que, até pouco tempo, eram desconhecidos. No plano educacional, o aumento do número de famílias que praticam o homeschooling fez com que as iniciativas nesse campo ganhassem um grande salto de qualidade e, por essa razão, até o Congresso Nacional foi obrigado a retomar as discussões sobre o tema. Com toda essa conjuntura posta, não podemos deixar de colocar, em um plano mais amplo, o debate sobre a educação católica.

A frase com a qual se inicia esse artigo, em certa medida, pode ser considerada como um mapa do caminho, apontando a direção fundamental que uma pessoa deve ser conduzida. Para isso, é fundamental que, em cada etapa desse processo, sejam colocadas as ações, a bibliografia necessária e o tipo de formação mais adequado. Somente assim, as famílias poderão voltar a ter condições de criar lares verdadeiramente católicos e, com isso, restaurar a Cristandade em sua base central. Por essa razão, é importante que se observe o atual quadro de coisas na sociedade brasileira e passe a discutir os passos para a mudança.

A educação no Brasil é lastimável em diversos aspectos. Em primeiro lugar, os resultados dos exames pelos quais passam os alunos são deploráveis. O Brasil, geralmente, ocupa os piores lugares no PISA (Programme for International Student Assessment). Esse programa é baseado em três grandes áreas do conhecimento e formam uma síntese de todas as matérias: leitura, matemática e ciência. Nesse sentido, observa-se que nossos alunos não conseguem realizar leituras complexas, fazer cálculos simples e o ferramental necessário para investigar as disciplinas fica comprometido. Em segundo lugar, não é apenas o aspecto quantitativo-qualitativo que é insatisfatório, mas a moralidade não entra no cálculo do processo de aprendizado.

A educação no Brasil, nesses últimos 60 anos, vem seguindo duas tendências bem claras: educação ideológica e destituição do catolicismo como fonte moral do processo educacional. Em termos ideológicos, nota-se, de um lado, a ideologia progressista que tenta criar o homem socialista, pervertendo todas as instituições e a moral. Como alvos preferidos desse grupo, estão a família, a Santa Madre Igreja e a pátria. Do outro, os liberais querem uma base curricular que permita o ganho econômico e o aumento da prosperidade material e, por conta disso, querem alijar valores universais do processo educacional. De forma bem sintética, tanto à esquerda como à direita possuem programas educais que desejam retirar a moralidade católica da educação.

Antes de observarmos a posição do Sagrado Magistério, é necessário compreender que a questão educacional fora trabalhada por Platão e Aristóteles de forma bem completa. Platão tinha como objetivo formar os homens para a realização de atos bons que, feitos de forma constante, gerariam um hábito bom, ou seja, virtuoso. Por essa perspectiva, o objetivo final não estava na ideologia e, tampouco, nos ganhos econômicos. Os jovens, inicialmente, seriam educados para tomarem o domínio de sua parte física e, posteriormente, seriam educados na virtude e na moral. Seu discípulo, Aristóteles, soube organizar a estrutura educacional, enfatizando os aspectos do legislador. A Escola Peripatética, fundada pelo Estagirita, seguia os princípios de virtude moral e bem comum.

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O Magistério da Igreja, aproveitando-se de toda a cultura e textos de Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino, Hugo de São Vitor e outros santos que estudaram a temática da educação, soube escrever a hierarquia dos atores e a forma pela qual deve ocorrer o ensino. Em primeiro lugar, é necessário compreender que toda família começa pelo Sacramento do Matrimônio e, em sua forma, o casal deve responder três questões fundamentais, sendo que uma delas é educacional. “Vocês se comprometem a educarem os filhos na fé cristã?” Pressuposto fundamental que cabe aos pais na educação. Nesse sentido, a encíclica Divini Illus Magistri, do Papa Pio XI, garante que o direito fundamental de educação dos país devem ser garantidos. Depois dos país, a Santa Igreja detém a função de educar os filhos pelos caminhos sobrenaturais e, por fim, cabe ao estado a educação.

A hierarquia de atores no processo de educação católica é categórica ao afirmar que o Estado não deve, em hipótese nenhuma, ser entrave para que o trabalho da Santa Madre Igreja e das famílias seja vilipendiado. Ora, o que se observa no Brasil é exatamente o oposto defendido pelo Magistério. As escolas funcionam, hoje, como deformadores de toda a educação que os católicos buscam incutir em seus filhos. Assim sendo, nota-se a propagação da ideologia de gênero, a educação sexual e a estrutura de escolas que são mistas, colocando os jovens em uma ocasião de pecado próxima, uma vez que é na juventude que as paixões precisam ser controladas com maior heroísmo. É fundamental lembrar, aqui, do Evangelho “Vigiai e orai, para não cairdes em tentação; pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt XXVI, 41). Como resultado, o que se observa é o descontrole da imaginação e o pecado torna-se uma infeliz realidade que corrompe a pureza dos jovens.

