“O que vou dizer não é um dogma de fé, mas algo pessoal meu: gosto de pensar que o Inferno está vazio; espero que seja assim!” Isto foi dito no último dia 14 de janeiro pelo Papa Francisco ao apresentador Fabio Fazio durante uma entrevista no canal 9 da televisão italiana.
No entanto, nos perguntamos: é lícito esperar que seja certo algo que não só não está contido na verdade católica, senão que, além disso, a contradiz?
Certamente é uma verdade de fé que o Inferno existe, e se existe não está vazio nem se esvaziará como pensam os origenistas, para os quais todos os condenados, os anjos e os demônios acabariam por converter-se. A pena consiste em um fogo inextinguível: um fogo real, não metafórico, que acompanha o fogo espiritual da perda de Deus. E visto que a alma é imortal, a pena que se aplica ao pecado mortal daquele que não se arrependeu dura tanto quanto a vida dela: para sempre, pela eternidade. Esta doutrina foi definida pelo Concílio IV de Latrão, pelo II de Lyon, pelo de Florença e pelo de Trento.
O Inferno é algo mais que o estado em que se encontram os condenados, homens ou demônios, que morrem em pecado mortal e são castigados pela eternidade. É também o lugar onde se encontram os condenados. E Santo Inácio de Loyola, tão citado pelo Papa Francisco como seu mestre espiritual, nos convida no quinto de seus Exercícios a fazer a chamada composição de lugar sobre a realidade do Inferno:
Primeiro ponto será ver, com a vista da imaginação, os grandes fogos e, as almas, como que em corpos incandescentes. [66]
Segundo [ponto], ouvir, com os ouvidos, prantos, alaridos, gritos, blasfémias contra Cristo nosso Senhor e contra
todos os seus Santos. [67]Terceiro [ponto], cheirar, com o olfato, fumo, enxofre, sentina e coisas em putrefação. [68]
Quarto [ponto], gostar, com o gosto, coisas amargas, assim como lágrimas, tristeza e o verme da consciência. [69]
Quinto [ponto], tocar, com o tato, a saber: como os fogos tocam e abrasam as almas. [70]
Fazendo um colóquio a Cristo nosso Senhor, trazer à memória as almas que estão no inferno; umas porque não
acreditaram na sua vinda; outras, acreditando, não agiram segundo os seus mandamentos. Fazer três grupos: o
primeiro, antes da vinda [de Cristo]; o segundo, durante a sua vida; o terceiro, depois da sua vida neste mundo.
Depois disto, dar-lhe graças, porque não me deixou cair em nenhum destes grupos, pondo fim a minha vida. E, assim,
como até agora tem tido sempre de mim tanta piedade e misericórdia. Acabar com um Pai Nosso. [71]
O segredo que a Virgem em Fátima transmitiu aos três pastorzinhos em 13 de julho de 1917 começa com uma visão terrível do Inferno, que lembra a composição de lugar inaciana. Um inferno mostrado a eles como um lugar que não está vazio, mas cheio de almas condenadas: “Um grande mar de fogo que parecia estar embaixo da terra. Os demônios e as almas estavam submersos naquele fogo. Eram vistos como braços transparentes e negros ou pardos, figuras humanas que flutuavam no incêndio“.
Segundo escreve a Irmã Lucia, se não fosse pelo fato de a Virgem ter-lhes prometido que os levaria ao Céu, os videntes teriam morrido ante a impressão e o susto. As palavras da Virgem eram tristes e severas: “Vistes o Inferno, onde caem as almas dos pobres pecadores. Para salvá-los, Deus quer instaurar no mundo a devoção ao meu Coração Imaculado“. Um ano antes, o Anjo de Fátima havia ensinado esta oração aos três pastorzinhos: “Meu Jesus, perdoai nossas culpas, salvai-nos do fogo do Inferno e leva ao Céu todas as almas, principalmente as mais necessitadas de tua misericórdia“.
É conhecido o milagre do Padre Antonio Baldinucci, SJ (1665-1717), recordado em seu decreto de beatificação. Em 12 de abril e 1706, o Padre Baldinucci pregou ao povo de Giulianello, nas proximidades de Cori. Disse a seus ouvintes: “Sabeis, meu povo, como caem as almas no Inferno? Caem como as folhas se desprendem desta árvore“. Ao pronunciar estas palavras, da árvore sob a qual se encontrava e à qual apontava com suas mãos (um olmo) caíram tantas folhas que parecia que nevava. Segundo os testemunhos, a queda das folhas durou tanto tempo, que se poderia ter rezado quatro credos. Não era outono, mas primavera, e nem uma só folha caiu dos olmos próximos. Foi tão impressionante a cena que muitos se converteram e mudaram de vida.
“Tremer ante a ideia do Inferno é uma grande graça concedida por Deus“, afirma o beato Columba Marmión (1858-1923). O medo do Inferno salvou inumeráveis almas. Negar o Inferno daria uma ideia deformada de Deus, que embora misericordioso, não seria justo. A venerável Luisa Margarida Claret da Touche (1868-1915) dirige ao Senhor as seguintes palavras: “Certamente, se não existisse o Inferno, faltariam três joias esplêndidas à coroa de tuas perfeições: a justiça, a autoridade e a dignidade“.
Irmã Josefa Menendez (1890-1923), religiosa do Sagrado Coração, viu muitas almas de sacerdotes no Inferno, e a beata Irmã Faustina Kowalska (1905-1938), que viu a extraordinária experiência de descer acompanhada por um anjo aos abismos infernais, conta como ficou impressionada de que a maior parte das almas que padeciam no Inferno eram de pessoas que não haviam crido na existência deste, ou talvez, se estendermos a nossos dias, que pensavam que estava vazio.
Fonte: Adelante de la Fe