Eis que aqui em Curitiba um vereador do PT (Partido dos Trabalhadores) incitou a invasão de uma igreja histórica, Nossa Senhora do Rosário, em plena Missa. O pretexto: protesto contra um suposto racismo estrutural. O motivo formal: o espírito revolucionário. É isso que iremos analisar neste artigo.
A questão da violência e do vandalismo, sob a perspectiva psicológica, pode ser tomada sob diversos pontos de vista. Fulton Sheen, em seu livro Ansiedade e Paz (também publicado sob o título A Paz da Alma), a explica a partir de ideologias sociológicas imanentistas e materialistas que, uma vez aceitas pelo coração humano, fazem com que ele fique primeiro ansioso, depois frustrado e por fim odiento.
E este percurso seria uma espécie de contaminação: aceitando as premissas dessas ideologias (marxismo e freudismo, principalmente), o homem fecha-se em si mesmo e, longe de contemplar o bem, passa a justificar, em um processo de vitimização, seus fracassos existenciais por conta de ordens sociológicas ou psicológicas impossíveis de serem transpassadas (marxismo: a superestrutura; freudismo: o superego). Longe de possuir a potência do autodomínio, o homem (e, portanto, o juízo de si mesmo) é então visto como vítima de forças supra-humanas, sendo sempre vítima de algum poder obscuro (marxismo: vítima da estrutura social burguesa; freudismo: vítima de suas pulsões inconscientes, traumas na infância, etc). Ora, ignorando qualquer abertura ao transcendente, fechado em si mesmo, a consequência é o acúmulo de frustração (sentimento de impotência ante uma dificuldade, julgada como impossível de ser superada); a injustiça é tomada como norma e, portanto, o ódio é alimentado no coração. Assim a frustração por derrotas sofridas se transforma, em um curto percurso, em ódio de si (uma autopiedade neurótica que faz com se considere incapaz de se desenvolver), e do ódio de si em ódio a tudo o que lhe desagrade (por racionalização, justifica seus fracassos como resultado inevitável de forças ocultas insuperáveis). Eis a grande mola propulsora do ressentimento como meio de alimentar a revolução.
A psicóloga e pedagoga Mercedes Palet, por sua vez, faz uma abordagem educacional. Crianças que são criadas sem amor paterno e materno (ambos, em equilíbrio), vão desenvolvendo um vazio existencial conforme crescem. Ao não terem um modelo de amor por que se guiar durante a infância, ficam inconscientemente descrentes no amor, apegando-se apenas às realidades mais superficiais e materiais. Quando entram na adolescência e na vida adulta, carregam consigo a crença de que a vida não tem sentido (pois o amor é o sentido da vida), desenvolvendo um ódio contra si mesmo e contra a realidade. Desta alma castrada à transcendência nasce atitudes de autodestruição e de destruição alheia, fomentadas por pulsões de ódio que nascem a partir de seus desesperos.
Mas eu proponho aqui ir para uma causa mais profunda. Longe de ir contra a análise mais sociológica de Fulton Sheen ou da análise educacional e familiar de Mercedes Palet, quero confirmá-las sob uma nova luz, que aqui chamarei de espírito revolucionário. E donde nasce tal espírito? De uma velha heresia chamada gnosticismo (a salvação pelo conhecimento).
Todo adepto consciente ou inconsciente do gnosticismo parte do pressuposto de que o mundo foi mal criado. Se, por um lado, nós católicos, confiando no testemunho do Gênesis, vemos que Deus criou o mundo e que, por isso, a Criação é essencialmente boa, culpando o pecado e seu consequente mistério de iniquidade, isto é, o afastamento de Deus, pelo problema do mal no mundo; por outro, os gnósticos justificam o mal alegando que o mal acontece por “defeito de fábrica”.
Ora, se o mundo é defeituoso, como pensa esta heresia já remotamente refutada por Santo Irineu, ele precisa ser consertado. E como consertá-lo? Adquirindo o conhecimento necessário para isso. E quem possuirá este conhecimento? Os pneumas, os homens espirituais: pessoa dotada de uma alma iluminada capaz de usar o conhecimento do deus bom para consertar os erros da criação má causada pelo demiurgo (deus mau).
