Na nossa relação com Deus, a piedade filial conduz à devoção, que é precisamente “a vontade de fazer prontamente tudo o que pertence ao serviço de Deus” (IIa IIae, q. 82, a. 1, co.). Tanto a piedade como a devoção podem estar vivas na alma, mesmo que esta se sinta seca e fria na parte sensível, a ponto de realizar todos os seus exercícios de oração e virtude sem experimentar a menor doçura ou conforto, senão experimentando repugnâncias bastante fortes.
Mas isto não deveria nos desanimar; São Tomás ensina que a devoção é um ato da vontade, cujo ato pode muito bem subsistir apesar da aridez, da frieza, da repugnância e até das rebeliões da parte inferior. O próprio São Paulo, apesar de ter sido elevado ao terceiro céu, ainda não estava completamente livre destas misérias e confessou: “Tenho prazer na lei de Deus segundo o homem interior, e vejo nos meus membros outra lei que faz guerra contra lei da minha mente” (Rm 7, 22 e 23). E assim como Paulo, apesar destas resistências da parte sensível, não foi desprovido da verdadeira piedade e da verdadeira devoção, assim também não está privada dela a alma que, apesar de tudo, permanece firme na decisão da vontade de se entregar prontamente ao serviço a Deus. Devoção – que deriva do latim devoveo – significa consagração à divindade; e a alma se entrega totalmente a Deus, não pelos impulsos e entusiasmos do sentimento, mas pelo ato da vontade. Com efeito, quando a devoção é desprovida de gosto pelas coisas divinas “vale o dobro, porque a alma realiza igualmente as obras que deve realizar e, além disso, com a força da vontade doma o apetite sensitivo” (Ven. João de GM ).
Fonte: Il Cammino dei Tre Sentieri