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O novo curso de Bernardo Küster e o Catolicismo Tradicional

Introdução

No dia 10.07.2024, o jornalista católico Bernardo Küster fez uma aula especial para o lançamento do seu curso “Back to basics“. A aula foi precedida de diversos anúncios para divulgar a finalidade do curso. A ideia do curso é mostrar como a vivência da fé católica é simples, não sendo uma pessoa menos católica “por não se identificar com grupos tradicionalistas e nem carismáticos, por não fazer parte dos grupinhos e comunidades da Igreja, por não ter opiniões formadas sobre o Santo Padre, o Papa, sobre os vinte e um Concílios ou sobre as missas nova e tridentina, ou não saber latim castiço, por não ter lido a longa Suma Teológica e os cinquenta e quatro volumes da Coleção Patrística. Não! Não é mesmo. Gente, ser católico é amar, conhecer a Igreja, estar em comunhão com ela, viver a fé de modo simples, autêntico e livre.”, conforme pode ser visto no vídeo abaixo:

Bernardo, no curso dos anúncios, apresentou personagens: Ebenézer (católico tradicionalista), Morpheus (talvez, um tradicionalista) e Enzo (progressista). O último foi apresentado apenas na aula especial. Estes personagens foram criados para ilustrar católicos que de alguma forma dificultavam a vida do católico na sua vivência de uma fé “pura e simples”.

Já na aula especial, Bernardo trouxe à discussão três grandes temas que, segundo ele, geralmente dificultam a vivência simples da fé, a saber, a modéstia, o Concílio Vaticano II e relação com os não-católicos. Trataremos de dois destes temas mais a frente.

A nova tendência entre conservadores: incentivo ao básico, desincentivo à erudição

Observa-se, em primeiro lugar, um fenômeno cada vez mais comum entre católicos conservadores que fazem uso do marketing digital: a alta cultura a baixa altitude.

A expressão foi cunhada por Ronald Robson no livro “Contra a vida intelectual” para descrever o fenômeno das pessoas que falsificam a vida intelectual preterindo o estudo sério e laborioso e se contentam com aulões no Youtube, especiais de Natal da Brasil Paralelo ou cursos de influenciadores que nunca construíram uma obra intelectual de fato.

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Com o marketing digital, ademais, o mercado inflou uma longa lista de pseudo-necessidades para se aprender efetivamente algo. Robson exemplifica isto da seguinte maneira:

“o problema da pessoa que quer “iniciar a vida intelectual” é que ela jamais lerá O adolescente antes de ter se “preparado” para tal, pois acredita que antes de ler livros é preciso ter lido Como ler livros.”

Bernardo propõe algo parecido, isto é, um curso sobre “como ser católico” sem entrar em grandes divididas ou reflexões sobre obras, eventos e pessoas da Igreja. Em suma, ele busca um empreendimento semelhante ao que fez C.S. Lewis em “Cristianismo Puro e Simples“, mas aplicado ao Catolicismo. Em que pese inúmeros protestantes tenham, por exemplo, se convertido lendo os Santos Padres e a Suma Teológica, como o ex-Pastor Alex Jones, Bernardo dá a entender que o estudo destas coisas é dispensável para ser católico. É preciso ser mais “simples”. É preciso comprar um curso sobre como ser católico.

A primeira pergunta que devemos nos fazer, portanto, é se, para ser católico, não é necessário ler os grandes livros ou ter opiniões sobre as coisas que ocorrem na Igreja.

Pois bem, a opinião comum dos teólogos católicos é que o fiel realmente precisa adquirir cultura religiosa, principalmente sobre a fé objetiva, para ser católico. A presunção é que católicos que não alimentam sua fé com o estudo dela, estão mais sujeitos a pecar contra ela. Neste sentido:

Antonio Royo Marin em “A Fé da Igreja“:

“[Os principiantes] procuração entender e aumentar o conhecimento das verdades da fé estudando os dogmas católicos usando de todos os meios a seu alcance (catecismos explicados, obras de formação religiosa, conferências e sermões, etc.), aumentando assim sua cultura religiosa e estendendo seus conhecimentos a um maior número de verdades reveladas (crescimento extensivo da fé objetiva).” (p. 108)

Pe. Adolphe Tanquerey em “Compêndio de Teologia Ascética e Mística“: 

“Para alcançar este conhecimento afetuoso de Deus três meios principais se nos apresentam: 1º o estudo piedoso da filosofia e da teologia; 2º a meditação ou a oração; 3º o hábito de ver a Deus em todas as coisas.” (n. 443)

“[Os principiantes] recitarão com humildade e firme convicção os atos de fé, dizendo com os Apóstolos: <<adauge nobis fidem>>. Mas à oração, hão de ajuntar o estudo, ou a leitura de livros apropriados, que os esclareçam e confirmem a fé.” (n. 1182.B)

Pe. Luiz Fernando Pasquotto (IBP):

Caríssimos, São Paulo nos diz “Sede meus imitadores e olhai atentamente para aqueles que vivem segundo o exemplo que nós vos demos” (Fp 3,17).

