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Acabando com o Carnaval do “O Catequista”

O Catequista, defendendo o indefensável carnaval

Enquanto o mundo católico se prepara para a Quaresma e diversos padres e bispos acautelam os fiéis das mazelas do Carnaval, o Catequista ano após ano, nas proximidades da Quaresma, se dedica a anestesiar as consciências a respeito da festividade.

Em 2024, Alexandre e Viviane Varela já havia publicado fotos dos próprios filhos “caindo na folia”, como se vê aqui:

Na época, o casal justificou a publicação argumentando que a Igreja jamais condenara o Carnaval e porque neste baile infantil se encontravam “Muitas senhoras e senhores, jovens bem comportados, uma multidão de crianças e doguinhos, nenhum cheiro de cigarro“.

Nota-se de cara neste baile infantil mulheres adultas muito mal vestidas, uma delas de mini-shorts e segurando uma cerveja na mão (o ápice da vulgaridade feminina), mas para o O Catequista era um baile “bem comportado”. Veremos que na exposição deste artigo que este baile não cumpre os requisitos mínimos de um baile adequado. Contudo, a consciência de Alexandre e Viviane Varela está totalmente cauterizada quanto à verdadeira honestidade que os ambientes devem ter, afinal, eles não se importam de levar os filhos a uma praia mista com pessoas seminuas depois da Missa, conforme demonstramos no artigo “Sobre a obstinada idolatria dos conservadores católicos às praias“.

Este ano, novamente, a página renovou seus votos de apoio ao Carnaval, desta vez apoiando-se nominalisticamente nos casos da Serva de Deus Odetinha e em Santa Giana Molla, que também teriam caído na folia.

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Dizemos “nominalisticamente”, porque o O Catequista simplesmente se recusa a justificar tecnicamente suas opiniões articulando os princípios da teologia moral ao caso concreto, mas ele simplesmente “extrai” conclusões a partir de comportamentos de certos santos ou pontífices, que puderam ter inúmeros motivos para agir de tal ou qual maneira ou que simplesmente não agiram bem.

Neste exemplo da Serva de Deus Odetinha, por exemplo, há coisa mais inadequada do que uma menina se vestir de menino? Qual a diferença disso para incentivar um menino a brincar de boneca? Qual a diferença de uma menina se vestir de menino no carnaval infantil e um marmanjo se vestir de princesa no carnaval adulto? É uma diferença de grau, não de essência. É evidente que os pais de Odetinha não tinham que permitir tal coisa.

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Já de Santa Gianna não há muitas informações do contexto que ela comemorava o carnaval com os filhos, mas, como já informamos inúmeras vezes neste blog, Santa Gianna foi muito mais filha do seu tempo que se possa imaginar, tendo algumas condutas que não eram realmente aconselháveis para uma mãe católica.

Neste blog já argumentamos que o progressismo católico, quando não tem fundamento sólido na doutrina ou na teologia, apela nominalisticamente aos santos, pois sempre haverá algum que, sendo filho do seu tempo e carecendo de boa instrução, não agiu conforme a doutrina ou a boa teologia aconselham a agir. Não precisamos ir longe. Vejamos, por exemplo, o caso da Serva de Deus Chiara Petrillo.

Chiara e o marido eram ardorosos frequentadores da Renovação Carismática e Chiara morreu de forma heroica para levar a sua última gestação para frente. Contudo, Chiara, como qualquer santo que vive em tempos caóticos e sem muita instrução como os nossos, tinha diversos costumes mundanos, embora creiamos que todos eram vividos na mais absoluta boa-fé. Chiara, por exemplo, usava biquíni na praia, algo simplesmente escandaloso para a modéstia no vestir, como demonstramos em diversas ocasiões.

Chiara era acostumada com missas hiper carismáticas com todos os problemas que descrevemos no artigo “Sobre o Tradismatismo“. Em seu funeral, a missa, novamente, foi hiper carismática, fugindo completamente ao espírito de uma Missa Pro Defunctis, sendo animada com instrumentos musicais totalmente inadequados para a liturgia e até mesmo com o marido de Chiara, Enrico Petrillo, soltando a mão no violão:

Não estamos expondo essas coisas para detratar os santos, mas para mostrar o quão problemático é tomar o exemplo dos santos como se fosse uma norma moral, ainda mais no contexto de caos litúrgico e catequético que vivemos. O fenômeno dos “santos enganados” pelo espírito do tempo será cada vez mais comum, sendo absolutamente necessário os católicos filtrarem adequadamente o que é exemplar na vida dos santos e o que não é.

