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Considerações sobre Frei Gilson e o Rosário da Madrugada

Frei Gilson rezando o Rosário com convidados

Frei Gilson foi recentemente alvo de ataques de jornalistas de esquerda após afirmar em pregação que a mulher foi criada para ser auxiliar do homem. O jornalista Helder Maldonado fez o seguinte comentário na plataforma X:

Helder Maldonado criticando Frei Gilson

A página católica de esquerda Katholicos Brasil também se manifestou, publicando um extenso comentário no qual chamou o frei de “fundamentalista”:

Katholikos Brasil criticando o Fundamentalismo Gilsoniano

Diversos católicos e figuras da direita brasileira reagiram aos ataques, destacando os números impressionantes do Frei Gilson, que reuniu 1,3 milhão de pessoas em seu Rosário da Madrugada às 4h da manhã no último dia 10 de março.

Diante desse cenário, abordaremos primeiramente a figura do Frei Gilson e, posteriormente, faremos uma análise do Rosário da Madrugada.

Sobre Frei Gilson

Frei Gilson é um sacerdote dos Carmelitas Mensageiros do Espírito Santo, tem 38 anos e notabilizou-se nos últimos anos pelo famoso Rosário da Madrugada. Segundo o religioso, a ideia surgiu de seu desejo de realizar uma penitência mais significativa para Deus. Ele escolheu rezar um rosário às 4h da manhã e, posteriormente, abriu essa prática para outras pessoas, especialmente aquelas que sofriam de insônia, para que rezassem junto com ele.

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Em pouco tempo, Frei Gilson viu suas transmissões ao vivo atraírem centenas de milhares de pessoas, chegando ao auge de mais de 1 milhão de participantes. Seu estilo carismático é evidente, como demonstram suas missas, que incluem momentos de louvor antes do Ofertório e são acompanhadas por instrumentos musicais como piano, bateria, violão e guitarra.

Todas essas imposturas carismáticas na liturgia nós nos afastamos e já comentamos extensamente nos artigos “Sobre o Tradismatismo” e “O PHN é um avivamento católico?“. É grave o dever dos sacerdotes carismáticos de corrigir essa postura. Esperamos que Frei Gilson faça isso no futuro.

Embora essas práticas carismáticas na liturgia sejam alvo de críticas e mereçam correção, é importante notar que Frei Gilson se destaca de outros padres carismáticos. Ao contrário de figuras como Pe. Marcelo Rossi ou Pe. Fábio de Melo, ele não busca celebridade ou fama pessoal. Quando convidado a participar de podcasts, seu foco é a pregação, e suas mensagens são ortodoxas e acessíveis ao público mais simples. Em muitos aspectos, ele pode ser comparado a um “Pe. Paulo Ricardo do povão”, transmitindo humildade e sinceridade em suas intenções.

Os ataques da esquerda a Frei Gilson revelam um equívoco fundamental sobre sua postura. Ele não se posiciona como um sacerdote engajado em disputas políticas ou como um “padre bolsonarista”. Embora a direita brasileira busque associá-lo a seus valores, ele próprio não adota uma postura partidária. Assim, as críticas que o rotulam como “fundamentalista”, “machista” ou “bolsonarista” parecem infundadas e desproporcionais, considerando a popularidade e a reputação do religioso.

Imagem de Frei Gilson rezando

Admiramos Frei Gilson por sua dedicação e compreendemos que os ataques contra sua pessoa são injustos e exagerados. A preocupação da esquerda em relação a 2026 é compreensível, pois Frei Gilson representa um símbolo de uma crescente adesão popular a valores religiosos e conservadores.

Ponderemos agora sobre o Rosário da Madrugada.

Sobre o Rosário da Madrugada

O Rosário da Madrugada parece ter surgido de uma moção divina, dado o grande número de pessoas que se reúnem em um horário tão improvável para rezar. Levantar-se às 4h da manhã é uma prática penitencial que contrasta com a cultura popular brasileira, mais associada a festas e diversões noturnas. Ver milhões de brasileiros dispostos a esse sacrifício espiritual é um fenômeno significativo.

O brasileiro é conhecido por ficar até tarde da noite em festas, baladas, carnaval e fazer vigílias para comprar ingressos de show das figuras mais patéticas possíveis como, por exemplo, Madonna:

Globo News reportagem show da Madonna

Portanto, o brasileiro se levantar 4h da manhã para rezar o terço parece ser um verdadeiro despertar para a vida espiritual. Finalmente, o brasileiro começa a olhar para o céu.

