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A Verdade é um valor perene

Padre Brown, personagem de Chesterton
Padre Brown, personagem de Chesterton
Por Rodrigo Müller do Valle

Nos dias de hoje, uma das principais questões é: “O que é verdade?” Essa pergunta é recente, mas os grandes filósofos gregos já a possuíam em mente quando começaram a filosofar. O que se tem de diferente, agora, é que a resposta para ela não é mais a busca sincera pelo que é, de fato, a verdade. Muitas pessoas, quando começam a debater um determinado tema, chegam e falam: “Olha, você pode ter essa verdade, mas a minha verdade é essa daqui”. Pronto, agora, é possível que se tenha duas verdades, mesmo que elas sejam contraditórias. Isso só se pode dar em um mundo que perdeu de vista a raiz dos conceitos.

O relativismo é uma das grandes ameaças para a nossa sociedade, uma vez que ele faz com que as pessoas não estejam mais preocupadas em saber as coisas em si, mas buscam o afago de seus sentimentos e querem ser aplaudidas por algo que, muitas vezes não é digno de receber elogios. Nesse sentido, muitas tragédias ou atos cruéis são levados à categoria de ações justificáveis. Em um programa da TV Brasil, Márcia Tiburi, uma das vozes desse pensamento chegou a dizer que apoia o assalto, uma vez que vê “lógica no roubo”.[1]

Mas, será mesmo que o caminho para a civilização é o do relativismo? Nas Sagradas Escrituras, temos a seguinte passagem: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai a não ser por mim. Se me conheceis, também conhecereis meu Pai. Desde agora o conheceis e o vistes” (Jo 14, 6-7). Essa passagem nos atesta para algo incontestável: a verdade existe e ela precisa ser obedecida. A civilização cristã teve, sempre, esse posicionamento muito bem firme, ao defender que a verdade é um valor fundamental, pois carrega consigo o fundamento que nos sustenta: O Amor.

Em outra passagem das Sagradas Escrituras, tem-se o seguinte texto: “Ouvistes também o que foi dito aos antigos: Não perjurarás, mas cumprirás os teus juramentos para com o Senhor. Eu, porém, vos digo: não jureis em hipótese nenhuma; nem pelo Céu, porque é o trono de Deus, nem pela Terra porque é o escabelo dos seus pés, nem por Jerusalém, porque é a Cidade do Grande Rei, nem jures pela tua cabeça, porque tu não tens o poder de tornar um só cabelo branco ou preto. Seja vosso “sim”, sim e o vosso “não”, não. (Mt 5, 33-37). Nota-se, portanto, que Nosso Senhor Jesus Cristo tem um grande compromisso com a verdade e, mais do que isso, sabe que a verdade é sacra, pois aponta para Ele mesmo, a verdade eterna.

A ausência da verdade pode, muitas vezes, gerar os maiores problemas sociais, familiares, pessoas e políticos. Quando se entra pelo caminho da mentira, a pessoa precisa se aprofundar, cada vez mais, na falsidade para manter o seu discurso. Chega uma hora, no entanto, que é tão complexo mantê-lo que a verdade vem a tona e, consequentemente, pode gerar uma situação que não tem reparo. É, nesse sentido, portanto, que devemos pensar na verdade como um valor perene, visto que, ao longo do tempo, a defesa da verdade foi feita com muito sacrifício.

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O filme Matrix, estrelado por Keanu Reeves, é um exemplo bastante claro sobre a verdade e um dos temas mais centrais para a filosofia: o mito da caverna de Platão. Em primeiro lugar, é necessário compreender o que é o mito da caverna. Para Platão, o homem tem o anseio pela eternidade que é, em última instância, a verdade. Enquanto o homem está dentro da caverna, ele é iluminado pela fogueira que é o apetite sensível. Nesse sentido, é importante notar que os apetites sensíveis são incapazes de oferecer a explicação completa do mundo, uma vez que a verdade não é o objeto próprio delas. À medida que o homem estuda, medita e contempla, ele passa a usar a razão e, aos poucos, vai abandonado o mundo sensível e passa a ser iluminado pela inteligência. No fim do processo, o homem sai da caverna, contempla a realidade e, assim, pode atingir a verdade.

