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A Santa Madre Igreja e seu primeiro grande império

Coroação de Carlos Magno pelo papa Leão III
Por Rodrigo Müller do Valle

A modernidade ensinou para o mundo que a Religião e política não devem se misturar, uma vez que isso pode gerar tumultos, instabilidades e, consequentemente, a incapacidade de se obter os ganhos necessários para a felicidade. Esse é o corolário defendido pelos Protestantes, pelos Iluministas e pela Maçonaria, as três forças do demônio que definiram boa parte da estrutura da História Contemporânea. As decisões políticas, para eles, devem seguir a democracia, ou seja, a vontade de uma maioria que, segundo Rousseau, seria capaz de definir o que é bom ou não para a sociedade. No entanto, o resultado do afastamento da política em relação à Sã Doutrina Católica foram massacres, assassinatos em série e genocídios. A arte de governar nações deve voltar a ser tutelada pela Santa Religião Católica.

Os primeiros tempos da Cristandade foram marcados por profundas perseguições ao Corpo Místico de Cristo. Logo após a Paixão, Morte e de Nosso Senhor Jesus Cristo, os católicos começaram a sofrer torturas, prisões e ataques de todos os lados. Nesse sentido, é curioso saber que São Paulo, o apóstolo dos gentios, converteu-se em uma viagem à Damasco, exatamente para perseguir a Santa Igreja. Como resultado, São Paulo evangeliza boa parte da Turquia, Grécia e Roma, terminando a sua carreira no martírio em Roma, juntamente com São Pedro, o primeiro Papa.

A perseguição ao Corpo Místico de Cristo continua no Império Romano, fazendo dos católicos o alimento preferido dos leões, tigres e outras bestas. Contudo, o que se observou é que o Catolicismo, por ser Verdadeiro, continuava crescendo, convertendo pessoas e ministrando os sacramentos. Por essa razão, Tertuliano disse “o sangue dos mártires é a semente de novos cristãos”. Nesse sentido, a vitalidade católica conseguiu sobreviver aos primeiros três séculos de perseguição no império e, em 313, conseguiu a liberdade religiosa com o Edito de Milão. Pouco tempo depois, o Catolicismo torna-se a religião oficial do Império. Nota-se, portanto, que não se pode deixar de haver religião oficial, visto que, em pleno século IV, não se tinha nominalismo. A definição da Santa Religião Católica como oficial é questão de justiça, defendendo os privilégios da Igreja e proclamando que Cristo é Rei em todo o Universo1

A partir do século IV, os efeitos da longa crise do século III2 apareceram e, com isso, o Império começa a perecer. Mais do que a divisão que acomete o grande império, começam as brechas na Pax Romana e, aos poucos, as bases nas quais se assentava o poder de Roma são solapadas. É durante esse período conturbado da história da Santa Madre Igreja que a Providência atua. Da cidade de Hipona, nasce Santo Agostinho que, depois de um longo processo de conversão, consolida-se como um dos quatro grandes Padres da Igreja do Ocidente. Para além de suas obras teológicas fundamentais, o livro Cidade de Deus é uma verdadeira aula de como que os vícios e virtudes são os responsáveis pela grande batalha entre a Cidade de Deus e a Cidade dos Homens. A análise proposta pelo é capaz de mostrar todos os erros cometidos pelo Império Romano.

Da queda do Império Romano até a formação do Império Carolíngio, em 800, a Europa Ocidental sofre com muitos problemas: desintegração política, invasão dos bárbaros e desarticulação da evangelização. Para conter a profunda crise que assolava a Cristandade, a Providência, mais uma vez, opera em favor da Santa Mãe Igreja. Em primeiro lugar, São Gregório I é o responsável por fazer o mapeamento de todas as heresias e iniciar o diálogo com os pagãos. Em segundo, São Bento emerge como o grande santo responsável por garantir a vitalidade da vida monástica e de oração pelas necessidades do Papa. Assim sendo, é importante notar que o fundamento é a vida espiritual e que tudo sai da vida da graça.

