Breaking news do mundo litúrgico dão a entender que um documento que aboliria, ou pelo menos reduziria, o alcance do motu proprio Summorum Pontificum está próximo de ser publicado.
Tais notícias suscitaram muitas apreensões, sobretudo naquelas dioceses (e, portanto, na maioria das dioceses italianas) em que a defesa da celebração Vetus Ordo encontra tutela somente no Summorum Pontificum, e não certamente no diálogo com os Pastores.
Na defesa do status quo, manifestaram-se, entre outros, dois príncipes da Igreja, na pessoa do Cardeal Müller e do Cardeal Zen.
De minha parte, chamo a atenção para o problema de autoridade contida nesta questão.
Minha tese é que um movimento contrário ao Summorum Pontificum – especialmente se realizado com Bento XVI ainda vivo – seria um golpe baixo contra a Liturgia, mas, sobretudo, seria um golpe traumático contra a autoridade.
A pergunta que me faço é qual valor deve ser dado a um documento que, em menos de duas décadas, foi virado e revirado como uma meia? Muito pobre, eu diria. Mas o valor do documento, neste nosso caso, também diz respeito ao valor de seu autor, e, sendo motu prorio, uma intervenção eminente e autônoma do Sumo Pontífice, diz respeito ao valor das declarações pontifícias e sua relação como episcopado (por exemplo, em relação à disponibilidade de um episcopado em obedecer a um motu proprio). Portanto, diante de uma desvalorização de um motu proprio, não haveria o risco de se retirar o crédito das intervenções dos Papas enquanto tais? Não haveria o risco de gerar uma impressão de que as intervenções diretas do Papa são altamente duvidosas, válidas no máximo por algumas décadas, boas para serem arrancadas?
É neste sentido que, no meu modo de ver, mexer no Summorum Pontificum significaria mexer na própria credibilidade do Pontífice e das hierarquias, mexer na sua autoridade. E digo isso, veja bem, não para dar voz a um sentimento psicológico pessoal de confiança traída, mas para sinalizar um estado de confusão radical e objetiva que ipso facto o Anti-Summorum atribuiria aos cargos superiores.
O raciocínio é tão simples quanto desarmador: se os dirigentes não sabem o que querem fazer e por que, se agem pela mudança dos equilíbrios das cúrias ou pelas mídias sociais, e não segundo pressupostos teológicos definidos e estáveis, por que devemos obedecê-los? Ou seja, com base em quais suposições devemos obedecê-los? Sob quais condições? Mais ainda, o que devemos obedecer? O escrito mutável? A intenção que vazou nos jornais? As declarações dos pastores na televisão? O Papa 1 ou o Papa 2? O bispo que segue a letra ou aquele do espírito? Moderno ou conveniente? A primeira ou a segunda meia-década?
Novamente, não se trata de minha reação psicológica, mas de uma séria dificuldade ética. Devo obedecer a quem me mostra certamente a vontade de Deus, ou uma comunidade eclesial que é confusa, que muda constantemente suas exigências, que dá cada vez menos explicações teológicas, que tende a não responder ou a fugir às dúvidas suscitadas, que, no milênio das liberdades e na Igreja pós-conciliar finalmente livre de regalismos, empurra uma obediência intransigente; pode-se dizer de tal realidade que ela é crível e confiável? O que dever ser acreditado e seguido? Por quanto tempo? Com quais critérios? Quão a sério deve ser levado? Quanto posso interpretar e reler à vontade? Quem o determina?
Essas questões estão verdadeiramente abertas, às quais não consigo responder hoje. Quando o Summorum for castigado, uma resposta definitiva será ainda mais difícil para mim, porque dar credibilidade às autoridades será, por definição, uma aposta, uma roleta, um jogo. Mas com a diferença de que será cada vez menos divertido e cada vez mais arriscado.
Fonte: Aldo Maria Valli – Blog