No filme Matrix, há uma cena fundamental que precisa ser analisada em seus detalhes. Depois de ter sido chamado pela Trinity, o personagem principal Neo (Keanu Reeves) é levado para Morfeus que é um tipo de comandante de uma resistência dos homens contra as máquinas. A partir desse momento, Morfeus iniciar uma conversa de grande análise de conjuntura e mostra que Neo não compreende nada de sua vida e, pior, é feito a acreditar que o que ele vivia é algo concreto. Nesse sentido, tem-se uma grande virada na vida do personagem principal que, ao ver toda a realidade apontada por Morfeu, passa a não acreditar naquilo que está sendo dito. No entanto, os argumentos apresentados são bastante contundentes e, consequentemente, Neo é colocado em uma situação de grande dificuldade: acreditar ou não acreditar.

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No final dessa conversa, Morfeus e Neo vão para uma sala na qual acontece o grande diálogo que sintetiza o mito da caverna de Platão. Morfeus, então, apresenta duas pílulas para Neo, uma azul e uma vermelha. Se Neo ingerir a primeira pílula, ele volta para o estado inicial e não se lembrará de nenhum aspecto da conversa, vivendo a vida como sempre soube; porém, se ele ingerir a vermelha, ele não será mais capaz de ver o mundo como outrora e, mais do que isso, será obrigado a ver a situação da maneira real. É fundamental, aqui, perceber que “verdade conhecida é verdade obedecida”, epíteto de Platão. Portanto, quando o homem vê a verdade, ele precisa seguir e obedecer, caso contrário estará distante daquilo pelo qual foi criado: contemplar o Sumo Bem.

Outro exemplo bastante claro sobre a questão da busca pela Verdade é a Saga do Padre Brown, de Gilbert Keith Chesterton. Em primeiro lugar, é importante mencionar que Chesterton era um ateu e, por conta de seus estudos, se converteu ao catolicismo, tornando-se um dos principais autores católicos no século XX. Em termos de sua obra, uma das mais famosas é a saga do Padre Brown, pois apresenta os seguintes aspectos: luta do bem contra o mal, semelhante às novelas de cavalaria e profundo conhecimento a respeito da alma humana. Ora, é evidente que o ser humano quer a verdade, pois Deus assim o criou, para que O contemple e O adore. E não tem como amar a Deus se estiver na mentira.

Depois de feito essa introdução a respeito da vida e da obra, é necessário compreender quem é o Padre Brown. Ele é como qualquer sacerdote católico que deseja, mais do que qualquer outra coisa, a salvação das almas e, por isso, é fundamental que ela esteja posicionada na verdade. É interessante notar que o Padre Brown tem duas virtudes importantíssimas para o sacerdócio: ele conhece o coração das pessoas, muito mais do que a parte racional e esse é um dos aspectos mais interessantes. O conhecimento da alma humana faz toda a diferença quando se deseja fazer com que alguém saia das trevas e caminhe para a luz. Além disso, boa parte das pessoas não acharão que um padre é um investigador e, portanto, não terão muitas suspeitas.

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É interessante notar que o Padre Brown consegue fazer com que as piores pessoas consigam se converter, passar a ter amor pela verdade e segui-la com firme decisão. O exemplo mais claro de tudo isso é de Flambeau que, inicialmente, era o maior inimigo da verdade, um vigarista, criminoso e antagonista do padre. No entanto, ele se torna detetive, isso é marcado como uma metanoia, uma mudança radical de vida e passa a ajudar o padre em todas as investigações. Esse exemplo é claro de como a verdade, uma vez vista, pode transformar a realidade de qualquer pessoa. É o caso de Santo Agostinho que tornou-se Doutor da Igreja depois de uma vida muito devassa.

Outro exemplo bastante eloquente da verdade é que a Saga do Padre Brown nos traz é a contradição entre os incrédulos e os que creem. É interessante notar que o Padre Brown não é um Sherlock Holmes, uma vez que ele não é cientificista. Já que estamos falando sobre verdade, no livro A Sabedoria do Padre Brown, um detector de mentiras, criado com os mais elevados métodos e cálculos, não consegue detectar as mentiras, mas o Padre Brown consegue pegar o suspeito, pois possui o conhecimento da alma humana. O mundo não pode ser colocado de forma quantificável, com métricas o tempo todo.

E como que o Padre Brown conhece tão bem a alma humana? Simplesmente pelo fato de que ele atende muitas confissões e sabe dos pecados e da origem de cada problema. Como o exame de consciência é importante para posicionar as pessoas na verdade, em relação à Verdade, o padre tem um instrumento poderoso que muitos não tem. Assim sendo, é possível que ele saiba o que está no coração das pessoas, fazendo com que os crimes sejam solucionados de maneira mais precisa. O conhecimento da alma humana é fundamental para chegar à verdade.

