Em 22 de fevereiro, depois de alguns dias de internação na Policlínica Gemelli, houve um agravamento no estado de saúde do Papa Francisco. Era o dia da festa da Cátedra de São Pedro, uma tradição muito antiga, atestada em Roma desde o século IV, com a qual se agradece a Deus pela missão confiada por Cristo ao apóstolo Pedro e seus sucessores de apascentar, guiar e governar sua grei universal.
Na abside da Basílica de São Pedro, Gian Lorenzo Bernini criou um monumento à Cátedra do Apóstolo na forma de um grande trono de bronze, sustentado pelas estátuas de quatro Doutores da Igreja, dois do Ocidente, Santo Agostinho e Santo Ambrósio, e dois do Oriente, São João Crisóstomo e Santo Atanásio.
Outro grande Doutor da Igreja, São Jerônimo, escreve: «Decidi consultar a cátedra de Pedro, onde se encontra aquela fé que a boca de um Apóstolo exaltou; venho agora pedir alimento para minha alma ali, onde um dia recebi a vestimenta de Cristo. Eu não sigo outro primado senão o de Cristo; por isso entro em comunhão com a tua beatitude, isto é, com a cátedra de Pedro. Sei que sobre esta pedra está edificada a Igreja» (Cartas I, 15, 1-2).
Nesta passagem, que remonta ao final do século IV, São Jerônimo não só proclama a doutrina do Primado de Pedro, que será definida como regra de fé pelo Concílio de Florença, pelo Concílio de Trento e sobretudo pelo Concílio Vaticano I, com a constituição Pastor aternus, mas também afirma a necessidade da devoção ao Papa, como elemento fundamental da espiritualidade católica. A devoção ao Papa, assim como a devoção à Nossa Senhora, é um pilar da espiritualidade católica. Esta devoção não se dirige a um princípio abstrato, mas a um homem que encarna um princípio e que, na sua precariedade humana, é também o Vigário de Cristo.
O Papa como homem é fraco e falível. Sua fragilidade é física, psicológica, moral. Como pessoa privada, o Papa pode ser imoral, ambicioso, até mesmo herético ou sacrílego. Como pessoa pública, o Papa, embora não seja infalível no governo da Igreja, pode ser infalível em seus ensinamentos. Para sê-lo, deve respeitar determinadas condições, que foram esclarecidas pela constituição Pastor aeternus de 18 de julho de 1870. O Papa deve falar como pessoa pública, ex cathedra, com a intenção de definir uma verdade de fé e moral e de impô-la como obrigatória para todos os fiéis. Infelizmente, isso aconteceu muito raramente no último século.
A doença do Papa, a morte do Papa, de todo Papa, nos recorda a existência deste contraste entre a pessoa privada do Papa, que pode ser fraca e vacilante, e a pessoa pública, que expressa a infalibilidade da Igreja.
Há uma diferença entre a morte de um Papa e a morte de um governante temporal. O Rei deriva sua legitimidade do sangue, isto é, do vínculo biológico que o liga aos seus ancestrais. Quando morre, ele sobrevive em seu herdeiro, a quem está ligado pelo mesmo sangue. O Papa, por outro lado, é completamente alheio a esta fisicalidade biológica. O Papa não sobrevive em outros homens, porque o Papa não tem herdeiros biológicos. O Rei está morto, vida longa ao rei, é o que se diz quando o monarca dá seu último suspiro. Isso não acontece com o Papa, porque a eleição de seu sucessor não ocorre imediatamente após sua morte, mas somente depois de um conclave, que inclusive pode ser longo e controverso. Poder-se-ia dizer, analogamente, que o Papa está morto, viva a Igreja, porque antes do Papa está a Igreja, que o precede e que lhe sobrevive, sempre viva e sempre vitoriosa.
Monarquias e impérios terrenos, assim como organismos humanos, nascem e morrem. Civilizações são mortais. A Igreja, nascida do sangue do Calvário, é, ao contrário, imortal e indefectível: durará até o fim do mundo.
O contraste entre a transitoriedade física da pessoa e a imortalidade da instituição era antigamente expresso por um rito que foi celebrado até 1963. O Papa, depois de sua eleição, aparecia na Basílica de São Pedro, em toda sua majestade, na sedia gestatoria, cercado pelos guardas suíços e pelos guardas nobres, enquanto dois garçons secretos, em mantos vermelhos com arminho branco, seguravam a flabela. Em certo ponto do percurso, um cerimonialista, ajoelhando-se três vezes diante do Pontífice, acendia alguns maços de estopa enfiados em uma haste de prata e, enquanto a chama ardia, cantava lentamente: «Pater Sancte, sic transit gloria mundi!» “Santo Padre, é assim que a glória humana passa”.
Ao homem que naquele dia recebera a coroa destinada à mais alta autoridade da terra, as palavras Sic transit gloria mundi advertiam: não te vanglories da glória que hoje te cerca, lembra-te de que és um homem frágil, destinado a adoecer e a morrer.
Esta cerimônia ocorreu pela última vez em frente à Basílica de São Pedro em 30 de junho de 1963, por ocasião da coroação de Paulo VI. Quando o Papa, depois da Missa Pontifícia, depôs sua mitra e assumiu a tiara, ressoou, pela última vez depois de muitos séculos, a fórmula solene: «Receba a tiara adornada com três coroas e saiba que és o pai de príncipes e reis, o governante do mundo, o Vigário na terra de Nosso Salvador Jesus Cristo, a quem sejam dadas honra e glória pelos séculos dos séculos».
Entre as primeiras decisões do novo Pontífice, estava justamente a de abolir a cerimônia da coroação Pontifícia, a qual era anterior ao século IX, como fica evidente no Ordo Romanus IX da época de Leão III.
A partir do gesto de Paulo VI, iniciava aquela confusão entre o homem e a instituição, que estava destinada a dissolver a autêntica devoção ao Papado: uma devoção que não é o culto do homem que ocupa a Cátedra de Pedro, mas é o amor e a veneração pela missão pública que Jesus Cristo confiou a Pedro e aos seus sucessores. Esta missão pode ser realizada por um homem fraco, incompetente, que continua a ser, porém, o sucessor legítimo de Pedro, devendo ser amado e seguido mesmo na sua fragilidade, no seu sofrimento e na sua morte.
Por esta razão, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira escreveu, há muitos anos, com palavras extraordinariamente atuais: «Na gloriosa corrente constituída pela Santíssima Trindade, Nossa Senhora e o Papado, este último vem a ser o elo menos vigoroso: porque mais terreno, mais humano e, em certo sentido, estando envolto por aspectos que o podem menoscabar. Costuma-se dizer que o valor de uma corrente se mede exatamente pelo seu elo mais frágil. Assim, o modo mais excelente de amarmos essa extraordinária cadeia é oscular o seu elo menos forte: o Papado. É devotar à Cátedra de Pedro, em relação à qual esmorecem tantas fidelidades, a nossa fidelidade inteira!».
Fonte: Roberto de Mattei