Enquanto a Igreja universal aguarda expectante o próximo conclave após o falecimento do Papa Francisco, os nomes dos possíveis sucessores começam a circular nas mídias e nos corredores vaticanos. Entre eles, surpreendentemente, surge o de José Tolentino de Mendonça, cardeal português, poeta laureado, e prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação. Alguns o apresentam como um “candidato de consenso”, capaz de ter pontes entre facções contrárias. Mas é realmente assim? Ou estamos diante da máscara amável de uma agenda pós-católica?
A prestigiosa publicação francesa Paix Liturgique desmonta com precisão cirúrgica o perfil deste purpurado. Sob uma fachada de erudição, diálogo e modernidade, esconde-se um compromisso profundo com as correntes mais progressistas e secularizadoras dentro da Igreja. Sua proximidade com figuras como Teresa Forcades, feminista radical que advoga pela plena inclusão da homossexualidade na Igreja, ou com movimentos que buscam reinterpretar a moral católica, não são detalhes anedóticos, mas sintomas de uma teologia que, em nome da abertura, está vazia de conteúdo.
Que Tolentino de Mendonça tenha feito de seu dicastério um “think tank” para o catolicismo pós-moderno não deveria tranquilizar àqueles que desejam uma Igreja fiel a sua tradição. Sua visão de uma secularização que não ameaça, senão que “se associa” ao catolicismo como “abertura espiritual da pós-modernidade”, supõe, na prática, uma rendição frente ao mundo. Como bem assinala Paix Liturgique, seu projeto não é o de uma reforma dentro da continuidade, mas o de uma dissolução progressiva das fronteiras doutrinais, morais e litúrgicas.
Apresentar a Tolentino de Mendonça como “papável” revela a profundidade da crise eclesial atual.
Em seguida, reproduzimos integralmente a carta nº 1199 de Paix Liturgique, publicada em 3 de maio de 2025.
PAIX LITURGIQUE.
Nossa carta 1199 publicada em 3 de meio de 2025
¿TOLENTINO DE MENDONÇA, PAPA? SIMPLEMENTE NÃO É POSSÍVEL…
Com o Cardeal Parolin atualmente em dificuldades, outros candidatos papáveis estão emergindo, sendo apresentados, é claro, como candidatos de compromisso. Tal é o caso do Cardeal José Tolentino de Mendonça, um eclesiástico culto e urbano, que já em 2021 o Catholic Herald descrevia como “o tipo de figura aceitável para todas as facções e capaz de atrair um amplo apoio entre elas“.
Na realidade, este cardeal de 60 anos, muito seguro de si mesmo, é o exemplo típico de um falso centrista e um verdadeiro homem mundano. Português de Madeira, biblista, terciário dominicano, tornou-se arquivista e bibliotecário da Igreja romana em 2018. Nesse mesmo ano foi convidado para pregar os exercícios espirituais da Quaresma da Cúria e posteriormente foi feito cardeal. E, em setembro de 2022, foi nomeado prefeito de um grande Dicastério, o de Cultura e Educação, sucedendo assim a duas figuras da esquerda curial: o Cardeal Ravasi, que foi prefeito do Conselho Pontifício para a Cultura, e o Cardeal Versaldi, que foi prefeito da Congregação para a Educação Católica. Em 2023 se lhe uniu como subsecretário deste Dicastério o Padre Antonio Spadaro, SJ, ex-diretor de La Civiltà Cattolica e grande arquiteto das forças do “progresso”.
José Tolentino de Mendonça é autor de uma obra que inclui poesia, teatro e orações, pela qual recebeu vários prêmio literários. Muito em sintonia com as elites governantes portuguesas, foi nomeado “personalidade portuguesa do ano” em 2019 pelo semanário Expresso. Tem um sentido ainda mais agudo que o do Papa Bergoglio para detectar os muros que devem ser derrubados (“Vivemos no meio da cidade, neste espaço cheio de fronteiras, cheio de muros invisíveis e bloqueios existenciais“, Renascença, dezembro de 2016), principalmente as barreiras que prendem aos excluídos, que, ao que parece, são os homossexuais. Ao redor do jovem poeta erótico José António Almeida, com suas “três identidades” – poeta, católico e homossexual -, jovens católicos se reuniam no centro de Lisboa, na capela do Rato, para refletir sobre sua prática, que a Igreja ainda considera um “mal moral intrínseco”. Este grupo informal era acolhido tanto pelo Padre José Manuel Pereira de Almeida, pároco de Santa Isabel, quanto por José Tolentino de Mendonça, “fabuloso, o mais fabuloso de toda a fabulosidade”, como se lhe dirigia então.
Ali, em Santa Isabel, convidaram o Padre Domenico Pezzini, especialista na matéria, designado por sua vez pelo Arcebispo de Milão para prestar “atenção especial” aos homossexuais. Pezzini tinha sido “o motor” de um movimento chamado La Fonte, que buscava materializar a “opção preferencial” da Igreja “pelos marginalizados, pelos excluídos” (prólogo do livro As mãos do vaso. Um filho homossexual: o que fazer?, Paulinas, 2009, pelo Padre Pereira de Almeida). Dom Pezzini, líder dos grupos que estudavam a compatibilidade da homossexualidade com o catolicismo, foi finalmente preso em Milão – tinha 73 anos – acusado de repetidas agressões sexuais a um adolescente.
José Tolentino de Mendonça está, além disso, vinculado à Irmã Teresa Forcades, monja beneditina de Montserrat, feminista que percorre o mundo trabalhando “pela plena inclusão da homossexualidade na Igreja”. Escreveu um prólogo para o livro da Irmã Forcades, A teologia feminista na história (Fragmenta Editorial, 2007), onde ela insere a teologia feminista dentro da “teologia crítica” ou teologia da libertação.
De fato, José Tolentino de Mendonça, que transformou seu Dicastério em um verdadeiro think tank sobre a Igreja do futuro, se projeta junto com aqueles que o rodeiam num pós-catolicismo, onde o cume da secularização se transforma numa oportunidade: a secularização atual, diferentemente da que surgiu do Iluminismo, se associa ao catolicismo, que passa a ser a abertura espiritual da pós-modernidade.
Em tempos de confusão, é urgente rezar e trabalhar por uma Igreja que não seja arrastada pela modas ideológicas, senão que permaneça fiel a Cristo, eu Esposo. Que o próximo conclave não seja uma aposta pelo vazio disfarçado de “pontes”, mas pela rocha firme da fé.
Fonte: Infovaticana