O Rosário da Madrugada também tem atraído católicos afastados, pessoas mundanas e até protestantes. O youtuber Marlon Arlanas destaca o grande número de protestantes que acompanham a oração.

Os comentários de protestantes que acompanham o rosário do frei são numerosos. Coletamos alguns:

Ficamos satisfeitos em ver protestantes rezando o terço, pois o rosário é considerado um instrumento poderoso contra as heresias, como explica Pe. Paulo Ricardo em sua homilia “Santo Rosário, arma contra a heresia”:

“Eis por que o Rosário é uma arma poderosíssima: nele estão condensadas todas as verdades em que cremos, as quais são um antídoto contra os erros e desvios de ordem não só intelectual, mas ainda prática e moral. Pela repetição litânica do Pai-nosso, da Saudação angélica e da doxologia, o Rosário é uma verdadeira escola de teologia, pois nos alimenta a fé, sem a qual é impossível agradar a Deus (cf. Hb 11,6), e impede-nos de naufragar no cisma e na heresia.”

Compreendemos que o sucesso do Rosário da Madrugada é, de fato, uma daquelas obras da Providência que realizam grandes prodígios em terras brasileiras. Não há nação que concentre tamanha fertilidade espiritual como o Brasil, nem país em que Deus, nos últimos tempos, pareça ter mais prazer em manifestar suas obras.

Contudo, não obstante os méritos e os frutos visíveis obtidos pelo Frei Gilson por meio dessa devoção, é necessário apontar algumas ressalvas importantes. Aqui, convém ao leitor, especialmente aquele mais entusiasmado pelo trabalho do Frei Gilson, exercitar a maturidade espiritual ao considerar tais ponderações. Não são poucos os que interpretam qualquer questionamento como “implicância”, “problematização gratuita” ou mesmo como um “ataque” pessoal ao religioso.

Cumpre deixar claro que não é próprio do autêntico católico render culto de personalidade a quem quer que seja. Nomes veneráveis como o de Pe. Paulo Ricardo, Frei Gilson ou qualquer outra figura digna de estima devem ser avaliados com respeito, sim, mas também com objetividade e discernimento. A verdade não se curva diante do prestígio pessoal, nem o bem se sustenta apenas em números impressionantes.

Tal reflexão, longe de ser um ataque, busca apenas relembrar que a fé, em sua essência mais pura, não se alimenta de ídolos ou de fenômenos de massa, mas sim do amor sincero à Verdade e ao Bem supremo, aquele que é o fundamento de toda verdadeira devoção.

Atualmente, os indicadores quantitativos do Rosário da Madrugada são notáveis, mas ainda se aguarda a confirmação de frutos duradouros e de um legado bem estabelecido. Afinal, como nos recorda a sabedoria evangélica, é pelos frutos que se conhece a árvore.

Portanto, enquanto esperamos que o tempo revele a profundidade dessa obra, não nos eximamos de fazer as observações que se mostram pertinentes. A fé, para ser robusta, não teme o exame; e a verdade, para brilhar, não foge à luz da reflexão honesta.

Pois bem. Há, em essência, duas questões que devem ser ponderadas acerca do rosário da madrugada, e a cada fiel cabe examinar sua própria situação com prudência e discernimento:

1. Se o rosário da madrugada não interfere nos deveres de estado

Ainda que as primeiras horas da manhã sejam, por excelência, um tempo propício à oração, o mais desejável é que estas se realizem de maneira a não prejudicar as obrigações cotidianas.

As orações durante a madrugada, especialmente para o leigo sobrecarregado de responsabilidades, podem colidir com os deveres do estado de vida. Não por acaso, existe uma edição do Breviário destinada aos leigos que omite as horas de terça, sexta e nona, já pressupondo a limitação de tempo daqueles que vivem no mundo e não em um claustro.

Portanto, é imprescindível avaliar a conveniência de adotar essa prática devocional. Como ensina São Francisco de Sales em “Filotéia”:

“A verdadeira devoção nada destrói; ao contrário, tudo aperfeiçoa. Por isso, caso uma devoção impeça os legítimos deveres da vocação, isso mesmo denota que não é uma devoção verdadeira.” (Parte I, cap. 3)

Convém lembrar que Frei Gilson é um religioso, habituado a rezar o Breviário em momentos do dia que um leigo, em geral, não teria condições de dedicar à oração.