Os frutos desses dois movimentos são enormes. A Cristandade consegue se articular para a conversão dos bárbaros, principalmente os gauleses, celtas e vikings. Nesse sentido, se anteriormente a unidade era garantida pelas armas da Legião Romana, agora, o princípio é a Santa Missa que garante a vitalidade. Além disso, os católicos conseguem se articular para evitar que o Islã conseguisse penetrar no coração da Europa. Na Península Ibérica, subsiste o Reino das Astúrias cujo líder Pelágio obtém grande vitória em Covadonga e, na Gália, Carlos Martel vence os maometanos na Batalha de Potiers. Pode-se observar, então, que a Cristandade começa a se articular com maior intensidade

A partir do ano 800 é que começa, de forma mais intensa, a cooperação entre a Santa Madre Igreja e o poder temporal. Tudo começa com a coroação de Carlos Magno feita pelo Papa São Leão III3. A partir desse momento, o poder temporal fica submetido à Sã Doutrina Católica que passa a ser defendida por todos os monarcas da Idade Média. No entanto, não é esse momento de coroação que, apesar de ser emblemático, é característico de todo o reinado, mas sim a forma pela qual foi estruturado reino que é o centro desse artigo.

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O imperador Carlos Magno, que havia consolidado a estabilidade da Santa Madre Igreja, passou a ver a necessidade de um grande projeto de desenvolvimento político, cultural e sociológico. Somente assim é que o Império Carolíngio teria as condições necessárias para fazer frente ao Islã e aos Pagãos do Leste Europeu. Para essa grande tarefa, ele vai até as Ilhas Britânicas e escolhe o bispo Alcuíno de York para organizar todo o projeto educacional e cultural. Para garantir que esse projeto funcionasse, submeteu todos os projetos políticos à Santa Madre Igreja. Começa aqui a concepção de que trata Leão XIII na Immortale Dei, dizendo: “Houve um tempo em que a filosofia do Evangelho governava os Estados. […] então o sacerdócio e o império estavam ligados por um entendimento feliz e a troca amigável de bons ofícios”.

Assim sendo, tem-se início o projeto de Alcuíno, que era baseado no seguinte tripé: ensino das artes liberais, vida de oração bastante consolidada com centralidade na Santa Missa e escolas monacais. As artes liberais seguiam, fundamentalmente, a estrutura clássica do Trivium e Quadrivium, ou seja, em um primeiro momento, as pessoas teriam o domínio da gramática, retórica e dialética (bases fundamentais para se comunicar e buscar a verdade) e, depois, estudar as disciplinas que dariam os recursos para atuar na produção da ciência. A vida de oração era central pelo fato de que, caso não houvesse, as graças para bem estudar estariam comprometidas. Por fim, as escolas monacais deram centralidade para os monges copistas que, por meio de árduo trabalho, possibilitaram o aumento dos volumes das publicações clássicas. Esse era o panorama cultural que ficou conhecido como Renascença Carolíngia.

Na política econômica e na forma de consolidar o Império, Carlos Magno trabalha para a estruturação do feudalismo, principalmente pelo princípio das especializações das funções. Nesse sentido, o Primeiro Estado, a aristocracia, fica com a incumbência de defender o império contra os invasores, mas com a prerrogativa de deter a posse de títulos e terra; o Segundo Estado, o Clero tinha o monopólio da educação moral e religiosa, mas era o responsável por cuidar dos enfermos; por fim, o Terceiro Estado, a plebe detinha o poder de trabalhar e montar negócios e, portanto, obter recursos econômicos. Essa estrutura mostra, evidentemente, os deveres e as obrigações de cada um e mostra como que é falsa a Dialética Marxista da história. Para desmascarar a falácia liberal de que o objetivo era o ganho econômico, o império impedia o ganho por meio da Usura4 e a Corvéia5, ambas buscando limitar os ganhos através do vício do egoísmo

