Percebe-se hoje um crescente aumento no interesse pela educação clássica, por exemplo, das pessoas interessadas em homeschooling, pois enxergam o fracasso da educação moderna. E de fato, a educação moderna possui problemas graves em suas premissas.
Quando se fala em educação clássica, o que muitas vezes vem na cabeça é o Trivium e o Quadrivium. Na República de Platão, seus elementos já estavam presentes. Em Cícero, também. De fato era a preocupação educacional de filósofos gregos e romanos. Todavia, há diferença entre a educação clássica e a educação cristã, elas não são necessariamente a mesma coisa. Existe uma educação clássica não-cristã e uma educação clássica cristã.
A cultura romana encontrou a cultura cristã, e o cristianismo adicionou diferenças substanciais que mudou a forma de enxergar a educação. No contexto de educação romana, já citamos Cícero como grande filósofo em uma era pré cristã, mas uma ênfase que é pouco dada é que Santo Agostinho era cidadão romano e, portanto, se pegarmos a educação romana como um todo, Santo Agostinho foi o maior (nas universidades costumam colocá-lo na idade média, não estaria de todo errado, porque ele foi o pai do sistema educacional medieval. De todo modo, este aspecto romano não é muito destacado).
Do que estamos tratando quando se fala de Trivium e Quadrivium? Eles são uma introdução de ensino básico nas artes das letras e nas artes dos números. A primeira refere-se a toda estrutura linguística, onde muito do conhecimento vai ser desenvolvido por este modo, e a arte dos números refere-se à harmonia do cosmos que será identificada por meios quantitativos e de proporções.
Nas artes das letras, temos três estruturas principais:
– Gramática: literalmente significa estudo das letras (gramma = letra em grego). A gramática não é só um conjunto de regras que se decora para reproduzir no que se chama de gramática normativa (regras de português), mas também envolve todo o estudo da estrutura linguística: estudo das palavras, das letras etc. Assim, para além da gramática normativa, há todo um estudo de filosofia da linguagem, de estruturação, que compõe a gramática. Essa é a gramática clássica.
– Retórica: Usamos o discurso para expressar nosso conhecimento e isso é feito através de palavras (o que já pressupõe a necessidade de estudá-las). É preciso que o discurso chegue ao correspondente, que seja por ele recebido. Não pode ser, portanto, mero dizer de palavras, mas sim que essas palavras sejam acolhidas pela outra pessoa. Há elementos que fazem com que esse discurso seja bem recebido ou não pelo receptor. Assim, há uma preocupação para que o discurso seja efetivamente bem compreendido pelas pessoas, para que elas possam entender com maior facilidade a verdade por trás do discurso. Tal é a retórica: o estudo da transmissão da palavra. Estrutura da transmissão da palavra que difere da estrutura da palavra.
– Lógica: o discurso precisa, além da transmissão, de uma coerência das proposições. O discurso não só precisa ser bem recebido, mas uma proposição não pode discordar da outra. Não se pode, então, fazer um discurso onde a premissa maior e premissa menor não são conexas e, por conta disso, a conclusão seja falsa. Daí a terceira preocupação do trivium ser a dialética e a lógica. É possível que haja um discurso logicamente correto, mas falso sob o aspecto de percepção da realidade (ex: todo homem é verde; Sócrates é homem; logo, Sócrates é verde – logicamente bem estruturado, mas falso na realidade, pois há uma premissa errada, a que nem todo homem é verde). Sendo assim, a lógica deve se preocupar com dois elementos: 1) a veracidade das proposições, 2) a concatenação das proposições.
Portanto, para poder estudar filosofia ou mesmo o estudo do conhecimento em geral, a primeira coisa a ser aprendida é a linguagem, porque tudo o que aprendemos é, de fato, pela linguagem. Sem ela, não aprendemos nada. Mesmo a escrita, pois não é outra coisa que a transmissão pela transliteração das palavras. As palavras, por sua vez, podem se referir a entes de razão ou a entes reais. Por exemplo, a sereia é um ente de razão, mas não é um ente real. Existe um conceito de sereia, mas ela não existe na realidade. Notemos que mesmo essas diferenciações que estão sendo feitas aqui já pressupõe a linguagem. Se não houvesse linguagem, não seria possível diferenciar, transmitir conhecimento ou entender a comunição do outro… Não seria possível relacionar a percepção pessoal do mundo com conteúdos ou símbolos.
