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Notas sobre a Revolução Sexual: Sexo, liberdade e a ditadura do arco-íris

Andrew Caballero-Reynolds/AFP/Getty Images
Por R. R. Reno

Frequentemente pensamos que o princípio da revolução sexual foi a liberdade sexual. Este ponto de vista não é falso, mas não é a imagem completa. Não nego que a revolução sexual pretendera reduzir a censura e ampliar a liberdade. Em matéria de sexo, nossa sociedade é muito mais permissiva do que era há duas gerações. O que quero dizer que é revolução sexual vai muito mais além, a ponto de afetar e alterar nossa relação com nossos corpos. O que ela buscou foi anular a autoridade da natureza.

A liberdade de fertilidade, simbolizada pela pílula, sempre foi mais fundamental que a liberdade de censura. A liberdade de fertilidade separa as relações sexuais da responsabilidade de uma nova vida. Este corte permite que os progressistas reformulem a moral sexual em termos de decisão pessoal e de realização. Se não há consequências, quem pode opor-se ao que as pessoas fazem com seu corpo, sempre que o outro lado dê seu consentimento?

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A capacidade tecnológica de separar as relações sexuais da fertilidade nunca foi infalível. O aborto era e continua sendo uma necessidade para a revolução sexual. Funciona como garantia da promessa revolucionária de que o sexo pode ser livre de consequências. (Nos últimos anos, o direito ao aborto foi rebatizado como liberdade reprodutiva). Nas duas últimas gerações, o Ocidente adotou, em vez deste reconhecimento limitado da realidade natural das relações sexuais, a surpreendente opinião de que o sexo é “naturalmente” infértil. Como ouvimos várias vezes, o sexo é uma expressão de amor e fonte de prazer. No mundo revolucionário, os filhos são uma decisão.

A partir deste ponto de vista, o sexo não tem nenhuma relação com suas origens evolutivas (se se pensa cientificamente) ou de criação (se se pensa biblicamente), a não ser que decidamos em raras ocasiões recolher o fruto da verdade evidente de que a procriação é o propósito central e a consequência das relações sexuais. Esta subversão tecnológica da realidade sustenta a normalização da masturbação e de outros atos sexuais, como a sodomia. Quando participei ativamente nos debates sobre a moral sexuais na Igreja Episcopal, pude ver que a homossexualidade desempenha um papel simbólico central na revolução sexual. É preciso celebrar as relações homossexuais, porque sua esterilidade intrínseca realiza a forma mais fundamental de liberdade sexual: a liberdade de nosso ser encarnado.

Mas a revolução sexual é muito mais do que isso. Nossos corpos são férteis. Temos dentro de nós o potencial para uma nova vida. A revolução sexual promete libertar-nos deste fato natural. Nossos corpos também são imperfeitos e frágeis. Os corpos de algumas pessoas sofrem defeitos que os fazem inférteis. Outros herdam um DNA que os incapacita e os torna vulneráveis a certas doenças. A maioria de nós desejaríamos ser mais altos, mais magros, mais atrativos ou mais inteligentes. A natureza costuma ser generosa, sim, mas às vezes pode ser parcimoniosa, ou inclusive cruel. Nossa encarnação traz consigo a maldição da mortalidade. Do pó viemos e ao pó voltaremos. A revolução sexual promete liberdade também nesses âmbitos.

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A tradição bíblica apoia o uso da inteligência humana para remediar os defeitos de nossa condição corporal, proteger-nos das doenças e restaurar a saúde quando for possível. Mas estas medidas – a tecnologia em sentido amplo – operam dentro de uma concepção substantiva segundo a qual o ser humano alcança sua plenitude como criatura em um corpo, vivendo de acordo com a natureza. A revolução sexual afasta-se da tradição bíblica, pois pretende escapar dos limites da natureza.

Em outras palavras, a revolução sexual é (e sempre foi) muitíssimo mais que o sexo. Na sopa de letras dos direitos dos homossexuais, a L, a G, a B e inclusive a T parecem referir-se a com quem se tem sexo e como. Os “tratamentos afirmativos de gênero” para pré-adolescente não tem nada a ver com o sexo, mas muito a ver com a ambição mais fundamental da revolução sexual: libertar-nos de nossos corpos e dos limites que impõe. (Alguns argumentam que julgo mal o componente sexual, porque permitir que as crianças “consintam” a transição senta as bases legais para permitir que as crianças “consintam” ter relações sexuais com adultos).

