A morte de um Papa é, por definição, um evento de luto. Mas, para muitos católicos, especialmente os que ainda rezam em latim e acreditam em anjos com espadas flamejantes, a notícia da morte de Francisco foi recebida com um misto de sobriedade e esperança, como se após longos anos no deserto alguém tivesse finalmente encontrado um oásis… ou, ao menos, parado de caminhar em círculos. O conclave se aproxima. E se alguns esperam por continuidade, outros imploram por conversão. Não do Papa, mas dos cardeais.
Com ligeiro atraso — porque o tempo da eternidade não se mede em minutos — comentamos a maior notícia da semana: a morte do Papa Francisco. Sua partida, embora há muito aguardada pelos oráculos e pelos boletins médicos, foi súbita. O Vaticano informou que o pontífice sucumbiu a um acidente vascular cerebral, seguido de parada cardiorrespiratória. Não teve tempo de pronunciar suas últimas palavras, tampouco de receber os últimos sacramentos, ao contrário de São João Paulo II e do contemplativo Bento XVI, que expirou enquanto rezava, como nos contou seu secretário pessoal, Dom Georg Gänswein. Rezando — como quem sabe que está prestes a encontrar Aquele que é.
Não faremos aqui um elogio fúnebre. Nem um dossiê de erros. Já o dissemos antes — com a reverência de um servo ferido, mas não rebelde — que foi um tempo difícil para os católicos tradicionais. Mas como ensinou Nosso Senhor, “deixai os mortos sepultar os seus mortos”. O luto cristão não é um memorial de mágoas, mas uma esperança vestida de luto.
A este Papa, desejamos sinceramente a salvação de sua alma e oferecemos nossas orações em sufrágio. O juízo eterno já foi pronunciado — e foi feito por Aquele cujas balanças são mais exatas que os nossos artigos. E, diferente do Twitter, no Céu não há botão de editar.
O conclave se aproxima. Um conclave é sempre um mistério envolto em fumaça, mas hoje em dia também é um evento midiático com ares de eleição parlamentar. Homens com anéis, celulares e simpatias pelo Greenpeace decidirão quem sentará na cadeira do pescador. E o que está em jogo é mais do que a sucessão de um pontífice: é a continuidade — ou não — de um projeto de Igreja que parece ter sido escrito numa reunião de marketing da ONU.
O que nos preocupa, de fato, é o que virá. Sim, porque um Papa pode morrer, mas a barca de Pedro não naufraga — apenas muda de timoneiro. A eleição vindoura dirá se o espírito do pontificado de Francisco encontrará continuação ou se a Igreja, como quem desperta de um longo torpor, respirará novamente com os pulmões da Tradição. Esperamos, com humildade e firmeza, que respire.
Não é segredo para ninguém que, sob Francisco, o catolicismo progressista recebeu não apenas abrigo, mas alforria. Bispos conservadores foram depostos, comunidades tridentinas desfeitas, e as teologias da libertação e da inversão sexual tiveram projeção inédita — tudo sob a justificativa de uma Igreja que “não se fecha em si mesma”, como se a verdade precisasse de arejamento, e as doutrinas eternas passaram a conviver com “desenvolvimentos pastorais” que lembram mais liquidação de fim de estoque do que teologia.
Mas a realidade, essa senhora impiedosa, é que 80% dos cardeais eleitores foram escolhidos por Francisco. Ou seja: o conclave está para o pontificado como a sobremesa está para o jantar — geralmente repete o sabor do prato principal.
Eis os favoritos da casa:
1. Pietro Parolin, organizador nato e inimigo declarado da Missa Tridentina — um Francisco com Excel.
2. Luis Antonio Tagle, “Imagine all the people“… sem missa tridentina.
3. Matteo Zuppi, autor de prefácio para livro de teologia LGBT. Um cardeal que fala muito em pontes, mas não parece saber onde termina a margem do Evangelho.
