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Francisco quer evitar divisões… dividindo e marginalizando!

Rezemos muito pela sensatez de Francisco no exercício do seu sagrado ministério petrino (Foto: Andreas Solaro / AFP)
Rezemos muito pela sensatez de Francisco no exercício do seu sagrado ministério petrino (Foto: Andreas Solaro / AFP)
Por Luiz de Moraes

Se zelar pela unidade do Corpo eclesial implica em constranger e segregar uma ampla parcela dos católicos mais pios, mais leais e mais bem formados –  e que perseveram no seu seio, mesmo com todas as dificuldades que já tinham antes mesmo deste novo golpe -, então eu não sei o que mais se poderia fazer para mutilar e enfraquecer este Corpo!

Com o Motu Proprio Traditionis Custodes, dificulta-se (ainda mais) a possibilidade de os padres celebrarem a Santa Missa no rito latino pré-conciliar e, consequentemente, o acesso dos fiéis a ela.

Apresentando-se agora como o guardião da unidade eclesial (o que ele, por direito, de fato é), o Papa Francisco sinaliza querer evitar divisões internas na Igreja no mesmo ato em que “guetifica” (relega aos guetos) os inofensivos católicos amantes da Missa tradicional.

Os grandes canais da mídia progressista (usualmente anticatólica) celebraram o novo documento do papa, como era de se esperar. O El País falou em “cerco aos tradicionalistas” e disse que o Papa está “enfrentando o setor ultraconservador” da Igreja.

Aparentemente, a preocupação do Papa advém dos relatos desfavoráveis dados por muitos bispos que foram consultados pela S. Congregação para a Doutrina da Fé (dicastério que outrora tinha a função de combater as heresias dentro da Igreja) sobre os grupos ligados à Missa antiga.

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Os bispos teriam dito que estão se criando, nos círculos tradicionais formados em torno da Missa tridentina, muitos católicos soberbos, com pretensões de superioridade e depreciadores do Magistério do Concílio Vaticano II e pós-conciliar.

Bem, em primeiro lugar, bispos como alguns dos que são mais influentes na nossa CNBB – ligados a seitas protestantes de viéis revolucionário, a partidos de extrema-esquerda e até a grupos de militância LGBT – jamais deveriam ser considerados idôneos o bastante – não só para responderem a essa consulta, mas até para o próprio ministério que exercem!

E nós bem sabemos que o episcopado brasileiro não é o único com problemas. 

Em segundo lugar, qualquer fiel, uma vez que escolhe seguir um movimento eclesial específico, o faz, é claro, porque o considera superior aos demais. (Ou alguém duvida que todo homem que faz uma opção por algo, a faz por considerá-la melhor que as outras?) Não vejo razões para os bispos se escandalizarem com isso!

Por fim, que mal pode haver em uma aberta, franca e honesta discussão sobre o último Concílio ecumênico e o Magistério subsequente?

Desde que não se questionem verdades pétreas da doutrina católica, confirmadas por declarações dogmáticas de Fé e Moral, não há por que se criar tabus em torno de pontos controversos do Magistério ordinário recente da Igreja.

Até porque não há razão para considerar as últimas décadas de Magistério mais inspiradas do que foi a Igreja em todos os séculos precedentes. É preciso, em vez disso, examinar o Magistério recente à luz daquilo que os doutores, os santos e os muitos papas anteriores declararam como doutrina segura, coerente com o Evangelho de N. Senhor Jesus Cristo e infalível.

No mais, é fato que há excessos e abusos (sobretudo de linguagem) da parte de certos “tradicionalistas” mais cegos, soberbos e conflituosos.

Entretanto, o método corretivo escolhido por Francisco tende claramente a ter um efeito oposto ao que ele declara ser a sua intenção, ou seja, tende a agravar a polarização e radicalizar ainda mais os tradicionalistas soberbos, enquanto irá empobrecer espiritualmente a Igreja e gerar grande desconsolo nos fiéis bons e sensatos que amam a Missa antiga pelos motivos certos e que se alimentam e se santificam com os frutos perenes da tradição nos grupos ligados a ela.