2. Se o rosário da madrugada favorece o progresso na oração

A principal finalidade da oração vocal, segundo os mestres da espiritualidade, é inflamar o coração no amor a Deus. Nesse sentido, não importa tanto  a quantidade de orações e nem quão cedo se acorda para rezá-las, mas sim o fervor da caridade que elas despertam na alma. Como adverte Antonio Royo Marín em “Teologia da Perfeição Cristã“:

“1ª Não é conveniente multiplicar as palavras na oração, mas insistir sobretudo no afeto interior. Adverte-nos expressamente o Senhor no Evangelho: «Quando orardes não faleis muito, como os gentios, que pensam serem escutados à força de palavras Não vos assemelheis a eles, pois vosso Pai conhece perfeitamente as coisas de que necessitais antes que as peçais» (Mt 6,7-8). Tenham-no em conta tantos devotos e devotas que passam o dia recitando orações inacabáveis, talvez com descuido de seus deveres mais urgentes.

2º Não se confunda a prolixidade nas formulas de oração, que deve cessar quando se tenha alcancado o afeto ou fervor interior, com a permanência na oração enquanto dure fervor. Este último é convenientissimo e deve prolongar-se todo o tempo que seja possivel, inclusive várias horas, se é compatível com os deveres do próprio estado (cf. 83,14 ad 1,2 et q.). O próprio Cristo nos deu exemplo de longa oração, passando nela, ás vezes, noites inteiras (Lc 6,12) e intensificando-a no meio de sua agonia no Getsemani (Lc 22,43), embora sem multiplicar as palavras, mas empregando sempre a mesma fórmula breve: «fiat voluntas tua».

3º Como o fim da oração vocal é excitar o afeto interior, não devemos vacilar um instante em abandonar as orações vocais, a não ser que sejam obrigatórias, para nos entregarmos ao fervor interior da vontade, quando este tenha brotado com força. Seria um erro muito grande querer continuar então a oração vocal, que já havia perdido toda sua razão de ser e poderia estorvar o fervor interior.” (n. 495)

Um erro comum entre os devotos do rosário da madrugada é cair no que Adolphe Tanquerey, em seu “Compêndio de Teologia Ascética e Mística”, chama de “fervor indiscreto dos principiantes”. Trata-se de um zelo precipitado, em que a pessoa se lança a múltiplos esforços de perfeição sem ponderar se tais práticas realmente a santificam:

“A causa principal deste defeito é substituir a própria atividade à de Deus: em vez de refletir antes de operar, em vez de pedir e seguir as luzes do Espírito Santo, precipita-se o homem na ação com ardor febril; em vez de consultar o diretor, faz primeiro o que quer, e só depois é que lhe vai dar conta do fato consumado; donde um sem-número de imprudências, esforços perdidos sem conta: <<magni passus extra viam>>.”

Muitos adotam o rosário da madrugada por simples imitação, movidos pela onda do momento, sem um exame criterioso. Contudo, essa prática traz consigo alguns inconvenientes que não podem ser ignorados.

a. O horário. Sendo de madrugada, é naturalmente um período incômodo para a maioria dos leigos, que necessitam de energia para cumprir seus deveres de estado ao longo do dia. O corpo humano, apesar de toda a sua complexidade, ainda não aprendeu a dispensar o repouso, e privar-se dele em nome de uma devoção pode ser mais imprudência que piedade.

b. O uso de telas. Para acompanhar o terço da madrugada, a pessoa precisa acessar plataformas como YouTube ou Instagram, territórios fecundos para a distração. A cada oração rezada, surgem também opções profanas para clicar, mensagens a verificar e conteúdos que atiçam a curiosidade. Ademais, as telas não apenas cansam os olhos, mas também vínculam o orante a consolações sensíveis e imediatas. Querendo ou não, abrir essas plataformas aciona os mecanismos de dopamina em muitos. Uma alternativa mais sóbria e superior às telas são os devocionários impressos, pois são menos lúdicos e dedicam-se exclusivamente à oração.

c. A extensão do tempo. Frei Gilson reza o rosário completo – os 15 mistérios – seguido de uma meditação e, por fim, celebra a missa. Somente o rosário consome cerca de duas horas; se o fiel acompanhar todo o programa, ultrapassará quatro horas. Ora, como já mencionado, as orações vocais, especialmente pela manhã, não devem ser excessivamente longas e extenuantes, mas o suficiente para acender o fervor interior, sem consumir as energias necessárias para o restante do dia.