Uma grande parte das discussões contemporâneas não passam deste primeiro nível de aprendizagem clássica. O que há é só discussão linguística. Por exemplo, um diz que é a favor da democracia; outro, que é contra, mas tal conceito de democracia, de um e de outro, são contraditórios, não permitindo qualquer conversa e não podendo sair sequer do primeiro nível da educação clássica. Não tendo estudo de retórica, as pessoas querem impor seus discursos para que as outras compreendam na marra e, ao não obter êxito em serem compreendidas, ficam irritadas. Ora, os antigos já sabiam que era necessário treinar para que o discurso alcançasse as pessoas. E outro exemplo é quando o discurso tem uma estruturação errada, onde a própria linguagem não é entendida, quando se mistura português mal feito com língua estrangeira, causando dificuldade de intelecção nas pessoas. Tal realidade pode ser percebida quando observamos a dificuldade que o brasileiro tem em aprender outros idiomas.
Após aprender a estrutura linguística, já é possível aprender sobre as proporções do mundo. A palavra cosmos em grego significa tanto mundo como ordem, pois quando observamos o mundo, olhamos as coisas com suas ordens. É porque o mundo tem ordem que podemos olhar para as coisas e distinguir, por exemplo, a mesa do crucifixo, pois cada qual possui sua própria ordem.
Então o Quadrivium vai tentar descrever as diferentes ordenações do cosmos.
– Geometria: Por meio da geometria, já é possível olhar para o mundo para além do material. Um exemplo que pode ser usado para mostrar o universal é o triângulo. Ao desenhar vários triângulos, pergunta-se: qual é a soma dos ângulos internos deste triângulo? Resposta: 180°. E deste outro? Resposta: 180°. E deste outro? Resposta 180°. Ora, 180° é uma característica deste triângulo (singular) ou do triângulo (universal)? Ou seja, não cai na pobreza intelectual do nominalismo quem sabe geometria: 180° ser a soma interna do triângulo serve para todos os triângulos, não só para um ou outro especificamente.
Não é por acaso que um dos grandes mestres de nossa educação é Euclides. Sem ele, a educação estaria muito debilitada. Atualmente, muito da confusão sofrida pela pedagogia da matemática é devido a ter colocado Euclides de lado. Daí se mistura estatística, com matemática moderna, crítica ao postulado de Euclides, junta com Euclides, e joga tudo para a criança absorver. Uma criança de 12 anos aprender estatística sem entender Euclides direito ficará doida. Sem mencionar a matemática cartesiana que mistura álgebra com geometria já desde muito cedo. Ela é posta para trabalhar com variáveis x, y z sem ter conhecimento bem definido de geometria. Por fim, a criança achará matemática chata, não entenderá nada, e sofrerá no colégio por ter que lidar com a disciplina.
– Álgebra: A geometria, porém, não é o único meio de entender as proporções. Após ela vem o estudo da álgebra, onde por meio de equações a pessoa desenvolve raciocínios muitos elevados que possibilitam ver o desenvolvimento das proporções.
– Música: envolve a propagação do som. O que estou falando tem um ritmo próprio, ou seja, tem proporção. Esta proporção às vezes sobe, às vezes desce. Nos adolescentes, por exemplo, há subidas e descidas bruscas. A música envolve então o ritmo, a distância entre as palavras, os símbolos específicos, etc., de modo que há uma musicalidade na forma como falamos. Se a musicalidade do discurso mudar, é possível percebê-la justamente por causa da proporção (ex: falar mais pausadamente ou mais rápido). Existe uma mensuração desta musicalidade, a qual permite passar para as pessoas uma beleza, que possui proporções geométricas de harmonia, por meio de sons específicos. O som é belo, porque se remete à harmônia do cosmos. Esta é a música e é para nós agradável, porque pelo som conseguimos perceber a harmonia do cosmos. Embora hoje se costume chamar de música o que é a desarmonia do cosmos.