Numa família os pais sabem que cada filho que nasce significa começar a educação tudo de novo. […] E aqui na capela e em cada apostolado é a mesma coisa. […] A formação dos fiéis tem dificuldades a mais do que a educação das crianças pelos pais. As crianças ainda não tem maus hábitos logo no início que os fiéis têm. Os fiéis quando chegam no apostolado carregam consigo hábitos e modos de ver as coisas (hábitos operativos e intelectuais, para usar os termos escolásticos) que as crianças não nascem com eles.

[…] Os padres não são oniscientes e os fiéis não são desprezíveis. Não se trata disso. Mas os padres tem quilômetros e quilômetros rodados de confissões nas costas e de conversas sacerdotais com outros padres que também tem quilômetros e quilômetros de confissões nas costas.

[…] A pessoa da internet não recebe retorno das outras pessoas dizendo “Ai amiga, sabe aquela coisa que você me falou? Deu problema. A gente pecou.”. […] Se uma coisa dessas acontecer, a pessoa lá da internet não vai pegar a câmera dela e gravar uma retratação. […] Elas nunca confessarão as consequências dos conselhos que deram.

[…] A desorientação e a confusão generalizada é um dos temas mais tratados nesta capela. […] É curioso como hoje em dia os católicos todos se misturaram com as obras e os princípios dos pagãos. O que nos decapitava há 200 anos agora nós abraçamos como se fossem as coisas fantásticas do mundo. [Antes]: os princípios que salvavam o gênero humano da desordem moral; depois: praia, piscina, cinema, roupa, contracepção, modo de usar o dinheiro… e as pessoas acham que são católicas. E tudo isso complica e torna mais difícil a formação dos fiéis que vem chegando.

[…] Os fiéis também precisam dedicar-se a se formar. É necessário começarem a cair em si, a acordar. Certas coisas em torno de nós estão muito erradas. É necessário querer enxergar as coisas partir do princípio de que por aí fora está tudo errado e que você terá que revisar tudo o que se aprendeu e o que se fez. […] É necessário se dar conta disso para começar a aprender de fato e ir mais atrás das coisas por livros. Os padres falaram alguma coisa? Vá atrás. Peça ao padre algum livro que ele recomenda. Pegou um um livro muito bom? Olhe a bibliografia. Vá à última página e veja a lista de livros que aquele autor muito bom se baseou para escrever o livro dele. Comece a ver autores que são sempre usados, sempre recomendados e tenha eles sempre na sua biblioteca. As coisas estão ensinadas de maneira mais correta, a princípio, nos livros.

Influenciadores tem muitos motivos para propagarem um catolicismo adaptado a todo tipo de ideias, filosofias e ideologias que tornam vocês fracos, servindo aos propósitos particulares deles. Informação barata e ruim tem na internet. O conteúdo profundo e prático está nos livros e nos padres que foram formados para formarem vocês como católicos de verdade, mas nós também queremos que vocês façam a sua parte. […] Cuidado com informações baratas na internet. Fontes de formação boa são:

a) o clero bem formado e fiel à doutrina da Igreja;

b) os livros corretos que foram sempre utilizados por aqueles que praticam a religião católica corretamente.

[…] Quantas vezes vi pessoas tratando de questões ligadas à vida conjugal… Não irei dar detalhes aqui, mas são coisas impensáveis de serem tratadas na internet. Olha, é uma vergonha. Qualquer um pode acessar sem precisar de fato estar lendo aquelas coisas. Isso pode dar muito problema. Um só pensamento malicioso que venha daí e que a pessoa consinta, ela pode cometer pecado mortal. E a pessoa [da internet] fica escrevendo coisas em público que qualquer um pode acessar. Isso aqui é uma vergonha. Uma falta de vergonha. […] Isto não pode acontecer. […] Isso aqui estraga vocês. Essas pessoas querem sucesso e serem faladas na internet. Elas não tem noção até onde as questões morais que são enviadas pra elas podem chegar. E nem vou falar até onde as coisas podem chegar em gravidade e inconsequência das respostas. Tenham cuidado com isso e se formem de maneira razoável pelos padres que formam vocês, que são fiéis à doutrina católica.”

Padre Luiz Fernando Pasquotto. Sermão para o 23º Domingo depois de Pentecostes (05/11/2023)

Os teólogos ainda diferenciam o modo como cada fiel deverá acolher a fé. A respeito:

Pe. Miguel Nicolau em “A Crise da Igreja“:

“Em suma, a fé autêntica, tal como nós, católicos, a entendemos, pressupõe e exige uma certeza racional prévia do fato da revelação de Deus. Desta forma, a fé será um assentimento prudente, firme e irrevogável, que são propriedades do verdadeiro ato de fé. Para as crianças e os rudes, a “respectiva” certeza deste fato da revelação será suficiente; Para muitos adultos, a certeza <<vulgar>>> do mesmo será suficiente. Mas aos estudantes universitários e aos estudantes de teologia que queiram proceder cientificamente devem ser dadas demonstrações científicas e objetivamente válidas deste fato fundamental para a fé.” (n. 108)

O modo como crianças e rudes, incapazes de compreender demonstrações científicas da fé, a certeza do fato da revelação será respectiva, isto é, com base na afirmação do pai ou da mãe, do professor católico, do catequista ou do pároco.