4. Jean-Marc Aveline, acredita tanto no ecumenismo que talvez seja capaz de canonizar Lutero, Ghandi e Pikachu.
5. Péter Erdo, canonista húngaro, meio conservador, meio neutro — ou seja, um meio termo que pode pender.
6. Robert Sarah, o último dos moicanos. Tradicional, santo, litúrgico — mas, talvez, santo demais para ser eleito.
Se os de primeira linha tropeçarem, a segunda linha pode surpreender. A esperança, essa danada de virtude teologal, espreita candidatos mais palatáveis. É provável que emerjam os nomes da retaguarda — que, em matéria de fé, muitas vezes são os verdadeiros guardiões da frente:
1. Pierbattista Pizzabala,patriarca latino de Jerusalém — nomeado por Taylor Marshall, o que já é uma curiosidade.
2. Malcolm Ranjith, do Sri Lanka, tradicional e corajoso — proibiu acólitas. Não teme as meninas, o que é raro hoje em dia.
3. Gerhard Müller,ex-prefeito da CDF, teólogo nato. O problema é que tem amigos demais entre os liberais — e isso costuma ser contagioso.
4. Raymond Leo Burke, leão da Tradição. Mas o leão ruge isolado — e o conclave prefere os pastores mudos.
5. William Eijk. Holandês, conservador e crítico da exortação Amoris Laetitia. Não sabemos se é um defensor da Missa Tradicional, mas é um nome para se guardar no bolso.
6. Orani Tempesta. brasileiro, monge, e amante da Missa Tradicional. Colocado aqui não por força diplomática, mas por profecia — o que não se deve ignorar levianamente.
Este blog não finge: quer um Papa tradicional. Que ame a Missa Antiga, tema o Inferno e ignore as estatísticas do Pew Research. Um homem com espinha dorsal, joelhos no chão e o Catecismo no coração. Um camponês da eternidade.
E por isso, nossa torcida é clara:
1. Sarah;
2. Burke;
3. Ranjith;
4. Müller.Se vier um milagre, agradeceremos. Se não, nos resta a paciência dos mártires e a ironia dos profetas.
Contudo, em que pese as nossas preferências, é preciso lembrar que o colégio cardinalício, desde sua formalização no século XII, raramente produziu santos. As escolhas, não raro, privilegiaram a administração em detrimento da santidade, como se o Reino de Deus dependesse de planilhas.
Hoje, os cardeais parecem mais preocupados com:
1. Administração (o Vaticano está falido, não se esqueça);
2. Imagem pública (não se pode ter um Papa que seja cancelável no Twitter);
3. Unidade institucional (não a da fé — essa é secundária — mas a dos departamentos e fundações).
Esses critérios produzem Parolins, Zuppis e Avelines. Mas talvez — talvez! — Deus nos surpreenda, como fez tantas vezes ao longo da história. Talvez surja um moderado conservador, um Erdo, um Pizzaballa, um Eijk. Talvez, o Espírito Santo, cansado de ser citado como desculpa para ambiguidades, queira ser obedecido.
O que esperamos é que o próximo pontífice seja inspirado pelo Espírito Santo e lembre, a despeito de todo seu passado progressista ou conservador, do primeiro dever da Cátedra Petrina, isto é, guardar o Depósito da Fé, como nos ensina o imortal Concílio Vaticano I:
“Pois o Espírito Santo foi prometido aos sucessores de Pedro, não para que, por sua revelação, tornassem conhecida alguma nova doutrina, mas para que, com sua assistência, guardassem religiosamente e expusesse fielmente a revelação ou depósito da fé transmitido pelos apóstolos.” (Concílio Vaticano I, Sessão 4, Capítulo 4)
E guardar as grandes tradições da Igreja, como exigia o antigo juramento papal:
“Manter a disciplina e o rito da Igreja, como os encontrei e como os descobri dados pelos meus santos predecessores, invioláveis.” (Patrologia Latina, 105, 42C (Liber Diurnos Romanorum Pontificul, Lib. II, Titulum VII))
Conclusão
E o que nos resta?
Nos resta a fé. Não a fé nos homens de púrpura, mas naquele que escolheu fundar a Igreja sobre Pedro — um pescador impulsivo, e não um diplomata emérito. A Igreja sobreviveu a imperadores, a invasões bárbaras e até a certos papas. Sobreviverá também a este conclave. Ou não. Mas a Igreja é mais velha que qualquer coisa escrita contra ela, e mais jovem que qualquer moda que tente superá-la.
Se o próximo Papa for um santo, louvado seja Deus. Se for apenas um bom administrador, rezemos. Se for um desastre, então preparemos as catacumbas. Já estivemos lá antes. E, ao contrário do que dizem os teólogos da moda, os cristãos são mais perigosos quando estão nas sombras.
Que venha a fumaça — e que, por milagre ou misericórdia, seja branca.