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Francisco e o Magistério “não normativo”

Papa Francisco - sínodo
Crédito da Imagem: Vatican News
Por Dardo Juan Calderón

Há alguns dias, encerrando o Sínodo da Sandicidade, Francisco declarava que as conclusões deste constituem Magistério Ordinário do Bispo de Roma. Esperava-se que depois desta declaração formal se dissesse: “e deve ser aceito e aplicado por todos urbi et orbi”. Não. Nada disso. Imediatamente foi declarado que era magistério (com minúscula) NÃO NORMATIVO. Ou seja, que ninguém se sinta obrigado a nada, são opiniões, teses propostas para formulação da antíteses e na espera de síntese, tudo dentro do caminho da Evolução do Dogma, do “Povo Peregrino” a que aludia Bento XVI (o citado), que se renova permanentemente, mas na “continuidade” que aporta a manutenção do método da filosofia alemão (continua havendo aqueles que creem que a “continuidade” de Ratzinger se refere ao conteúdo da tradição. Nada mais longe disso).

Muitos assinalaram que isto expressa, sem rodeios, que a origem desse magistério não é mais aquilo que expressou dogmaticamente o Concílio Vaticano I e depois a tradição bimilenária da Igreja, desde o Espírito Santo até o Papa (“Pedro, diga isto porque o Espírito te o revelou”), senão que passa pelo Povo e é expressado no Sínodo (uma espécie de Parlamento), de modo que a função do Bispo de Roma é representar essa Vontade Popular. Isto já mais velho do que fazer xixi nos portões, nenhuma grande novidade, isso já era dito, não tão claramente, na confusa linguagem do modernismo que ganhou os documentos do Concílio Vaticano II e as mentes dos Papas conciliares. Matéria que muitos não quiseram ou não puderam ver e que faz Francisco parecer um inovador total frente aos anteriores “mais conservadores”; quando só evidencia em uma linguagem aberta o que a “nouvelle teologie” camuflava para evitar uma condenação quando ainda restavam alguns Cardeais com Fé.

Mas assinalemos a grande diferença, o pensamento tradicional assegurava com exatidão que o poder vinha de Deus ao Rei e que o Magistério era ditado desde o Espírito Santo ao Papa. E essa nova doutrina não é pronunciada com exatidão, não se obriga a ser admitida, NÃO É NORMATIVA.

Creio que Francisco traz com peito aberto o que os outros contrabandeavam pela ambiguidade. Simplesmente, o trabalho de enfraquecimento dos anteriores fez que a expressão das teorias mais modernas já não fossem escandalosas aos ouvidos dos fiéis e pudessem ser expressadas descaradamente. Por outra parte, os cristãos comuns, após anos de deformação, desconhecem por completo a ortodoxia católica. O escândalo moral nas habitações do Vaticano faz com que tudo isso pareça uma discussão bizantina, quando em certa ocasião foi uma importante heresia.

Mas o mais divertido neste assunto é a expressão NÃO NORMATIVO, sendo que, com ela, Francisco nos faz um bem enorme. O que nos diz é, “cavalheiros, isto é magistério, mas não é o que antes se considerava magistério, porque na realidade nunca houve magistério ‘infalível’, somos seres vivendo a aventura do pensamento, agarrados a conclusões provisórias às quais, para evitar o caos na imaturidade, lhes damos um verniz de certeza no ponto da história que o exige. Porém, ninguém está em condições de declarar a Verdade Absoluta sobre nenhum assunto. Quando Cristo disse ‘Sou o Caminho, a Verdade e A vida’, o que quis dizer é que a verdade está ao fim do caminho da vida”, na realidade, concordava com Pilatos naquele de “Qui est véritas?”.

Da mesma forma, a manutenção de uma certa ordem exige a designação de um moderador e disciplinador do diálogo (ou dialética), que em nossa organização se chama Papa, do qual se espera poder prescindir na etapa evolutiva oportuna como já quase se prescinde totalmente do sacerdócio no processo libertador dos leigos. Por exemplo, no caso do sacerdócio das mulheres, embora o Sínodo estivesse pronto para lançá-lo e os líderes estivesse com a maturidade suficiente para fazer isso (e, talvez, também para se declararem abertamente como homossexuais), o respeito ao “método”, à “continuidade”, deve impedir que as vanguardas se tornem patrulhas perdidas, com os retardatários, ao não verem os guias no horizonte, recuando. Uma prudente espera assegura a “continuidade” da tropa. Faltam muitas mediações esclarecedoras de Pasolini para que o rebanho não como corte o que é avanço.

