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Não se acabou só com a Missa Tradicional, mas também com Bento XVI

Papa Francisco (esq) com seu antecessor no cargo, Bento XVI (Foto: L'Osservatore Romano/AP)
Papa Francisco (esq) com seu antecessor no cargo, Bento XVI (Foto: L'Osservatore Romano/AP)
Por Stefano Fontana

Com o motu proprio que suprime o Vetus Ordo, o Papa Francisco anula o esforço de Bento XVI em pavimentar o desenvolvimento da Igreja em continuidade com a Tradição, a fim de evitar que o Concílio Vaticano II seja entendido como uma ruptura.

O Cardeal Sarah acabou de dizer há alguns dias que o motu proprio Summorum Pontificum, com o qual Bento XVI voltou a permitir a celebração segundo o missal de 1962 de João XXII (O Vetus Ordo Missae que se remonta a São Pio V), foi a obra mestra de seu pontificado. Contudo, esta obra mestra foi aniquilada pelo novo motu proprio Traditionis Custodes do Papa Francisco. Assim, é lógico pensar que Bento XVI, que não representava nem representa só a si mesmo, também foi aniquilado com este documento. Portanto, atacou-se muito mais que a Bento XVI.

Lendo as explicações que o Papa Francisco comunica aos bispos do mundo na carta pessoal que acompanha o motu proprio, nota-se rapidamente que nem sequer se mencionam as profundas razões que levaram o Papa Ratzinger a restaurar a Missa antiga, que a considerou uma forma extraordinária da única lex orandi da Igreja romana. Pode ser que não tenham entendido, como também poderia ser uma ocultação desejada para impor a ideia de “continuidade” entre este motu proprio e o Summorum Pontificum.

Francisco de fato propôs aos bispos a tese de que as mesmas preocupações que haviam animado a João Paulo II e Bento XVI em suas disposições liberantes do rito antigo são as que agora o animam a ter que eliminá-las. Esta explicação é, obviamente, pouco sofisticada, e os supostos desvios que, segundo Francisco, foram produzidos nos últimos anos no que diz respeito às expectativas mesmas dos santos pontífices são muito desconcertantes. Elas é que teriam levado Francisco a suprimir suas disposições em continuidade com suas motivações.

Segundo Francisco, as motivações com as quais (sobretudo) Bento XVI quis restaurar o rito antigo eram meramente pastorais e pretendiam evitar uma ruptura na Igreja, satisfazendo uma pequena porção de fiéis apaixonados pelo rito antigo. Porém, tal explicação para o Summorum Pontificum é gravamente insuficiente e, podemos acrescentar, muito superficial. Teria sido uma questão de dar um “conteúdo”, de jogar um osso a um cachorro. Há muito mais nas intenções de Bento XVI no que se refere à restauração do Vetus Ordo, particularmente a grande questão da Tradição.

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Como é possível que hoje seja ilegal o que ontem era obrigatório? Qualquer instituição que faça isso – disse e escreveu Bento XVI – se ridiculariza a si mesma e se condena à insignificância. O que é válido hoje pode não ser amanhã. Uma vez que a lex orandi coincide com a lex credendi, restaurar com o Summmorum Pontificum o rito de Pio V atualizado por João XXIII supõe devolver o ar à Tradição e reafirmar que a Igreja nunca parte do zero. Não se trata – como crê Francisco – de um grupo residual de fiéis nostálgicos, presos esteticamente a certas fórmulas, alheios à história e que precisam ser atendidos para que não façam muito barulho. Havia muito mais em jogo. Francisco aniquilava a Bento XVI, mesmo antes do novo motu proprio Traditionis Custodes, com esta ridícula subestimação sobre o que havia por trás de sua “obra mestra”, conforme a qualificou o Cardeal Sarah.

As aberturas ao Vetus Ordo de João Paulo II e de Bento XVI foram, com efeito, pela unidade da Igreja, mas não porque quiseram reunir alguns poucos amantes do passado que estavam dispersos para devolvê-los ao redil, mas porque voltavam a promover o enorme compromisso de construir a unidade da Igreja sobre a Tradição, isto é, sobre o que a Igreja é, sempre foi e sempre será. Isso é impossível de ser feito através de rupturas com o passado e com “novos paradigmas”. Sobretudo em relação às rupturas litúrgicas que sempre são mais rupturas dogmáticas do que pastorais.

O Papa Francisco anula a Bento XVI porque acaba com seu esforço em construir o desenvolvimento da Igreja em continuidade com a Tradição. Esta foi sua leitura do Vaticano II: deveria ser lido conforme a tradição da Igreja e não como um novo dogma ou um novo começo. Esta foi a leitura que fez do desenvolvimento da teologia moral, que, abrindo-se a novas exigências, não poderia renunciar ao direito natural católico, ou seja, à existência de um direito natural e de uma lei moral natural. Esta foi a leitura que fez do diálogo inter-religioso, que não poderia prescindir do anúncio de Cristo, o único Salvador. Esta foi a leitura que fez inclusive da Doutrina Social da Igreja, que não deveria ser dividida com um muro entre as formas pré-conciliares e pós-conciliares. Pode-se alegar que Bento XVI não obteve êxito em tudo e que vários aspectos do seu trabalho ficam inconclusos, mas não se pode negar a obra.

O novo motu proprio não se limita a derrogar o Summorum Pontificum, senão que propõe eliminar o fenômeno da Missa Tradicional mediante uma morte lenta. A proibição de novos grupos e a impossibilidade dos futuros sacerdotes aprenderem sua celebração indicam um diagnóstico eutanásico. Contudo, como não se trata apenas de uma questão estritamente litúrgica, tudo o que estava suposto em sua restauração está condenado à morte. Anular a Summorum Pontificum significa anular a Bento XVI, e isso significa acabar com toda sua obra. Significa voltar a começar a partir do zero, fingindo, além disso, que está sendo feito para proteger a tradição.

Fonte: Brújula Cotodiana

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