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Por que o Sínodo fez grande silêncio sobre a Missa Tridentina?

Participantes da 13ª Perigrinação Summorum Pontificum realizada em 26 de outubro de 2024 (Foto: Edward Pentin)
Participantes da 13ª Perigrinação Summorum Pontificum realizada em 26 de outubro de 2024 (Foto: Edward Pentin)
Por Edward Pentin

As comunidades em torno da Missa Tradicional em Latim estão florescendo em todo o mundo com vocações crescentes e grande participação nas missas, mas sua existência foi ignorada na assembleia e no relatório final do Sínodo da Sinodalidade.

Uma das principais críticas em relação à assembleia final do Sínodo da Sinodalidade tem sido a de que, apesar de sua frequente ênfase na escuta e no diálogo, muitas vozes relevantes e importantes não foram ouvidas.

Em sua aviação final do sínodo, George Weigel apontou algumas dessas vozes faltantes, como os casais com casamento feliz, educadores católicos que resistem à atual agenda “woke” e profissionais da saúde que vivem uma cultura da vida.

Mas outro grupo que se destacou por sua ausência foram os fiéis que valorizam a liturgia tradicional e a tradição apostólica – um grupo pequeno, mas próspero, que cresce tanto em termos de vocações quanto de frequentação à Igreja, mas que atualmente está sujeito a restrições abrangentes desde que o Papa Francisco publicou o motu proprio Traditionis custodes em 2021.

Durante a fase de consulta mundial do sínodo 2021-2024, grupos tradicionais como a Latin Mass Society of Great Britain (LMS) e a International Federation Una Voce (FIUV) incentivaram seus membros a darem suas contribuições, e muitos assim o fizeram compartilhando suas visões como parte do processo sinodal.

Contribuições escritas, a maioria delas da Europa e dos Estados Unidos, foram colocadas nos relatórios sinodais durante a fase continental que ocorreu do final de 2022 a março de 2023, e continuaram sendo registradas por bispos nos relatórios de síntese que se seguiram.

No último inverno [verão para nós], escrevendo ao jornal da FIUV, Gregorius Magnus, o presidente da LMS, Joseph Shaw, observou que algumas conferências episcopais, como a de Malta, Itália, França e Austrália, tenderam a ignorá-los completamente. Mas quanto àqueles países e dioceses em que a Missa Tridentina estava bem estabelecida, escreveu que seus relatórios de síntese nacional e diocesana tendiam a “reconhecer a existências de Católicos vinculados à Missa Tradicional e relatar seu ponto de vista”.

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Eles foram frequentemente mencionados num contexto de um desejo por uma liturgia mais reverente, com preocupações a respeito de divisões e como possuidores de um sentimento de exclusão e marginalização por estarem ligados ao rito antigo.

Contudo, à medida que o sínodo avançava, essas contribuições não faziam parte da discussão da assembleia, nem sequer foram colocadas no documento final. “Elas meio que foram jogadas no lixo”, disse Shaw ao Register, acrescentando que eles eram “como sementes que cresceram entre os espinhos”.

Apelos direitos aos organizadores do sínodo também foram ineficazes.

Em abril deste ano, Jean-Pierre Maugendre, quem lidera o grupo tradicional francês Renaissance Catholique, fez um apelo direto ao escritório do sínodo em favor da liberdade total para a Missa Tridentina, porque queria que todo o mundo tradicional participasse no sínodo, mas o Register teve conhecimento de que Maugendre não foi respondido, sequer recebeu um aviso de recebimento.

Noah Peters, fundador e presidente da Arlington Latin Mass Society em Virgínia, disse ao Register que “desde o inicio até o documento final, o Sínodo da Sinodalidade se recusou a reconhecer ou a agir levando em conta as contribuições que recebeu dos Católicos tradicionais, tanto religiosos quanto leigos.

Ele disse que isto ocorreu a pesar de os Católicos apresentarem “pontos de vista bem ponderados durante todo o processo”, onde destacavam como a Missa Tradicional em Latim “tem sido fonte de abundantes vocações, conversões e reversões, e como as restrições foram dolorosas e cruéis”. Mas ele acrescentou que “estava claro desde o começo que as lideranças do sínodo não estavam interessadas em ouvir ou agir considerando essas opiniões”.

A discrepância ficou ainda mais evidente quando os participantes do sínodo discutiram o problema das vocações e a falta de padres no Ocidente.

As comunidades Católicas Tradicionais têm sido vistas como o único grupo demográfico católico que está crescendo no mundo ocidental, com grupos tradicionais como o da Fraternidade Sacerdotal São Pedro (FSSP) reportando um número recorde de vocações em 2023 e um crescimento significativo de seus membros em geral. Numa visão mais geral, a participação nas liturgias tradicionais tem aumentado, e peregrinos que participam de eventos como a tradicional peregrinação anual a Chartres, na França, têm batido recordes.

