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Neomissiologia: a sinistra raiz do “Sínodo da Amazônia”

Neomissiologia - sínodo da amazônia
Dom Erwin Kräutler, bispo da neomissiologia, é ornado por um índio com um penacho
Por Luiz de Moraes

Há alguma razoabilidade teológica na falsa concepção “missionária” relativista, materialista e filopagã que motiva o sínodo?

Muitas questões têm sido levantadas sobre o discutível sínodo que deverá reunir os bispos da chamada “região pan-amazônica” e terá lugar no Vaticano, entre os dias 6 e 27 do próximo mês. Porém, é preciso lembrar que a ideologia pseudomissionária que o embasa, e da qual surgiu toda uma reverência alienante pela “teologia indígena”, não surgiu do nada anteontem. Ela está por aí há muito tempo, disseminando-se e fazendo prosélitos nos seminários, congregações e dicastérios da Igreja.

Estamos falando de um conceito de missão corrompido até a medula em seus pressupostos teóricos, alheio a uma autêntica propaganda fide e estreitamente vinculado à decrépita Teologia da Libertação. Esta neomissiologia tem influenciado na formação intelectual de várias gerações de clérigos já há muitas décadas. Os sacerdotes e demais religiosos formados nessa concepção são intencionalmente (des)preparados para atuar pastoralmente não com o intuito de evangelizar eficazmente os povos, mas com um ensejo fortemente marxista e culturalmente relativista. Com isso, muitos padres são ordenados sem terem a menor noção do que seja realmente a missão da Igreja e sem fé alguma no caráter eminentemente sobrenatural e salvífico do múnus missionário que Nosso Senhor nos deixou.

Não faz muito tempo eu debatia sobre o tema da conversão dos índios com um amigo seminarista do 1º ano de Teologia de uma conhecida congregação fundada por um santo missionário e bispo do século XIX. Durante o nosso papo, fiquei surpreso e ao mesmo tempo triste por constatar que, embora estivesse diante de um rapaz bem mais inteligente e honesto do que a média dos seminaristas que conheci, um católico aplicado nos estudos, sério em seus propósitos vocacionais e avesso às tantas excentricidades litúrgicas e pastorais que abundam em nossos dias, ele já havia assimilado integralmente a cartilha da neomissiologia.

No seu entendimento, os índios não precisam ser convertidos a Cristo e batizados; a salvação deles já estaria garantida pelo seu próprio modo de vida ecológico e coletivista (refratário ao capitalismo, o pecado supremo na mitologia da TL). Fiquei embasbacado pela postura relativista daquele meu amigo, que eu julgava possuidor de anticorpos intelectuais robustos o bastante para resistir a esses vírus ideológicos. A ostensiva doutrinação no relativismo, contudo, recebida certamente ao longo de várias aulas do seu curso de Teologia ou mesmo em encontros de formação ministrados por padres mais velhos (e ideologicamente engessados) dentro da congregação, mostrava ali a sua eficácia.

neomissiologia assimilou o relativismo cultural e religioso como parâmetro para a atividade “missionária” e tornou-se extremamente influente entre missionários “católicos” não só no Brasil, mas em várias partes do mundo.

O conceito de relativismo cultural evoca uma concepção antropológica que foi assaz promovida pelo antropólogo teuto-americano Franz Boas nas primeiras décadas do século XX e que, posteriormente, foi muito difundida por seus discípulos não só na antropologia e na sociologia, mas também na filosofia e na teologia. Boas é também um dos pais da antropologia cultural determinista, segundo a qual o homem não é livre o suficiente para desvencilhar-se da cultura na qual está inserido e fazer escolhas morais livres e responsáveis norteado pela sua própria razão.

Uma das discípulas de Boas, Margaret Mead, tornou-se inclusive uma precursora da deletéria “liberação sexual” contemporânea ao escrever um livro em que, inspirando-se em supostos costumes tribais do povo de Samoa, defendia a ideia de que a total liberalização e desinibição das práticas sexuais entre adolescentes não traria quaisquer consequências negativas para eles. 

