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O Ecumenismo Sobrenatural (Dr. Alberto Caturelli)

Pio XI no Consistório de 1935

O material da Campanha da Fraternidade 2021 já foi divulgado. O tema dessa vez versará sobre o ecumenismo, um dos termos teológicos mais ressignificados dos últimos tempos. Como qualquer campanha liderada pela Teologia da Libertação, muitos absurdos serão ditos em detrimento da verdadeira doutrina católica, o que incluirá dessa vez a propagação de uma falsa noção sobre o diálogo ecumênico.

Pois bem, o tema está lançado, e para não sermos acusados de desobediência ou indiferentismo quanto à proposta dos bispos do Brasil, faremos aqui a nossa primeira contribuição sobre o tema. Trata-se de um trecho do Capítulo 9 – O Verdadeiro e o Falso Ecumenismo – que o Dr. Alberto Caturelli escreveu na sua obra A Igreja Católica e as Catacumbas de Hoje. Como poderá ser notado, o Dr. Caturelli está apenas repetindo o ensino do Magistério da Igreja.

O Ecumenismo Sobrenatural

Trecho de: Alberto Caturelli, O Verdadeiro e o Falso Ecumenismo. In: A Igreja Católica e as Catabumbas de Hoje. Curitiba: Editora Santo Atanásio, 2020, pp. 242-248.

2.1 VERDADEIRO E FALSO ECUMENISMO NA MORTALIUM ANIMOS DE PIO XI

O Concílio Vaticano II, ao falar da universalidade da Igreja, faz eco a mais antiga tradição expressa nas Confissões de fé.[1] O tema pode seguir-se em todos os Padres (desde os Apologetas até a Idade Média), e encontraremos sempre a afirmação da unidade da Igreja como um dom de Deus, que chamou todos os homens para fazê-los membros de seu Corpo.[2]

O Corpo Místico de Cristo é, por essência, ecumênico. Todo movimento que tenda a restaurar a plenitude da unidade da Única Igreja, de modo que todos sejam um “sob um só Pastor”, deve se chamar ecumênico. O termo oikouméne tem o originário sentido de “terra habitada”; todo o mundo, pois oikéo significa habitar, residir, viver. Na teologia católica, alude-se muito mais que a toda a terra habitada: a toda a humanidade salva por Cristo, a uma comunidade sobrenatural perfeita, que é a Igreja verdadeira. As sucessivas rupturas históricas daquela comunidade perfeita explicam o anelo ecumênico da Igreja Católica, que não cessa de abrir seus braços aos filhos pródigos para que voltem à casa paterna – e a todos os homens do mundo.

Dou por conhecido este tema, sobretudo em seu aspecto histórico, e volto a atenção para o mundo contemporâneo e para os documen­tos essenciais. Existe um pressuposto natural: a unidade e unicidade da verdade, nenhum direito do erro à existência, e a ecumenicidade natural da verdade interior e objetiva.

O primeiro documento sistemático é a Encíclica Mortalium animos de Pio XI, promulgada em 6 de janeiro de 1928. É surpreendente que seja uma encíclica “esquecida” enquanto se recordam suas outras cartas plenas de doutrina e decisão. O Papa das missões, que tinha presente em altíssimo grau o caráter missional da Igreja e a necessi­dade da presença da Igreja em todo o planeta, ocupou-se com total coerência do ecumenismo. Para Pio XI, o tema funde-se com o da unidade da Igreja e responde também à necessidade de corrigir alguns falsos ecumenismos da época, como, por exemplo, um “pancristismo” que havia surgido e preanunciava erros posteriores.