A breve análise do Império Carolíngio é fundamental para os dias de hoje. Em primeiro lugar, por que o liberalismo deseja que o estado seja laico e, mesmo entre alguns católicos há quem defenda que o Estado não pode professar nenhuma religião. A postura de Carlos Magno se fundamenta no princípio que é defendido por Jacques Bossuet: o Direito Divino dos Reis. Porém, diferentemente do que Bousset tinha como ideia de Estado Absolutista, Carlos Magno se colocava de forma submissa à Santa Igreja e não queria a concentração de poder. Isso pode ser notado na atuação política junto à aristocracia e também junto à plebe. Em segundo lugar, o projeto educacional de qualquer estado deve privilegiar o ensino católico, dando total liberdade à Santa Madre Igreja. Infelizmente, hoje o Estado Liberal Maçônico impede o desenvolvimento desse pressuposto por meio do princípio da igualdade, consolidado na Revolução Francesa. Em terceiro lugar, Carlos Magno sabia da importância de manter boas relações com a Santa Sé e defendê-la. Porém, hoje os Estados ficam silentes quando atos de terrorismo acometem as Paróquias, como aconteceu no Chile.

Essas considerações servem como fundamento para reflexão, uma vez que os católicos são chamados para o combate. Assim sendo, ainda que hoje o mundo moderno seja uma realidade, o objetivo deve ser o combate aos princípios que fundaram esse estado de coisas. Além disso, deve haver o claro posicionamento da Religião Católica como a única religião. Ademais, os católicos devem estudar a Doutrina Social da Igreja (DSI) com muita intensidade, principalmente na formação e na Ação Católica. Infelizmente, estamos em uma profunda crise na Mãe Igreja e, com isso, os leigos são levados a atuarem de forma mais contundente. Sem essa formação, que se enquadra no campo prático, a atuação fica comprometida e, consequentemente, os católicos não conseguirão ser o sal da terra e a luz do mundo. Por fim, os católicos devem ser intransigentes com o Pecado, evitando todas as ocasiões, pois a perda da Graça Santificante impede que as boas obras tenham os frutos agradáveis a Deus. Isso só é possível por meio de vida de oração e frequência sacramental.

Assim como no século IX, a Cristandade está ameaçada, porém de forma mais intensa. A grande diferença é que, se Carlos Magno teve a graça de ter como Sumo Pontífice São Leão III, nós, no século XXI, padecemos por não ter a mesma firmeza e combatividade. Por essa razão, é fundamental que se reze a Oração de São Miguel Arcanjo, entregando nas intenções do Santo Padre e também apoiando os padres que buscam, com sinceridade, a ortodoxia da fé. De certa forma, os católicos foram profundamente contaminados pelas revoluções, no entanto é importante reconhecer isso e, paulatinamente, reconstruir a estrada que fora perdida nesse Vale de Lágrimas.


1 Para maior estudo a respeito, recomenda-se a leitura de duas encíclicas: Quas Primas, do Papa Pio XI e a Immortale Dei, de Leão XIII.

2 A Crise do Século III refere-se a uma série de guerras civis e invasões bárbaras que acabam por diminuir a força do Império Romano. Consequentemente, o Império é dividido entre Ocidente e Oriente. Enquanto este consegue superar a crise e cria-se o Império Bizantino, aquele perece e deixa a Europa prostrada.

3 Carlos Magno é coroado como Rei dos Franco e dos Lombardos, depois de ter conseguido importantes vitórias militares, a favor da Santa Madri Igreja, contra esses povos pagãos. Para se ter uma formação do imaginário melhor, recomenda-se escutar o canto Laudes Regiae, que simboliza todo esse momento histórico.

4 Forma de ganho econômico que é semelhante às especulações no mercado financeiro, principalmente naqueles atores que detém informações privilegiadas.

5 Trabalho dos vassalos nas terras dos suseranos.

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