No caso de Odetinha e Santa Giana sabemos que houve engano dessas santas, tendo em vista a expressa condenação da Igreja aos bailes infantis:

“758. Reprovamos o abandono dos pais, que, concedendo a seus filhos absoluta liberdade no trato com pessoas de sexo diferente, não protegem bastante a sua pureza contra os perigos que a rodeiam, não evitam os namoros precoces, e não robustecem nem fomentam em seus corações o amor à castidade. Por isso, declaramos dignos de igual reprovação aos promotores e fautores dos bailes infantis, e gravissimamente encarecemos no Senhor aos pais, que não exponham seus filhos a tamanhos perigos, ainda que para buscar desculpas para os pecados, apresentem não poucos pretextos, com aparência de honestidade” (Concílio Plenário Limense da América Latina de 1900 aprovado por Leão XIII)

Feita esta introdução façamos agora uma análise da moralidade do carnaval, para que tenhamos uma visão justa do tema.

O carnaval enquanto festa

O Carnaval é um espetáculo público com danças. Assim, deve-se levar em conta as principais normas da moralidade tanto para o espetáculo quanto para a dança. Adianta-se, desde já, que o carnaval ser “popular”, “mirim” ou “adulto” não é critério suficiente para julgar a situação.

1. Quanto aos espetáculos

Em geral, não são maus em si. Mas, segundo a opinião comum dos moralistas, seriam gravemente escandalosos se promovessem:

  • a) músicas e artes obscenas, antirreligiosas ou contrárias aos bons costumes;
  • b) roupas indecentes;
  • c) todo tipo de excesso (drogas, bebedeiras, chistes, etc).

As pessoas que participassem desses eventos, mesmo sem perigo pessoal, pecariam gravemente por escândalo (Zalba, Royo Marin). Aqui a normal é clara: não basta você estar sadio no local, o ambiente como um todo também precisa estar.

Por estes critérios o carnaval, mesmo o infantil, já se torna uma realidade muito difícil de se frequentar no Brasil, uma vez que raramente se observa o atendimento desses critérios.

Aqui pedimos licença para o leitor para notar como a página O Catequista é completamente amadora na abordagem desse assunto.

O Catequista defende com ardor o Frevo pernambucano como uma alternativa legítima de entretenimento carnavalesco. Na publicação deste ano de defesa do Carnaval, pode-se inclusive encontrar comentários de seguidores do O Catequista a respeito do Frevo e o endosso da página à festividade:

Notemos como os seguidores do O Catequista, seguindo o exemplo da página, são incapazes de um raciocínio moral. Defendem o Frevo porque ele é “cultural” ou porque a festividade faz parte da “identidade” deles, não porque seja algo moralmente sadio. Aqui funciona a lógica dos apegos, não da razão retamente aplicada. Todas as pessoas de consciência laxa pensam dessa maneira. A coisa é certa ou errada segundo o grau de apego/simpatia da pessoa, não segundo as normas da moralidade.

O Catequista aplaude os comentários e acrescenta seu endosso ao carnaval pernambucano.

Todavia, quando observamos o Frevo constatamos que ele não é celebrado de forma decente. Neste festival constata-se um grau altíssimo de indecência das mulheres. Vejamos que nesta festividade, as moças costumam usar vestidos curtíssimos expondo totalmente as pernas e quando fazem pulos e giros a roupa íntima fica totalmente à mostra.

Aqui relembremos a orientação de Pio XI:

“Que os pais mantenham suas filhas longe do público de jogos e competições de ginástica, mas se as suas filhas são obrigadas a frequentar essas exposições, deixá-los ver que elas estejam totalmente e modestamente vestidas.”  (AAS, 1930, vol. 22)

O Frevo já foi um espetáculo um pouco mais modesto, como fica evidente nas imagens abaixo, mas com a decadência dos costumes ele próprio rendeu-se à indecência do vestir.

