As eleições regionais acabaram, nesse domingo, com alguns resultados surpreendentes: votação expressiva de Guilherme Boulos (PSOL), em São Paulo; chegada ao segundo turno de Manuela D’avila (PCdoB), enfraquecimento de Bolsonaro e retomada de posições por parte do centrão. Todos esses acontecimentos geram dúvidas no chamado “movimento conservador”, buscando explicações para o resultado eleitoral. A resposta, no entanto, é bastante complexa e entender o que se passou é fundamental para compreender o que deverá ocorrer, em 2022 e, também, como que os católicos devem se posicionar nesse quadro.
A eleição de Bolsonaro, em 2018, foi marcada por grande esperança do povo brasileiro que, aparentemente, havia encontrado alguém que fosse defender os princípios da população brasileira, majoritariamente, conservadora. O lema “Brasil Acima de Tudo e Deus Acima de Todos”, parecia ser o slogan que aglutinava tudo aquilo que se esperava: defesa da religião e da pátria. Naquele momento, parecia que a Revolução Brasileira estava se encaminhando para um novo patamar, sendo que o brasileiro médio estava bastante engajado. No entanto, logo nos três primeiros meses de governo, Bolsonaro começou a trair os princípios para salvar o filho Flávio Bolsonaro no caso das “rachadinhas”. Começava, então, o descolamento e o esfriamento das pautas ideológicas.
Assim sendo, pode-se notar que os bolsonaristas “raiz” começaram a ser deixados de lado e, ao mesmo tempo, Bolsonaro se aproximava do centrão para aprovar as medidas econômicas, blindar o filho e acabar com a Lava Jato e conseguir se manter no poder. Esse cálculo de poder correspondeu a uma leitura equivocada da realidade, quando o presidente acreditou ser o único capaz de enfrentar o Partido dos Trabalhadores em um eventual segundo turno, em 2022. Assim sendo, ele se colocou em uma posição soberba e, com isso, fez com que houvesse um certo desconforto. É um erro tático supor ser um elemento aglutinador da direita quando o processo está em formação.
Essa posição de Bolsonaro foi corroborada com alguns elementos apoiadores do presidente, principalmente do núcleo liberal. Isso pode ser comprovado com as falas de Luciano Hang (o Véio da Havan) que, em momentos de maior tensão, falou que era necessário “baixar as armas” contra o STF e dar continuidade ao processo democrático, principalmente as reformas econômicas. Esse exemplo mostra como o pragmatismo político não está comprometido com a verdade, mas sim com projetos econômicos e políticos de curto prazo. Assim sendo, o governo federal aderiu ao liberalismo sem medir as consequências. Infelizmente, parece-me que os alunos do professor Olavo de Carvalho não conseguiram (ou não queriam?) ver as consequências de se aproximarem da maçonaria…
Nesse quadro inteiro, os católicos foram ficando marginalizados. Em primeiro lugar, os alunos católicos do professor Olavo de Carvalho não conseguiram ter forças para fazer uma frente contra a aproximação da maçonaria e dos neopentecostais. Nesse sentido, as aproximações que Bolsonaro teve dos católicos não passou de demagogia política, principalmente no caso da consagração do Brasil à Nossa Senhora (o evento foi mero teatro, a consagração pública não foi realizada). Em segundo lugar, os deputados católicos estavam sendo silenciados de maneira velada, sob pena de serem escorraçados de um processo eleitoral futuro. Nada mais sublime para a maçonaria ver que as vozes católicas foram silenciadas em nome do “conservadorismo”.
Essa situação lamentável traz algumas considerações importantes a respeito de todo o movimento político dito “de direita” no Brasil. Em primeiro lugar, vimos muitos oportunistas querendo facilidades e atuação no governo. Em segundo, a comunicação das vozes da direita foram levadas, totalmente, para as redes sociais, esquecendo-se de formar grupos de estudo, movimentos orgânicos e atuações locais. Erro grotesco de política é se afastar do núcleo do poder e, ao mesmo tempo, desejar se manter como força. Dentro desse processo todo, fica evidente que os católicos não devem buscar, apenas, as redes sociais, mas atrair as pessoas para o debate pessoal e evitar a fragmentação do movimento.
Enquanto a “direta” se desarticulava e se esfarelava, a esquerda começou um trabalho de dialética interna. A mentalidade revolucionária passou a buscar novas formas de atuação ou mudar os atores dentro dos processos em andamento para que houvesse a chamada desinformação. O ex-desertor da KGB, Anatoliy Golitsyn diz que os revolucionários, quando querem ludibriar os seus inimigos políticos, gostam de dizer que há brigas internas, discordâncias nos objetivo, mas o que está se fazendo é ocultação, buscando criar ilusões. Ora, isso fica muito evidente quando se observa que o movimento revolucionário, no Brasil, mudou de comando: do PT para o PSOL e PCdoB. As estratégias mudaram e, segundo Antônio Negri, a leitura da esquerda, agora, é acabar com a conciliação com os liberais e partir para o enfrentamento mais claro. Esse é o programa que está no imaginário de Boulos quando afirma que quer uma “São Paulo militante”.