De acordo com a concepção cultural relativista, a cultura cristã ocidental não é superior a qualquer cultura tribal primitiva, e todos os costumes culturalmente enraizados numa etnia são equivalentes aos de quaisquer outras sociedades, não sendo “nem melhores nem piores que outros, apenas diferentes”. Conforme esta visão, não caberia qualquer comparação entre valores e costumes de culturas distintas, uma vez que o que determinaria a legitimidade de uma prática cultural seria sua mera aceitação na sociedade em que foi cristalizada ao longo das gerações.

Logo, estaríamos sendo etnocêntricos e discriminadores se avaliássemos os costumes dos povos com categorias do tipo “bom” e “mau”, “ético” e “antiético”, “verdadeiro” e “falso”, “moral” e “imoral”, “humano” e “desumano”, “civilizado” e “bárbaro”, “nobre” e “ignóbil”, “elevado” e “vulgar”. Por essa perspectiva, as etnias africanas que tem por costume a mutilação genital de mulheres não poderiam, nunca, ser objeto da nossa condenação, do nosso juízo ético ocidental, e tampouco de uma intervenção corretiva de qualquer natureza. O mesmo valeria para as tribos onde se pratica o estupro de jovens como iniciação na vida adulta ou o assassinato de crianças deficientes.

A preservação dos costumes culturais primitivos estaria acima de quaisquer princípios morais e não poderíamos nos valer sequer dos preceitos éticos mais consensuais para intervir em favor daquelas crianças, jovens e mulheres torturados e mortos por suas próprias comunidades. É notório que essa relativização cultural deriva de uma prévia relativização moral, na qual não existem critérios objetivos de juízo moral e tampouco direitos naturais universais que possam ser garantidos a todos os seres humanos, de todas as nações, religiões e etnias.

Julgar os valores cristãos superiores aos demais, diriam os relativistas, seria cair num etnocentrismo démodé, seria voltar ao período colonial e suas grandes empresas de catequização. E tentar convencer os índios a abraçarem os princípios do Evangelho seria até mesmo uma forma de “violência” contra essas culturas que, para eles, devem ser preservadas intactas a todo custo!

Aliás, os “neomissionários” não se limitam a considerar as culturas indígenas equivalentes à cultura ocidental, mas julgam-nas até superiores aos nossos hábitos e valores civilizacionais! Sua atividade “missionária” junto aos índios com frequência não inclui apresentar-lhes a Boa Nova do Evangelho a fim de convencê-los a abraçarem a fé cristã com todos os seus santos preceitos. Não. Sua ação dita “missionária” se resume a representar politicamente os interesses materiais das tribos, reclamar benesses do governo, solicitar serviços de assistência social e lutar pelas demarcações de mais reservas, enquanto defendem que suas culturas e costumes permaneçam intactos, mesmo aqueles costumes pagãos mais violentos, desumanos e ofensivos a Deus.

Parte-se do pressuposto de que os nativos já vivem maravilhosamente bem em suas tribos e sua cultura não merece ser conspurcada em sua suposta pulcritude autóctone pelas exigências interventoras dos preceitos religiosos cristãos ou pelos impedimentos éticos e legais oriundos do mundo civilizado (este sim, carente de ser convertido e redimido, quiçá não pela opressora catequese católica, mas sim pelo idílico modus vivendi tribal dos nativos amazônicos).

O mundo civilizado, de acordo com os neomissionários, seria um mundo corrompido pelo capitalismo, pelo espírito de competição, pelo consumismo, pela desigualdade, pelo avanço técnico que devasta a natureza e pela falta de espírito comunitário. Por outro lado, o mundo das tribos indígenas que vivem na selva seria, no imaginário deles, um mundo onde supostamente reina a solidariedade, onde se respeita a “mãe natureza”, onde se cultuam os espíritos da floresta em comunhão com o meio ambiente, onde seres humanos ainda “puros” vivem em perfeita harmonia. 

Nessa perspectiva, os indígenas devem ser preservados da nossa influência corruptora, impura e decadente; devem ser resguardados da influência nociva da civilização.

Observamos, então, que os “neomissionários” parecem acreditar piamente no velho mito do “bom selvagem”, uma fantasia que, desde Rousseau e do romantismo, logrou obnubilar o juízo de muitos. Os que veem o mundo por esse prisma imaginam que o processo de educação e civilização atua como um fator corruptor (e não aperfeiçoante) do caráter humano. Pensam eles que os avanços civilizatórios e os progressos da ciência e da técnica tornaram o homem mau, enquanto que a rudeza de uma vida primitiva poderia tê-lo preservado puro e bom. Como se o canibalismo e os rituais envolvendo sacrifícios humanos, só pra citar dois exemplos, fossem invenção dos países civilizados e nada tivessem a ver com povos ameríndios primitivos.