– Astronomia: Para além da música, os planetas influenciam muito a nossa vida. Não no sentido de astrologia, mas no sentido de que seus movimentos são responsáveis, por exemplo, pelas marés, dia e noite, as estações do ano, as colheitas, etc. Sendo assim, muito da nossa vida diária depende do movimento dos planetas que, por sua vez, possui toda uma proporção e harmonias próprias.
É interessante que nós atualmente não valorizamos tanto a astronomia, porque ela está tão engendrada em nosso dia a dia que não percebemos mais quando estamos fazendo uso dela. Por exemplo, quando pegamos um celular para ver o horário, o clima, o dia do ano, etc. Algo banal, mas que não paramos para notar que isso é astronomia, pois depende do movimento dos planetas.
No trivium e quadrivium, portanto, temos as estruturas essenciais para poder entender o mundo: artes das letras e as harmonias. Humanas e exatas em linguagem mais atual, mas com a diferença de que, para os antigos, tal divisão não era absoluta, mas meramente didática. Então quando o cidadão moderno vai ver um curso de filosofia bem estruturado, estranhará que se tenha disciplina de lógica matemática, ou quando vamos mostrar os filósofos que criaram o computador… Basta levar isso em conta para que a divisão absoluta de exatas e humanas seja derrubada.
Sendo o trivium e quadrivium necessários para a formação, seria isso então a educação clássica? Não, pois eles são apenas o começo. São disciplinas demoradas e trabalhosas, mas a verdade é que a educação clássica ainda envolve o cultivo das virtudes, hábitos que direcionam para o bem. Há aqui um erro clássico de achar que as virtudes direcionam para a felicidade por conta da tradução feita no Ética a Nicômaco de Aristóteles: “o fim das ações é a felicidade”. Com efeito, o termo usado é eudaimonia e traduzi-lo como felicidade é uma grosseria tremenda. Eu significa bom; daimon, espírito entre o céu e a terra. Então eudaimonia significa a boa intermediação entre o céu e a terra. Tradução melhor poderia ser bem-aventurança. A essa confusão de tradução pode-se somar a tendência moderna de encarar a ética de modo utilitarista, onde eu faço as ações para encontrar a felicidade. Não é isso. O fim da ética é o bem, não a felicidade. Que o bem traga a felicidade, já é outra situação. Com efeito, há relação entre o bem e a felicidade, mas o central é o bem.
E Aristóteles ainda vai além. Não é só encontrar e desenvolver ações que visam o bem, ainda é preciso adentrar no campo do conhecimento do ser, que ele chamava de teologia, para conhecer a Deus. A noção de conhecer a Deus de Aristóteles, porém, não é a noção cristã, mas que envolve as considerações de metafísica, o estudo do ser enquanto ser, que procura os primeiros princípios da filosofia donde ramificará todos os outros estudos. Ou seja, para além da filosofia da natureza, cujo objeto é o movimento, está o estudo da metafísica.
Aliás, mesmo a noção de movimento, objeto da filosofia da natureza, é outra coisa que a educação contemporânea perdeu. Movimento é passagem da potência ao ato. Assim, todas as transformações se referem ao movimento. Não é só o movimento mecânico como costuma entender a educação moderna. Este, na verdade, é só um tipo de movimento. Diante disso a pessoa vai ler sobre a prova da existência de Deus e verá, na primeira via, que todo movimento precisa de uma causa e com isso achará que se trata do movimento mecânico. Pronto, já não entendeu nada do argumento e não obstante ainda achará que o refutou. Estamos no nível selo Dawkins de erro.
Enfim, a educação clássica envolve tudo isso que estamos falando e, contudo, a educação cristã é ainda mais.
A educação clássica cristã é mais do que trivium, quadrivium, cultivo das virtudes e estudo da metafísica. Santo Agostinho fez crítica às artes liberais, não para desprezá-las, mas justamente para mostrar as suas limitações diante do todo do conhecimento.