A primeira ação que deve ser buscada pelos católicos é a consolidação de um grupo que defenda, intransigentemente, o direito das famílias no processo educacional. Segundo Santo Tomás “O pai segundo a carne participa dum modo particular da razão de princípio que, dum modo universal se encontra em Deus… O pai é princípio da geração, da educação e da disciplina, de tudo o que se refere ao aperfeiçoamento da vida humana”. Por isso, é importante que não haja mais obrigatoriedade de matricular os filhos nas escolas, que o homeschooling tenha liberdade e que haja uma cruzada para que as escolas católicas sigam as instruções da Sã Doutrina.

A securitização da liberdade das famílias deve ser acompanhada pela concórdia entre a famílias e a Santa Madre Igreja. A família realizando a catequese doméstica, ensinando a Sã Doutrina e cuidando dos perigos e a Santa Igreja administrando os sacramentos, dando a direção espiritual das almas e protegendo as famílias contra o despotismo do Estado. Esse é o programa mais amplo em todo o projeto de educação católica no primeiro momento. Na educação, assim como em qualquer outro aspecto da vida social, o Princípio de Subsidiariedade deve ser respeitado. Somente assim, a educação das almas católicas terá o terreno preparado para o crescimento espiritual adequado.

O segundo passo para a consolidação do ensino católico no Brasil é a reversão completa da matriz curricular no Ministério da Educação (MEC). Atualmente, qualquer colégio deve respeitar as diretrizes do ministério, caso desejarem sem aprovadas e com capacidade de emissão de diplomas. Apesar de algumas escolas se dizerem católicas, essas mesmas não querem fazer frente ao totalitarismo do Estado e, nesse sentido, buscam a conciliação com o Estado maçônico imposto no Ocidente. Essa frágil atuação de alguns católicos é mais um exemplo da perda de todo o sentido de seu Crisma, pois eles são soldados de Cristo Rei.

Assim sendo, é fundamental que o ensino religioso seja sólido e não busque o ecumenismo ambíguo proposto pelo Concílio Vaticano II. O documento conciliar Unitatis Redintegratio é, em muitos de seus parágrafos, bastante problemático e, consequentemente, apresenta para os católicos que a revolta de Lutero não foi um pecado, mas somente uma dolorosa ruptura. Por isso, é dever dos católicos não matricularem os seus filhos em escolas laicas e, muito menos, em escolas protestantes. É fundamental recordar que Extra Ecclesiam Nulla Salus (Fora da Igreja não há salvação). Como consequência desse problema, as bases curriculares tentam conciliar os princípios inegociáveis com outras visões e, por essa razão, acometem no embotamento espiritual do jovem que se torna incapaz, pelas vias ordinárias, serem um Soldado de Cristo.

Na estrutura curricular, portanto, é importante que as escolas observem o Didascalicon de Hugo de São Vitor e, também, o método de ensino pedagógico dos Jesuítas. Somado a isso, pode-se colocar a ordem das disciplinas propostas por Santo Tomás de Aquino e, portanto, já há um programa sólido para ministrar as aulas de forma segura. Paralelamente a isso, é importante que os alunos sejam acompanhados por um bom sacerdote que irá guia-lo à Jerusalém Celeste e concedendo as graças ordinárias para a salvação. Por essa razão, urge aos católicos estudarem a alma humana, conhecendo as potências superiores (vontade e inteligência) e como se dão as operações dentro da razão.

Por fim, o jovem, uma vez que saiu da fase da adolescência e irá rumar para a vida profissional, deve ter condições de saber organizar bem a sua vida. Seja qual for a sua vocação, nesse momento crucial, o jovem deve saber ordenar bem os seus pensamentos, evitando maiores problemas e, com isso, traçando um caminho seguro. É aqui se começam os altos estudos, principalmente na Universidade que, ao contrário do que muitos pensam, é um privilégio e não um direito. A formação básica, dever dos pais, termina aqui e, dependendo de como se deu o processo, o jovem irá batalhar para continuar a sua formação ou, ao entrar em um seminário, será guiado pelo Reitor.

Nas universidades brasileiras, tudo o que se vê é a ausência da busca pelo universal, uma vez que a Santa Religião Católica foi deixada de lado. Mesmo em universidades que se dizem católicas, o liberalismo e o progressismo entraram com grande capacidade de moldar as estruturas, trazendo, em muitos países, a democratização da escolha de reitores em detrimento da obediência à hierarquia eclesiástica. Nesse sentido, é necessário maior pulso por parte dos pastores da Santa Igreja em não se conformarem com o mundo e defender a Doutrina Católica. Por fim, a universidade deve propiciar que um ambiente católico, com firmeza na defesa da Verdade e que proíba determinados livros ou os restrinja a grupos muito específicos. Principalmente nessa fase de formação, os erros filosóficos podem ser cruciais para a manutenção do aluno em um bom caminho.

A restauração da educação católica no Brasil será árdua e há um longo processo que deve ser seguido, porém, como qualquer grande empreendimento, é fundamental que se tenha um norte capaz de orientar os católicos nessa área. Caso contrário, a desarticulação não permitirá uma ação católica condizente com os desafios que estão postos. Portanto, católicos, vamos ao trabalho, pois a messe é grande e os obreiros são poucos.

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