Pio XI reage diante de alguns congressos sincretistas, que os cató­licos não deveriam aprovar, porque estão fundados “na falsa opinião (de que) todas as religiões são, com pouca diferença, boas e louváveis”. Em tais casos, não só erram, mas também, de fato, se afastam “inteiramente da religião divinamente revelada”.[3] Não se trata de “unir de qualquer maneira”; a primeira norma é ter presente que “a religião verdadeira não pode ser outra senão a que se funda na palavra revelada de Deus”, e a única religião revelada é a Igreja Católica, “sociedade perfeita de natureza externa e perceptível pelos sentidos” “pela regência de uma só cabeça”,[4] sempre a mesma.[5] Se a verdade é una e única, só uma pode ser a comunidade perfeita; na ordem estritamente sobrenatural e também histórica, só uma e única pode ser a revelada.

Certos movimentos ecumênicos só expressam um louvável “desejo e uma aspiração” ainda não realizada, mas negam “a unidade de fé e de regime, distintivo da verdadeira e única Igreja de Cristo”. Na medida em que se sustente que, de si ou por sua “natureza”, a Igreja estaria dividida em partes e sobre esta base se realizem congressos, a Sé Apostólica não pode participar. Não porque não possa colaborar nesses intentos, mas porque não deseja dar “autoridade a uma falsa religião cristã, sobremaneira alheia à única Igreja de Cristo”.[6] A verdade revelada, enquanto tal, não admite transações, sendo a Igreja Católica a depositária da doutrina íntegra e sem erros.

Não poderiam formar uma só e mesma comunidade de fiéis os homens “que se distanciam por sentenças contrárias como, por exemplo, os que afirmam e os que negam ser a sagrada Tradição uma fonte genuína da Revelação Divina”.[7] Entre diversas opiniões, a unidade da Igreja só pode nascer de “um só magistério, de uma só lei de crer, de uma só fé”.

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Existe, é claro, um modo de unir os cristãos: procurar “o retorno dos dissidentes à única verdadeira Igreja de Cristo, dado que outrora, infeliz­mente, eles se apartaram dela”. Sendo o Corpo Místico único, compacto e conexo,[8] como também seu corpo físico, “seria inépcia e estultície afirmar a alguém que ele pode constar como membro, se está desunido e separado: quem pois não estiver unido com ele, não é membro seu, nem está unido à cabeça, Cristo”.[9] [10] O futuro Concílio Vaticano II e João Paulo II qualificarão a comunhão dos separados e dissidentes como “comunhão ainda imperfeita”,[11] pois os elementos dispersos nessas comunidades só existem juntos em sua plenitude na Igreja Católica, ou seja, o verdadeiro ecumenismo tenta “fazer crescer a comunhão parcial existente entre os cristãos até à plena comunhão na verdade e na caridade”.[12] Isso chama-se conversão.

Pio XI, da perspectiva da comunhão perfeita, não pode senão clamar: “Retornem, pois, eles ao Pai comum”. “Ninguém está nesta única Igreja de Cristo e ninguém nela permanece a não ser que, obedecendo, reconheça e acate o poder de Pedro e de seus sucessores legítimos”; por isso Pio XI chama: “Aproximem-se, portanto, os filhos dissidentes da Sé Apostólica, estabelecida nesta cidade que os Príncipes dos Apóstolos Pedro e Paulo consagraram com o seu sangue”. Se aquelas comunidades imperfeitas “implorarem em prece humilde as luzes do céu, por certo reconhecerão a única verdadeira Igreja de Jesus Cristo e, por fim, nEla tendo entrado, estarão unidos conosco em perfeita caridade”.[13] No retorno pleno, a ecumenicidade da Igreja alcançará sua plenitude no tempo, encaminhando-se sempre à ecumenicidade absoluta do Céu.

2.2 O VERDADEIRO ECUMENISMO NO CONCÍLIO VATICANO II

2.2.1 Reta Doutrina

Trinta e seis anos depois, em 29 de novembro de 1964, Paulo VI promulgou o decreto Unitatis redintegratio sobre o ecumenismo. O fim do Concílio é “promover a restauração da unidade entre todos os cristãos”, dado que é única a Igreja fundada por Cristo. A atual divisão (escândalo e obstáculo) impressiona, é “como se o próprio Cristo esti­vesse dividido”. Conforme advertia Pio XI, todos, no entanto, anelam a Igreja única e visível.[14]

Primeiro devemos destacar a doutrina católica sobre o ecume­nismo. Em segundo lugar, a prática dele. E, em terceiro lugar, con­siderar as comunidades separadas de Roma.

