O novo papa em dois dias? A pressa sob o pretexto da unidade pode ser uma armadilha para os chamados conservadores, induzidos a recorrer a uma eleição rápida ao preço de um outro pontificado que divide e destrói a Igreja. Mas existem algumas alternativas.
O tempo pode ser um bom conselheiro: a esperança é que os cardeais eleitores tenham isso em mente. Sobretudo os chamados conservadores. Porque ultimamente há uma espécie de corrida para dizer aos quatro ventos que o conclave será breve, quase como se um papa eleito em quarenta e oito horas fosse o sinal de uma Igreja unida e forte. Bergoglio foi eleito logo no quinto escrutínio e foi uma tragédia para a Igreja.
O “conclave relâmpago” pode ser uma boa e velha armadilha: é melhor permanecer meses sem um papa, do que nos encontrarmos durante décadas com um papa que divide e destrói a Igreja. É bastante evidente que de um conclave que requer dois terços dos que têm direito a voto, muitas vezes surge um papa do meio-termo e, na situação atual da Igreja, salvo disposições diferentes d’Aquele que comanda, não se pode esperar um São Pio V. E, no entanto, a maior tentação é justamente a de aceitar um péssimo meio-termo, considerando insustentável a priori um bloqueio do conclave por um longo tempo. A mera perspectiva de um possível “conclave de atrito” está causando alucinações em alguns prelados, que veriam em Parolin um mal menor, principalmente agora que o ex-secretário de Estado vai implorar pelos cerca de vinte votos que lhe faltam, oferecendo o impensável.
Digamos claramente: Parolin não é um bom meio-tempo; Parolin é a traição da Igreja. E não é por acaso que ele é o cardeal mais apoiado pelos “grandes jornais” hoje. Os fatos mostram que Parolin vendeu a Igreja ao governo chinês: o resto é conversa fiada. E a venda da Igreja não pode ser aceita ainda que, “em troca”, seja concedida a Missa antiga ou a revogação de Fiducia supplicans. E mesmo assim, tantas promessas, mas quantas garantias? Bergoglio não havia prometido que não daria entrevistas quando se tornasse papa?
Não é segredo que muitas das alternativas ao Parolin são dramáticas. Antes de tudo, os “homens” de Sant’Egidio. Zuppi, que está se deslocando entre Bolonha e Roma para mostrar seu zelo pastoral, e toda vez que volta a abrir o bico a cidade de Bolonha, não perde a oportunidade de dizer que o Papa deve ser de todos, deve ser acolhedor com todos. O que traduzido, para quem ainda não conhece Zuppi, significa que gays também podem receber uma bênção semelhante à de um casamento na igreja, algo que em Budrio, na diocese governada por Sua Eminência, ocorreu antes mesmo que Fiducia supplicans trouxesse a boa nova, com a aprovação de Sua Eminência. A Igreja aberta a todos, para o Arcebispo de Bolonha, também significa defender a bondade da “família queer”, promovida pela (já falecida) escritora italiana Michela Murgia: um mix de filhos de ninguém, casais homossexuais, cônjuges, pais e mães intercambiáveis; um ultraje levado a cabo pela escritora explicitamente para desconstruir a família natural, como querida por Deus, mas que o cardeal apreciou, dizendo que “a questão é amar-se uns aos outros”.
Depois temos o outro cardeal cortejado pela Comunidade de Sant’Egidio: José Tolentino Calaça de Mendonça. Um personagem que até nos fez sentir pena do Ravasi. O cardeal-poeta pode gabar-se de uma grande e invejável erudição literária, mas não tem praticamente nenhuma experiência pastoral (à exceção de três anos numa paróquia da Madeira), nem diplomática, nem sequer uma sólida formação teológica. Na prática, será refém dos outros. O seu cardinalato foi um dos muitos amores à primeira vista de Francisco: Tolentino veio pregar os exercícios na Cúria Romana em 2018 e no ano seguinte recebeu o barrete vermelho. Ninguém sabe porquê: era suficiente que Francisco gostasse. Mendonça tem sido particularmente cuidadoso em não assumir posições públicas sobre os temas mais polêmicos do pontificado de Bergoglio, fazendo do larvatus prodeo seu lema pessoal. É por isso que é popular no Sant’Egidio. Como Zuppi, também Mendonça patrocina personagens muito problemáticos com prefácios aos seus livros, mas toma cuidado para não se expor demais. E se Zuppi gosta das pontes do Padre James Martin, o português tem um feeling particular pela Irmã Teresa Forcades, a freira beneditina de Montserrat, que quer revolucionar a Igreja quanto ao divórcio, aborto, gênero e sacerdócio feminino. A irmã “Pasionaria” na frente, derrubando muros, e ele, o poeta, atrás, vendo como termina. Virilmente.
