No dia 21 de setembro passado, foi publicado a “Síntese narrativa: A escuta na primeira Assembleia eclesial para América Latina e Caribe – CELAM” (224 pp. que lemos antes do advento), conclusão “NÃO OFICIAL”, segundo seus apresentadores (p.2), de cinco meses de “escuta ao povo de Deus” através de respostas e contribuições por meio da página da “Assembleia sinodal” do CELAM.
Como habitualmente acontece nestes casos, as “propostas” não só parecem ter sido elaboradas por certos grupos ideológicos minoritários, encistados nas estruturas do poder eclesial, mas também selecionadas com um fim bastante preciso: “o processo de conversão da Igreja” (p. 1).
A técnica não é nova (algo parecido já ocorreu no Congresso Americano Missionário na Bolívia e no Sínodo dos Jovens de 2018): trata-se da repetição constante com o fim de tentar impor “a partir de baixo” os novos “paradigmas eclesiais” como o do ginacolitado, o “sacerdócio feminino”, a “abertura para a homossexualidade na Igreja”, a teologia do povo e da libertação, entre outras coisas.
Com o objetivo de expor ao povo o que “o povo planejou”, é que oferecemos aqui algumas pérolas extraídas deste documento que, mais do que uma síntese, resulta ser um “copy-paste” de propostas individuais, teologicamente desordenadas, sem muito método nem lógica que, contudo, “se conecta com o Sínodo da Igreja Universal sobre Sinodalidade, onde estaremos compartilhando os múltiplos frutos desta experiência como Assembleia Eclesial que segue seu caminho” (p. 2).
Vejamos alguns dos textos propostos por parte do “povo santo de Deus” “que é infalível in credendo (Mensagem de abertura da primeira Assembleia Eclesial de AlyC do CELAM (p. 1), vários deles titulados (sic) como “pérolas” das “vozes do povo de Deus”.
O que vem a seguir são algumas citações textuais (o documento completo pode ser consultado AQUI).
Teologia da libertação
“Promover uma teologia da libertação, libertadora, que nos permita que nos conectemos efetivamente ao projeto libertador de Jesus, que nos permita reconhecer as estruturas de poder e opressão, que facilite o encontro, o diálogo, e que promova os gestos e atitudes de esperança para viver um ministério eclesial vivo. Retornar às fontes, como convida o Papa Francisco, e retomar seu compromisso inicial de deixar tudo para servir e fazer Jesus conhecido. Que tenha preferência pelos pobres e fragilizados de nosso continente. Retornar à mensagem de Aparecida e retomar a Teologia da Libertação sem medo de censuras, senão com a certeza de ir pelo caminho correto” (p. 25). “Hoje oferecemos a imagem de uma Igreja afônica, cinza, que não atualiza a mensagem do Concílio Vaticano II, que não projeta a mensagem libertadora de Aparecida, nem as exigências da Teologia da Libertação” (p. 26).
Educação global e marxista
“Vozes do povo de Deus. Pérolas (sic): Continuemos sonhando com o pacto educativo global, porque a educação é a porta de entrada para dias melhores na sociedade. Cremos firmemente que o acesso à educação é um direito, por isso a necessidade de um “Pacto Educativo Global”… Libertar a educação, como defende Paulo Freire (e outros), é o caminho para uma sociedade onde cada cidadão está sujeito (cidadania ativa)” (p. 48).
O Mundo protestante
“Vozes do povo de Deus. Pérolas (sic): “A Igreja católica não considera as igrejas PROTESTANTES como perigo para a fé, mas sim como formas distintas de crer em Deus (…)”. “Os Pastores e fiéis PROTESTANTES são mais entusiastas, ativos e em saída” (p. 86).
“O crescimento constante das IGREJAS EVANGÉLICAS e pentecostais em troca de receber bens materiais para melhorar sua qualidade de vida” (idem).
Sacerdócio e diaconato feminino
Presença e participação sem voz da mulher na Igreja: Reconhece-se sua presença e sua participação… mas muitas vezes de forma passiva, submissa e sem que tenha voz nas instâncias de decisão eclesial. Ministerialidade da mulher: É necessária a formação e o reconhecimento da ministerialidade da mulher numa Igreja em saída, incluso o diaconato feminino (…). Respeito e igualdade de opções que têm os sacerdotes, bispos dentro das comunidades eclesiais (p. 95)… “Pedir mudanças no direito canônico e na estrutura eclesial para que as mulheres assumam ministérios eclesiais / refletir seriamente e abrir-se à possibilidade de ministérios ordenados (diaconato, ministério presbiterial)” (p. 97).
