Alam Carrion, ao comentar o encontro entre Frei Gilson e o padre Júlio Lancellotti, declarou com entusiasmo: “É a Igreja acontecendo, buscando almas” — como quem vê Pentecostes toda vez que duas pessoas se abraçam com os olhos marejados.
Infelizmente, alguns influenciadores parecem padecer de uma forma crônica de sentimentalismo superficial. São apóstolos da espuma — entusiasmados com qualquer coisa que se mova e chamem de “Igreja em saída”, ainda que estejam saindo da verdade.
Não há, por si só, escândalo no encontro entre Frei Gilson e o Pe. Júlio. Pelo contrário: Nosso Senhor encontrou-se com pecadores. Contudo, também é verdade que Cristo não os canonizou em vida com postagens fraternas. Não os apresentou como “companheiros de missão com visões complementares do Reino”. Não! Cristo era caridoso, mas cortante. E quando perdoava, dizia: “Vai, e não peques mais” — e não “vai, continue sendo você mesmo”.
Um problema emerge quando essa visita entre os padres é convertida em espetáculo. Publicar esse encontro nas redes sociais é mais do que um gesto imprudente; é uma espécie de canonização midiática não autorizada. O padre Júlio não é um anônimo. É figura pública, reiteradamente associada a posturas heterodoxas, e sobre ele pesam sérias investigações. Apresentá-lo como um sacerdote em plena “unidade” com um frade fiel é algo que não apenas turva as águas da verdade — é também pedra de tropeço para os simples. A imagem passada ao povo simples é a de uma comunhão que não existe, de uma harmonia que desafina diante do Credo.
A Escritura, com sua habitual falta de sentimentalismo, nos dá a diretriz:
“Evita o homem herege, depois da primeira e da segunda admoestação.” (Tito 3,10)
Mas isso ofende os novos evangelistas, que preferem evangelhos sob medida, com final feliz garantido e censura emocional zero.
Rezemos, sim, pela conversão do padre Júlio — porque o Céu se regozija por cada ovelha resgatada. Mas enquanto essa conversão não se manifesta com a devida retratação pública, é mais sábio que ele permaneça nas sombras. Pois, às vezes, as sombras protegem os frágeis da luz que ainda não suportam. E proteger os fiéis do escândalo também é um ato de caridade.
Quanto a Alam Carrion, parece ser mais um entusiasta da fé afetiva, desses que acreditam que tudo o que emociona é evangélico e que toda ternura é sinal do Espírito. Para ele, a Igreja “acontece” toda vez que alguém abraça alguém com cara de paz interior — mesmo que negue as verdades que os mártires selaram com sangue.
Há quem adore São Francisco de Assis, mas só a parte que acaricia os lobos. Esquecem que ele também expulsava os demônios. Preferem santos que sorrirem sempre, desde que não digam “não”.
E assim seguimos, numa geração que canoniza afetos e crucifica doutrinas — e que se espanta quando os fiéis tropeçam nos próprios escândalos que ela mesma publica com filtro celestial.