Ao mesmo tempo, diversos teólogos da neomissiologia distorcem absurdamente a mensagem do Evangelho para fazê-la remeter não a uma obra divina e sobrenatural de redenção, regeneração e salvação do gênero humano, mas sim a um ideal de organização social de tipo igualitário, coletivista e ecologicamente correto. Muitos neomissionários acreditam que os indígenas já vivem perfeitamente esse modelo de vida ideal e, portanto, já estariam aptos para entrar imediatamente no Reino do Céu, não havendo qualquer necessidade de catequese, conversão e batismo.

Em 2007, porém, o cardeal William Levada, então prefeito da S. Congregação para a Doutrina da Fé, lhes recordava em nota oficial aprovada pelo então Papa Bento XVI:

Os relativismos e irenismos de hoje em âmbito religioso não são um motivo válido para descurar este trabalhoso mas fascinante compromisso, que pertence à própria natureza da Igreja e é sua tarefa primária.”

Não há qualquer precedente nas fontes da Revelação Divina ou qualquer argumento teológico consistente que justifique trocar o anúncio do autêntico Evangelho de Cristo, que precisa ser comunicado e promovido em vista da salvação das almas, por um aguado socialismo sincretista e filopagão! O múnus missionário da Igreja é um tão grave e irrenunciável dever que interpela, de certo modo, a todo e qualquer fiel católico!

Os grandes santos missionários da História da Igreja, homens da estatura de São Paulo Apóstolo, São Francisco Xavier, São José de Anchieta ou os Santos Protomártires do Brasil, não empreenderam tantos esforços heroicos, não derramaram seu suor e seu sangue, não empenharam a própria vida, consumindo-se totalmente em longas e extenuantes atividades missionárias, para manter os nativos no paganismo ou apenas para assegurar-lhes alguns reles favores materiais do governo a título de “direitos humanos”!

Diante daqueles gigantes, daqueles santos missionários que brilham como luzeiros na memória comum dos verdadeiros cristãos, o que dizer de posturas como a do “teólogo libertador” alemão padre Paulo Suess, para quem “fora da cultura [nativa], não há salvação”, ou a do “bispo” austríaco Dom Erwin Kräutler que, tendo atuado por décadas na região amazônica, como bispo e como presidente do funesto Conselho Indigenista Missionário (CIMI-CNBB), orgulha-se por não ter jamais convertido um índio sequer à santa Fé dos apóstolos e mártires?

A postura deste clero relativista modernoso é um sacrílego ultraje à memória daqueles santos missionários!  Só não podemos dizer que eles devem estar “se revirando no túmulo” porque já gozam da Felicidade eterna prometida pelo Senhor aos que O testemunhassem com coragem e fidelidade!

Pior: a postura apóstata do clero modernista ofende e contraria diretamente o próprio Deus Filho, Jesus Cristo Nosso Salvador, que nos ordenou: 

“Toda autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo. S. Mt XXVIII, 18ss

E disse-lhes: ‘Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado.’.” S. Mc XVI,15s

Rebelde a este inequívoco mandato divino, o plano pastoral do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), um organismo vinculado à CNBB, prescreve:

103. Os missionários e as missionárias do Cimi não procuram convencer os índios individual ou coletivamente a abandonar a sua religião. […] A finalidade do diálogo interreligioso é o intercâmbio de dons recebidos, em atitude de respeito aos planos de salvação de cada religião. 

116. Para as diferentes mediações da ação evangelizadora do Cimi, a utopia indígena está sempre presente.

117. Para o Cimi, os povos indígenas são detentores e portadores de valores evangélicos e, portanto, são também mediadores dessa palavra. Há uma profunda reciprocidade salvífica entre os povos indígenas e a ação evangelizadora da Igreja.

