A principal, ou antes, a única devoção do cristão deve ser amar a Jesus Cristo. Se as almas não fazem grande progresso na prática das virtudes, e continuam a cair nos mesmos defeitos, e não raro em faltas graves, é porque pouco se aplicam a adquirir o amor a Jesus Cristo, essa cadeia de ouro que une as almas a Deus. Foi só para conquistar nossos corações que o Verbo Eterno veio a este mundo, não é outro o seu desejo. Por isso Ele disse: Eu vim trazer fogo sobre à terra, e que desejo, senão que se acenda? (Lc 12,49)
Deus Pai quer que amemos a Jesus Cristo, Ele o enviou a terra a fim de ganhar nosso amor, mostrando-nos quanto nos ama, declarando que nos ama à proporção do amor que temos a Jesus Cristo (Jo 16,27). Ele não nos dá suas graças senão quando as pedimos em nome do seu Divino Filho: Tudo o que pedirdes a meu Pai em meu nome, Ele vos concederá (Jo 16,23). Enfim, Ele não admite a felicidade eterna senão àquele cuja vida é conforme à de Jesus Cristo (Rm 8,29). Jamais, porém, adquiriremos esta conformidade, e nem sequer a desejaremos, se nós não aplicarmos a considerar o amor que nosso amável Salvador tem por nós.
Com esse mesmo fim é que nosso Salvador se dignou relevar à bem-aventurada Margarida Maria, que ele queria que seu Coração fosse honrado com um culto especial, a fim de que as almas devotas reparassem, por suas piedosas homenagens, as injúrias que este Sagrado Coração recebe no Sacramento da Eucaristia. Um dia em que ela estava em oração diante do santo altar, Jesus Cristo lhe fez ver seu Coração num trono de chamas, cercado de espinhos e encimado por uma cruz:
Eis aqui – diz Ele – o Coração que tanto amou os homens, nada poupou, até se esgotar e consumir para lhes testemunhar seu amor, e em reconhecimento, não recebo da maior parte senão ingratidões pelas suas irreverências, sacrilégios, friezas e desprezos com que me tratam neste Sacramento de amor. Entretanto, o que me é mais sensível é serem corações a mim consagrados agirem assim.
Ele ordenou-lhe depois que se empregasse, com todas as forças, em fazer celebrar uma festa particular em honra de seu Divino Coração, e isto para três fins. O primeiro para que os fiéis lhe deem ações de graças pelo grande dom que lhes fez da adorável Eucaristia. O segundo para que as almas fervorosas reparem, por sua afetuosa devoção, as irreverências e os desprezos que Ele recebeu e recebe neste Sacramento da parte dos pecadores. O terceiro, enfim, para que lhe ofereçam, por este meio, compensação pela honra e culto que os homens deixam de lhe dar em muitas igrejas. Então Ele promete derramar com abundância as riquezas de seu Coração naqueles que lhe derem esta homenagem, não somente no dia da festa, mas também em todos os outros dias, quando forem visitá-Lo no Sacramento do altar.
Assim, a devoção do Coração de Jesus não é outra coisa senão um exercício de amor para com este admirável Salvador.