Para muitos adultos não-eruditos bastará a certeza vulgar da fé. A certeza vulgar consiste naquela baseada em motivos de credibilidade conhecidos reflexamente, mesmo que de maneira confusa. Será, muitas vezes, aquela certeza adquirida da frequência regular a Igreja, na se qual aprende que a Igreja deve ser Una em razão de estar em todo mundo e ser dirigida por um único chefe, o Papa.

Para os católicos eruditos caberá a estes a certeza científica da fé. Estudar os motivos de credibilidade da Igreja, apologética, filosofia e teologia será uma atitude necessária para o crescimento da fé.

Aqui talvez resida um dos principais enganos dos católicos conservadores, principalmente daqueles expoentes do opusdeísmo cultural. Muitos deles ao contemplarem a plêiade de santos que eram crianças, jovens ou rudes concluem que é dispensável o conhecimento e os juízos que, em regra, só os católicos com mais erudição conseguem alcançar. Confunde-se o simples com o simplório. Esta mentalidade enseja a relativização de muitas verdades que o católico precisa saber e praticar. Isto ficará claro nos próximos tópicos.

Por hora, conclui-se que, sim, o crescimento da fé exige progressos na vida de estudos de um católico. Conforme o grau de erudição, poderá ele captar mais ou menos realidades que estejam em conformidade com a fé da Igreja. Assim, um católico que estude ordinariamente liturgia terá opiniões bem formadas sobre a crise litúrgica que vivemos. Uma “tia do terço”, provavelmente não. É melhor, todavia, para a vivência da fé católica, que tenhamos mais pessoas de fé que saibam discernir o trigo do joio do que ter apenas senhorinhas bem intencionadas.

Sobre a modéstia

Na Aula Especial, Bernardo, para ilustrar problemas que, geralmente, dificultam a vivência de uma fé simples, apresenta o tema da modéstia.

Transcrição:

“O Ebenézer acha que mulher não deve usar calça nunca, jamais. Nem para a academia. Só saia na altura do tornozelo pra baixo. Nada de ombros à mostra. [Decote] é 5 cm do pescoço em volta. Nada de unhas vermelhas, batons. Nada. Os homens, bermuda? Jamais. Ai do homem que pisar na Igreja sem traje social completo. A rigor com um colete e camisa abotoada até em cima esganando. Qualquer coisa diferente disso é pecado, pecado de irreverência para com Deus.

Mas tem outro tipo. Qual seria a opinião do nosso católico de geleia, aquele que não usa a razão e se baseia nos sentimentos. Este tipo […], o Enzo, acha que não tem problema nenhum botar um shortinho florido todo “bacanudo”, havaianas, uma camisa cavada aqui, uma regatinha para participar do sacrifício incruento de Cristo como quem vai pegar uma praia logo em seguida. Ele acha que não tem nada demais a namorada dele sair da academia e dar uma passadinha rápida na Igreja com roupa colada…

Fora essa loucura, o que é o básico, o que é o essencial na discussão sobre modéstia?

Primeiro, para começar, reduzir modéstia a roupa é sinal de burrice. É um erro tremendo! Você tem que entender que modéstia nada mais é do que a manifestação externa, pra fora, de uma virtude interna que você já carrega em você chamada temperança.

A temperança ajuda a ordenar os nossos desejos, a ter autocontrole, moderação, equilíbrio, sobriedade, autodomínio. Por exemplo, se você pegar os bons livros, não os ruins que, às vezes, circulam por aí sobre o assunto, você vai ver que o tema da modéstia do vestir sempre vem acompanhada de uma palavrinha chamada costume. O que é costume? O costume da época, a moral do local que os papas sempre falaram. Ou seja, você acha que uma mulher usando uma calça, não as embaladas à vácuo, mas aquela normal, você acha que isso foge ao costume da nossa época? Me responda!”

Em seguida, Bernardo passa a apresentar Santa Joana D’Arc de armadura, Santa Gianna Molla de calça, Beato Carlo Acutis numa trilha e o Venerável Guido Schaeffer surfando na praia. Segundo Bernardo, estes exemplos são para dar um “empurrãozinho” para o espectador tirar suas próprias conclusões sobre modéstia.

Bernardo diz que Santa Joana conduziu o exército francês em Guerra dos 100 anos, usou roupas masculinas, utilizou calças até o último momento de sua morte.

Sobre Santa Gianna, Bernardo apresenta ela como mãe, médica, santa, mas que usava calças.

Depois de mencionar Carlo Acutis e Guido Schaeffer, Bernardo pergunta aos espectadores se alguém vai questionar se eles foram santos ou modestos só porque eles usaram bermuda ou calça.