Um fenômeno curioso que ocorre é quando o sujeito acha que já superou Santo Agostinho e os antigos (Platão, Aristóteles), porque estaria no “alto nível do tomismo”. Mas é um erro ilusório muito triste, pois o que ele está fazendo é pular toda uma etapa de aprendizado. Não com surpresa, quando vamos ver o que o sujeito escreve de Santo Tomás, tem de tudo, menos o estudo profícuo de Santo Tomás. Não há surpresa, porque se está tentando estudar Santo Tomás pulando todas as tradições de que Santo Tomás fez uso (patrística, bíblia, etc.). É um erro típico de quem está começando a estudar: a precipitação.
Santo Agostinho não só foi formado com o trivium e quadrivium, mas escreveu livros sobre eles (música, ordem, latim, professor de retórica, etc). Em seu livro De Magistro, a primeira parte é só sobre filosofia da linguagem. Já na segunda, Santo Agostinho entra na questão sobre o que é conhecer de fato.
Ele questiona: existe professor? A princípio parece que sim, pois estou aqui dando aula… Mas Agostinho responderá que não é bem assim, que só existe um Professor de fato: Deus. Estaria aqui tentando impor a teologia? Não podemos encarar questão de maneira tão superficial assim, pois sua preocupação de fundo é a questão da verdade. Em última instância, como saber que algo é verdadeiro?
Para saber se algo de fato é verdadeiro, é preciso ter a luz da razão, mas nem o aluno e nem o professor são detentores da verdade. O professor consegue apontar várias coisas ao aluno, mas não é capaz de impor o juízo (isso é verdadeiro ou falso). O aluno tem a sua experiência do real, a qual o professor não pode substituir, porque a experiência do real, o que permite ver a verdade, a pessoa já tem isso nela. Contudo, Santo Agostinho não está fazendo aqui a doutrina platônica da rememoração, onde a alma haveria esquecido as verdades que possui e ao longo da vida iria se lembrando. A rememoração de Agostinho é de outro tipo. A sua doutrina relacionada à memória é fundamental. O homem tem a vontade, a razão e a memória. Todas as três são muito importantes, inclusive estão relacionadas com as três virtudes teologais. Junto da vontade está a caridade; da razão, a fé; da memória, a esperança.
A doutrina da memória em Santo Agostinho é imensa. Entretanto, uma memória importante para o De Magistro é a memória de Deus, a memória da presença ontológica de Deus já no momento da criação. Deus estava presente no ato da criação, cuja presença me oferece a luz da verdade, porque Deus é a Verdade. A verdade, portanto, está presente em mim no ato da criação, não como algo que eu já tinha, mas esqueci, mas como presença de Deus já desde a minha concepção. E tal presença de Deus continua neste momento. Deus está presente em mim desde a minha criação até agora, e eu preciso lembrar deste fato. Isso precisa ser levado para a interioridade, para o íntimo do íntimo, a fim de perceber que lá estou eu junto com a presença de Deus aqui. Deste modo, a verdade não é simplesmente, como diziam os gregos, “da minha boca é onde jorram as musas”, não é que o professor jorre verdades, mas sim que esteja apontando e ajudando os alunos a encontrarem Deus no interior. Desta relação com Deus é que se permite chegar a verdade.
Mas há um inimigo deste processo de relação humilde com Deus, que é o orgulho. Ele fecha para o contato íntimo com Deus, impedindo que eu olhe de frente para a verdade.