O Catequista não repara essas coisas porque, como dissemos, ele está anestesiado. Muitos anos de praia e de “Dança dos Famosos” entorpece todo tipo de consciência. Se o O Catequista defende a praia como um lugar adequado para um católico ir, apoiar o indecente Frevo pernambucano é fichinha.

2. Quanto aos bailes

A opinião comum dos teólogos não presume honestidade dos bailes públicos e mistos. A razão é manifesta: não são bailes controlados. Gury-Ferreres em “Compendium Theologiae Moralis” esclarecem o perigo de bailes públicos e mistos:

“O perigo provém de um duplo motivo: da íntima união dos corpos do homem e da mulher, e de que os que dançam se perdem entre a multidão, abandonados a si mesmos, dando lugar a uma maior liberdade para conversas indecentes [majorem libertatem habeant verba minus casta proferendi], quando todas as circunstâncias contribuem a incitá-los a pecar; e quanto mais familiaridade existe entre os que dançam, mais perigosas são estas danças e devem ser evitadas de qualquer modo.” (tomo I, n. 242)

Por isso Antonio Royo Marín em “Teologia Moral para Leigos” assinala que os bailes, se mistos, devem ser privados e combinar as seguintes condições:

1) Em locais privados e honestos; uma festa de casamento ou familiar, diante dos pais ou de pessoas de bons hábitos.
2) Com pessoas decentes; que sejam cavalheiras e sem malícia.
3) De maneira decente; uso de trajes que não sejam escandalosos ou sensuais.
4) Com boa intenção; com finalidade honesta ou honrosa. Ex: se divertir honestamente, encontrar um marido/esposa.

Nota-se por mais este critério que mesmo o “baile infantil” sugerido pelo O Catequista estaria condenado, tendo em vista que se trata de um baile público e não é festejado de maneira decente.

Outros moralistas também distinguem a honestidade dos bailes segundo (i) o modo de dançar e (ii) em razão das pessoas

(i) No modo de dançar. Diversos moralistas (Arregui, Vicente Hernandez, Genicot, etc) e várias Conferências Episcopais apontaram o tango, a valsa, a mazurca, o galope, a polca, o schottisch, a habanera, a kamel-trot, o shimmy, o check-to-check, o one-step, o blues, o samba, o rock, etc., danças em que o homem e a mulher se abraçam apertado, dão giros, um passa por baixo das pernas do outro, etc., como danças que oferecem ocasiões próximas de pecado grave, tendo em vista o tipo de contato que há entre sexos, os gestos e a significação deles.

Observemos que um desses estilos, o tango, uma dança argentina altamente sensual, tem grande simpatia do Papa Francisco. Contudo, é impossível negar que ela seja uma ocasião de pecado grave, haja vista o tipo de interação e movimentos sensuais que há entre os dançarinos. O tango é a dança mais lembrada pelos moralistas como exemplo de dança intrinsecamente desonesta.

Daí a importância de não interpretar todos os comportamentos ou gostos pessoais dos santos e dos pontífices como se fossem normas morais. Primeiro, porque o exemplo das outras pessoas, por mais estimadas que sejam, não é para nós uma normal moral. Seremos julgados tendo como parâmetro os mandamentos, não as outras pessoas. Segundo, porque não podemos buscar escusar nossas ações com base na consciência do outro. Isso é infantilismo espiritual. Terceiro, porque nem todos os santos foram realmente exemplares em todas as suas ações. Em muitas delas foram filhos de seu tempo, embora sempre de boa-fé.

Observamos nesse quadro também como exemplo de dança desonesta o samba. De fato, o samba requer, principalmente das mulheres, muitos movimentos de quadril, rebolados, algo intrinsecamente sensual.  Não é à toa que os carnavais de samba no Brasil são altamente sensualizados. A sensualidade não é uma corrupção do samba, mas é ínsita dele.

Poderíamos facilmente acrescentar ao samba outras danças indecentes, mas, infelizmente, bastante populares no Brasil, como o pagode axé, o forró e o funk.