Bernardo termina o tema dizendo:

Quando você sabe o essencial sobre o tema e o que Deus espera de você, você se torna capaz de buscar a virtude da temperança, de agir e pensar de modo modesto. Porque modéstia é, acima de tudo, sobre não chamar a atenção para si. Vou repetir: Não chamar a atenção para si.” [47’45”]

Ao que parece, a aparição do personagem Enzo é apenas uma cortina de fumaça. O alvo deste tema são os tradicionalistas, que são os primeiros a questionarem o uso de calças e de outras roupas masculinas por mulheres. Bernardo os caricaturiza, pois, obviamente, não há grupos tradicionais conhecidos (IBP, Administração Apostólica, FSSPX, etc.) que obrigam homens usarem roupas sociais e mulheres vestidos pouco acima do tornozelo.

Sabe-se que a esposa de Bernardo, Glória Küster, é consultora de moda e estilo (profissão oriunda de um problema pós-moderno que explicaremos), de acordo com o seu Instagram, mas de uma moda “Opus Dei”, em que ser modesto significa principalmente estar elegante conformemoda atual, e não necessariamente de acordo com os princípios da modéstia no vestir. Não é improvável que Bernardo seja muito influenciado pela esposa neste assunto.

Para qualquer um que leia o artigo “Critérios seguros para a modéstia no vestir” verá com nitidez que o entendimento de “modéstia” de Glória não se coaduna com os princípios indicados por padres, santos e teólogos sobre o tema, mas com o de “elegância” atual, muito incentivada pelo opusdeísmo cultural. Exceto a cobertura das partes privadas, nenhum outro princípio é observado por Glória em suas dicas de moda.

Em seu Instagram há dicas para valorizar as pernas:

Gloria Kuster

Incentivo ao uso de mini saia:

Gloria Kuster incentivando uso de mini-saia

Valorização de princípios que são perigosos para a modéstia no vestir como o da independência e autonomia para se vestir como se quer:

Gloria Kuster quer que seja transmitido independência e liberdade


Basta. Voltemos ao Bernardo.

Primeiramente, o jornalista alega que quando se sabe o essencial sobre modéstia é possível agir de modo modesto. Concordamos. Mas Bernardo acerta na definição sobre modéstia, isto é, sobre o essencial desta virtude? Não, não acerta.

Bernardo cai no mesmo erro de Angélica Baldi que relatamos no artigo “Conservadores católicos se rendem à imodéstia“, no qual a terapeuta dá a mesma definição de modéstia de Bernardo, isto é, que esta virtude consiste em “passar despercebido”. Todavia, como expusemos, esta definição de modéstia é completamente desconhecida pelos teólogos católicos.

Se “passar despercebido” fosse a definição de modéstia, será que os modelos de “estilo criativo” de Glória Küster passariam no teste?

Gloria Kuster - Modelos criativos


Evidente que não.

Bernardo também se concentra no problema da calça. Tradicionalistas são os principais objetores do uso de calças, e Bernardo busca respondê-los. Contudo, não seria prudente se perguntar se o argumento tradicionalista não é verossímil sobre este tema?

Façamos uma digressão.

A calça foi pensada para facilitar a destreza no andar, os trabalhos pesados e a luta numa guerra. Ou seja, quando foi imaginada, se presumia o uso da calça em um universo essencialmente masculino e até século XX ela não era popular entre as mulheres.

São Pio X, no ano de 1911, em publicação do Osservatore Romano, condenou as calças jupe culotte de estilistas como Paul Poiret, não porque fossem imodestas, mas porque eram feitas para eliminar as diferenças sexuais e se tratava de uma moda contrária às leis francesas, já que se proibia o uso de calça por mulheres (foram proibidas até o ano de 2013).

Cardeal Siri, por sua vez, certa vez alertou que as calças não contribuíram para um aumento de feminilidade. Ao contrário, segundo o Cardeal, as calças:

1. mudaram a psicologia da mulher, que passou a se ver igual a um homem.
2. corromperam as relações entre homens e mulheres, pois a calça sensualizou a mulher.

O teólogo Arthur Vermeersh indica como “vestes proibidas”, pecaminosas, entre outras, aquelas “que se apegam de tal maneira ao corpo que, ou exibem toda a forma do corpo ou acentuam as características sexuais. (Teol. Moralis Princípia-Consiliae-Responsa. De Ornatu muliebri, nº 126, cfra. Zalba: Theol. Moralis V. II, 236 1-b; Dicionário de Theol. Moralis – Verbete: “vestido”).

Ora, um Papa condenou uma calça que seria tida por católicos conservadores como “modesta”, um país inteiro proibia calças femininas até o século XXI e teólogos e homens da Igreja diversas vezes advertiram sobre perigo social delas. Será mesmo que não é legítima a objeção que tradicionalistas trazem? Não é justo que busquem elevar o padrão da modéstia questionando o uso feminino de uma peça que já foi considerada por eclesiásticos e autoridades públicas como imodesta e masculizante?

Conservadores simplesmente não conseguem responder adequadamente esta objeção demonstrando que a preocupação do “Ebanézer”, neste ponto, é infundada. Então o que fazem? Apelam para o exemplo dos santos. Porque usar nominalisticamente o exemplo dos santos é a forma mais fácil de esquivar-se de uma confrontação real de ideias.