Outro nome que parece estar surgindo é o do cardeal François-Xavier Bustillo, bispo de Ajaccio. Muito problemática é sua ligação com o Irmão Daniel-Marie Thévenet, um frade Conventual ligado à Renovação Carismática, que teria “renovado” os conventos da Ordem nesta direção, a convite do próprio Bustillo, que de 2006 a 2018 foi o superior da Ordem na França e na Bélgica. Bustillo também foi, com Thévenet, um dos três frades que fundaram o convento de Narbonne. Contrariamente às indicações da Congregação para a Doutrina da Fé, Thévenet enche as celebrações eucarísticas com exorcismos públicos, supostas profecias, falar “em línguas”, anúncios vagos de curas, aplausos e cânticos de estádio durante a elevação, e tudo quanto serve para alimentar um sensacionalismo em estado puro, à custa da credulidade das pessoas simples. Este é o homem que Bustillo contratou para “reformar” os conventos da Ordem. Apenas para então se escandalizarem com a onda de reações negativas à Fiducia supplicans.
Uma segunda linha que, em caso de impasse, pode surgir entre os papáveis é a do Cardeal Stephen Brislin. Consternado com o fato de os gays não se sentirem em casa na Igreja, o Arcebispo de Joanesburgo (África do Sul) também se destacou por outras aberturas: como acolher, na sua própria diocese, o movimento We Are All Church SA, defensor do sacerdócio feminino e da abolição do celibato sacerdotal obrigatório. É bastante conhecida a sua aprovação das bênçãos autorizadas por Fiducia supplicans, em claro contraste com o episcopado do continente.
A lista de infortúnios poderia alongar-se ao infinito; porque no Conclave há pessoas com muitos esqueletos no armário. E outros cujos talentos aprendemos a “apreciar” nos últimos anos: como o casal Hollerich-Grech, os diretores dos Sínodos de abertura a todo tipo de bobagem; ou como o Cardeal Marx, que deu um impulso à Synodaler Weg, lançando-a nas vastas pradarias do cisma. Depois temos Tucho Fernández, que dispensa apresentações, Claudio Gugerotti, conhecido como “lo stambecco” por suas escaladas curiais (e provavelmente também pelas chifradas que dava em seus competidores).
Mas o ponto que é importante para nós é que o perigo dessas “alternativas” não aterrorize os cardeais e os faça recorrer a Parolin. Porque alternativas verdadeiramente válidas existem e devem ser apoiadas, mesmo à custa de um impasse. Como a do cardeal cingalês Malcolm Ranjith Patabendige Don, arcebispo de Colombo (Sri Lanka), um homem com extraordinária experiência pastoral, tanto como sacerdote quanto como bispo, ativamente próximo (e não apenas com palavras) da pobreza material e espiritual, mas também com boa experiência no campo da diplomacia e da Cúria Romana. Possui uma versatilidade incrível em idiomas (fala dez fluentemente), capacidade de diálogo com autoridades políticas, mas também um grande senso de justiça que não o silencia quando necessário. Com um grande senso de Igreja e de liturgia, Ranjith tem como ponto de honra a sua extraordinária capacidade de catequizar as crianças. Um homem que realmente vive nas periferias, as conhece e as ama, mas ao mesmo tempo uma personalidade que sabe bem como se mover no comando da Igreja.
E depois o Cardeal Pierbattista Pizzaballa, que nestes anos de graves tensões na Terra Santa demonstrou uma notável e sólida estatura espiritual e diplomática. A diplomacia de Pizzaballa é autêntica: suas intervenções, como um verdadeiro pastor, sempre buscaram a defesa e o apoio da comunidade cristã em uma situação de extrema dificuldade. Avesso à polêmica, o Patriarca Latino de Jerusalém é, contudo, conhecido como um homem de fé profunda, não só por sua autêntica piedade eucarística e mariana, mas também por sua capacidade de ler as situações à luz da fé, e não da política.
Dois nomes, mas não os únicos. Nomes que abrem caminho para um meio-termo realista, que, contudo, não tem como contrapartida a liquidação da Igreja. Tal compromisso não é apenas possível: é necessário.
Fonte: La Nuova Bussula Quotidiana