Quanto à doutrina, é claro que a Igreja Católica é a comunidade perfeita, cuja unidade e unicidade foi estabelecida por Cristo,[15] que confiou aos apóstolos o ofício de ensinar, reger e santificar. Dentre eles, destacou a Pedro para cuidar do único rebanho. Desta una e única Igreja, produziram-se cisões, nasceram comunidades que ainda se nutrem da fé em Cristo e que, apesar da cisão, “estão numa certa comunhão, embora não perfeita, com a Igreja católica”. Apesar das discrepâncias graves em doutrina, em disciplina e em estrutura, “são reconhecidos pelos filhos da Igreja católica como irmãos no Senhor”.[16] Os irmãos separados “não gozam daquela unidade”, “só pela Igreja católica de Cristo, que é o meio geral de salvação, pode ser atingida toda a plenitude dos meios salutares”. O Senhor entregou todos os bens do Novo Testamento “ao único colégio apostólico”, presidido por Pedro e constituindo um só corpo.

Hoje, por inspiração do Espírito Santo, existem intentos para “aproximação daquela plenitude de unidade”. Para isso tentam eliminar juízos, palavras, atos não conformes à condição dos “irmãos separados” e de procurar o diálogo “entre peritos competentes”; todos “examinam a sua fidelidade à vontade de Cristo acerca da Igreja” (una e única), que cremos que “subsiste indefectivelmente na Igreja católica”.[17] Assim, “guardando a unidade nas coisas necessárias”, é mister que todos obser­vem “a devida liberdade” e “em tudo cultivem a caridade”, reconhecendo que tesouros procedentes do patrimônio comum “se encontram nos irmãos de nós separados”.

Quanto à prática do ecumenismo, dado que Cristo chama a Igreja peregrina a uma perene reforma, esta tem “grande importância ecumê­nica”, cujo caminho é a conversão interior. Pedimos perdão por nossos pecados e fazemos esforço para levar uma vida mais pura, conven­cidos de que conversão e santidade são “a alma de todo o movimento ecumênico”.[18] Embora as orações comuns sejam um meio eficaz, em cada caso, “sobre o modo concreto de agir, decida prudentemente a autoridade episcopal local”. A formação dos sacerdotes adquire grande importância, bem como a necessidade de expor claramente toda a doutrina, pois “nada tão alheio ao ecumenismo como aquele falso irenismo pelo qual a pureza da doutrina católica sofre detrimento e é obscurecido o seu sentido genuíno”.[19]

Quanto às comunidades separadas da Sé Apostólica, devemos dis­tinguir as cisões do Oriente e do Ocidente (Reforma).

Com respeito às Igrejas do Oriente, não há que esquecer a antiga união fraterna de fé e de vida sacramental, o tesouro litúrgico e o acordo em temas dogmáticos (Santíssima Trinidade, Encarnação, Virgem Mãe), recordando apenas a “falta de mútua compreensão e caridade” que motivou as separações. É aconselhável, por isso, alguma comunicação em celebrações sagradas, aprovando-o, como é lógico, a autoridade eclesiástica.[20] Por tudo isso, o Concílio declara que todo aquele patrimônio “faz parte da plena catolicidade e apostolicidade da Igreja” e crê que muitos orientais “já vivem em plena comunhão com os irmãos que cultivam a tradição ocidental”.[21]

Em contrapartida, com as comunidades ocidentais (além das dis­crepâncias existentes entre elas) em relação à Igreja Católica “há discrepâncias consideráveis (…) de interpretação da verdade revelada”.[22] Apesar delas, é possível um diálogo ecumênico em pontos básicos como a confissão de Cristo, a veneração das Sagradas Escrituras, o sacramento do Batismo, mas também surgem grandes dificuldades como a carência do sacramento da Ordem e a não-conservação da “genuína e íntegra substância do mistério eucarístico”.