Bernardo aqui não faz diferente. Apresenta Santa Joana D’Arc e Santa Gianna Molla em favor da calça. Comecemos com Santa Joana.

Bernardo descreve Santa Joana como uma mulher que liderava um exército e que usava roupas masculinas até o fim da sua vida. Pois bem, perguntemos: será que ser guerreira e usar roupas masculinas é um modelo para as mulheres? É claro que não!

Conforme demonstramos no artigo “O Trabalho da Mulher Casada e a Direita Feminista“, São Pio X ensinou que a guerra está fora da esfera adequada para as mulheres:

“Depois de criar o homem, Deus criou a mulher e determinou a sua missão, a saber, a de ser sua companheira, auxílio e consolação… É um erro, portanto, sustentar que os direitos da mulher são iguais aos do homem. As mulheres na guerra ou no parlamento estão fora da sua esfera adequada, e a sua posição lá seria ser o desespero e a ruína da sociedade. A mulher, criada como companheira do homem, deve permanecer sob o poder de amor e carinho, mas sempre sob seu poder. Quão equivocado, portanto, é esse feminismo que busca corrigir a obra de Deus. É como um mecânico tentando corrigir os sinais e movimentos do universo. As Escrituras, e especialmente as três epístolas de São Paulo, enfatizam a dependência da mulher do homem, o seu amor e assistência, mas não sua escravidão a ele.”

Além disso, o uso de roupas masculinas só pode ser escusado em caso de necessidade, como ensina o Aquinate:

“O vestuário exterior deve ser consistente com o estado da pessoa, de acordo com o costume geral. Portanto, é em si pecaminoso que uma mulher use roupas de homem, ou vice-versa; especialmente porque esta pode ser a causa do prazer sensual; e é expressamente proibido na Lei (Dt 22)… No entanto, isso pode ser feito às vezes por alguma necessidade, seja para se esconder dos inimigos, ou por falta de outras roupas, ou por alguma outra razão semelhante” (Summa Theologiae II – II, questão 169, artigo 2, resposta à objeção 3).

Então o que explica Santa Joana D’Arc?

Conforme se constata da biografia de Santa Joana, a sua entrada no exército francês se deu por inspiração divina. Aos 13 anos, Santa Joana recebeu uma missão do próprio Deus para liderar seu país na Guerra dos 100 anos.

Possivelmente, Deus quis demonstrar por meio deste frágil e improvável instrumento, uma mulher, que o fim da Guerra dos 100 anos se daria por uma intervenção sobrenatural. Grandes prodígios aconteciam nas batalhas quando Joana comandava o exército. Intervenções divinas desse tipo são bem conhecidas nas Sagradas Escrituras, basta verificar a história de Débora (Jz 4), dos 300 de Gideão (Jz 7-9) e do cerco de Jericó (Js 6).

Portanto, Santa Joana não é um exemplo ordinário para as mulheres a respeito da profissão que devem exercer e nem das roupas que devem vestir. Santa Joana é um caso extraordinário que não pode ser exatamente imitado por todas as mulheres.

Contudo, quanto à representação universal de Santa Joana, ela é, geralmente, representada de armaduras e de saia, para que sua feminilidade não fique totalmente ocultada:

Santo Joana d'Arc

Santo Joana d'Arc ajoelhada


E Santa Gianna Molla?

Aqui, ressaltemos, novamente, as nossas considerações do artigo “O Trabalho da Mulher Casada e a Direita Feminista“:

Primeiramente, é preciso recordar que os santos não viveram sempre nas condições ideais desejadas pela Igreja e nem tudo em suas vidas é realmente imitável.

Em segundo lugar, se há conflito entre a vida de um santo e a doutrina da Igreja devemos preferir sempre a última, pois ela sim é lâmpada para os nossos pés e luz para os nossos caminhos. Os ensinos da Igreja são seguros e perenes, mas a vida de um santo pode ter muitas influências condicionadas pela mentalidade de seu próprio tempo.

No caso de Santa Gianna, verificamos que alguns fatos da sua vida não são imitáveis por influências condicionadas à mentalidade de seu tempo. Santa Gianna, conforme apontamos no referido artigo, teve enormes dificuldades de conciliar suas atividades profissionais com seus deveres de mãe e esposa, a ponto de Pietro Molla pedir que ela considerasse deixar o emprego.

Assim, é razoável concluir que Santa Gianna, no que diz respeito às calças, apenas seguiu as influências do seu tempo da mesma maneira como tentou equilibrar o emprego e os deveres domésticos, isto é, tal como uma mulher moderna.

A representação sacra de Santa Gianna, no entanto, não é ela de calça, mas de vestido.

Estátua de Santa Gianna Molla com seus filhos

Outras mulheres que rumam aos altares também seguiram o mesmo padrão. Aqui façamos menção a Chiara Petrillo no uso de biquínis, roupa severamente reprovada pelos teólogos e Papas, como demonstramos no artigo “Conservadores católicos se rendem à imodéstia“:

Foto imodesta de Chiara Petrillo

Vemos assim que apresentar santos que usaram roupas X ou Y imodestas não é um argumento para demonstrar que elas não são imodestas. Apenas ilustra o que queríamos apontar desde o início: nem tudo na vida dos santos é realmente imitável.