O que diriam a esses falsos pastores relativistas os veneráveis santos de etnia indígena, como a casta e mortificada Santa Kateri Tekakwitha, que contrariou sua família e sua comunidade para abraçar Cristo e a fé católica, ou o devoto San Juan Diego Cuauhtlatoatzin, que recebeu as aparições e o milagre da Virgem da Guadalupe? Provavelmente eles os repreenderiam lançando-lhes à face um sólido bloco de verdades nada confortáveis para os articuladores do Sínodo da Amazônia!

Aliás, será que a soberba dos promotores da neomissiologia é tamanha que eles acreditam ter mais razão do que a própria Mãe de Deus? Ora, ela apareceu no México quinhentista a um índio, trazendo feições indígenas e sinais miraculosos que perduram até hoje, justamente para comunicar a Verdade aos nativos pagãos daquela região e levá-los à necessária conversão!

Convenhamos: haja pretensão para considerar-se mais esclarecido em matéria de religião do que a Santíssima Virgem Maria e até mais sábio do que o Seu Divino Filho, a Sabedoria Encarnada, que nos mandou pregar e batizar!

Se a salvação dos pagãos pudesse ser assegurada meramente por uma cultura coletivista e ecologicamente correta, o apóstolo São Paulo não teria dito:

A ira de Deus se manifesta do alto do céu contra toda a impiedade e perversidade dos homens, que pela injustiça aprisionam a verdade. Porquanto o que se pode conhecer de Deus eles [os pagãos] o lêem em si mesmos, pois Deus lhes revelou com evidência. Desde a criação do mundo, as perfeições invisíveis de Deus, o seu sempiterno poder e divindade, se tornam visíveis à inteligência, por suas obras; de modo que não se podem escusar. […] Mudaram a majestade de Deus incorruptível em representações e figuras de homem corruptível, de aves, quadrú­pedes e répteis.” Rm I, 18-23

 E ainda: “Pois já demonstramos que judeus e gregos (pagãos) estão todos sob o domínio do pecado, como está escrito: Não há nenhum justo, não há sequer um.” Rm III, 9b-10

Os clérigos entusiastas da “teologia indígena” deveriam questionar-se seriamente se não estão cometendo, portanto, um extremo e vergonhoso ato de irresponsabilidade e de traição a Jesus! Pois, com suas ideologias, colocam em risco evidente de danação eterna um imenso número de almas que, por sua vocação e ordem, eles teriam o dever de catequizar, converter, batizar, pastorear e introduzir na plenitude dos sacramentos e dos dons que Cristo comunica aos membros de Sua Igreja!

Não apenas irresponsáveis, mas escandalosos e até desumanos são os que tentam justificar e blindar, sob o pretexto de “proteção da cultura”, os crimes bárbaros cometidos por certas tribos, como o costume supersticioso e selvagem de matar crianças que nascem gêmeas, deficientes ou com alguma mancha na pele!

Algumas mães índias, contrariando os costumes da tribo por amor materno, fogem para o mundo civilizado com a ajuda de missionários protestantes, a fim de salvarem a vida de seus filhos. Mas o CIMI, em coro com a FUNAI, se posiciona contra qualquer intervenção, assumindo uma postura que indica que, para os “neomissionários”, a preservação das culturas indígenas vale mais do que a vida indefesa das crianças!

No próprio site do CIMI há um texto de uma antropóloga que argumenta, por exemplo, que o assassínio de crianças indefesas da etnia Yanomami faz parte de uma estratégia de sobrevivência da tribo, em razão da escassez de alimentos na floresta. Ora, se a tribo não pode alimentar bem todas as crianças que nascem, não seria obrigação dos missionários que se dizem “cristãos” ensinar-lhes técnicas modernas e produtivas de agricultura, tal como fizeram os primeiros jesuítas pelos tupis? Ou por que não trazê-los para o mundo civilizado, onde nenhuma criança precisa morrer por escassez de comida?

A tribo Yanomami é mais um exemplo de como as formas de organização social coletivistas podem ser atrozes e desumanas, pois nestas sociedades os direitos das pessoas individuais são frequentemente violados em nome de uma primazia da coletividade. Basta considerar também os exemplos de Cuba, da Coréia do Norte, da extinta URSS, do Camboja de Pol Pot e de outros países impregnados por ideologias coletivistas, onde os direitos naturais individuais e as liberdades mais fundamentais são constantemente espezinhados em nome de um pretenso bem coletivo. 