Naturalmente, os fiéis católicos têm a obrigação (abstendo-se de toda ligeireza ou zelo imprudente) de que sua ação ecumênica seja “plena e sinceramente católica, isto é, fiel à verdade que recebemos (…) e conforme à fé que a Igreja católica sempre professou”. O Concílio decla­ra-se sabedor de que o propósito de reconciliação “na unidade de uma só e única Igreja de Cristo excede as forças e a capacidade humana”.[23]

2.2.2 Balanço e Rejeição do Falso Ecumenismo

Detenhamo-nos nas primeiras palavras do texto do decreto: Unita­tis Redintegratio; isto é, reintegração da unidade da verdadeira e única Igreja de Cristo. Redintegratio também significa renovação, porque a Igreja está em renovação permanente do que é invariável. É ação de começar de novo, de restabelecimento do Corpo. O verbo redintegrare significa renovar o mesmo, restabelecer a unidade.

Trata-se de um dos fins do Concílio: a reintegração da unidade preexistente da Igreja vulnerada (na Igreja peregrina) por aque­les que se separaram d’Ela. A doutrina mantém-se intacta: “subsiste indefectível”, como diz o texto, na única Igreja verdadeira, que é a comunidade perfeita. Só deixando-se iluminar e guiar pela mesma Igreja indefectível e por Pedro e seus sucessores é possível o diálogo ecumênico na Caridade de Cristo. Sem a unidade e unicidade da Igreja Católica não é possível o ecumenismo verdadeiro e fecundo.

O contraditório do ecumenismo autêntico seria velar aqueles temas essenciais que podem tornar mais difícil ou impossível o diálogo. Isso seria uma falta de fé e de confiança (uma espécie de cepticismo temeroso) que anularia todo ecumenismo e toda Unitatis Redintegratio.

Também são opostos ao verdadeiro ecumenismo os “acordos” que só confundem e constituem “compromissos” equívocos: o único com­promisso vinculante é com a verdade única da Igreja indefectível. Qualquer outro compromisso de equívoca “acomodação” denuncia a falta de fé sobrenatural e, sobretudo, carência de verdadeiro amor sobrenatural pelos “irmãos separados”.

Seria condenável uma desfiguração (conforme dizia Santo Pio X) da doutrina essencial para alcançar “acordos” que, no fundo, mascaram um irenismo sincretista que “iguala” todas as religiões e esquece o mandato de Cristo.

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Notas:

[1] Cf. Denzinger/Hünermann, Enchiridium Symbolorum, 3-5, Herder, Barcelona, 1999.

[2] Cf. Lumen Gentium I, 7.

[3] Mortalium Animos, nº 3.

[4] Mt 16, 18; Lc 22, 32, Jo 21, 15-17.

[5] Op. cit., nº 8.

[6] Op. cit., nº 10.

[7] Op. cit., nº 14.

[8] Ef 4,15.

[9] Ef 5, 30; 1, 22.

[10] Op. cit., nº 16.

[11] Lumen Gentium, nº 15; João Paulo II, Ut Unum Sint, I, 11.

[12] Ut Unum Sint, I, 14.

[13] Mortalium Animos, nº 17, 18 e 19.

[14] Unitatis Redintegratio Proemium, 1.

[15] Jo 17,21.

[16] Unitatis Redintegratio, I, nº 3.

[17] Op. cit., I, 4.

[18] Op. cit., II, nº 7 e 8.

[19] Op. cit., nº 9, 10, 11.

[20] Op. Cit., III, nº 15.

[21] Op. cit., II, 17 in fine.

[22] Op. cit., III, 19.

[23] Op. cit., III, 24.

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