Quando esta heresia é sedimentada na política, temos então o Partido ou Seita Política assumindo o status messiânico, e a ideologia deste partido como a receita para curar os males sociais para trazer ao mundo o Paraíso Terrestre. A política converte-se em religião, ainda que se diga ateísta e materialista, como é o caso do comunismo.
Os partidos e ideologias políticas são o que formam, portanto, a estrutura social do espírito revolucionário. É um espírito porque a ideia gnóstica é imaterial; é revolucionário porque crê que cabe ao homem iluminado consertar os erros do mundo, o que inclui, certamente, o homem não-iluminado (os opositores ideológicos).
Toda estrutura gnóstica, pois, crê que a salvação do mundo reside na adesão de todos os homens inferiores aos ditames dos homens iluminados. E é daqui que nasce a psicologia do vandalismo.
A consequência psicológica da crença gnóstica é a divisão do mundo entre iluminados e não-iluminados, gerando a característica de um duplo padrão na alma das pessoas contaminadas pela doença revolucionária. Os iluminados podem coisas que os não-iluminados não podem; os revolucionários, porque se consideram “conscientizados e libertos” da ilusão do demiurgo, têm o privilégio de agir sem poderem ser julgados; uma lei moral não pode ser aplicada a eles, mas somente aos outros, porque eles estão em outro nível, porque só eles enxergam a solução para os “problemas do mundo”.
É por isso que um vereador do PT se sente à vontade para invadir uma Igreja em plena Missa para fazer protesto ideológico e acusar a Religião de ser promotora de racismo. Há, é verdade, o artigo 128 da constituição que proíbe isso, mas isso não vale para os revolucionários, que, em sua lógica gnóstica, se consideram acima das leis. Para nós, é vandalismo; para eles a luta por “justiça social” é o suficiente para lhes dar carta branca.
A imagem deste artigo é didática. Um cidadão cobra do vereador petista uma atitude mais respeitosa. Porém, para o vereador, os desrespeitosos foram os que se incomodaram com a manifestação, porque “se seguissem os princípios cristãos, somariam-se à manifestação”. Não obstante, ainda moraliza o contestador: “Então não vem não, filisteu. Suas palavras são contrariadas pelas suas ações”. Fica nítido, pois, o esquema mental gnóstico do espírito revolucionário. Desrespeitoso não é quem invade a Igreja, mas quem critica a ação dos iluminados. Afinal, nesta mentalidade, o homem inferior (um cristão conservador, neste caso) não tem direito de criticar o homem superior (um justiceiro social revolucionário, neste caso).
Some-se esse aspecto religioso da questão, com o aspecto sociológico de Fulton Sheen e com o aspecto educacional de Mercedes Palet: tudo se junta para promover o ódio e o vandalismo. O ódio como meio para alcançar a “felicidade”, o ódio como força motriz para alcançar o paraíso terrestre.
Bem diferente é a cosmovisão católica. A Criação, longe de ser defeituosa, é manifestação da bondade de Deus. O homem, parte desta Criação, pecou, e o poder do mundo foi dado a Satanás. Mas nesta batalha entre Deus e o demônio pelo coração dos homens, temos a Graça e os mandamentos. Não existe duplo padrão, a lei divina e eterna é para todos. Não é a iluminação de ideologias gnósticas, mas a humildade o princípio da sabedoria. É a obediência aos preceitos divinos o caminho para que se trabalhe para o crescimento de uma verdadeira justiça social.
Se ocorrem males e desgraças no mundo, é na meditação e obediência das leis eternas que podemos contemplar a bondade e o amor de Deus. E então perceberemos que o meio para melhorar o mundo não está no ódio da revolução, mas no amor a Deus, e que, o que é o principal, este melhoramento não é outra coisa senão o efeito colateral de estarmos olhando para o céu, pois é lá, e não aqui nesta terra, que obteremos a nossa perfeição, embora o caminhar para a perfeição comece aqui. E queira Deus que não sejamos apanhados pelo gnosticismo e seu espírito revolucionário.