O mês de maio era aguardado por Padre Pio com alegre ansiedade. Neste mês a Ela particularmente dedicado, Nossa Senhora mostrava a sua bondade e as descobertas de uma delicada pedagogia para com o nosso Frade Capuchinho.
A carta escrita ao Padre Agostino em 1º de maio de 1912 é um relato preciso das alegrias e das graças que Maria lhe trouxe em seu belo mês:
«Caríssimo Pai, oh! mais alegrias do que nunca! Esta é a maior beleza do ano. Sim, meu pai, como este mês prega bem a doçura e a beleza de Maria! A minha mente, ao pensar nos inúmeros benefícios que esta querida mãe me proporcionou, faz eu ter vergonha de mim mesmo, por nunca ter olhado com bastante amor para o seu coração e para a sua mão, que com tanta bondade me compartilhava; e o que mais me dá aflição é ver que tenho retribuído o carinho afetuoso desta nossa mãe com tantos contínuos desgostos. Quantas vezes confiei a esta mãe as dolorosas angústias de meu coração agitado! e quantas vezes ela me consolou! Mas qual foi a minha gratidão?… Nas maiores aflições parece-me que já não tenho mãe na terra; senão uma muito piedosa no céu. Mas quantas vezes quando meu coração ficou calmo, quase esqueci tudo; quase esqueci os deveres de gratidão para com esta bendita mãe celeste! O mês de maio para mim é o mês do agradecimento…” (Epistolário I, pp. 275-276).
Nesta carta notamos duas coisas: as palavras escritas em francês e a extraordinária intimidade entre a Virgem e o Padre Pio. Ele nunca tinha estudado a língua francesa e, quando interrogado pelo Padre Agostino sobre quem lhe tinha ensinado, respondeu: «À vossa pergunta em relação ao francês, respondo com Jeremias: “A, a, a… I Nescio loqui”» [não sei falar] (ibid., p. 277). Pela carta de 20 de setembro de 1912, porém, sabemos quem é este inusitado professor de línguas estrangeiras: «Os personagens celestes não param de visitar-me e de dar-me um gostinho da embriaguez dos bem-aventurados. E se a missão do nosso anjo da guarda é grande, a minha de certo é maior, visto que devo atuar também como mestre que explica em outras línguas” (ibid., p. 304). […].
A mencionada carta de 1º de maio de 1912 revela, entre outras coisas, a alegria e a serena segurança do filho que sabe estar sob a proteção desta “bendita mãe celeste”: são segredos sobrenaturais da união mística com Maria, que pertencem em grande medida ao campo do inefável e do indizível. Estes momentos de intimidade são mais frequentes no mês de maio, como diz o próprio interessado: «O mês de maio para mim é o mês da graça, e este ano espero receber somente duas» (Epistolário I, p. 276 ).
A devoção mariana de Padre Pio certamente não é sentimental ou passageira, senão que se assenta em fundamentos sólidos, a partir de origens nobres: de fato, ele contempla Maria na Revelação Bíblica e na História da Salvação. Neste contexto, ele a percebe como um vínculo muito estreito e forte entre ela e Jesus, e a invoca ternamente “com os títulos de advogada, auxiliadora, saúde dos enfermos, medianeira”. […]. Com efeito, «a mediação de Maria está estreitamente ligada à sua maternidade» (Redemptoris Mater, 38) e «não impede em nada a união imediata dos fiéis com Cristo, antes a facilita» (Lumen gentium, 60). E como «Maria guia os fiéis à Eucaristia» (ibid., n. 44), foi precisamente durante a celebração da Santa Missa que o primeiro sacerdote estigmatizado atingiu o ápice da união mística com a Virgem Dolorosa: «Pobre Mãe, quão bem me quer. Constatei isso de novo no início deste belo mês. Com quanto carinho ela me acompanhou até o altar esta manhã. Parecia-me que ela não tinha mais nada em que pensar senão em mim, enchendo todo o meu coração de santos afetos” (Epistolário I, p. 276).
Por isso diz a uma pessoa: «Se queres assistir com devoção e com fruto à Santa Missa, pensa na Virgem das Dores ao pé do Calvário». […].
O mês de maio, perfumado de rosas e radiante de luz, é para o Frade portador de alegrias e de graças, em cujo mar gostaria de mergulhar o seu Diretor espiritual. Por exemplo, escreveu ao Padre Agostino em 20 de maio de 1912: «Amatissimo babbo, que je suis content! Réjouissons-nous, mon cher père: vive la joie!… [Amantíssimo pai, como estou feliz! Alegremo-nos, meu querido pai: viva a alegria!] Jesus e Maria continuam sendo meus pais. Ó meu pai, que eu possa transcrever-lhe as consolações que minha mãe celeste me faz sentir durante este mês! (Epistolário I, pp. 284-285).
O cuidado maternal de Maria para com o seu devoto filho tem nuances delicadíssimas, que ficaram registradas na carta de 6 de maio de 1913 ao Padre Agostino: «Caríssimo Pai… Chegou finalmente o mês da bela Mãe… Esta querida Mãe continua diligentemente me prestando seus cuidados maternos, especialmente neste mês. Seu cuidado para comigo me toca no âmago… O que fiz para merecer tamanha doçura? A minha conduta não foi uma negação contínua, não digo de seu filho, mas também do próprio nome de cristão? Mas esta terníssima Mãe, na sua grande misericórdia, sabedoria e bondade, quis castigar-me de uma forma muito sublime, derramando tantas graças no meu coração que, quando me encontro na sua presença e na de Jesus, sou obrigado a exclamar: “Onde estou?, onde me encontro? quem está próximo de mim?”. Sinto que tudo está queimando sem fogo; sinto-me próximo e ligado ao Filho por meio desta Mãe, sem sequer ver as correntes que com tanta força me prendem; mil chamas me consomem; sinto que estou continuamente morrendo e para sempre vivo” (Epistolario I, pp. 356-357).
Há um ardente amor místico, que inflama a alma e realça bem o papel da Virgem Santa na nossa vida: isto é, a sua maternidade e a sua mediação em Cristo, pela qual vale a pena manter-nos intimamente ligados a «Jesus e à sua amada Mãe” (ibidem). Padre Pio, iluminado pelo Espírito Santo, compreende por experiência que no pré-estabelecido desígnio divino vamos a Jesus por meio de Maria: Ela realiza uma «mediação em Cristo» (Redemptoris Mater, n. 38) e todo o seu salutar influxo sobre nós «não nasce da necessidade real, mas do beneplácito de Deus, e brota da superabundância dos méritos de Cristo» (Lumen gentium, 60).
O Papa sabe e ensina que «Este influxo salutar é apoiado pelo Espírito Santo, que, assim como estendeu a sua sombra sobre a Virgem Maria, dando na sua pessoa início à maternidade divina, assim também continuamente sustenta a sua solicitude para com os irmãos do seu Filho» (Redemptoris Mater, n. 38).
Esta doutrina constante da Igreja foi experimentada pelo Frei de Pietrelcina ao longo de sua vida.
Fonte: Il Cammino dei Tre Sentieri