d.  A substituição da oração pessoal pela coletiva no horário mais precioso para a meditação. Embora a oração comunitária, sobretudo a litúrgica, seja objetivamente superior, a oração particular é mais eficaz para a santificação individual da alma. Como ensina o teólogo Antonio Royo Marín:

“Não esqueçamos que, em definitivo, é cada alma quem ora, porque mesmo a oração comum cada um deve apropriar-se e personalizar, e nem sempre as funções e fórmulas comuns correspondem às pré-disposições pessoais. É, naturalmente, o sujeito quem deve procurar acomodar-se ao espírito religioso da Igreja. Porém, é indubitável que muitas vezes o orante encontra na liberdade de sua comunicação pessoal com Deus, maior facilidade e maior fruto.” (Teologia da Perfeição Cristã, n. 489)

Com efeito, a experiência espiritual indica que a oração individual produz frutos mais profundos para a alma na maioria dos casos. E, como sublinha o Pe. Lucas Altmeyer (IBP) no sermão “Os Católicos Barulhentos e a Presença de Deus“:

“O melhor momento para a oração é a manhã, porque a agitação do dia ainda não dissipou o nosso espírito. É uma questão natural. Nós ainda não estamos mergulhados nas preocupações do dia. Estamos mais recolhidos, mais propícios ao recolhimento. Quem perde a oração da manhã tem grande chance de ser um fracassado na vida de oração durante o dia também.”

Portanto, embora o rosário da madrugada possa ser praticado com boa intenção, é necessário ponderar se tal prática não está substituindo silenciosamente aquilo que é mais simples, mais silencioso e, paradoxalmente, mais profundo: a oração pessoal no segredo da manhã silenciosa, quando a alma, ainda não dispersa pelas inquietações diárias, pode fitar o Criador com um coração indiviso.

e. Os ruídos. O rosário do Frei Gilson, embora mais sóbrio que o habitual em círculos carismáticos, ainda preserva aquela “Voz Gigantesca” que, por mais que tentemos, nunca conseguimos silenciar completamente. Os discursos do Frei, o violão com suas melodias worship, são como ecos que reverberam em nossos corações. E, como não poderia deixar de ser, tudo isso é transmitido, sem filtros ou pausa, diretamente no Instagram ou no YouTube. Em outras palavras, a “guloseima espiritual” se mistura ao ruído constante, logo na primeira oração da manhã, como um banquete oferecido com pressa.

O Beato Frei Maria Eugênio do Menino Jesus, OCD, em sua obra “Quero ver a Deus“, nos adverte que o progresso na oração demanda de nós “exigências muito particulares de silêncio e solidão”. Ele nos recorda que, para ouvir a verdadeira voz de Deus, devemos primeiro aprender a silenciar o mundo ao nosso redor — uma arte cada vez mais difícil em tempos de excessos. A reflexão é clara: como pode a alma alcançar Deus, se não é capaz de ouvir a própria voz na quietude?:

“Toda a tarefa que exige aplicação séria das nossas faculdades supõe o recolhimento e o silêncio que a tornam possível. O estudioso tem necessidade de silêncio para pre-parar suas experiências, para anotar-lhe com cuidado as condições e os resultados. O filósofo recolhe-se na solidão para ordenar e penetrar seus pensamentos.

Este silêncio, que o pensador procura avidamente para dar à reflexão todas as suas energias intelectuais, será ainda mais necessário à pessoa espiritual para aplicar toda a sua alma na busca do seu objeto divino.

No sermão da montanha, Jesus nos fala da necessidade da solidão para a oração:

Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechando tua por-ta, ora ao teu Pai que está lá, no segredo; e teu Pai, que vê no segredo, te recompensará.

A oração contemplativa própria das regiões a que chegamos tem exigências muito particulares de silêncio e solidão. A Sabedoria divina, na contemplação, não esclarece apenas a inteligência; ela atua sobre a alma toda inteira. Por isso, exige desta última uma orientação do ser, um recolhimento e uma pacificação daquilo que há de mais profundo nela, a fim de receber a ação de seus raios transformadores.” (p. 492-493)

O Pe. Lucas Altmeyer no mesmo sermão que citamos também diz:

“Não é possível conciliar o barulho com a vida espiritual. Música barulhenta, missa barulhenta, oração barulhenta, grupo de oração barulhento, instrumentos barulhentos e até padre barulhento são um fracasso na nossa vida espiritual. Missa barulhenta é um fracasso na nossa vida de oração. Grupo de oração barulhento é um grupo fajuto de oração.