É intolerável que existam clérigos “católicos” que defendam o suposto “direito” indígena ao infanticídio! Esses apologistas da barbárie já deveriam ter sido há muito tempo excomungados e, no caso dos estrangeiros, extraditados do Brasil e declarados persona non grata!

No entanto, é bom que nós também façamos um mea culpa no sentido de reconhecer que ficamos de braços cruzados por tempo demais e demoramos muito para começar a reagir a esse pandemônio relativista intraeclesial!

Muito antes do Sínodo da Amazônia já havia a Primeira Assembleia Nacional da Pastoral Indige­nista declarando: Os índios já vivem as bem-aventuranças: não co­nhecem a propriedade privada, o lu­cro, a competição.”. 

Já havia o plano pastoral dos Bispos da Amazônia prescrevendo: “A principal missão da Igreja não é converter os índios à Re­ligião de Jesus Cristo, mas conservar-­lhes o estado tribal.”. 

Já tínhamos Dom Tomás Bal­duíno, famoso líder da Comissão Pastoral da Terra (CPT), fulminando: “Os po­vos indígenas são os verdadeiros evan­gelizadores do mundo…. Vivendo em regime comunitário, os índios não pre­cisam da Igreja.“.

Heresias execrandas como essas deveriam nos interpelar e mover ao combate! Elas manifestam um profundo desprezo pelo tesouro precioso confiado por Jesus Cristo à Sua Igreja, uma descrença abissal na importância sobrenatural da mensagem cristã e uma tremenda falta de caridade para com os povos não-redimidos.

É lamentável que tantos clérigos na alta hierarquia da Igreja hoje negligenciem aqueles princípios luminosos que por tantos séculos impulsionaram as missões e a ação católica no mundo: “Salus Animarum Suprema Lex” (A Salvação das Almas é a Lei Suprema), “Omnia Ad Majorem Dei Gloriam et Salus Animarum” (Tudo para a Maior Glória de Deus e a Salvação das Almas) ou “Instaurare Omnia In Christo” (Restaurar Todas as Coisas em Cristo).

Mas, se a neomissiologia não nasceu ontem, por que, então, estamos tão surpresos com os disparates do Instrumentum Laboris do Sínodo da Amazônia? Já havia discursos heréticos e apóstatas sendo largamente e impunemente difundidos na Igreja muito antes disso! Por que não começamos a reagir décadas atrás, antes que essa mentalidade contaminasse e ganhasse espaço e influência no próprio Vaticano?

Ninguém ignora que os documentos oficiais do S. Magistério jamais deram respaldo a essa loucura. O problema é que a falta de reconhecimento oficial não impede que uma ideologia se alastre e infecte até as esferas mais proeminentes. Não surpreende que a CNBB, em sua página no Facebook, esteja ostentando o apoio dos luteranos, anglicanos e outros protestantes para este sínodo, pois das fontes católicas ela sabe que não o tem! O próprio Concílio Vaticano II não dá o mínimo respaldo à neomissiologia relativista! Vejamos o que prescreve o concílio no seu Decreto Ad Gentes:

 1 – Esforçar-se por converter os povos ainda não evangelizados é um ato de caridade e de solicitude para com as almas que Nosso Senhor deseja salvar. (nº 7 – p. 442 e 443)

 2 – Quando anuncia o Evangelho aos povos e exorta-os a se converterem à Fé cristã, a Igreja cumpre um mandato do próprio Cristo (proêmio do Decreto). [Referência a Mt 28, 18-20 e Mc 16,15]

 3 – Convencer os gentios a assimilarem apenas uma fé inerte em Jesus, sem nenhum compromisso de conformarem os próprios costumes aos preceitos do Senhor, sem nenhuma mudança substancial nas crenças e no modo de vida, não é o bastante! O missionário deve pregar a todos a adesão total e a prática efetiva dos ensinamentos que Cristo nos deixou. (nº 5 – p. 437)

 4 – Expandir a fé católica é um sagrado dever e uma exigência intrínseca à própria natureza da Igreja (proêmio e nº 6 –  p. 432 e 441).