A respeito convém o artigo do escritor católico Peter Kwasniewski no artigo “Carlo Acutis e o Perigo dos Santos de Propaganda

Deus trabalha com quem somos em nossa natureza humana em qualquer momento; Ele trabalha com as características, habilidades e talentos que temos. Deus toma nossa natureza humana em sua imperfeição e, se estivermos dispostos, santifica nossas almas, o que não significa corrigir todas as falhas naturais da mente ou do corpo, e às vezes significa deixar certas falhas como fraquezas através das quais Seu poder pode triunfar. De fato, até mesmo o grande apóstolo Paulo falou de um “espinho em sua carne” do qual ele implorou ao Senhor para livrá-lo, mas Deus não o fez (veja 2 Cor 12:6–7).

No ponto em questão, se alguém tem pouco ou nenhum gosto em música, arte ou literatura, ou uma educação limitada, sabemos que Deus ainda pode levar essa pessoa a Si mesmo, trabalhando  dentro  dessas limitações, mas não  por causa  delas. Observe bem: simplesmente porque elas não são impedimentos à ação de Deus não as faz deixar de ser limitações — isto é, privações de perfeições devidas em uma natureza humana perfectível.

Tal santo em progresso será gradualmente desmamado de quaisquer  atrações inerentemente  pecaminosas. Mas Deus não faz normalmente de uma pessoa analfabeta um estudioso de Rhodes ou um artista talentoso, por mais generoso que Ele seja em Seus dons de graça real e santificadora. Mesmo com um santo em formação, seria necessária uma  educação real  da natureza humana de tal pessoa, e  esforço real  de sua parte, para trazer melhorias nessas áreas. Este não é o trabalho da graça — pelo menos não necessariamente.

O site do Padre Paulo Ricardo, também citando Peter Kwaskiewski, ponderou sobre a tendência atual de santificar todos os aspectos da vida de um santo pelo simples fato dele ter sido canonizado:

No que tange aos santos que viveram sob a nova barbárie cultural de nossos tempos, devemos tomar o cuidado de não “canonizar”, junto com a santidade deles, algo incidental a respeito de suas vidas modernas. Isso vai acontecer com bastante frequência de agora em diante. “Ah, o Beato Betinho gostava tanto de música pop! Não é maravilhoso? A música pop agora faz parte da santidade! Não importa o que você escuta ou dança!”, ou: “A Santa Carol amava sair por aí de moletom e com camiseta rosa fluorescente! Acredito que não importa mais como você se veste quando o assunto é ser santo”. É possível imaginar todos os tipos de cenários e falsas inferências como essas.

O modo de contornar esse problema — que, para ser justo, tem paralelos em toda época da Igreja; por exemplo, os santos da Idade Média tinham notavelmente uma má higiene, mas ninguém, ao meu conhecimento, sugere que os devamos imitar nesse aspecto — é lembrar a relação, e a distinção, entre fé e razão, natureza e graça. Um homem notável por sua santidade pode não o ser nos argumentos que apresenta de teologia; uma mulher de santidade indiscutível pode não ter bom gosto em matéria de arte. Como discípulos do Doutor Comum da Igreja, Santo Tomás de Aquino, precisamos ser capazes de fazer distinções e imitar o que merece ser imitado, desculpando, ao mesmo tempo, o que pode ser desculpado, ou ignorando o que é melhor que seja ignorado.

Considere o seguinte: se fosse necessário escolher, melhor seria dedicar-se à oração e ouvir música medíocre, ou vestir-se de modo medíocre, do que ser um egoísta mentiroso com gosto impecável em abotoaduras e gravatas-borboleta; mas o melhor é ser, ao mesmo tempo, santo e bem educado, piedoso e inteligente, porque isso representa uma perfeição mais completa da humanidade tal como Deus a pensou. Graças sejam dadas a Ele por podermos alcançar a bem-aventurança apesar de certos defeitos nossos, mas nem por isso eles se tornam admiráveis ou dignos de imitação.

Do exposto, se conclui aquilo que afirmamos no início deste artigo, a fé autêntica de um católico não significa uma instrução perfeita, principalmente se ele for criança (caso de Carlo Acutis), rude ou um adulto não erudito, o que parece ser a situação de Santa Gianna, Chiara Petrillo, Guido Schaeffer, etc. O biquíni de Chiara Petrillo não se tornará modesto porque ela utilizou, mas Chiara Petrillo poderá ser escusada de imodéstia na medida que agia de boa-fé e de acordo com a instrução que tinha.

Por fim, Bernardo, em defesa do uso de calças, faz referência ao costume. Argumenta que o costume é sempre citado nos bons livros de modéstia como fator a ser considerado no uso de roupas. Assim, a calça, sendo um costume generalizado entre as mulheres ocidentais, poderia não ser imodesto, já que é um traje costumeiro.