Dois exemplos de como que a verdade é um valor em si. No primeiro filme, a verdade foi revelada para que houvesse a possibilidade de tomar a consciência de si, ver a realidade e saber como agir; no segundo, está evidente que a busca pela verdade, fundada na resolução dos crimes e no estabelecimento da justiça, é necessário. Sem isso, a sociedade padece e, consequentemente, não consegue atingir a excelência.. Dentro de todo esse contexto, é fundamental ressaltar aquilo que G.K Chesterton dizia: “Se a verdade é relativa, é relativa em relação a o que?”. Outro pensador fundamental para os dias de hoje, Roger Scruton diz: “Uma pessoa que diz que a verdade é relativa, está pedindo para você não acreditar nela”. Ora, essas duas frases mostram que, se a verdade for relativa, como será possível a construção de uma sociedade?

A origem de todo o problema sobre a verdade está, como a maior parte de todos os problemas, na filosofia. Atualmente, a civilização ocidental esta inserida no chamado “pós nietzschiano” que postula, em linhas gerais, o seguinte termo: “Não existe verdade; se existisse, não seria cognoscível; se cognoscível, incomunicável. A negação de todo fundamento – a elegante complacência na ausência de fundamentação até para o seu próprio ceticismo – desenraiza o homem da verdade a partir afinal de um negativo de “profissão de fé”

Ora, essa síntese da pós modernidade filosófica vai, fundamentalmente, contrária aquilo que Aristóteles disse a respeito do homem:

“Todos os seres humanos naturalmente desejam o conhecimento. Isso é indicado pelo apreço que experimentamos pelos sentido, pois independentemente do uso destes nós os estimamos por si mesmos, e mais do que todos os outros, o sentido da visão. Não somente objetivando a ação, mas mesmo quando não se visa nenhuma ação, preferimos a visão – no geral – a todos os demais sentido, isto porque de todos os sentido, é a visão que melhor contribui para o nosso conhecimento das coisas e o que revela uma multiplicidade de distinções.”

Aristóteles sabia, fundamentalmente, que o homem é um animal diferente, uma vez que tem a faculdade de raciocínio e, portanto, a possibilidade de conhecer as coisas. Isso só é possível de ocorrer, caso ocorra, em um determinado momento, a defesa da premissa de que a verdade existe e que ela pode ser conhecida. Caso contrário, o homem não poderia conhecer e, ao não conhecer, não teria condições de construir uma civilização. Essa é a base fundamental do argumento que define a necessidade da verdade.

O mais interessante de tudo isso é que os defensores do relativismo, quando tem os seus interesses contrariados, adotam a postura do realismo filosófico. Isso fica muito evidente no curta metragem Matemática Alternativa[2]. A história é a respeito de uma professora de matemática que dá nota zero para um aluno que reprovou na matéria. Isso tudo por que o aluno, ao dizer que 2 + 2 = 22 e não 4, começou a fazer grandes reclamações contra a professora. Os pais e os diretores da escola, alegando que esse tipo de ensino era opressor, fizeram muita pressão para que a professora mudasse a nota do aluno; no entanto, ela não fez.

Como consequência, a mídia, os sindicatos e as pessoas passaram a pressionar a escola para que ela fosse demitida. A pressão gerou sucesso e ela foi, enfim, demitida do colégio. No entanto, quando a escola foi pagar os direitos trabalhistas da professora, a matemática financeira foi realista, porém, a professora utilizou os argumentos relativistas para conseguir maior ganho financeiro e, como os diretores não quiseram se contradizer, foram obrigados a aceitar. É, portanto, algo bastante interessante como os ditos “intelectuais” podem defender que a verdade é relativa, mas desde que não prejudiquem os pontos centrais da defesa.

Vejamos, portanto, que é fundamental que se recupere o sentido correto da Verdade, que as pessoas possam, enfim, tê-lo como um valor em todos os sentidos da vida. Para que isso ocorra, no entanto, o processo educacional deve ser voltado para a busca pelo entendimento de como as coisas são, ou seja, ensinar as pessoas à busca pela Verdade e pelo amor à sabedoria. Somente assim, as pessoas aprenderão, desde o início que a verdade deve ser defendida e que o relativismo é, em si, algo completamente destrutivo.


[1] Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=wuhvVi1jAyc&ab_channel=100%25ac

[2] Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Zh3Yz3PiXZw&ab_channel=Ideaman

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