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Bênção e Blasfêmia

Cardeal Gerhard Ludwig Müller, ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé
Cardeal Gerhard Ludwig Müller, ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé
Por Cardeal Gerhard Ludwig Müller

No dia 10 de maio, mais de cem padres católicos, em toda a Alemanha, realizaram bênçãos para uniões de pessoas do mesmo sexo. Isso foi feito em resposta a uma declaração de fevereiro da Congregação para Doutrina da Fé que reafirmava que a Igreja não poderia abençoar tais uniões. Essa encenação de pseudo-bênçãos de pares homossexualmente ativo é, teologicamente falando, uma blasfêmia, uma contradição cínica com a santidade de Deus. São Paulo escreveu à igreja de Tessalônica que Deus não deseja outra coisa senão: “que sejam santificados: abstenham-se da impureza, que cada um saiba tomar uma esposa para si em honra e santidade, não na paixão da concupiscência como os pagãos que não conhecem a Deus” (1Ts 4,3-5).

O lugar legítimo para a união corporal entre homem e mulher é o casamento natural ou sacramental do marido e da mulher. Qualquer atividade sexual feita livremente fora do casamento é uma grave violação contra a santa vontade de Deus (Hb 13,4). O pecado contra a castidade é ainda maior se o corpo de uma pessoa do mesmo sexo for instrumentalizado para estimular o desejo sexual. “Todos os outros pecados que o homem comete estão fora do corpo; mas o homem imoral peca contra o seu próprio corpo. Vós não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo?” (1Co 6,18).

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Pecados graves contra os Dez Mandamentos, que se resumem ao mandamento de amar a Deus e ao próximo, trazem a perda da graça santificante e da vida eterna, enquanto não nos arrependermos desses pecados em nossos corações, confessarmos a um sacerdote e recebermos a absolvição que nos reconcilia com Deus e a Igreja. “Não se iluda! Nem os imorais, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os pervertidos sexuais, nem os bêbados, bem os blasfemadores, nem os ladrões, herdarão o Reino de Deus” (1Co 6,9).

Na Bíblia, a bênção de Deus é mencionada pela primeira vez quando o homem foi criado à sua imagem e semelhança. A instituição do casamento compartilha da verdade de que a nossa criação como “homem e mulher” (Gn 1,27) expressa a bondade essencial de Deus. Quando um homem e uma mulher se aceitam livremente para se tornarem no casamento “uma só carne” (Gn 2,24; Mt 19,5), a promessa que Deus fez desde o início também se aplica a eles: “Deus os abençoou, e disse-lhes: ‘sejam fecundos e multipliquem-se’” (Gn 1,28).

Deus determinou o número de pessoas que, pelo trabalho gerativo de seus pais, nascerão nesta e vida e que, como indivíduos únicos, estão destinados “no amor a serem filhos adotivos por meio de Jesus Cristo de acordo com o beneplácito de sua vontade” (Ef 1,5). Cada indivíduo gerado e amado por um pai e uma mãe revela a glória de Deus, mostrando que a diferença entre homens e mulheres na criação e sua comunhão no casamento são bênçãos para eles, para a Igreja do Deus Trinitário e para toda a humanidade.

A bênção nupcial do sacerdote no rito católico do matrimônio invoca a revelação da bondade de Deus e pede sua graça auxiliadora na oração de intercessão da Igreja (ex opere operantis). Também comunica ao casal a graça santificante do casamento por meio dos votos conjugais (ex opere operato). É por isso que a potência corporal e espiritual para a vida no ato conjugal e sua abertura aos filhos, aos quais Deus quer revelar sua glória e salvação, não é apenas bom em si mesmo e livre do pecado, mas também é um ato procriador meritório, que é levado em conta para a vida Eterna (ver Tomás de Aquino, Comentário sobre 1 Cor. 7 , lectio 1; Summa Contra Gentiles IV, Cap. 78).

A bênção nupcial está intimamente ligada ao casamento como uma instituição da criação e um sacramento instituído por Cristo. A bênção nupcial é a oração poderosa da Igreja pelos noivos, para que participem da salvação, para que o casamento edifique a Igreja e promova o bem dos cônjuges, dos filhos e da sociedade (Lumem Gentium II).

A bênção nupcial difere das outras bênçãos e consagrações. Ela não pode ser separada da sua conexão específica com o sacramento do matrimônio para ser aplicada a casais não casados ou, pior, ser mal empregada para justificar uniões pecaminosas.

A declaração da Congregação para a Doutrina da Fé em 22 de fevereiro simplesmente expressou o que todo cristão católico que está instruído nos fundamentos da fé sabe: A Igreja não tem autoridade para abençoar uniões de pessoas do mesmo sexo.

É inacreditável que bispos e teólogos de repente estejam insistindo na urgência pastoral de abençoar casais homossexuais em regiões onde, por muitos meses, os fiéis ficaram privados do consolo e da graça dos sacramentos por causa do coronavírus. Este fato mostra como lençol freático dogmático, moral e litúrgico secou. Se os bispos proibiram a participação na missa, as visitas sacerdotais aos doentes e os casamentos na Igreja por causa do risco de infecção, então sua alegação de que há uma necessidade urgente de abençoar casais do mesmo sexo não é sequer remotamente plausível.

O escândalo na Alemanha não é, portanto, sobre indivíduos e suas consciências; nem sinaliza qualquer preocupação pela salvação temporal e eterna. Ao contrário, o que estamos testemunhando é a negação herética da fé católica no sacramento do matrimônio e a negação da verdade antropológica de que a diferença entre homens e mulheres expressa a vontade de Deus na criação.

