Já tinha comentado algumas vezes sobre a inadequação de algumas letras de músicas da Comunidade Colo de Deus para se referir a Cristo e aos santos. Mas há também outro problema: o estilo de música e a consequente imodéstia corporal.
Não é correto o entendimento de que fora da liturgia a música religiosa pode ser absolutamente livre. Conforme ensina Pio XII em “Musicae Sacrae Disciplina“, mesmo as músicas religiosas não litúrgicas devem guardar certa gravidade e decoro para fomentar uma sincera piedade dos fiéis:
A fim de que semelhantes cânticos religiosos proporcionem fruto espiritual e vantagem ao povo cristão, devem ser plenamente conformes ao ensinamento da fé cristã, expô-las e explicá-la retamente, usa linguagem fácil e melodia simples, fugir da profusão de palavras empoladas e vazias, e, finalmente, mesmo sendo breves e fáceis, ter uma certa dignidade e gravidade religiosa (n.30)
Há muitos problemas com o estilo “Praise & Worship” (“Louvor e Adoração”) da Colo de Deus e de tantas outras comunidades carismáticas, tendo em vista que é de inspiração totalmente secular, mas os principais são: a falta de sobriedade/gravidade e de dignidade.
Isso se torna manifesto nos louvores da Colo de Deus quando jovens andam como zumbis assim que a música começa a tocar, quando rapazes têm gestos e movimentos muito afetados e quando prevalece a explosão de sentimentos e de espontaneidade ao invés do espírito de devoção. Em suma, a música ruim e a falta de gravidade e decoro do “Praise & Worship” também geram problemas de modéstia corporal.
Modéstia corporal ou dos movimentos, como ensina Royo Marín, “é uma virtude que nos inclina a guardar o devido decoro nos gestos e nos movimentos corporais” (Teologia Moral para Leigos, tomo I, p. 585). Assim, diz o mesmo autor:
Gestos bruscos e descompassados, gargalhadas ruidosas, olhares fixos ou indiscretos, modos afetados e amaneirados e outra mil impertinências desse tipo são indício, geralmente, de um interior desordenado e vulgar (p. 586).
Por fim, a falta de ordem e de modéstia provocada pelo “Praise & Worship“, no meio católico, pode ainda gerar a impressão errada sobre a doutrina da Igreja a respeito da devida veneração aos santos. Afinal, nada mais propício ao engano de que católicos são idólatras do que o culto desordenado aos santos.
Nesse sentido, convém lembrar a exortação da Lumen Gentium:
Evitem com cuidado, nas palavras e atitudes, tudo o que possa induzir em erro acerca da autêntica doutrina da Igreja os irmãos separados ou quaisquer outros. E os fiéis lembrem-se de que a verdadeira devoção não consiste numa emoção estéril e passageira, mas nasce da fé, que nos faz reconhecer a grandeza da Mãe de Deus e nos incita a amar filialmente a nossa mãe e a imitar as suas virtudes. (n. 67)
A grande verdade é que o “Praise & Worship“/Música Gospel não é música religiosa de verdade.
Como dizia Bento XVI, esse estilo musical é oriundo de um “funcionalismo de adaptação”, que substitui a música religiosa autêntica por pop “espiritual”, isto é, por um produto de massificação.
A música religiosa autêntica, ao contrário, é realmente espiritual e tem potencial para ser cantada na liturgia, como ensina Pio XII:
Acompanhando com a mente e com a voz a ação sacra, unam a própria devoção às preces do sacerdote, e isso desde que tais cantos sejam bem adaptados às várias partes do sacrifício, como sabemos que já se faz em muitas partes do mundo católico, com grande júbilo espiritual. (Musicae Sacrae Disciplina, n. 30)
Seria de muito valor se os freis, freiras e Comunidades católicas, em maioria carismáticas, que promovem “shows” de pop espiritual, agora empregassem todas as energias para criar um patrimônio musical católico autêntico, que realmente fosse uma força contrária à secularização da música religiosa.
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Ouvir Legião Urbana, Jota Quest, Paralamas do Sucesso, etc., e ouvir Hillsong Worship, Fraternidade São João Paulo II, Colo de Deus, Shalom e congêneres é, ulteriormente, a mesma coisa. Todos pertencem ao mesmo mesmo fenômeno cultural de produção de música massificada, “pop”, cuja única diferenciação é o público que a ouve.
Um bom exemplo de grupo religioso que conseguiu produzir músicas autenticamente religiosas é a Congregação Mariana. Canções como “A Treze de Maio”, “Meu Deus, logo murchou”, “Bom Jesus, a Vossos Pés”, se tornaram tradicionais e perenes tanto na liturgia quanto em eventos religiosos como procissões e congressos eucarísticos, marianos, etc. Elas exprimem tanto fidelidade à doutrina quanto sobriedade e devoção que as canções populares católicas devem ter.