(ii) Em razão das pessoas. Diz respeito à honestidade e à decência das pessoas que dançam. Edouard Genicot em “Theologia Moralis” assim explica:

“A decência dos bailes depende especialmente das pessoas que nelas participam e do modo de dançar: por isso o confessor, quer ao permitir quer ao proibir as danças, deve prestar muita atenção à possibilidade ou não, especialmente às primeiras. Assim, as danças realizadas entre algumas famílias nas casas estão geralmente expostas a muito menos perigo do que as do público, tanto do campo como da cidade. Alguns condenam severamente o método de dançar já habitual mesmo nas famílias respeitáveis ​​(polca, etc.), que as mulheres pobres devem abraçar com tal habilidade que parece impossível evitar graves pecados de luxúria. Outros, porém, como Berardi (De Recid. II. n. 165), não pensam que este perigo moral esteja tão universalmente presente, pois a própria experiência e os testemunhos dos penitentes parecem mostrar o contrário. E não é tão surpreendente assim: pois o toque entre o homem e a moça, feito na solidão e somente com esse carinho, muitas vezes o moverá mais à luxúria, do que quando a mente está distraída com muitas outras coisas e concentrada no ritmo da dança. Porém, existem danças, como o tango, o boston, que são absolutamente repreensíveis. Geralmente o perigo é maior nas danças mascaradas, porque muitos, libertos do medo de serem reconhecidos pelos outros, comportam-se com mais liberdade.” (vol. 1, n. 241)

Antonio Arregui em “Summarium Theologiae Moralis” explica que o perigo dos bailes gradua-se da seguinte forma:

(i) bailes mascarados; concentra muitos perigos. Pessoas anônimas por trás de suas máscaras ou que assumem certo personagem durante o carnaval tendem a todo tipo de excessos.

(ii) bailes públicos; também ocasiona grandes perigos, tendo em vista a grande aglomeração de pessoas e o pouco controle do que se faz nele.

(iii) bailes em salões fechados; seria a danceteria moderna ou “balada”. É um ambiente mais controlado, contudo, em geral, são ambientes escuros, com grande aglomeração de pessoas, o que favorece os pecados contra a castidade.

(iv) bailes privados, entre famílias honestas. São as festas controladas e com pessoas escolhidas. Geralmente, são festas familiares ou de casamento, quermesses de paróquias. Bailes feitos nessas circunstâncias, desde que com pessoas decentes, podem ser permitidos sem grandes perigos.

Apliquemos tais normas ao contexto do carnaval. Trata-se, como todos sabem, de um baile mascarado e público, ou seja, os dois piores tipos de bailes. Não é sem motivo que o carnaval é tão conhecido por suas extravagâncias e imoralidades. Mesmo no carnaval infantil, como vimos, não está isento de perigos. Tendo em vista que o carnaval mirim busca imitar o carnaval adulto, não será raro encontra grande imodéstia no vestir nas meninas, danças inapropriadas, músicas inadequadas e maus exemplos de outras crianças, já que não há muito controle nos bailes públicos.

Genicot, teólogo belga do século XIX, já dizia que os bailes feitos nas suas regiões eram intrinsecamente maus:

“Embora, teoricamente, reger danças possa ser um ato de virtude, na prática, como acontece em nossas regiões, é inerentemente perigoso e ocasião para muitos pecados. Portanto, os confessores devem ser incentivados e sabiamente afastados deles, mas especialmente os jovens de ambos os sexos que até agora viveram na castidade.” (Ibidem)

O que dizer, portanto, de um “carnaval mirim” com mulheres mal vestidas e com danças imodestas como o samba? Nenhum pai responsável irá levar seus filhos para esses lugares.

Os Papas e o Carnaval

Por fim, lidemos com uma última objeção do O Catequista. Um seguidor fez um comentário lúcido a respeito da Serva de Deus Odetinha:

Comentário quanto Odetinha e o Carnaval
“Entendo o que o adm [O Catequista] está tentando dizer, mas acho que é importante considerar o contexto. Odetinha era uma criança e não tinha capacidade de tomar decisões por si mesma. A responsabilidade pela sua presença na festa é dos pais. Além disso, a santidade de Odetinha não é questionada pelo fato de ela ter estado em uma festa pagã. Como católicos, temos a responsabilidade de seguir os ensinamentos da Igreja e evitar comportamentos que possam ser considerados pecaminosos. Vamos ser cuidadosos em não confundir a inocência de uma criança com a responsabilidade dos adultos”.

