Leigos afetados publicaram uma carta contra a decisão da Santa Sé de fechar um seminário conservador na Argentina depois que seu reitor e clero desobedeceram a decisão do bispo para administrar somente a comunhão na mão.
Eduardo María Taussig, bispo de San Rafael, anunciou nesta segunda-feira, em comunicado, que o seminário de Santa Maria Madre de Dios será fechado no final de 2020 “conforme instruções precisas emitidas pela Santa Sé”.
Taussig nomeou o peruano Fr. Víctor Torres Jordán como novo reitor interino, substituindo Fr. Alejandro Miguel Ciarrocchi, que foi demitido por defender o direito de seus seminaristas de receberem a comunhão na língua.
O porta-voz diocesano, Fr. José Antonio Álvez, confirmou em vídeo no Facebook que a ordem para fechar o seminário foi lançada pela Congregação para o Clero do Vaticano, que por sua vez teria atuado sob a intervenção do Santo Padre “devido a reação indisciplinar de boa parte do clero da diocese”.
A Culpa é do Vaticano
A decisão de fechar o seminário “não ocorreu por ordem do bispo, mas sob instruções da Santa Sé”, Álvarez enfatizou. “Neste momento, esta diocese não tem a possibilidade de formar uma equipa de professores de acordo com a disciplina da Igreja”.
“Dado a repercussão internacional desta desobediência”, já que muitos clérigos foram formados no seminário e atualmente são formadores ou professores, Roma interveio “como primeira, mas não única medida”, Álvarez explicou.
“A Santa Sé entende que o seminário deve ser fechado e os seminaristas devem ser realocados para serem libertos dessa influência a fim de possibilitar que tenham um treinamento que seja adequado ao sacerdócio”, ele acrescentou.
Leigos protestam contra a Decisão
Uma carta aberta destinada ao bispo Taussig protestando contra o fechamento do seminário dá voz a dor dos leigos:
Nós leigos Católicos que queremos ser fiéis ao ensinamento do Catecismo da Igreja Católica, que defendemos as verdades mais elementares de sempre e que desejamos transmitir a nossos filhos a fé recebida em sua integridade, evitando os erros e todas as impiedades da moda que dia a dia se infiltram na Igreja e na sociedade, nos sentimos pressionados e perseguidos por este mundo carregado de violências, agravos e blasfêmias contra o Deus Criador e Redentor e contra sua obra evangelizadora; mas a carga se torna especialmente pesada quando nas filas do inimigo se alistam aqueles que deveriam ser nossos guias e pastores.
“Você sabe que não foi a primeira que fomos feridos por suas comunicações” afirma a carta publicada na terça-feira. “Queremos dizer-lhe que não somos filhos rebeldes como você disse, na verdade nós somos filhos que desejam cumprir com a obediência devida, e como tais não nos vemos na obrigação de seguir a correção fraterna se o que nos manda obedecer vai na contramão de uma lei canônica, de nossas consciências e da perfeição cristã”.
Segundo a mídia Los Andes, o seminário atualmente tem 39 seminaristas – o maior em número na Argentina. Foi o seminário que mais padres formou desde que foi fundado em 1984. Os padres formados no seminário atuam como ministro em toda a Argentina e também iniciaram uma missão em Cuba com três paróquias. O seminário também tem a menor taxa de evasão, com apenas uma desistência nos últimos 15 anos.
’Não há justificativa’
O médico e fundador do projeto Obra Corazón e Voluntad, Miguel Soler, disse que achou a ordem de fechar o seminário “incompreensível”.
“Eu não consigo encontrar nenhuma motivação lógica para tal medida”, ele comentou. “Isso afeta profundamente a todos nós: Católicos, crentes, praticantes; e suja a comunidade de San Rafael, mesmo se eu não fosse um Católico ou um praticante, porque um seminário serve para formar aqueles que querem ser discípulos de Jesus Cristo, e Ele é a verdade absoluta”.
“Eu espero que esta medida não avance, porque é um golpe muito grande e algo muito ruim. Não há justificativa, nem traz nada de bom”, lamentou Dr. Soler. “Não há razão para fechar o seminário, pois ele formou muitos padres que estão fazendo um bem imenso não só em San Rafael, mas também em muitas partes da Argentina e do mundo”.
“Eu tenho dois filhos que são padres e duas filhas que são freiras, e eles estão há anos distantes de nossa casa e em situação de perigo. E eles encaram isso com alegria, com alegria, porque nós sabemos que Deus não falha”, enfatizou.
“Eu peço ao bispo Taussig para que reconsidere, que se ajoelhe diante de Deus – o Santíssimo Sacramento – e ouça nossa Mãe Celestial, a Santíssima Virgem Maria, porque ela nos ensina que devemos primeiro obedecer a Jesus”, implorou Dr. Soler.
Ele continuou:
“Nós estamos convencidos de que estamos em um tempo obscuro para humanidade e para a Igreja. Isso foi profetizado pela Virgem em várias ocasiões. Nós viramos as costas para Deus, nós mudamos o evangelho e o traímos, mas nós não queremos continuar assim. Portanto, nós vamos rezar pelo bispo Taussig, por nossos pastores, por nossos padres, por nossa comunidade crente e não-crente.
Bispo Taussig insistiu que “a medida, embora seja dolorosa para todos, é necessária. Deus saberá como nos dar novos frutos de santidade para toda a diocese enquanto nós perseverarmos na comunhão com a hierarquia que o próprio Senhor organizou para guiar a Igreja”.
Oportunismo na pandemia?
Anteriormente, Church Militant noticiou que o bispo Taussig havia irritado padres e leigos fiéis na diocese mais conservadora do país por forçá-los a receber a comunhão na mão como “único meio possível durante a pandemia”.
Taussig afirmou que não somente os apóstolos, mas também a Virgem Maria recebeu a Eucaristia em suas mãos.
Dizendo que ele é o principal responsável pela catequese de seu rebanho, Taussig pediu ao clero para colocar “todo o povo de Deus em harmonia com a prática e os ensinamentos da Igreja”.
No dia 3 de julho, aproximadamente 40 católicos se reuniram no portão em frente ao seminário de Santa Maria Madre de Dios para protestar em espírito de oração contra a recusa de Taussig em permitir a comunhão na língua. O bispo chegou a aparecer brevemente no complexo do seminário, mas não reconheceu os membros de seu rebanho que estavam reunidos no lado de fora, disseram fontes.
Uma multidão maior de centenas de pessoas apareceram no seminário no dia 5 de julho. Apareceram depois de terem feito uma carreata da sede diocesana até o seminário que fica aos arredores da pequena cidade Andina.
Fonte: Church Militant