“A igreja não pode ficar estagnada, requer-se uma adoção de medidas transformadoras, reconhecer que foram cometidas e se cometem injustiças especialmente contra a mulher dentro da igreja. Desmistificar o templo, retirar a Eucaristia dos templos e levá-la para a vida corrente. Combater o clericalismo e optar por uma igreja sinodal (caminhando com todos/todas sem exclusão de ninguém), com a construção de estruturas fraternas” (p. 100).
“(Vozes do Povo de Deus. Pérolas) Falta valorizar o trabalho pastoral e a missão de evangelização da mulher. Criar o diaconato da mulher (p. 188)”.
“Não só há necessidade de mulheres diáconos, senão que são uma realidade. Uma Igreja sinodal merece mulheres diáconos” (p. 189)
Sacerdotes casados e celibato optativo
“Que se promova um departamento de ação pastoral nas conferências episcopais e na CELAM para o acompanhamento, atenção e diálogo constante com os sacerdotes casados”.
“Que se promova a nível profissional, desde a dimensão humana, psicológica, filosófica e teológica, uma comissão de estudo que aporte luzes sobre o celibato optativo, que apresente uma nova dimensão do ministério sacerdotal de acordo com a realidade atual”.
“Analisar a necessidade do celibato optativo como uma resposta às problemáticas que se apresentam na vida sacerdotal”.
“Que se leve em conta a experiência dos sacerdotes casados na vida cristã como igreja doméstica, pastoral, sacerdotal, profissional, empresarial, laboral, educativa para que contribua ao crescimento da vida diocesana e paroquial” (p. 123).
Aceitação da homossexualidade
“A homossexualidade no clero de forma silenciosa vem disfarçada de cumprimento do celibato… A Igreja já não representa uma espiritualidade viva. A redução do cristianismo a alguns eventos sacramentais administrados pela casta clerical tem condenado a enorme maioria dos crentes a um papel passivo… por exemplo os discursos de moral sexual desde a Igreja já não têm nenhuma relação com a vida dos crentes” (p. 124).
O que dói: “Dor pela indiferença da Igreja frente ao tema da Diversidade Sexual. É a dor das pessoas LGBTIQ+, ao se sentirem rejeitadas pela Igreja, frente a sua orientação sexual… Constatar que, a partir de alguns púlpitos, há presbíteros que repetem e reiteram a rejeição à diversidade sexual.
Dor e decepção frente àqueles colégios católicos, instituições que não acolhem com respeito, tolerância ativa e inclusão, a orientação sexual de filhos e filhas. Inquietação que depois de cinco anos de Amoris Laetitia não se tem avançado em praticamente nada, especialmente no que se refere à educação do clero e da hierarquia frente à diversidade sexual.
Algumas novas instâncias eclesiais que apareceram nestes últimos anos, as quais promovem a participação laical e o respeito à diversidade sexual.
Dar esperança à participação cidadã e aos movimentos sociais (incluindo o lgtbi+), que propiciam novas possibilidades de diálogo, mas centradas na pessoa e no bem comum, questionando o modelo atual” (p. 198).
Participação de pastorais, redes e instituições em fóruns
Evangelização desde baixo
(Vozes do povo de Deus. Pérolas): “DEIXAR-SE EVANGELIZAR PELOS POVOS onde se encontram as sementes do Reino que se constroem na terra, em um tempo e um espaço determinados” (p. 118)… “A Igreja precisa escutar a sabedoria ancestral, reconhecer os valores presentes no estilo de vida das Comunidades Originárias” (p. 119)
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Estas e muitas outras coisas foram as que alguns, revogando-se a representação do “Santo Povo de Deus” (assim, com maiúscula), desejam impor de modo um tanto apressado, como se lhes restasse pouco tempo.
Stat Crux dum progres volvitur (a cruz permanece, enquanto os progressistas dão voltas).
Fonte: Que no te la cuenten