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A Escravidão do Verão e a Modéstia

Vladimir Volegov - Dia de Verão
Por María Virginia Olivera de Gristelli

Sempre defendi não ser pura causalidade que “férias de verão” rime com “tentação”, e é o que mais se observa nesta estação do ano. Nós nos sufocamos de calor, mas às vezes também de cansaço… como quando tem que parar para explicar de maneira mais ou menos satisfatória, a algumas adolescentes, o porquê de ter que ir à Missa – não digo nem na rua, mas na Missa! – simplesmente vestidas. Como explicar esta questão às adolescentes se nem as adultas a compreendem?

Como “ousar” falar do tema, quando já nem os sacerdotes falam disso? E como pretender uma “nova evangelização” ou “evangelização da cultura” se as verdades mais simples, quase elementares da moral católica, são às vezes silenciadas sistematicamente por respeito humano? Porque – convenhamos – há temas que provocam um fulgor intolerável aos tolerantes.

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Um conhecido sacerdote não vacilou, por exemplo, em interrogar seriamente a uma jovem que se atreveu a ir comungar de joelhos quando viu que, embora assim procedesse, sequer lhe ocorreria de insinuar a outras que pelo menos é necessário se vestir para poder ir comungar. Decentemente? Não: digo “vestidas”, diretamente, porque creio que assumir que as pessoas estão vestidas só porque cobrem apenas alguns centímetros a mais do que suas roupas íntimas é uma brincadeira de mau gosto.

Hoje andamos pelas ruas entre pessoas seminuas, mas o pior é que os cristãos, os que deveríamos ser sal da terra e luz do mundo; que estamos no mundo sem ser dele; que fomos enviados “como ovelhas no meio de lobos”, estamos nos acostumando a isso, adormecendo a consciência, o sentido apostólico e até o bom senso.

Porque é preciso ter misericórdia do pobre que estende sua mão pedindo pão, contudo parece ser uma obrigação “de caridade” desviar o olhar para o outro lado quando há aqueles que colocam sua alma à disposição para ser corrigida, ensinada e aconselhada (três obras “desprezadas” de misericórdia).

É lamentável que uma mulher católica se confunda com o mundo naquilo que este tem de anti-evangélico, e que quando vemos uma jovem vestida habitualmente com modéstia se tenda a pensar que seja membro de alguma seita. Pois isso acontece: quando algumas delas, cansadas da tibieza que encontram em certos ambientes católicos, para mudar sua vida, apostatam insensivelmente, seja sendo cooptadas pelos Testemunhos de Jeová ou pelos Mórmons, seja “passando” por alguma confissão evangélica, encontram em seguida com alguns irmãos que não vacilam em lhes dar essa simples demonstração de misericórdia, de apostolado básico, corrigindo seu modo de vestir para que pareça cristão. O que é mais ou menos o que fizeram os espanhóis na obra de evangelização da América: civilizar, além de e para evangelizar.

Irão nos replicar, com o Pequeno Príncipe, que “o essencial é invisível aos olhos” (oxalá soubessem ler bem a Saint-Exupery…), e que “o hábito não faz o monge”… E então respondemos, no concurso dos provérbios, que “não é só preciso ser, senão parecer”. “Brilhe assim vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,16). São Paulo exorta a “abster-se até da aparência de mal” (1 Ts, 5,22), “no meio desta geração extraviada e perversa, dentro da qual vós apareceis como luzeiros no mundo, ostentando a palavra da vida (Fl 2, 15-16).

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Seria isso orgulho, arrogância, vanglória? Muito pelo contrário: não se busca o próprio brilho per se, senão para servir de farol aos outros, para que não tropecem. Por outro lado, deveríamos sim combater a vanglória – sobretudo as mulheres – quando se trata de nos enfeitarmos como pavões reais para as festas, competindo “para ver quem mostra mais”, como se estivéssemos em uma exposição de frigorífico.