Mas voltemos ao problema que queremos ressaltar. A maior vitória que o modernismo pôde obter é ter gerado sua crítica. Ao dito “magistério conciliar”, nem um pouco lhe importa que suas conclusões sejam criticadas, elas são bem-vindas de um ou outro arco do parlamento, direita ou esquerda, seu objetivo era banir essa ideia de que havia uma expressão infalível, absoluta e eterna que, sob a ameaça de terríveis anátemas, não podiam ser contestadas. Ratzinger como funcionário havia sancionado a indisciplina de Dom Lefebvre, mas, como Papa, havia reivindicado sua crítica à reforma (eles não falam de reforma, mas de desenvolvimento, de evolução, o termo reforma é nosso).

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Muitos não conseguem explicar por que se deixam subsistir as organizações tradicionalistas, não entendem que, para fins de efeitos práticos, estas contribuem para a consolidação do estado contestatório de permanente discussão. Ratzinger tinha muito claro que tais posturas conservadoras serviam como um lastro necessário para conter a marcha do progressismo, disse-o expressamente. É claro que haverá progressistas que querem ver cabeças rolarem, sempre haverá jacobinos, mas o perigoso é Napoleão.

Há um numeroso “tradicionalismo” que acabou sendo funcional ao “método”. A fim de atacar o magistério conciliar, ou somente o magistério de Francisco, atacaram contra todo o magistério da Igreja. Poderia citar nomes, instituições e meios de opinião; colocar citações entre aspas de todas as opiniões que são colaboracionistas. Mas todos as conhecemos. Aqueles que criticam um ultramontanismo, um clericalismo, um agostinismo; os que opinam contrariamente a Trento, ao Vaticano I, ou lhes incomoda tal ou qual documento de Pio XI, de Pio X, de Pio XI ou do XII. Aqueles que, revisando a reforma litúrgica do Novus Ordo, veem criticáveis as reformas anteriores, mesmo as de Pio X, como se o Papa não pudesse fazer reformas das quais eu não posso opinar, e etc., etc., etc.

Para estes tradicionalistas, uma vez demonstrado a existência de um magistério que pode ser criticado à “luz da tradição”, como o conciliar ou o de Francisco, se lhes toma posse a ideia de que todo magistério pode ser revisado ou criticado à luz do que “eu” entendo ser a tradição. O pior do modernismo ocorreu neles e o nefasto espírito protestante lhes atingiu. Podem até concluir contra Lutero, mas desde sua própria opinião sobre o que é ortodoxia, e não já desde o princípio de autoridade do Magistério da Igreja. Na forma, isto é coincidir com Lutero.

Dir-me-eis que alguns deles continuam respeitando o que foi declarado de forma dogmática, o que é magistério infalível, mas tão logo analises suas considerações, verás uma redução, um reducionismo impressionante, nota-se neles uma espécie de desconfiança metódica contra todo magistério, curvando-se com relutância ante as declarações formais, mas não se sentando mansos e rendidos ante o Magistério Eclesial em seu conjunto e em seu Espírito. A mesma forma na qual o homem moderno enfrenta toda autoridade: política, religiosa, educativa e até familiar. Todos estão esperando de um pai que dê víboras e pedras, até que se prove o contrário; e o critério de discernimento dessa ortodoxia ou dessa heterodoxia não é A TRADIÇÃO, mas O QUE EU DIGO QUE É TRADIÇÃO.

Assim todos eles, como Francisco, coincidem em um magistério não normativo e navegam com comodidade nesse caos de opiniões, escolhendo aqui isto e ali aquilo, o que lhes apraz do que consideram “tradição”.

Há um problema enorme. Um tradicionalista crê, defende e afirma que a TRADIÇÃO, que o que é tradição, é definido pelo Magistério da Igreja, e não por mim. E que se eu vejo contradição entre a tradição e o magistério atual da Igreja, então, EM PRINCÍPIO, o que deve estar equivocado sou eu. Um tradicionalista crê, dogmaticamente crê, que o Magistério Atual é a regra próxima de minha fé e que, como princípio, esta Magistério define o que é ou não é tradição.