O comentário foi perfeito. Odetinha morreu com apenas 9 anos de idade. Crianças nessa idade, conforme explicamos no artigo “O novo curso de Bernardo Küster e o Catolicismo Tradicional“, possuem aquilo que chamamos de “certeza respectiva da fé”:

“Em suma, a fé autêntica, tal como nós, católicos, a entendemos, pressupõe e exige uma certeza racional prévia do fato da revelação de Deus. Desta forma, a fé será um assentimento prudente, firme e irrevogável, que são propriedades do verdadeiro ato de fé. Para as crianças e os rudes, a “respectiva” certeza deste fato da revelação será suficiente; Para muitos adultos, a certeza <<vulgar>>> do mesmo será suficiente. Mas aos estudantes universitários e aos estudantes de teologia que queiram proceder cientificamente devem ser dadas demonstrações científicas e objetivamente válidas deste fato fundamental para a fé.” (Miguel Nicolau, “A Crise da Igreja“, n. 108)

A certeza respectiva significa que a criança crerá tendo como base o ensino do pai e da mãe, do professor católico, do catequista ou do pároco, prescindido daquilo que se denomina “demonstração científica da fé”.

Em outras palavras, se os pais de Odetinha disseram que o carnaval era bom, a base da moralidade de Odetinha não será qualquer teólogo moral ou documento pontifício, mas a afirmação dos pais. Portanto, apelar para a “santinha” impelida pelos pais a participar do carnaval é um argumento muito fraco para justificar a festa.

O Catequista respondeu a objeção da seguinte maneira:

Último argumento de O Catequista em defesa do indefensável carnaval
primeiro: citamos uma santa ADULTA, além da ODETINHA, na postagem. Segundo: sim, temos que seguir os ensinamentos da Igreja, e a Igreja JAMAIS condenou o carnaval. Na verdade, desde o século 16 até a unificação da Itália, os carnavais de rua de Roma eram patrocinados, apoiados e autorizados oficialmente pelos papas.

Aqui parece que temos o argumento mais “sério” do O Catequista em sua defesa falida do Carnaval. Os papas teriam autorizado e patrocinado oficialmente os carnavais de rua de Roma até a unificação italiana. Portanto, vamos para a folia!

No entanto, é preciso dizer que, novamente, o O Catequista cai na armadilha de tirar conclusões apressadas a partir de comportamentos dos pontífices ao invés de sentar na cadeira e raciocinar a partir de princípios bem definidos. O modus operandi do O Catequista é sempre este: ele não busca pensar, ele busca atalhos.

Pelo raciocínio do O Catequista seria lícito, por exemplo, mulheres irem seminuas ou de topless à missa, já que São João Paulo II celebrou uma missa para nativos seminus de Papua Nova Guiné em 1984:

Pois bem, é evidente que o raciocínio do O Catequista está errado. Sabemos que entre o século XVI e o XIX foram numerosíssimos os santos reprovavam o carnaval. Em suas “Meditações“, Santo Afonso de Ligório, patrono da Teologia Moral, por exemplo, dirigia palavras duríssimas contra o carnaval:

“Por este amigo, a quem o Espírito Santo nos exorta a sermos fiéis no tempo da sua pobreza, podemos entender que é Jesus Cristo, que especialmente nestes dias de carnaval é deixado sozinho pelos homens ingratos e como que reduzido à extrema penúria. Se um só pecado, como dizem as Escrituras, já desonra a Deus, o injuria e o despreza, imagina quanto o divino Redentor deve ficar aflito neste tempo em que são cometidos milhares de pecados de toda a espécie, por toda a condição de pessoas, e quiçá por pessoas que lhe estão consagradas. Jesus Cristo não é mais suscetível de dor; mas, se ainda pudesse sofrer, havia de morrer nestes dias desgraçados e havia de morrer tantas vezes quantas são as ofensas que lhe são feitas.