Você pode se sentir bem, você pode gostar sensivelmente de estar ali, mas não significa que você está rezando, ainda que sensivelmente você esteja contente.

A oração verdadeira tem como essência a consciência da presença de Deus e esta presença é silenciosa. Só o silêncio e o recolhimento podem nos dar a verdadeira presença de Deus.

Vocês conhecem a história do Profeta Elias que lemos na Sagrada Escritura. Deus mandou [Elias] subir ao Monte e disse que Ele mesmo passaria diante de Elias. […] Deus se encontrava na brisa suave. Por isso um católico barulhento jamais encontrará Deus de verdade e muito menos poderá viver na presença do Senhor.”

Todos esses inconvenientes deveriam incitar, antes de mais nada, uma reflexão desapaixonada e objetiva: seria o rosário da madrugada, afinal, um instrumento verdadeiramente útil para o progresso na oração, ou apenas uma distração revestida de fervor? Aquele que possui uma grande família — algo raro entre os carismáticos, sem dúvida — deve ponderar: será que vale a pena sacrificar tantas horas da madrugada para rezar o rosário diante das telas, ou seria mais proveitoso unir-se à sua família e rezá-lo em um horário mais apropriado, no calor da convivência familiar?

Para aquele que se encontra excessivamente preso às consolações sensíveis, a questão se impõe com a mesma urgência: vale a pena ceder à tentação de ligar o computador ou o celular nas primeiras horas da madrugada, abrindo as portas do Instagram ou do YouTube, quando o verdadeiro desafio seria, ao contrário, cultivar o desapego? E, por último, para o que deseja superar as dificuldades da oração — distrações, desânimo, secura da alma, e o apego constante às consolações — deve refletir se, na realidade, entregar-se à oração coletiva é a solução definitiva, ou se o mais sábio seria enfrentar, com coragem e sem subterfúgios, as adversidades espirituais em solitário combate.

É evidente, portanto, que não há justificativa alguma para seguir modismos ou ceder à curiosidade vazia. A vida espiritual, de uma seriedade incomensurável, não pode ser arriscada em aventuras impensadas. Aquele que a cultiva deve ser maduro e, acima de tudo, aplicar, com sabedoria, apenas aquilo que, de fato, o une verdadeiramente a Deus.

Mesmo durante a Quaresma, as penitências precisam ser escolhidas com cuidado. Nenhuma alma deve se entregar ao rosário da madrugada “porque sim”. Cada penitência deve ser revestida de um propósito claro e específico. Nesse sentido, não podemos deixar de recomendar com veemência o Sermão do Pe. Ivan Chudzik (IBP), intitulado “O que a Quaresma não é: três ilusões sobre a penitência“, para que, ao buscarmos a renovação espiritual, saibamos verdadeiramente o que devemos evitar.

Compreendemos que o Rosário da Madrugada é uma devoção inicial, que serve como um suave convite aos católicos de IBGE ou àqueles que, distantes da Igreja, buscam uma reaproximação com o Sagrado. Semelhante a muitas iniciativas da Renovação Carismática, esta prática tem o poder de reacender a chama da fé em corações resfriados. Contudo, é preciso refletir que o católico que, ao longo dos anos, tem se empenhado na vida de oração, e que já percorreu um longo caminho de fé, dificilmente se verá despertando ao romper da madrugada para acionar as telas de um computador ou celular, buscando rezar por meio do YouTube ou Instagram — salvo em casos muito pontuais. Ao contrário, esse fiel cultivará sua oração em um espaço mais íntimo e silencioso, onde o recolhimento e a solidão se tornam o solo fecundo para o diálogo com Deus. Ele reservará a oração coletiva para momentos específicos, como o terço em família ou a novena na igreja.

Feita estas ressalvas, desejamos que o Rosário da Madrugada, como um portal sagrado para muitos, seja luz e guia na conversão dos corações e no despertar das almas para a superação da acídia espiritual. Que aqueles que, porventura, cruzarem o limiar desta porta de fé possam florescer em toda a sua plenitude, jamais se afastando da graça divina, e assim, alcançar a devoção que jamais se apaga – o rosário permanente, a vida eterna.

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