Efetivamente, aquilo que pode parecer mais superficial, mais “pequeno”, não deve ser desprezado se se pretende continuar subindo os degraus na vida interior, para chegar aos últimos, devemos forçosamente passar pelos primeiros. Ainda que a temperança – a qual se integram o pudor e a castidade – não seja a mais alta das virtudes, soa no mínimo incoerente querer sobressair na fé ou na caridade desdenhando dela. O que diríamos de um engenheiro que não dá importância à aprendizagem das operações de soma e subtração?

Também nos dirão que há tantos problemas graves para tratar, que não haveria razão para se ocupar deste… E, contudo, vemos na História da Igreja, na primeira irradiação do Evangelho:

É um fato até certo ponto desconcertante, mas muito certo, que os Padres, bispos e teólogos, estando a enfrentar com gravíssimos problemas filosóficos, dogmáticos e disciplinares; mais ainda, vendo todo o dia o povo cristão ameaçado em sua própria sobrevivência por causa de perseguições muito violentas, se ocuparam, contudo, várias vezes em seus escritos – também os que eram mestres da mais alta especulação teoria e mística – de questões bem concretas referentes ao pudor, à castidade conjugal e individual, à virgindade, aos espetáculos, etc. (…) O Evangelho, com efeito, tendo tudo contra si, vence o mundo e cria em todos esses valores uma nova civilização.

Na literatura dos Padres, são frequentes os vestígios do assombro que causava nos pagãos o pudor das mulheres cristãs, e a admiração que em muitos casos suscitava a beleza da castidade. Não parece exagero afirmar que o testemunho cristão da castidade e do pudor foi uma das causas mais eficazes da evangelização do mundo greco-romano, que em grande medida ignorava essas virtudes” (Iraburu, J. M. Elogio do Pudor).

E há um “dado experimental” que a mim não espanta: quando uma pessoa se converte sinceramente, sendo adulta, vemos muito rapidamente o despertar de uma delicadeza de consciência em seus costumes “visíveis”, como é o vestido, as palavras, as diversões, muitas vezes sem que haja grandes explicações: o Espírito Santo obra de modo suave e firme ao mesmo tempo, dando-lhes uma espontaneidade e convicção assombrosa que irradia luz ao seu redor.

Por outro lado, vemos que alguns católicos de toda a vida, os quais talvez nunca tenham questionado a fé, vivem com boa consciência uma autorizada “mundanidade” em seus hábitos bastante escandalosos – sendo literalmente causa de tropeço para outros -, ou seja, anti-testemunhais. Mas como já possuem um “ticket” de irrepreensibilidade, não podem ser questionados, claro. E assim assistimos a uma multidão de figueira estéreis, por que vai saber com que tipo de água estão regando suas raízes…

O grau de escravidão provocado pela moda em certos aspectos, em seu aspecto de “mundo”, é insuspeitável. Conheço mais de uma jovem que se junta a todas as marchas pró-vidas disponíveis, inclusive dispostas a receber alguma agressão das abortistas com o rosário em mãos, porém… se lhes pedirem que joguem fora definitivamente suas roupas jeans que parecem coladas ao corpo, as camisetas com decote proeminente ou os “shortinhos”, retrocederiam espantadas dizendo: “Mas eu não sou monja”. Pois bem: o mundo prendeu essas pobres almas, e elas não se atrevem a pisoteá-lo buscando o amor a Cristo Rei.

Na direção oposta, como recordava o Padre Guillermo Morado, está o que “defende a pessoa; opõe-se a tudo o que a possa lesionar, ferir, instrumentalizar, degradar. A castidade ajuda a ser livres”. E o pudor é o guardião da castidade.

Aqui não é minha intenção transmitir extensos fundamentos teóricos, mas compartilhar algumas reflexões entre irmãos como mulher, mãe e esposa, e sobretudo como filha da Igreja. Se alguém, por outro lado, quiser bibliografia, lhes asseguro que ainda podem encontrá-la, inclusive em edições pós-conciliares, para aqueles que já começaram a franzir a testa.

O padre Iraburu ocupou-se extensa e fundamentalmente do tema em seu precioso livreto Elogio do Pudor, muito oportuno para jovens e adultos de ambos os sexos, e em três artigos de seu blog Reforma ou Apostasia.

