Após vencer dificuldades para ser sacerdote, depois de uma experiência como padre diocesano e ingresso na ordem religiosa dos Maristas, logo breve período de noviciado na nova ordem, São Pedro Julião Eymard foi designado para ser Diretor Espiritual no problemático Colégio de Belley (1839-1844).
O problema residia no fato de tal ambiente de ensino ser, ao mesmo tempo, colégio da província de Bugey e Seminário da Diocese, ou seja, elementos seculares e religiosos conflitavam, sobretudo em uma França pós-revolucionária que respirava cultura mundana e antirreligiosa. Diante de tal dificuldade e tendo o bispo colocado o colégio sob a responsabilidade dos Maristas, o Superior (Padre Colin), ciente da bomba e tendo conhecimento do sucesso pastoral desempenhado em Monteynard, confiou ao Padre Eymard a missão de penetrar e dirigir as consciências do colégio, cujos estudantes eram jovens rapazes.
Indispensável e inseparável de seu método pedagógico foi o seu próprio exemplo. Com efeito, São Pedro Julião Eymard já tinha fama de santidade. Com amabilidade e abnegação, o santo conseguia penetrar nas consciências, obtendo rapidamente respeito, estima e confiança de todos. Muito produtivo eram seus ofícios de diretor: a pregação, a catequese, a confissão e a direção espiritual. Através desses empreendimentos, o colégio foi passando gradativamente do indiferentismo à piedade.
Excelente pregador, Padre Eymard explicava como conseguia tão efetivamente dirigir os jovens:
”Quando se fala aos jovens, aos moços, é preciso não se contentar com apresentar um pensamento e desenvolvê-lo. Se não lhes dais senão uma flor, pouca importância ligam, embora seja bela. Dai-lhes antes um ramalhete, e assim poderão escolher. Guardai-vos de lhes falar somente à inteligência: não vos escutarão. Mas falai-lhes ao coração, e especialmente à imaginação; de outro modo não colhereis fruto. Se, ao pregar-lhes, os tiverdes aborrecido duas ou três vezes, nunca mais vos escutarão”.
Grande conselho! O adolescente, por um lado, já não vive tão abundantemente na imaginação quanto às crianças, mas, por outro lado, está há pouco tempo em contato com a realidade concreta e com sua própria autoconsciência, de modo que, embora desperta, a inteligência ainda não está habituada a abstrações. Deste modo, o conselho de São Pedro Julião Eymard é precioso: tornar os jovens inteligentes não pelo aborrecimento abstrativo, mas fazendo o caminho cognitivo da aquisição do conhecimento: estimular a imaginação para forjar conceitos vivos na inteligência.
Uma vez que nada chega ao intelecto sem antes passar pelos sentidos, sendo a imaginação a ponte deste caminho, de modo mais atento e cuidadoso deve ser aplicado isso aos jovens. E como o santo fazia isso? O mesmo explica, sem esquecer que a opinião pública da época era desfavorável à fé:
“Quanto a mim, com a forma disfarço o fundo. A linguagem da piedade, da devoção os espantaria. O assunto é sempre o mesmo; eu, porém, lhe dou nomes de guerra. Tudo o que devemos fazer, tudo o que Deus exige de nós, é ensinar-lhes a bater-se e defender-se. Eu os armo da cabeça aos pés e os apresento a si mesmo como soldados. Oh! Como estou satisfeito com este método! Eles rezam, recorrem a Maria. Há até alguns que chegam a chorar de noite, por causa das lutas que sustentam. Meu grande segredo é fazê-los considerar a prática da virtude como um campo de batalha, e a arma de que lhes falo sempre é a oração com a qual são invencíveis. Combater, levantar-se, perseverar: para os moços, tudo está nisto”
Em Filotéia, bem no início do capítulo sobre paciência, São Francisco de Sales afirma que a paciência é necessária para que se consiga ter a posse do coração, isto é, a posse de si mesmo. É que, de fato, a vida espiritual é um combate árduo e, portanto, a virtude de bem sofrer (a paciência) é imprescindível.
Tendo isso em mente, não consigo deixar de comparar com a nossa educação feminista atual, sistema eficiente para transformar os rapazes em românticos e mimados; fracos, portanto. “Empatia” para cá, “empatia” para lá, mas empatia em sentido meramente sentimental e racionalista, tal como é a educação moderna. O absurdo chega a tanto que hoje se toma espiritualidade como uma espécie de expressão de um pacifismo tacanho. O mundo é uma guerra pela salvação da própria alma, passando pelo sofrimento para obter as virtudes necessária para o hábito no bem, mas nos ensinam um “amor” sentimental que ora aparece como permissividade, ora como conformismo. Não é sem motivo que os jovens estão perdidos e vazios.
Mas o paralelo do método de São Pedro Julião com o que se pratica hoje ainda vai piorar.
Mais tarde (1851-1855), passando pela função de Provincial e de Visitador Geral, o Santo será destinado a ser o Superior do Colégio Santa Maria, fundado pelos Padres Maristas, na cidade de La Seyne-sur-Mer. Nesta empreitada, teve grande preocupação em relação ao Corpo Docente. A razão para isso é simples: quem não se ocupa antes de tudo com a sua perfeição, não pode procurar a perfeição nos outros, tornando-se negligente com os deveres de estado e ineficiente na missão educadora. Por isso, São Pedro Julião Eymard concentrou esforços, através de conferências, avisos frequentes e direção pessoal, para incentivar à piedade e à prática dos exercícios espirituais os seus irmãos de Religião.