Então além de tudo o que vimos na educação clássica, a educação cristã ainda vai precisar da humildade, da interioridade, meditação (isso está presente nos gregos, mas não é tão claro. Neles é mais a contemplação da natureza, enquanto que no cristianismo é também se voltar para dentro de si para ir para fora de si), busca de Deus (no cristianismo está mais presente em comparação aos gregos, que tinham certa noção da ligação de Deus, mas era uma relação diferente e não tão profunda), vida de oração para aprendizagem. Na educação clássica cristã, pois, é preciso também cultivar a interioridade e a humildade para uma relação de amor com Deus. E tudo isso é fundamental para a Pedagogia Medieval. A Pedagogia de Hugo de São Vitor, por exemplo, começa com a humildade. Isso já não é a mesma coisa que a educação clássica. Platão e Aristóteles nunca escreveram que o princípio para a educação é a humildade. Ela certamente está de certa forma presente na educação clássica (ex: “só sei que nada sei” de Sócrates, filósofo como amigo da sabedoria e o sofista como sabichão), mas a humildade cristã vai além, pois envolve a retirada da casca do orgulho, porque é o que te impede de ver a verdade, para começar a enxergar a realidade mesma.
Muito conhecimento se perde porque estudamos a pedagogia clássica sem conhecer a cristã, esquecendo que se não deixarmos de lado o orgulho, não funciona. Isso traduz-se, por exemplo, naquelas pessoas que diante do Magistério da Igreja tomam uma posição belicosa. Contudo, isso não é cristianismo. A postura cristã é abaixar a cabeça para aprender com o Magistério. Essa revolta já é um sinal claro de falta de docilidade, porque a Tradição da Igreja é a presença do Corpo Místico de Cristo na história. Não devemos lutar contra isso, mas contra o mal, o orgulho, etc. Não obstante, porque o sujeito está entendendo e aprendendo da pedagogia clássica, acredita que está no cume do saber, esquecendo, porém, que na Pedagogia Cristã existe aquele ponto onde precisamos parar, meditar para se encontrar com Deus e ver a verdade recebida.
Tal é o paradoxo que existe no cristianismo. A verdade fecha-se dos orgulhosos que são bem inteligentes, mas se abre para os humildes que muitas vezes não têm muita formação. Daí que existam humildes sábios e doutos que sejam ignorantes.
De fato é um paradoxo bem próprio do cristianismo, porque para os antigos isso seria contraditório, pois julgavam que se a pessoa era douta é porque sabia; se não era, não sabia. Encaravam a questão como ter mais ou menos conhecimento. Por outro lado, no cristianismo há esse paradoxo. O Evangelho, por exemplo, para uns é mais aberto e para outros é mais fechado. O orgulhoso aventura-se a lê-lo, e não vai entender nada; já o humilde aprenderá muita coisa. Isso é assim porque, em relação ao conhecimento, há mais coisa envolvida que a formação das letras e dos números ou mesmo da metafísica.
Além disso, no cristianismo há verdades que vão além do limite do uso da razão. A fé não contraria a razão. Santo Agostinho via a relação profunda que há entre as duas, muito diferente de Lutero que afirmava que a razão era a prostituta do demônio. Santo Agostinho acharia absurda essa declaração luterana. A questão é que a razão tem o seu limite, não pode por si só encontrar a Deus por conta da sua limitação. Então é preciso que a fé abrace a razão para que se consiga vislumbrar algo mais profundo que as próprias luzes pessoais. É justamente este limite da razão natural que está muito presente na pedagogia cristã.
A pedagogia moderna é uma porcaria e devemos defender uma educação clássica. Mas qual educação clássica? Se não for a educação clássica cristã, já não é bom negócio.
Em Hugo de São Vitor, por exemplo, além da já mencionada humildade, está o trabalho com a enxada, o que seria outra contradição para o mundo antigo. Os romanos viam claramente dois tipos de trabalho: o servil e o liberal; o servo trabalhando na terra e o liberal livre (por isso artes liberais) para poder pensar. Já há uma diferença radical neste ponto, pois nisso Hugo de São Vitor está influenciado pelo ora et labora dos beneditinos, porque os trabalhos servis (fazer o pão, trabalhar na terra) mortificarão a vontade e os sentidos, ajudando a ter conexão com Deus, a olhar o mundo com outra perspectiva, mais humilde.
Dado a situação da educação moderna, o retorno a educação clássica ainda é pouco. Nós perdemos a noção de humildade, de humildade no trabalho, de docilidade, de vida interior, etc. de modo que voltando para o clássico podemos estar educando soberbos que podem ser contra a modernidade, mas não são verdadeiros sábios.