E agora?! E agora o problema é muito mais sutil do que consideramos inicialmente, porque o problema principal é enfrentar um “magistério” sem romper com o conceito de magistério. Enfrentar uma autoridade sem romper com o conceito de autoridade. Mais difícil ainda, enfrentar um magistério e uma autoridade a partir do conceito de Magistério e de Autoridade.

As soluções fáceis são: 1) em geral e como regra ordinária, os magistério são falíveis e as autoridades são excepcionais e relativas, reduzindo a efetividade de ambos a quase nada, “não me venhas exagerar a assistência do Espírito Santo aos Papas, nem invoqueis doutrinas ultramontanistas que os transformam em absolutismos”. 2) o sedevacantismo; posso opor-me a tal magistério e a tal autoridade, porque não o é, porque é um usurpador.

Da segunda saída, Dom Athanasius Schneider já falou, remetemos a ele. Porém, a perigosa e a mais difundida é a 1.

A maioria de nós que nos “autopercebemos” tradicionalistas entendemos que nos opomos às reformas conciliares porque estas nos eram contraditórias ao que tínhamos aprendido do magistério dos Papas anteriores ao Concílio, tínhamos a tradição para pô-los a juízo, mas, como dissemos, uma vez que pusemos no crivo os pontífices conciliares (ou somente Francisco), fomos pondo outros. Não me agrada a reforma litúrgica de 62; ou a de Pio X. Esse barroquismo espanhol! O de Loyola e sua influência da Devotio Moderna… hm… o pomposo Pio IX com sua Monarquia Absoluta e seu Vaticano I… Trento e o excesso dogmatista… e ultimamente… Santo Tomás e seu esquema reducionista que asfixia a criatividade mais medieval… Como uma construção de peças de dominó, vai caindo uns golpeados pelos outros. Cataplum! Como soube dizer Tolkien, “derrubam a Árvore para buscar a semente”.

Tírios e Troianos confluem ao desastre. Como o solucionamos? Hum… Para começar, aceitando o problema, aceitando a situação e o desafio. Partindo da vontade de não cair na tentação da rebeldia e acentuando a confiança na Igreja. Mas paremos aqui. Enquanto não percebais a profundidade da encruzilhada na qual nos encontramos, não podeis seguir. Contudo, dou-vos uma pista, uma ponta do fio que hoje nos traz Francisco.

Devemos obedecer ao que os Papas nos dizem, o que ensina o Magistério do Bispo de Roma, e o primeiro e mais fácil de entender é que há coisas que são ditas com total e absoluta certeza, e por isso se impõe como norma de fé e de conduta. São NORMATIVAS.

E HÁ OUTRAS QUE NÃO O SÃO. SÃO NÃO NORMATIVAS.

É uma completa audácia (e grave pecado) discutir as conclusões de Trento ou do Vaticano I. É uma petulância inaceitável pensar que tenho melhor critério em liturgia que Pio X ou Pio XII. Ditaram normas com caráter obrigatório. Comprometeram seu Magistério.

Francisco nos diz que seu magistério é NÃO NORMATIVO, isto é, que não obriga. E presto atenção a Francisco, escuto sua “opinião” que não obriga, e, frente a ela, tenho outra opinião. Mas se volto atrás e me deparo com um Papa que SIM OBRIGA, então deixo de opinar e criticar. E se o próprio Francisco declarasse algo comprometendo sua Infalibilidade, com a certeza de ser vindo diretamente do Espírito Santo a ele, e não de uma discussão contínua de um corpo representativo popular, então eu teria que me enquadrar a essa declaração.

Com Francisco não tenho nenhum problema. Mas não se enganem, os pré-conciliares são bem impositivos e não te dão essa “liberdade”.

Todos os pós-conciliares foram NÃO NORMATIVOS, como Francisco; foram PASTORAIS como o Concílio Vaticano II? É verdade que não o disseram com todas as letras, mas… para quem sabe ler, disseram isso com muita sobra. Pelo menos assim o creio. Podemos conversar e discutir sobre isso. Por ora, fico bastante tranquilo com o Sínodo, já que suas conclusões NÃO OBRIGAM. É o que disse o Papa.

Fonte: Adelante la Fe

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