Há, de fato, muita verdade no que fala Bernardo. O costume é um grande parâmetro para a modéstia no vestir. Contudo, é preciso olhar o costume sob a luz correta. Costumes corrompidos de uma sociedade não podem ser seguidos. Apenas se o costume estiver de acordo com os princípios da modéstia que ele se torna um grande auxílio para a modéstia no vestir.

A respeito, o Pe. Luiz Fernando Pasquotto, IBP, fez uma bela consideração sobre o costume:

“Ao contrário de um pós-moderno, eu me visto para indicar o que eu sou. Eu não sou o resultado final a partir do que eu escolhi para me vestir.

A moda é uma característica da pós-modernidade. Você que escolha a roupa para ser de um certo jeito. Em outro dia você será de outro jeito, a partir do modelo de roupa que você vestir naquele dia.

Um dos problemas da modéstia, hoje em dia, é que não existe um costume da roupa de cada lugar. Cada um escolhe a roupa que quer. Se a pessoa não tem princípios, é um desastre.

Podem perceber. A gente tem que ficar o tempo inteiro refletindo se a roupa que a gente está usando é razoável ou não. Onde se tinha costume consagrado no lugar, ninguém pensava nisso aí. É aquela roupa e pronto. Não tem erro.

Uma das coisas que facilitou enormemente a imodéstia foi deixar ao critério de cada um como é que se deve vestir. Não estou dizendo que você deve ser totalitarista e impor uma roupa, mas era um costume baseado nas características daquele povo. Eles tinham se dado aquela roupa e ficava de modo estável. A modernidade fez questão de destruir isso daí e agora só tem os destroços.” [33’07”]

Conferência “Modernidade, pós-modernidade e a família” – III Jornada de Casais da Capela N. Sra. das Dores, IBP.

O costume autêntico seria, portanto, aquele que distingue o estado de vida e o sexo da pessoa, salva o pudor e ainda é oriundo das características de um certo povo.

A calça moderna, evidentemente, não segue esses padrões. A calça feminina não distingue adequadamente as diferenças sexuais entre homem e mulher, não é eficaz para guardar o pudor e é um produto baseado no fundamento ideológico de que a mulher pode se vestir como ela quiser.

Se a calça fosse um costume autêntico para o público feminino, a moda pós-moderna certamente não existiria e não teríamos tantas consultoras de imagem e estilo por aí…

Sobre o Concílio Vaticano II

Bernardo em seguida passa a tratar do Concílio Vaticano II. E traz três problemas relacionados a ele: o idioma da missa e o idioma da missa. Conclui que nem o “Ebenézer” e nem o “Enzo” seguem o que a Igreja ensina a respeito e que fazem “livre interpretação dos textos do Magistério”. Diz ainda que a Igreja sempre esteve em crise e o que importa hoje é como seremos santos.

Reforma Litúrgica

Bernardo, no entanto, não se delonga neste assunto. Ele sabe que é espinhoso.  É injusta a ponderação de que o que Enzos e Ebenézers fazem com o Concílio é “livre interpretação do Magistério”. A respeito da Reforma Liturgia, o que foi que o Concílio realmente disse?

Segundo o Kenneth D. Whitehead, insuspeito de tradicionalismo, o mau resultado da Reforma Litúrgica teria se dado em razão da abrangência das reformas pedidas pela Sacrossanctum Concilium, que não poderiam resultar em algo orgânico, juntamente com a intervenção acrítica dos liturgistas profissionais:

“A própria abrangência e complexidade do que estava implicado na decisão do Concílio Vaticano II de reformar toda a liturgia da Igreja Católica estavam quase fadadas, pela natureza das coisas, a resultar em muitos erros e até mesmo instruções conflitantes na efetiva execução das reformas conciliares. Ninguém sabia, ou não poderia saber, de antemão, como implementar as reformas litúrgicas, ou como elas iriam funcionar. E, às vezes, as próprias reformas particulares não foram decretadas em resposta a qualquer mandato específico do Concílio ou da necessidade dos fiéis. Em vez disso, muitas vezes, como sugerimos, elas parecem ter sido implementadas seguindo várias teorias de alguns de nossos “liturgistas” profissionais contemporâneos.” (Mass Misunderstandings: the mixes legacy of the Vatican II liturgical reforms, p. 103)

Sim, um escritor católico continuísta está dizendo que a culpa pela crise litúrgica que passamos é do próprio Concílio Vaticano II, porque a reforma pedida foi ampla demais e não deu instruções suficientes de como fazê-la, sem contar quando não deu instruções objetivamente conflitantes. “Enzo” e “Ebenézer” são apenas frutos do embate sobre o que a Sacrossanctum Concilium quis dizer.

A crise litúrgica tornou-se tão caótica que um católico que tente viver uma fé simples indo à missa diariamente é ordinariamente desafiado pelos abusos litúrgicos. Hoje, por causa reformas feitas, infelizmente, desenvolver uma espiritualidade litúrgica tornou-se praticamente impossível. Estes desafios os santos “simples” de antigamente simplesmente não enfrentaram. Eles podiam ir à missa tranquilamente e aurir dela os mais belos frutos da devoção eucarística. Atualmente, dificilmente temos essa opção.

