A superioridade da comunhão na língua
A comunhão na língua, como ensinou Paulo VI na instrução “Memoriale Domini“, foi um desenvolvimento oriundo de uma maior compreensão do mistério eucarístico e da reverência devida ao Sacramento da Eucaristia:
“Posteriormente, com uma (i) compreensão mais profunda da verdade do mistério eucarístico , de seu poder e da presença de Cristo nele, sobreveio (ii) um maior sentimento de reverência, para com esse sacramento e sentiu-se que se demandava uma maior humildade quando de seu recebimento. Foi, portanto, estabelecido o costume do ministro colocar uma partícula de pão consagrado sobre a língua do comungante.
Esse método de distribuição da Santa Comunhão deve ser conservado, levando-se em consideração a situação atual da Igreja em todo o mundo, não apenas porque possui (iii) por trás de si muitos séculos de tradição, mas especialmente (iv) porque expressa a reverência do fiel pela Eucaristia”
Se resumíssemos as razões dadas por Paulo VI para a comunhão na língua seriam quatro:
- a compreensão mais profunda do dogma da Transubstanciação;
- um maior sentimento de reverência do fiel;
- a longevidade da tradição;
- a demonstração inequívoca da piedade do fiel.
A comunhão na língua demonstra inequivocamente maior devoção ao sacramento e presume maior compreensão do mistério que ele exprime.
A comunhão na mão não goza dessa presunção. A comunhão na mão “reverente” não é presumida, mas deve ser demonstrada. Para que esta maneira de comungar seja minimamente lícita, a Igreja estipula que:
(i) os pastores se certifiquem que os fiéis saibam distinguir o corpo de Cristo do pão comum;
(ii) o fiel comungue na frente no sacerdote;
(iii) as espécies eucarísticas sejam unicamente a espécie do pão;
(iv) esteja afastado todo perigo de profanação entre os fiéis. Se houver risco, a comunhão será na boca;
(v) o fiel não tome por si a comunhão;
(vi) a permissão da Conferência Episcopal e a confirmação da Santa Sé.
Agora, para que ela seja mais reverente é recomendado ao fiel:
- (i) fazer uma inclinação antes de comungar, se for receber a comunhão de pé;
- (ii) comungar protegido com uma patena.
A quantidade de coisas que precisa ser feita para tornar a comunhão na mão minimamente lícita e reverente demonstra cabalmente que este modo de recepção da Eucaristia não goza da mesma presunção de dignidade e ortodoxia da comunhão na língua.
No rito romano tradicional não é preciso sequer a pessoa reafirmar sua fé na Eucaristia dizendo “Amém” quando o sacerdote lhe apresenta o Corpo de Cristo. A postura de comungar na língua já diz tudo.
A superioridade da comunhão de joelhos
É possível defender que a comunhão de joelhos seja superior enquanto reverência a comungar de pé?
Sim, é evidente que sim.
Os gestos humanos significam coisas e alguns mais do que outros. Quem o nega relativista é.
Um exemplo disso é a linguagem dos afetos. Um homem que abrace uma mulher pode estar demonstrando estima e amizade por ela. Mas um homem que a beije nos lábios demonstra inequivocamente um gesto de atração sexual.
O mesmo ocorre nos gestos de devoção. Ajoelhar-se perante alguém sempre foi e sempre será a linguagem universal inequívoca da devoção.
As Escrituras o atestam:
“Vinde, inclinemo-nos em adoração, de joelhos diante do Senhor que nos criou.” (Sl 94,6)
“Tudo isso te darei se, prostrado, me adorares.” (Mt 4,9)
“Por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho, e toda língua dará glória a Deus.” (Rm 14,11)
“Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, no céu, na terra e debaixo da terra.” (Fl 2:9-10)
“Por esta causa dobro os joelhos em presença do Pai, ao qual deve a sua existência toda família no céu e na terra.” (Ex 3,14-15)
Não há dúvidas que ajoelhar-se é a linguagem física universal da devoção. É impossível questioná-lo. É autoexplicativo.
Muitos podem até dizer que ficar de pé pode ser um gesto de reverência. É verdade, mas tal postura não significa inequivocadamente devoção a não ser em contextos muito específicos.
Por isso, embora a Igreja permita a comunhão de pé no atual rito romano, ela recomenda que o fiel faça uma inclinação profunda antes (IGRM, n. 160).
Durante a consagração ajoelhar-se ou inclinar-se ainda é obrigatório:
“Ajoelhem-se, porém, durante a consagração, a não ser que por motivo de saúde ou falta de espaço ou o grande número de presentes ou outras causas razoáveis não o permitam. Contudo, aqueles que não se ajoelham na consagração façam uma inclinação profunda enquanto o sacerdote faz genuflexão após a consagração.” (IGRM, 43)
Ou seja, a postura de pé, em regra, precisa ser complementada por outro gesto de reverência, pois não basta por si só.
Ajoelhar-se também significa uma atitude penitencial, o que é muito conveniente para o momento da comunhão. Afinal, a Eucaristia apaga uma multidão de pecados veniais e não sendo ela um prêmio para os perfeitos, mas remédio para os fracos, é conveniente que o pecador mostre fisicamente uma atitude penitencial.
Portanto, devemos dizer sem papas na língua: o desenvolvimento litúrgico do rito romano tradicional de exigir a comunhão de joelhos foi um progresso, sim, superior, que muitos outros ritos não tiveram.
Não é possível mais, sem cair num relativismo grosseiro, defender que a comunhão de joelhos e na boca é tão reverente quanto a comunhão de pé e na mão. Simplesmente não há igualdade entre as duas coisas.