O Padre Trevijano também aludia ao conceito com algumas ponderações muito convenientes, como a de que o pudor não é puritanismo nem timidez, e que em definitivo deve ser considerado como uma salvaguarda da dignidade do homem e do amor autêntico.

Não é preciso mencionar a luminosa Teologia do Corpo, desenvolvida pelo beato João Paulo II.

Se for revisar o Catecismo, ali também há belíssimos textos sobre esta matéria, sobretudo entre os números 2514-2533, quando trata do nono mandamento. Uma pérola sobre o que vínhamos dizendo:

2525. A pureza cristã exige uma purificação do ambiente social. Exige dos meios de comunicação social uma informação preocupada com o respeito e o recato. A pureza de coração liberta do erotismo difuso e afasta dos espetáculos que favorecem a curiosidade mórbida e a ilusão.

2526. A chamada permissividade dos costumes assenta numa concepção errônea da liberdade humana; para se edificar, esta precisa de se deixar educar previamente pela lei moral. Deve pedir-se aos responsáveis pela educação que ministrem à juventude um ensino respeitador da verdade, das qualidades do coração e da dignidade moral e espiritual do homem.

Não temamos, pois, em afirmar contundentemente que o pudor continua sendo uma virtude, e de grande importância, e tendo em conta as consequências que acarreta seu descuido.

Mas o que nos deve preocupar não é que o mundo já não considere esta questão desta maneira, senão que isso precisa ser explicado para a pessoa pretensamente católica.

E não só aos “progressistas”; não sejamos hipócritas. Porque quando se trata de buscar a quinta perna para o gato do que disse o Cardeal X, somos todos “tomistas” e gente “bem formada”, mas quando saímos de férias, Santo Tomás é guardado a sete chaves até o regresso, e na praia somos todos anjos, o pecado original é pura teoria, e o naturalismo nos ganhou de um golpe. E se por acaso vamos “em família”, já não há nada a objetar: assunto encerrado e enterrado.

E não. Perdão, mas uma pessoa com roupa íntima, ainda que tenha 11 anos e esteja brincando com sua mãe, segue estando com roupa íntima, mesmo que lhe digam que isso é “traje de banho” e lhe joguem um balde de água benta em cima. E um homem mais ou menos normal, se não é de plástico nem tem inclinações homossexuais, rodeado de mulheres seminuas, por favor, explique-me como fazer para cuidar da castidade com um mediano bom senso católico.

“Mas estamos de férias!” E qual pessoa em seu são juízo argumentaria deste jeito para roubar ou para mentir, como se um tempo ou ocasião de alegria necessariamente dispensasse do cumprimento de alguns mandamentos? Mas… pensando bem, já ouvi argumentos igualmente ridículos para defender a embriaguez e coisas do tipo, usando o pretexto de festas sociais determinadas, onde parece que também é obrigado a haver “transgressão”. E aqueles que não compreendemos, somos os atrasados, os “puritanos”, etc. etc.

Já sei que, como sempre, virão alguns para jogar toda a culpa aos sacerdotes e bispos – o que claro, não nego sua responsabilidade -, mas eu digo: quantas pessoas que veem claramente este tema se atreve a mantê-lo “no tempo e fora do tempo”, fazendo com que o próximo veja essa necessidade, e sem desistir, começando pelas próprias famílias?

Um exemplo concreto: organiza-se uma reunião familiar em uma casa com parque ou piscina, e acaba que a maioria tem o bikini pronto: o que faremos com o exemplo ante os mais pequenos, quando durante todo o ano estivemos pregando a modéstia? Diremos a eles que era uma piada, ou que na realidade não está tão ruim por se tratar da tia, ou que “é só desta vez”?… E se a casa é nossa, podemos permitir que, de uma só vez, em nome da “convivência pacífica”, seja apagado tudo o que defendemos no fundo de nossa consciência?