Sem uma liturgia correta também não temos acesso à Tradição, visto que a liturgia é o principal canal da Tradição.

Pontua-se assim que é equivocada a comparação de Bernardo da crise atual com as crises pretéritas da Igreja. Bernardo cita crises em que a Igreja foi perseguida e santos foram martirizados. Porém, devemos dizer que crises de perseguição são crises gloriosas. Vivemos, no entanto, uma crise de natureza pior: uma crise de tibieza, falta de sabedoria e, principalmente, de profunda impiedade e confusão. Nenhuma crise da Igreja foi capaz de descaracterizar universalmente a liturgia católica. A nossa crise foi. Nenhuma crise foi capaz de praticamente extinguir as missões. A nossa crise foi. Nenhuma crise foi capaz de fazer padres abandonarem voluntariamente suas batinas. A nossa crise foi. Nenhuma crise foi capaz de produzir ódio do clero à Liturgia Romana tradicional. A nossa crise foi.

Sabemos que a Igreja já é vitoriosa pelas promessas de Cristo, mas não é nenhum tradicionalismo reconhecer que o momento da Igreja é grave e talvez o mais grave que ela já viveu.

Liberdade Religiosa

Sobre a liberdade religiosa, não houve explicação suficiente do Magistério a respeito. Foram inúmeros os esforços de teólogos e filósofos católicos para tentar explicá-la. Citemos apenas alguns nomes: John Murray, Brian Harrison, Basile Valuet, Bernard Lucien, Kenneth Whitehead, Matthew Levering, Joathas Bello, Rafael Llano Cifuentes… Quem está certo?

O tema da liberdade religiosa é um dos mais disputados e espinhosos do Concílio Vaticano II. Sua compreensão é dificultada, principalmente, pela sua linguagem, em razão do uso de expressões anteriormente condenadas pela Igreja, e pela práxis pós-conciliar do Vaticano. Foram feitas muitas revisões de concordatas que tiveram como resultado a simples entrega de nações católicas ao laicismo estatal.

Ademais, quando um católico ouve, por exemplo, que o sonho do Papa é uma Europa saudosamente laica, é inequívoco que ele poderá encontrar dificuldades em ver continuidade entre Dignitatis Humanae e a doutrina da Realeza Social de Nosso Senhor Jesus Cristo.

As dificuldades, portanto, que muitas vezes geram Enzos e Ebenézers são reais, não apenas “frescuras” de um católico que não consegue viver uma “fé simples”. Ebenézers, em regra, são católicos de boa formação e que necessitam de demonstrações científicas da doutrina. Não é justo culpá-los de não ter uma “fé simples” quando o que buscam é apenas a recepção da fé conforme o seu grau de instrução.

Conclusão

A pretensão de Bernardo cremos que é reta. Ele apenas quer ensinar uma “introdução ao Catolicismo” ou dar as “linhas gerais” da religião católica, mas parece fazer isso tendo como foco de desconstrução principal o “Ebenézer”, o católico tradicionalista.

Como relatamos aqui, a nova vibe do catolicismo brasileiro é o opusdeísmo cultural cujo efeito é a desconstrução da onda tradicional que perdurou entre os anos 2011-2019.

Contudo, a experiência mostra que a fé católica é vivida de maneira muito mais simples em ambientes tradicionais. É inequívoco que nestes ambientes os princípios católicos são melhor compreendidos, como demonstrou a pesquisa da Pew Research de 2021, e é a boa vivência dos princípios que deixa a vida católica mais simples.

Citemos alguns exemplos:

1)  modéstia nos ambientes tradicionais deriva, geralmente, de autênticos costumes. Mulher com roupas de mulher. Homem com roupas de homem. Sejam roupas sociais ou não, a distinção é clara e eficaz. A modéstia “Opus Dei”, porém, não. Ela deriva da elegância mundana, que por sua vez parte do princípio liberal de que cada um deve se vestir como quer, conforme sua própria autenticidade. Saia de um ambiente tradicional que custodia a modéstia e você verá do lado de fora apenas pessoas confusas, perdidas, a ponto dos próprios santos serem contaminados pela confusão generalizada. Provamos aqui que o próprio Bernardo confundiu-se sobre o conceito de modéstia que buscava esclarecer.

2) A música litúrgica de ambientes tradicionais é realmente sacra. A música litúrgica das paróquias comuns é guitarra, violão e bateria e um monte de cantos de bandas carismáticas. Tradicionais não precisam “batalhar” para ter uma liturgia digna, eles simplesmente as têm. Não é mais simples ser católico assim?

3) A comunhão em ambientes tradicionais é apenas de joelhos e na língua. Esta maneira tradicional não comunica de forma muito mais eficaz e simples a reverência com a Santíssima Eucaristia?

4) A Missa Tridentina não é um eficaz modelo para a boa celebração da Missa Paulina?

A fé da Igreja sempre foi muito simples, porque ela, na maturidade, foi tradicional. O Catolicismo Tradicional é a própria síntese da fé pura e simples. Encampar batalha contra os tradicionais é, com toda a certeza, tornar a fé mais complexa e difícil de ser compreendida.

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