Francisco se revela, cada dia mais, um Papa curioso. Ora parece querer quase que renunciar à sua própria autoridade papal, ora a exerce de modo pouco conciliador e até impositivo, chegando agora a retirar concessões justas feitas ao povo católico por seus predecessores São João Paulo II e Bento XVI.

Isso sem falar que o rito da Missa que ele agora praticamente condena às catacumbas foi promulgado em 1962 por ninguém menos que São João XXIII, o Papa que abriu o Concílio Vaticano II!

Como entender um pai espiritual que pretende corrigir seus filhos tirando-lhes o próprio meio de santificação e relegando-os à margem da vida eclesial, embora formem eles uma parcela numerosa e crescente de fiéis, de católicos em geral convictos e piedosos, dedicados ao apostolado e ao testemunho da Verdade?

Mais estranho ainda é que, enquanto os devotos da tradição católica são acossados e punidos pelo atual pontificado, vemos clérigos ultraprogressistas (pan-homossexualistas, comunistas, liberais, hereges, profanadores e idólatas cultuadores de Pachamamas) cada dia mais à vontade para legitimar e reproduzir, dentro da Igreja, o próprio show de horrores que se vê no mundo pós-cristão.

Contra estes, Francisco se abstém de impor restrições. Não houve punição aos padres e bispos desobedientes da Alemanha que teimaram em celebrar uniões pecaminosas entre pares do mesmo sexo! Não há advertências contra os que propagam heresias e imoralidades dentro de templos, seminários e instituições de ensino católicas!

Ao contrário, para os militantes da extrema-esquerda parasitária da Igreja, muitos afagos e omissões condescendentes! Ao ultraliberal Pe. James Martin SJ e ao herege Leonardo Boff, Francisco já acenou até com elogios! Já para os devotos da Verdade e amantes da piedade tradicional, paus e pedras! 

Diante de tudo isso, o que fica parecendo é que o maior “pecado” dos católicos tradicionais é amar a Missa, a doutrina e a espiritualidade que vigoraram na Igreja por muitos séculos, que jamais foram abrrogadas e que fizeram muitos santos e santas que nada tinham de “rígidos”, soberbos, sectários ou sem caridade. Foi dessa Missa, dessa solidez doutrinal e dessa espiritualidade que beberam, só para citar alguns exemplos mais contemporâneos, os caridosíssimos e humilíssimos São Guiseppe Moscati, São Maximiliano Kolbe, São Luís Orione, Santa Teresinha do Menino Jesus, os santos pais desta querida santinha e tantos outros. 

Sabemos que o clero jurássico da Teologia da Libertação hoje domina todos os dicastérios e estruturas eclesiásticas. Mas, embora hegemônico, este clero visivelmente teme um reflorescimento católico advindo das fileiras da tradição, uma vez que as iniciativas tradicionais têm dado frutos e atraído muitos jovens, revelando-se celeiros de vocações consagradas e de novas famílias desejosas de dar muitos filhos a Deus.

Enquanto isso, as facções da TL, como as CEB’s (Comunidades Eclesiais de Base) e a PJ (Pastoral da Juventude), estão definhando e envelhecendo sem conseguir renovar seus quadros com a mesma capacidade de arregimentação que tinham décadas atrás. A razão é clara: entre ser um mal católico e ser um completo pagão, é mais fácil optar por este último. 

Esta situação – de temor progressista ante um revival da tradição – talvez explique o Motu Proprio Traditionis Custodes, já que não dá pra engolir que Francisco esteja realmente querendo prevenir uma situação de divisão na Igreja, uma vez que poucas atitudes poderiam ser tão discriminatórias e divisivas quanto a que ele acaba de tomar, na esteira de tantas outras iniciativas questionáveis e omissões que têm explicitado o viés progressista do seu pontificado.