Há os que objetam com a inocência das mais jovens (“são só umas meninas”), convém recordar-lhes as palavras de São Cipriano: “Pode até ser que tu não olhes a ninguém com olhos desonestos, mas os outros olham para ti. Não sujas teus olhos com vergonhoso deleite, mas por causar prazer aos outros quando tu mesma te sujas”. E aqui aludimos a outro tópico que também brilha por sua ausência: a necessidade de evitar as ocasiões de pecado, não só para si mesmo, mas também para o próximo. “O pudor é modéstia. Inspira a escolha do vestuário, mantém o silêncio ou o recato onde se adivinha o perigo duma curiosidade malsã. O pudor é discrição.” (Catecismo 2522).

Seja vossa linguagem sim-sim, não-não, o que passa disso vem do maligno (Mt 5, 33-37).

Há alguns anos a moda daqui consagrou algumas camisetas curtíssimas, mostrando não somente a cintura – e as tatuagens… – mas fazendo com que nas missas de veraneio ninguém pudesse evitar se entreter com a cor das roupas íntimas das mulheres sentadas diante de si. Depois se “naturalizaram” as calças. Atualmente são “febres” os mini-shorts, e desde os desfiados até os de lantejoulas, quase não existe adolescente nem jovem nem senhora que não os vista.

E ninguém percebe que a desvergonha reinante de infidelidades, pornografias, homossexuais exibicionistas, prostitutas, abortistas e demais ervas não chegariam de um dia para outro se o terreno não estivesse convenientemente preparado com esta progressiva desinibição cultural que nos tem imbecilizado?

Porque aí está a questão: em se acostumar. Desde quando se quebrou a vontade de defesa, de reação, e a consciência geral foi anestesiada a partir do núcleo das próprias famílias, por mais que juntemos milhares de assinaturas para remover o portal de corrupção de menores que é o “Chau tabu”, já temos o inimigo dentro das muralhas.

Às considerações morais também deveríamos somar as considerações estéticas: realmente se acredita que todo este clima “acresce” em beleza à sociedade? Porque faz parte do dever dizer que o cristão não só deve servir ao Bem e à Verdade, mas também à Beleza, e é inegável que o pudor e a modéstia nos costumes servem em máximo grau a esta, contribuindo não pouco ao bem-estar e à harmonia da sociedade civil.

Digamos então que os sacerdotes não são magos. Eles também necessitam se apoiar em um rebanho com um mínimo de coerência para animá-lo por uma pregação consistente, sobretudo ante os mais jovens. Não é tampouco muito lógico que a pessoa se “disfarce” de decente para ir a Missa se todo o dia anda muito tranquilamente vestida indecentemente pela rua. Se não se “cura” a vida diária, o habitus, então, em suma, irá a Missa com algo um pouquinho menos impudico, mas sem chegar a compreender o fundo da questão.

Quando voltarmos a andar completamente nus – é claro que é para isso que estamos caminhando – então iremos a Missa de Bikini crendo que estamos recatadas, e continuaremos vivendo num tira e põe de mero formalismo quantitativo.

Seja como for, é inegável que “os espetáculos que algumas jovenzinhas cristãs e suas acompanhantes dão às vezes, concretamente, nas celebrações paroquiais da confirmação e do matrimônio, é hoje com frequência uma grande vergonha para a Igreja, e faz pensar se a palavra sacramento não teria mudado para sacrilégio” (Iraburu, Reforma ou apostasia, o pudor III), e neste sentido, claro, os párocos deveriam ser mais firmes no “direito de admissão”, olhando um pouco para o bem comum espiritual de toda a paróquia.

E tudo isso sem nos cansarmos do recurso assíduo dos santos. Quando comecei a escrever estas linhas, não havia notado na data, e ao ver que era a festa de Santa Inês, decidi encomendá-las a ela, pois é a patrona da pureza e das jovens. Também à Beata Laura Vicunha, que ofereceu sua vida para a salvação da alma de sua mãe, que viva em concubinato. Além delas, todas as que defenderam a pureza com suas vidas, iluminem a todos para que não deixemos nunca de chamar o pecado por seu nome e, sendo fiéis no pequeno, recebamos a graça de sê-lo sempre e definitivamente.

Fonte: Formación Católica

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