Trata-se do anticatolicismo que por muito tempo marca a cultura alemã pelos bastidores, bem como de uma tola hostilidade contra o Papa como sucessor de Pedro. O espírito alemão está sujeito a voos de idealismo, acreditando que está espiritualmente e moralmente acima dos limites daquilo que é sacramental e visível, e acima de todas as formas humanas definidas por Roma. No fim, esta arrogância leva-os de volta ao cativeiro do corpo e de seus instintos não redimidos. Uma vez que muitos acreditam que ser “contra Roma” é um sinal da verdade, os agitadores trabalham bastante para impor seu ponto de vista, mesmo que isso ameace a unidade da Igreja e contradiga seu ensinamento apostólico. A justaposição de “experiência vivenciada” à revelação gerou uma história triste na Alemanha. Ao aceitar ingenuamente ou voluntariamente essa falsa dicotomia, levou-se o espírito cristão a uma nova paganização, que está apenas vagamente disfarçada sob as vestimentas litúrgicas cristã.

No início dos anos 1930, milhões foram pervertidos não somente pela oposição à Igreja Católica, mas também pela oposição à “ortodoxia” da Igreja de Confissão Protestante. O propagandista nazista Alfred Rosenberg denegriu a Confissão Protestante como devedora do poder romano, porque considerava “a lei, a revelação, a igreja e o credo como dogmaticamente mais importantes do que as necessidades vitais do povo alemão que luta por liberdade interior e exterior”.

Na realidade, vida e verdade são uma só coisa em Cristo (Jo 14,6). E o amor não é o que faz alguém feliz, o que satisfaz meus instintos, motiva meu niilismo e alivia temporariamente minha doença de alma. “Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não vêm do Pai, mas do mundo. Mas quem fizer a vontade de Deus, permanecerá para sempre” (1Jo 2, 15-17).

Esse bispos e teólogos alemães tratam as pessoas como tolas; eles alegam ter conhecimentos exegéticos secretos que lhes permite interpretar versículos da Sagrada Escritura que condenam algo contrário à natureza como se fossem de alguma forma compatíveis com a aceitação de uniões do mesmo sexo. (Faz-se isso dilacerando o amor conjugal em aspectos individuais, alguns dos quais são então aplicados a uniões homossexuais). As leis pró-homossexuais, apoiadas por um lobby gay multibilionário, não podem destruir a verdade sobre a natureza humana. A bênção de Deus só pode ser transmitida por sua Igreja.

“Bendito seja o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou em Cristo com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais”. Esta bênção é a força efetiva do amor, que nos liberta do amor próprio para que sejamos irmãos e irmãs unidos como filhos de Deus. Este princípio é fundamental: “Não usem a liberdade para dar ocasião à carne, mas, pelo amor, sede servos uns dos outros” (Gl 5,13).

O espetáculo das bênçãos do mesmo-sexo não somente questiona a primazia do ofício do ensino petrino, que se baseia na revelação, mas também questiona a autoridade da própria revelação de Deus. O que há de novo nessa teologia que retorna ao paganismo é a sua impertinente insistência em se autodenominar católica, como se fosse possível descartar a Palavra de Deus nas Sagradas Escrituras e na Tradição Apostólica como sendo uma mera opinião piedosa e expressões temporais de sentimentos religiosos e ideias que precisam evoluir e se desenvolver de acordo com novas experiências, necessidades e mentalidades. E hoje nos dizem que reduzir as emissões de CO2 é mais importante que evitar os pecados capitais que nos separam de Deus para sempre.

O “Caminho Sinodal” não é legitimado pela constituição da Igreja Católica. É motivado por estereótipos anticlericais: padres e bispos obcecados pelo poder que, por causa do voto de celibato, estão supostamente propensos a perversões sexuais, e quem deliberadamente mantêm as mulheres fora de seu clube masculino ao negá-las as altas honras eclesiásticas.

Pelo bem da verdade do evangelho e da unidade da Igreja, Roma não deve assistir em silêncio, esperando que as coisas não terminem muito mal ou achando que os alemães podem ser pacificados com sutileza tática e pequenas concessões. Precisamos de uma declaração clara de princípios com consequências práticas. Isso é necessário para que, após quinhentos anos de divisão, aquilo que resta da Igreja Católica na Alemanha não se desintegre, com consequências devastadoras para a Igreja universal.

O primado é dado à Igreja de Roma não só por causa das prerrogativas da Cátedra de Pedro, cujo ocupante poderia fazer o que quisesse, mas também por causa do grave dever do papa, a ele atribuído por Cristo, de guardar a unidade da igreja universal na fé revelada.

Na Solenidade de Pedro e Paulo, o Papa Leão, o Grande, falou sobre a prova de firmeza requerida a todos os Apóstolos na Paixão: “E, no entanto, o Senhor está particularmente preocupado com Pedro, orando especialmente pela fé de Pedro (Lc 22,32), como se outros seriam mais firmes se a coragem do líder permanecesse destemida. Na força de Pedro, todos são fortalecidos, pois o auxílio da graça divina é tão considerável, que força dada a Pedro passa por ele aos apóstolos” (Sermão 83,3).

Fonte: First Things

Sobre Cardeal Gerhard Ludwig Müller

Gerhard Ludwig Müller é ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.

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