É por isso que os santos, a fim de desagravarem o Senhor de tantos ultrajes, aplicavam-se no tempo de carnaval, de modo especial, ao recolhimento, à penitência, à oração, e multiplicavam os atos de amor, de adoração e de louvor para com o seu Bem-Amado. No tempo do carnaval, Santa Maria Madalena de Pazzi passava as noites inteiras diante do Santíssimo Sacramento, oferecendo a Deus o sangue de Jesus Cristo pelos pobres pecadores. O Bem-aventurado Henrique Suso guardava um jejum rigoroso a fim de expiar as intemperanças cometidas. São Carlos Borromeu castigava o seu corpo com disciplinas e penitências extraordinárias. São Filipe Néri convocava o povo para visitar com ele os santuários e realizar exercícios de devoção. O mesmo praticava São Francisco de Sales, que, não contente com a vida mais recolhida que então levava, pregava ainda na igreja diante de um auditório numerosíssimo. Tendo conhecimento que algumas pessoas por ele dirigidas, que se relaxavam um pouco nos dias de carnaval, repreendia-as com brandura e exortava-as à comunhão frequente.

Numa palavra, todos os santos, porque amaram a Jesus Cristo, esforçaram-se por santificar o mais possível o tempo de carnaval. Meu irmão, se amas também este Redentor amabilíssimo, imita os santos. Se não podes fazer mais, procura ao menos ficar, mais do que em outros tempos, na presença de Jesus Sacramentado ou bem recolhido em tua casa, aos pés de Jesus crucificado, para chorar as muitas ofensas que lhe são feitas.”

Também sabemos que Papa Bento XIV instituiu as 40 horas de adoração ao Santíssimo em reparação aos pecados cometidos no carnaval e concedeu indulgência plenária a quem participasse da adoração.

“A Igreja repetidamente fez esforços para verificar os excessos do carnaval, especialmente na Itália. Durante o século XVI, em particular, uma forma especial da Oração das Quarenta Horas foi instituída em muitos lugares na segunda e terça-feira do entrudo, em parte para afastar as pessoas dessas perigosas ocasiões de pecado, em parte para fazer expiação pelos excessos cometidos. Por uma constituição especial endereçada por Bento XIV aos arcebispos e bispos dos Estados Pontifícios, e intitulada “Super Bacchanalibus”, uma indulgência plenária foi concedida em 1747 àqueles que participaram da Exposição do Santíssimo Sacramento, que deveria ser realizada diariamente por três dias durante a temporada de carnaval.” (Fonte: Aleteia)

Portanto, é inequívoco que a tanto a Igreja quanto os santos sabiam que o carnaval era ou havia se tornado, no mínimo, uma festa problemática. Então por que ele continuou até a unificação italiana?

A resposta mais provável é que os Papas simplesmente toleraram o carnaval, tal como São João Paulo II tolerou a imodéstia dos nativos de Papua Nova Guiné, dado o enraizamento da festa na cultura popular. Como sabemos, os papas entre os séculos XVI e XIX tinham sob sua tutela os chamados Estados Pontifícios e não podiam simplesmente acabar com todos os problemas sociais na canetada. Por isso toleravam certos males. Trata-se aqui exatamente do princípio do mal menor. A aplicação deste princípio explica com perfeição a continuidade dos carnavais nos territórios pontifícios e a condenação ininterrupta dos santos a essa festividade.

Conclusão

De todo o exposto, fica manifesto o desserviço que tem prestado o O Catequista (mais um) a respeito do carnaval. Mesmo que, em tese, se pudesse dizer que nem todo carnaval é mau, atualmente, não há carnaval sadio no Brasil. Assim, ao invés de gastar tempo e energia tentando convencer os católicos que se pode achar uma agulha no palheiro (agulha que, como vimos, nem o O Catequista encontrou), o O Catequista poderia incentivar os católicos a entrarem em espírito de recolhimento para a Quaresma.

Ademais, o carnaval, das grandes festas, é a que menos tem sentido. O que se comemora no carnaval? Qual herói é lembrado, qual data histórica é recordada, que santo é venerado, que Salvador é adorado? Nenhum. O carnaval tornou-se uma festa de vazão, vazão de uma alegria sem causa e sem nobreza. Por que incentivar os católicos a participarem de algo sem sentido, com muitas ocasiões próximas de pecado, sendo que eles podem recolher-se para uma Quaresma cheia de significado?

Que larguem esse laxismo vergonhoso que só levam às pessoas a pecarem mais e tomem a Cruz que a Quaresma convida a abraçar.

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