Um Padre tradicional americano disse ao Register, sob condição de anonimato, dado as restrições que pesam sobre o rito antigo, que as comunidades tradicionais estão sendo “inundadas de consultas vocacionais e lutam para ter espaço para acomodar aqueles que aspiram a se juntas às suas fileiras”. Ele acrescentou que, se fosse há algum tempo atrás, muitas dessas vocações em construção teriam se aproximado de suas dioceses locais, porém, desde Traditionis custodes, eles pensam que “não podem mais confiar seu discernimento vocacional àqueles que efetivamente suprimiram os entendimentos tradicionais sobre o que significa ser um Católico”.

O documento final do sínodo reconheceu a crise de vocações, mas apresentou soluções outras que ignoraram completamente a existência da liturgia tradicional, como “ampliação e estabelecimento” de ministérios leigos.

O problema também foi levantado em algumas conferências de imprensa. O Cardeal Franz-Josef Overbeck de Essen, Alemanha, disse aos repórteres em 22 de outubro que “até o momento não encontramos uma solução para a falta de padres” e sugeriu que precisava ser encontrada “considerando as mulheres na Igreja”, incluindo a instituição oficial de mulheres pregadoras.

O Cardeal Jean-Claude Hollerich, relator geral do Sínodo da Sinodalidade, também destacou o problema da falta de padres em Luxemburgo, seu país profundamente secular. Ele disse aos repórteres que, para combater este problema em sua diocese, ele precisou unificar paróquias, não só por causa da falta de padres, mas também por causa da “falta de fiéis”. A liturgia tradicional não foi mencionada como uma possível solução.

Abbé Claude Barthe, autor especialista em liturgia tradicional e padre da Diocese de Fréjus-Toulon na França,
disse ao Register que “ninguém no sínodo, nem mesmo bispos que conhecem bem o mundo tradicional, como o Bispo Matthieu Rougé de Nanterre, mencionou as possibilidades do mundo tradicional, onde há um número significativo de vocações”.

Quando, no final do sínodo, Register perguntou ao Cardeal Hollerich o porquê de os católicos tradicionais e suas opiniões sobre vocações e outros problemas não terem sido considerados nos estágios finais do processo sinodal, ele respondeu: “Conheço pessoas que celebram a Missa no rito antigo e sou amigo delas. Num mundo pós-moderno, eu consigo imaginar por que se sentem atraídas por este rito; eu não condeno isso”.

Quando pressionado mais um pouco sobre a questão, ele respondeu dizendo que o Catolicismo tradicional “não foi um tópico levado para discussão”, acrescentando: “Não éramos contra eles; não éramos a favor deles”. questionado sobre como esta abordagem pode ser dita sinodal, dado que sinodalidade supõe escutar todos os pontos de vista, ele respondeu: “Discutimos as coisas que foram trazidas pelo povo de Deus, e essas pessoas não nos escreveram”.

O cardeal foi novamente questionado sobre o assunto na parte de fora da sala de imprensa, mas ele disse que estava “muito cansado” antes de adentrar em uma sala para ser entrevistado pela mídia do Vaticano. Perguntado mais uma vez se ele poderia explicar por que o Catolicismo tradicional não foi incluído, declinou de novo, dizendo que ele tinha jovens a atender esperando por ele.

Ao falar ao Register no encerramento do sínodo, o Arcebispo Andrew Nkea de Bamenda, Camarões, que foi membro do Conselho Ordinário da Secretaria Geral do Sínodo e supervisionou a condução do processo 2021-2024, reconheceu que o Catolicismo tradicional foi omitido e disse que a razão foi Traditionis custodes. “Nós não iríamos discutir o [motu proprio do] Papa no sínodo”, disse.

Para o Abbé Barthe, a exclusão feita no sínodo da sinodalidade foi “obviamente ideológica”, e apontou para “outras áreas onde a ‘receita’ tradicionalista funciona”, como “a frequência à Missa, os movimentos de jovens, e o ensino do Catecismo”.

Peters disse que, embora o documento final “talvez não tenha sido tão mau como se temia, o processo tendencioso infelizmente ocultou as vozes dos leigos e religiosos que se manifestam em grande número a favor da liturgia tradicional e do magistério imutável da Igreja”.

Também adicionou: “Está mais evidente do que nunca que Traditionis custodes está em total desacordo com o conceito de Igreja sinodal”, mas disse que estava “confiante de que os sínodos futuros não poderão evadir-se da deliberação orante e imparcial que é necessária nesses tempos difíceis para a Igreja”.

Membros do secretariado do sínodo também foram contactados para esta reportagem, mas não responderam até o tempo desta publicação [6 de novembro].

Fonte: National Catholic Register

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