As preocupações sobre um documento que ventilava “contra” a Missa Tridentina (veja aqui) tornaram-se realidade, e o golpe não foi menos severo porque estava previsto, pois muitas generalizações tendenciosas que estão nos documentos ferem, mais do que se previa, o coração de muitas pessoas boas, que nunca deram o menor motivo para serem suspeitas de não aceitar a reforma litúrgica do Concílio e muito menos de não aceitar o mesmo Concílio “Tout court“. Além disso, eles também são membros ativos em suas paróquias.
Pessoalmente, foi uma surpresa amarga saber que a consulta “generalizada” não tenha chegado a mim, Cardeal e membro da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos. Durante os anos de 2007-2009, fui bispo de Hong Kong e, portanto, responsável por executar o “Summorum Pontificum“, e até hoje sou notório apoiador do grupo.
Não tive conhecimento nem do questionário nem das respostas ao questionário, então não posso julgar, mas apenas suspeitar que houve vários mal-entendidos (ou até mesmo manipulação, talvez) no processo.
Da forma como li os dois documentos, noto (1) uma incrível facilidade (ou tendenciosidade) em relacionar o desejo de celebrar o vetus ritus à não-aceitação dos ritus novos e (2) em associar a não-aceitação da reforma litúrgica (que geralmente diz respeito aos vários abusos graves na forma como é realizada) com uma rejeição total e profunda do próprio Concílio (para os proponentes desta rejeição, a diversidade do rito da Missa é somente um pequeno corolário, tanto que a concessão do rito não foi capaz de reverter o cisma).
As autoridades do Vaticano deveriam se perguntar (e talvez até fazer uma investigação minuciosa) sobre o motivo da persistência e talvez do (recente) agravamento do segundo fenômeno.
O problema não é “qual rito as pessoas preferem?”, mas sim “por que não vão mais a Missa?”. De acordo com algumas pesquisas, parece que metade do povo cristão na Europa não acredita mais na Presença Real de Jesus na Eucaristia e não acredita mais na vida eterna! Certamente que não estamos culpando a reforma litúrgica, mas significa que o problema é muito mais profundo, de modo que a pergunta não pode ser evitada: “Não faltou a formação da fé?”; “O enorme trabalho do Concílio não foi desperdiçado?” A raiz do mal, talvez, não está nessa atitude de acreditar que este Concílio anulou todos os precedentes e que o Concílio de Trento seria como uma sujeira acumulada no afresco da Capela Sistina (como disse um “liturgista” em nossa diocese)?
O documento obviamente não vê somente desvios na execução do Summorum Pontificum, mas também considera a própria existência de um rito paralelo um mal. Os § 5º e § 6º do art. 3º, art. 4 e 5 não expressam com clareza o desejo pela morte dos grupos? Com isso os senhores anti-Ratzinger do Vaticano não estão apenas mostrando que não puderam ter paciência para que a Missa Tridentina morresse junto com a morte de Bento XVI e então preferiram a humilhação do venerável Papa Emérito ao agir desta forma?
Fonte: Blog pessoal do Cardeal Zen