5 – O neoconvertido, no processo de passagem do paganismo ao cristianismo, do homem velho ao homem novo, deve progressivamente romper com os costumes e crenças incompatíveis com a fé cristã (nº 13 – p. 451)

6 – Não deve haver qualquer sincretismo nas igrejas jovens, isto é, nas comunidades recém-convertidas (nº 19 e 22 – p. 461 e 467) [Não são admissíveis comunidades “semicristãs”. Os resquícios de crenças pagãs não podem permanecer misturados à Verdade de Cristo, pois poderiam comprometer a eficácia salvífica da mesma.]

Portanto, as disposições preliminares do Sínodo da Amazônia e a neomissiologia que o fundamenta traem patentemente o próprio Concílio Vaticano II!

Cabe a nós, portanto, cessar toda omissão frente a esse descalabro e fazer oposição aberta às premissas deste sínodo e inclusive às suas repercussões teológicas, litúrgicas e pastorais que certamente chegarão ou já estão chegando em nossas dioceses e paróquias!

Façamos eco às contestações dos cardeais Müller, Burke e Brandmüller, dos bispos Schneider e Azcona e de todos os prelados católicos que têm tido a coragem de questionar as venenosas pretensões deste sínodo! Ouçamos também os apelos do cardeal Burke e do bispo Dom Athanasius Schneider por 40 dias de jejum e oração, até o dia 26 de outubro, para que o sombrio Instrumentum Laboris do sínodo seja decididamente reprovado e exprobrado pela Santa Sé.

Corajosa ação católica em prol da verdade, jejum e uma vida de oração contínua e devota hão de colocar a Igreja novamente nos trilhos, com o auxílio seguro da Graça Divina! Confiemos! Façamos a nossa parte e Deus não nos deixará sem resposta!

Encerro este artigo deixando sugestões de leituras e alguns filmes concernentes às questões aqui levantadas.

Decreto Ad Gentes do Concílio Vaticano II:

http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decree_19651207_ad-gentes_po.html

Declaração Dominus Iesus, Sobre a Unicidade e a Universalidade Salvífica de Jesus Cristo e da Igreja:

http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_20000806_dominus-iesus_po.html 

Nota Doutrinal Sobre Alguns Aspectos da Evangelização, S. Congregação para a Doutrina da Fé (2007):

http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_20071203_nota-evangelizzazione_po.html 

Livro Introdução ao Cristianismo, de Joseph Ratzinger:

https://sumateologica.files.wordpress.com/2009/09/joseph-ratzinger-introducao-ao-cristianismo.pdf

Artigo Fé, Verdade e Cultura, do mesmo Ratzinger:

https://www.presbiteros.org.br/fe-verdade-e-cultura/

Livro Sete Mentiras sobre a Igreja Católica, de Diane Moczar PhD:

https://www.stacruzartigoscatolicos.com.br/livros/sete-mentiras-sobre-a-igreja-catolica-diane-moczar

Livro Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental, de Thomas E. Woods Jr. PhD:

https://portalconservador.com/livros/Thomas-Woods-Como-a-Igreja-Catolica-Construiu-a-Civilizacao-Ocidental.pdf

Filmes que retratam a realidade deplorável dos povos não-cristianizados e os atos de coragem, heroísmo e fé ardente dos antigos missionários católicos:

Molokai (ou Damião, o Santo de Molokai), sobre a atividade missionária de S. Damião de Veuster juntos aos leprosos havaianos.

A Missão (The Mission), filme vencedor de Oscar, sobre as missões jesuíticas sulamericanas durante o período colonial.

O Manto Negro (Black Robe), longa-metragem sobre as missões junto às ferozes tribos no Canadá.

Silêncio, filme de Martin Scorcese sobre as cruéis perseguições aos padres missionários e fiéis católicos no Japão seiscentista.

Apocalypto, filme de Mel Gibson sobre a realidade brutal dos impérios nativos da América pré-colombiana.

A Igreja Católica: Construtora da Civilizaçãodocumentário da EWTN apresentado por Thomas E. Woods Jr. PhD. O apresentador recorda as incontáveis contribuições católicas para a grande parcela da humanidade resgatada das trevas do barbarismo pagão mediante séculos de derramamento de muito suor e sangue pelos missionários. (Disponível no Youtube: https://bit.ly/2mhBf7b)

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