O crescimento da esquerda, nessas eleições, mostrou que os liberais não conseguem, em nenhuma hipótese, fazer o enfrentamento e isso se dá por algumas razões: tanto o liberalismo como o socialismo são materialistas e, portanto, o combate ao socialismo é, em ultima ratio, a destruição da ontologia liberal. Em segundo lugar, porque o liberalismo se preocupa com apenas um aspecto da realidade (economia), já os socialistas criam imaginário e heróis. Assim sendo, eles possuem instrumentos analíticos mais potentes que acabam por deixar o liberalismo sem condições de combater. Em terceiro, porque o liberalismo é apegado às instituições democráticas e, quando se combate a revolução, não se pode ter apego à estabilidade, mas ao compromisso com valores que dá a direção correta em meio a todo o problema. Em quarto, o Estado Liberal Moderno traz as condições perfeitas para os socialistas se desenvolverem, uma vez que entrega milhares de opções de ação e, como eles são dialéticos, conseguem estar sempre um passo na frente.
Assim sendo, pode-se observar que só há uma forma concreta de acabar com o movimento revolucionário e esse passa por refutar as grandes correntes filosóficas do mundo moderno: ateísmo, materialismo, relativismo, niilismo, cetiscimo, revolucionismo, hedonismo. Ora, fica muito claro que somente a Santa Madre Igreja dispõe de uma Doutrina capaz de fazer o enfrentamento em todas essas correntes. A primeira revolução, deu-se por conta do nominalismo que, em última instância, gerou a heresia protestante (relativismo religioso). A segunda revolução é fruto do processo de hedonismo e materialismo, com a emancipação do poder econômico em relação à moralidade e à lei natural. A terceira etapa da revolução é a consolidação do niilismo, cetismo e ateísmo, trazidos pela Revolução Russa. Por fim, a quarta e última etapa é o amálgama de todas elas, com a Escola de Frankfurt e o Marcusianismo.
É dentro dessa quadra da história que os católicos se encontram: feridos por um presidente que, sem pensar duas vezes, chutou o catolicismo do Palácio do Planalto; traídos pela chamada “direita conservadora” que mais se parece como um filme do Poderoso Chefão, no qual cada ator quer seus minutos de fama; órfãos de bons pastores para guiá-los espiritualmente e, por fim, sem condições de se organizarem. Esse cenário é trágico, mas aponta para lições importantes. Os católicos devem consolidar movimentos integralistas, ou seja, sem brechas para protestantes, liberais e lavajatistas. Quando um católico for falar de política, não deve se apresentar como “conservador”, “de direita” ou “bolsonarista”. É esse tipo de discurso que enfraquece o Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo. “Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a riqueza” (Mt VI, XXIV). Ser católico, mas defender a direita é defender uma etapa da revolução, é não defender as raízes da Terra de Santa Cruz.
A saída para esse imbrólio é retomar o contato com as paróquias e passar a ouvir as demandas dos católicos. Nesse sentido, observa-se a necessidade de retomar o comunitarismo político, ou seja, conversar com as organizações de bairro, criar comissões e atuar na base da organização social. Para que isso ganhe projeção, no entanto, é necessário que os católicos parem de defender a conciliação com Estado Moderno, alegando, infantilmente, que a Lei Natural seria capaz de trazer o Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ora, isso é um embuste, pois, se se procede assim, não seria necessário Revelação e, consequentemente, a teoria da participação, que segundo Santo Tomás é o que traz a vida divina para o mundo, seria impraticável. É na participação social e não somente nas redes sociais que está a ação. Ter um Twitter ou Instagram consolidado é bom, mas deve ser acompanhado de uma formação sólida da base, e não simplesmente tratá-la como massa de manobra para vender produtos ou propagar slogans. A situação é bem complexa e exigirá um movimento coerente e sólido de longo prazo.
É com esse espírito que será possível retomar a batalha e continuar o bom combate. No entanto, o fim da articulação política, originada em 2013, traz algumas considerações importantes: o centrão fortalecido, juntamente com o positivismo maçônico, farão com que o debate ideológico perca posição e, nesse sentido, é fundamental que a formação de base seja garantida, mas de base católica e não de “direita”. O fisiologismo político terá maior alcance e, com isso, é necessário um trabalho fora dos cargos políticos para se tornar viável uma cosmovisão católica. Por fim, deve haver a retomada do combate à esquerda, mas sem jargões e, sim, com análise profunda séria do que está acontecendo. São essas as condições que os católicos enfrentarão e, caso desejem ter sucesso, é importante compreender que há trabalho a ser feito “Grande é a messe, mas poucos são os operários. Rogai ao Senhor da messe que mande operários para sua messe” (Lc, X, II).
A situação política na Terra de Santa Cruz é grave, uma vez que os movimentos globalistas, agora, estão mais animados para a implementação da Nova Ordem Mundial. O enfraquecimento do espírito de 2013 ensejou a retomada de um processo político semelhante àquele que ocorria antes desse clima antiestablishment e, consequentemente, a moderação dos discursos, em nome da democracia, tende a acelerar o processo. Assim sendo, é importante que os inimigos continuem sendo combatidos e as ideologias sejam tratadas como elas são: um recorde da realidade em pról de uma visão de mundo. Há, portanto, uma saída, apenas, a organização dos católicos, sem concessões aos inimigos, e muita prudência e paciência, pois o o endurecimento da política nacional trará grandes desafios.