No dia 8 de julho último, o cardeal Robert Sarah declarou: Seguindo o motu proprio Summorum pontificum, apesar das dificuldades e resistências, a Igreja enveredou-se por um caminho de reforma litúrgica e espiritual que, embora lento, é irreversível

Os católicos ansiosos por essa restauração disseram Amém. Mas creio ter sido inclusive um receio dessa reforma litúrgica favorecida pelo motu proprio de Bento XVI que levou o pontificado de Francisco a reagir com um golpe tão violento. 

Nada disso, no entanto, deve nos desanimar. Ao contrário, a História da Igreja testifica que os cristãos antigos, quanto mais perseguidos, mais fervorosos e numerosos se tornavam. É na adversidade que as nossas virtudes se provam.

Tampouco temos o direito de, por causa disso, blasfemar ou nutrir maus sentimentos contra o Papa. Ao contrário, se ele não tem conseguido pastorear como deveria o rebanho que lhe foi confiado, é porque este mesmo rebanho não o tem sustentado com orações e penitências suficientes! Sim, o Espírito Santo guia a Igreja, mas é necessário que “façamos violência ao Céu” para obtermos o Seu divino auxílio, e isso inclui orar muito e oferecer sacrifícios pelo nosso Sumo Pontífice, pelo seu discernimento, que é rodeado o tempo todo pelas sugestões do mundo e dos demônios que dia e noite maquinam para envolver a consciência do Papa com os laços de sua influência perniciosa. 

Permaneçamos firmes, orantes (sobretudo por nossos pastores) e apoiemos os bons padres que quiserem seguir celebrando a Santa Missa no rito tradicional, para a maior honra e glória de Nosso Senhor e pela salvação do maior número de almas!

São Pio V, rogai por nós.

PS: Em tempo, eu não poderia deixar de mencionar que fico perplexo também com o fato de Francisco ter omitido a intenção explícita de Bento XVI com o seu Summorum Pontificum de que houvesse um “enriquecimento mútuo” entre as duas formas do rito romano e, a partir daí, se propiciasse uma “reforma da reforma” na liturgia latina, acalentada não só por ele, mas também por cardeais como Robert Sarah e Raymond Burke.

Em vez disso, Francisco faz de conta que o objetivo do seu predecessor era somente favorecer uma reaproximação dos grupos mais tradicionais em vista de trazê-los a uma maior unidade com a Roma pós-conciliar, o que não teria dado certo.

Como assim? Da parte dos institutos ligados à Ecclesia Dei – comissão vaticana criada por São João Paulo II para os segmentos tradicionais que quisessem permanecer unidos a Roma e que foi, aliás, suprimida por Francisco há dois anos – não temos visto quaisquer desavenças com a Santa Sé.

Tampouco temos notícias de padres de comunidades e capelanias favorecidas pelo Summorum Pontificum que estivessem se insurgindo contra Roma, como tem feito tantos clérigos gayzistas alemães – para os quais até agora não houve sequer uma reprimenda pública do Papa.

Os padres dos institutos e comunidades tradicionais, ao contrário, frequentemente evitam abordar mesmo as declarações e atitudes mais problemáticas de Francisco e dos bispos alinhados com ele para não fragilizar a sua comunhão com a hierarquia e, assim, ficarem livres de perseguições, o que agora notam que não tem adiantado muito. 

Todavia, com aquela alegação, o atual Pontífice pode mais facilmente blindar-se contra a acusação de estar pretendendo enterrar um projeto louvável (e necessário) do Papa anterior para simplesmente retirar do caminho um notório obstáculo (a Missa tridentina e seus grupos católicos tradicionais) à agenda revolucionária da Teologia da Libertação. Oremus pro pontifice nostro Francisco.

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