Visto desta maneira, podemos observar que a revolução sexual promove os ideais que sustentam o aborto eugenésico. A tecnologia médica avançou muito desde o apogeu da eugenesia nos princípios do século XX. Naquela fase, aqueles que desejavam libertar a humanidade de nossa vulnerabilidade corporal à imperfeição tiveram que adotar a tosca técnica de esterilizar os que tinham mais probabilidades de transmitir um DNA defeituoso. Hoje em dia, o complexo médico-industrial emprega provas pré-natais, e a eugenesia é praticada sob o signo da decisão. O aborto eugenésico está tão estendido na Europa, que em muitos países quase não nascem crianças com síndrome de Down.

O suicídio medicamente assistido é outro aspecto da revolução sexual. Faz com a mortalidade o que a anticoncepção artificial faz com a fertilidade. A pílula faz com que a fertilidade seja uma decisão; os direitos dos homossexuais fazem com que o sexo com nossos pares seja uma decisão; os “tratamentos afirmativos de gênero” pretendem fazer com que o sexo de meu corpo seja uma decisão. O suicídio medicamente assistido segue o mesmo padrão: o momento e os meios de nossa morte são matérias de nossa decisão.

O aborto eugenésico e o suicídio assistido caminham de mãos dadas. Na Bélgica, os jovens com doenças terminais avançadas podem receber a “terapia médica” de “morte assistida”. O Canadá adotou disposições similares, ampliando este “direito” aos jovens. É previsível que haja novas expansões da prática de matar para libertar-se das aflições do corpo. As aflições da alma são as próximas. No Canadá, a depressão e outras formas de angústia mental já o qualificam para receber “assistência para morrer”.

A liberdade sexual, os direitos dos homossexuais, o aborto, o transgenderismo, a eugenesia e a eutanásia são os elementos centrais da ditadura do arco-íris, o regime que está em roga no Ocidente. Outros aspectos incluem as tecnologias reprodutivas que faz com que todos os elementos corporais da fertilidade – óvulo, esperma e útero – sejam matéria de decisão, como se fosse uma cirurgia estética não terapêutica e as técnicas de melhora corporal. É verdade: estes fenômenos são vistos como diferentes. Os atos sexuais e os assassinatos são analisados de forma diferente na reflexão ética, e aqueles também são diferentes dos tratamentos médicos não terapêuticos. Mas em toda ordem das coisas, a ditadura do arco-íris repudia os limites impostos por nossos corpos, e a negação de todos esses limites juntos equivale a rejeitar a autoridade da natureza. Ainda que os progressistas não articulem este princípio, eles percebem, porém, uma unidade subjacente. Daí a convergência política dessas questões em uma frente unida, uma manifestação da “interseccionalidade” representada pelo símbolo do arco-íris. Estou muito seguro de que uma ampla maioria daqueles que respaldam os direitos LGBTQ também apoiam o aborto, a eutanásia, as tecnologias de reprodução assistida e outras medidas. Estas práticas sempre anulam a autoridade da natureza, transformando nossos corpos em campos de decisão pessoal.

A revolução sexual erigiu a ditadura do arco-íris. Sua ambição é reestruturar a cultura e a moral para que nossas vidas sejam conduzidas de modo quase absolutamente livre em relação aos nossos corpos. O atrativo deveria ser evidente. A ditadura do arco-íris predica uma espécie de evangelho, porque, em sua forma mais fundamental, a liberdade de nossos corpos evoca a possibilidade da vida eterna, a liberdade da última palavra da morte. Como grande parte da política progressista, esta ambição é uma perversão da tradição bíblica. O que Deus criou é bom, e sua ambição é nos redimir como criaturas encarnadas. No verdadeiro Evangelho, a decisão crucial vai na direção oposta à decisão do falso evangelho da ditadura do arco-íris. Deus escolhe encarnar-se, assumir nossa carne, para que nós possamos ser livres de nossa escravidão ao pecado e à morte, ser livres para dizer “sim” para sua promessa de vida eterna com Ele, promessa que se cumpre na ressurreição final de nossos corpos.

Fonte: Revista Suroeste

Sobre R. R. Reno

Russell Ronald Reno III ou Rusty Reno é um teólogo americano e editor da revista First Things.

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