A segunda de Páscoa é um dia bonito para morrer. Sem fazer sombra ao Mestre, mas com a esperança de ressuscitar corporalmente como Ele para a vida eterna. Toda a oitava de Páscoa, ademais, é como um só grande dia de celebração, porque a Igreja sabiamente reconhece que algumas celebrações são tão importantes, que necessitam de mais de 24 horas para elas.
Grande é a alegra desta festa, porque sabemos que, embora continuemos morrendo, a morte já não tem o poder de matar para sempre. A última palavra a tem a ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Desde aquela primeira Páscoa da Ressurreição, os cristão, como Santa Maravilhas, sabemos que “morrer já não é morrer, morrer se acaba”. Por isso o Apocalipse pode proclamar: bem-aventurados os que morrem no Senhor.
Não obstante, a maioria de nós, inclusive os papas, morremos com bastantes coisas a purificar em nossas almas. É isto o que significa a palavra purgatório: purificação ou limpeza. O indicado, pois, é rezar pelos que morrem, para que Deus vá queimando neles, com o fogo de sua misericórdia, tudo o que lhes impede de entrar no céu. Lembro de um simpático norte-americano que dizia: “se a alguém, em meu funeral, se lhe ocorrer de dizer que já estou no céu ou algo parecido, rogo-vos que lhe agarreis firmemente pelos braços e lhe jogueis sem contemplações à rua; vou necessitar de muitas orações quando morrer”.
Rezemos, pois, pelo Papa Francisco, que morreu esta manhã [21/04]. Com o tempo serão feitos, como sempre sucede, muitas avaliações sobre seu pontificado, mas o juízo último sobre ele mesmo, sobre sua pessoa, corresponde unicamente a Deus. O Papa Francisco já terá se apresentado desnudo e temeroso a esse juízo quando for a nossa vez de fazê-lo, mais cedo ou mais tarde. Deus tenha misericórdia de nós nesse dia. Como diz a carta de São Tiago, o juízo será sem misericórdia para quem não praticou a misericórdia; a misericórdia ri do juízo.
Não importa que pessoalmente tenhamos gostado mais ou menos deste Papa, nem tampouco importa o que objetivamente tenha feito mal ou bem, porque é nosso dever rezar por ele. É o Papa, o pai, que a divina providência quis que tivéssemos, e o quarto mandamento nos exorta a fazer-lhe esse último (e carinhoso!) serviço da piedade cristã, que é rezar por ele. Atrevo-me a dizer que quanto menos alguém gostava deste Papa, mais deveria rezar por ele, como alguém mais necessitado da misericórdia de Deus.
Hoje, no ofício de leituras, lê-se a Primeira Carta de São Pedro. No início dela, o primeiro Papa dizia: Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que em sua grande misericórdia, pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos, nos fez nascer de novo para uma esperança vivia, para uma herança incorruptível, pura, imperecível, que vos está reservada no céu.
Deus conceda ao Papa Francisco o perdão de seus pecados, a purificação de suas faltas e gozar um dia dessa herança incorruptível, pura e imperecível no céu.
Dai-lhe, Senhor, o descanso eterno. E brilhe para ele a luz perpétua.
Fonte: Espada de doble filo