Além da formação espiritual e moral dos professores, o santo Superior não se descuidava dos princípios educativos:
“Para atingir sua finalidade, a educação emprega três meios principais. A instrução, que cultiva a inteligência, exercita-a no trabalho do raciocínio e a orna com todos os conhecimentos necessários ao homem, seja como cristão, seja como ser vivente na sociedade. A disciplina, que exerce sua influência na vontade, e a regula, inspirando-lhe a ordem; dobra-a, impondo-lhe um jugo salutar; fortifica-a, exercitando-a para a luta. Enfim, a direção, que age sobre a consciência para iluminá-la, sobre o coração para aperfeiçoá-lo, sobre o caráter para nobilitá-lo. Estes três meios abrangem o homem todo. Mas assim como as engrenagens de qualquer máquina, embora muito perfeitas, ficam imóveis e impotentes se não são postas em ação por uma força motriz, assim estes grandes meios com os quais se efetua a educação, permanecem impedidos e mortos, sem a autoridade que é para eles a mola e a vida”
Maior diferença para nossa educação moderna não há. Nela, a instrução não cultiva a inteligência nem estimula o raciocínio, mas incute ideologia e discursos idiossincráticos; a disciplina tampouco existe, pois os jovens são ensinados a viver segundo os instintos; a direção moral, menos ainda, pois estamos na era do relativismo.
Em relação à educação moral, o seu centro está na estima e no amor:
“Para ser amado pelos alunos, é preciso amá-los primeiro. Amá-los com a imparcialidade que sabe resistir à atração da simpatia, sempre exclusivista. É preciso fazer calar qualquer preferência, embora legítima, para esparzir sobre todos, a própria solicitude e ternura. Cada aluno quer todo o coração do mestre. É preciso amá-los com aquele afeto generoso e desinteressado, que se entrega sem esperar correspondência, que nada mais quer além da felicidade dos alunos. É preciso amá-los com aquele afeto desinteressado que o próprio aluno sempre sabe apreciar, mesmo quando pouco corresponde. É preciso amá-los com aquele afeto cheio de dignidade, que se faz aceitar sem violências, que se coloca ao alcance da idade juvenil e jamais ao seu nível”.
Não há, portanto, espaço para a idolatria da juventude no método. Pelo contrário, os jovens precisam ter para com seu mestre um temor reverencial, típico da autêntica autoridade, cujo objetivo é ajudar os discípulos no caminho da perfeição. Ora, o que dizer neste sentido da educação moderna? Ela que rejeita a figura da autoridade, pois a confunde com opressão?
Por fim, vamos falar da pureza, atributo que um educador eymardiano, ou melhor, que um educador católico deve zelar, pois:
“A criança inocente tem o espírito mais calmo e livre para aplicar-se ao estudo. Sua inteligência, virgem ainda das tempestades que contaminam o espírito e o debilitam, abre-se mais francamente tanto ao saber quanto à virtude. Dócil, porque pura, a obediência a conduz pela mão e ela segue sempre, como cordeirinho inocente a torne perfeita, mas é o elemento puro no qual sua alma atinge a inspiração e o vigor: é o céu sem nuvens. Deus se compraz em espelhar-se naquela alma tão bela, em se lhe revelar em sua verdade e amor. Conservar a inocência de uma criança é coloca-la numa melhor condição para trabalhar e vencer”.
Que abismo separa esta concepção sobre a pureza com a visão psicanalítica (Freud) tão incrustrada na práxis da educação moderna. Por conta disso, esqueceu-se aspectos importantíssimos da psicologia humana: a pureza contribui para a inteligência e para o estudo; é força e vigor para as virtudes; é espelho de amor; é alegria para a habitação divina na alma!
Por conta disso, a pureza do aluno é consolo para o educador, diz São Pedro Julião Eymard.
Porém, não se confunde a importância da pureza na educação com a educação puritana, daí entra a importância de ensiná-la sobre a prudente vigilância:
“Velar pela inocência de uma criança, mantê-la pura, é muito, mas não é tudo para um jovem chamado a viver na sociedade, no meio dos escândalos e seduções de toda sorte, que o esperam ao entrar no mundo”.
Nada de bolha: o jovem deve ser educado na pureza, mas sem deixar de lado o ensino da vigilância, inculcando-lhe o horror ao vício e o amor à virtude. Em resumo: educa-se o jovem para ser piedoso. Afinal, é pela vigilância que aprendemos a avaliar e reagir ao ataque do inimigo (mundo, carne e demônio), e nisso contando e confiando com a bondade divina.
Para encerrar, voltemos ao colégio de Belley. A estima alcançada por São Pedro Julião era tanta, que os alunos o chamavam de “o pai amável”, “o bom pai” ou simplesmente “Pai”. Houve um estudante que foi transferido para um colégio leigo, mas achou tão insuportável tal ambiente recheado de irreligião, que pediu ajuda ao Santo para que pudesse retornar ao colégio. Entrando em contato com sua mãe, foi com alegria que o jovem regressou ao Colégio Belley.
Fonte: Vida de São Pedro Julião Eymard (1811-1868): O Apóstolo da Eucaristia. Itapevi-SP: Nebli, 2017.