Conteúdo do Artigo

Últimos Artigos

O Papa Francisco defendeu o latim?
Os Tradicionalistas e o Novo Papa
1ª Homilia do Papa Leão XIV: "É essencial que também nós repitamos: 'Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo'"
Leão XIV. Primeiras reflexões
O "conclave relâmpago" é a armadilha para um mau meio-termo

Categorias

Colunas

Augusto Pola Júnior

Blog do Augusto

Martelo dos Influencers

Em breve

Padre Javier Ravasi

Que no te la cuenten

O Papa Francisco defendeu o latim?

Jornalista Mirticeli Medeiros - Globo News
Fonte da imagem: captura de @GloboNews's video Tweet

A vaticanista Mirti Medeiros esbravejou: Há quem deseje apagar da memória o Papa Francisco com “damnatio memoriae” no que se refere ao latim, como se o pontífice nunca tivesse recorrido à língua da Igreja em suas celebrações.

Sim, ele rezou em latim. A questão aqui não é se Francisco usou a latim, mas se o defendeu — e mais ainda, se o fez florescer. O fato da prece não é negado, o que se discute é a alma do gesto.

Há uma diferença entre tolerar um milagre e promovê-lo. Entre não impedir uma vela de queimar e abastecer os candelabros do templo.

Para se determinar, com objetividade, se um Pontífice foi um verdadeiro defensor da língua de Cícero, é necessário responder duas perguntas fundamentais:

  • (i) Quais são os meios ordinários pelos quais o latim se propaga na Igreja?
  • (ii) O Pontífice em questão promoveu esses meios com eficácia e constância?

Ora, a liturgia e o canto constituem, historicamente, os veículos privilegiados de conservação e difusão do latim na Igreja. Abandoná-los equivale, por força das circunstâncias, a reduzir consideravelmente a vitalidade da língua eclesiástica.

Paulo VI, com toda a tragédia de um homem dividido entre o espírito do Concílio e os ventos do mundo, declarou — não em rumor, mas com palavras claras — que o latim seria sacrificado, e que a nova era falaria em vernáculo. Também profetizou o fim do canto gregoriano, que é a alma do latim entoada em notas que sobem como incenso.

Francisco seguiu a mesma trilha, mas com passos mais apressados.

  1. Retirou o latim dos sínodos: um passo simbólico e funcional contra sua presença no governo da Igreja.
  2. Restringiu a Missa Tridentina: o último templo onde o latim ainda era o idioma da eternidade. Isso equivale, praticamente, a reduzir o latim à irrelevância pastoral.
  3. Ordenou que o Evangelho fosse lido em vernáculo mesmo onde a antiga Missa era celebrada: um gesto que simboliza a marginalização da língua e sua suposta “incompreensibilidade”, conceito frequentemente usado como pretexto por correntes que desejam erradicar o latim da vida litúrgica.
  4. Não cantava: há quem diga, com voz de desculpa piedosa, que “jesuítas não cantam”. Mas essa justificação não se sustenta. O sucessor de Pedro não é um membro de clube: é uma rocha que deve conservar com diligência aquilo que recebeu de seus predecessores — como bem recordava o antigo juramento papal. Ainda outros dizem que isto é uma quimera sem importância, mas o novo sucessor de Pedro cantou e parece que rugiu.

Por fim: no livro “Esperança”, Francisco narra com admiração o episódio de um cardeal norte-americano que, ao ser procurado por dois padres recém-ordenados desejosos de aprender a celebrar em latim, recomendou-lhes, ao invés disso, que aprendessem vietnamita, dada a presença de imigrantes do Vietnã na diocese. Tal atitude, embora pastoralmente bem-intencionada, revela um traço característico do pontificado argentino: a subordinação do elemento universal da Tradição à lógica da pastoral de ocasião. Igual a ele foi Paulo VI e, de modo geral, ainda o é o horizonte conciliar.

Não se trata aqui de negar méritos ou virtudes ao Pontífice, mas de restituir à realidade histórica e eclesial sua legítima complexidade. A verdade, mesmo quando desconfortável, deve ser preferida à narrativa construída com fins ideológicos.

Os francisquistas — raça curiosa que parece confundir São Francisco com o Papa Francisco e este com o próprio Espírito Santo — não gostam muito de distinções. Preferem os superlativos. Para eles, o Papa não foi apenas bom — foi o mais bom, o mais humilde, o mais novo, o mais velho, o mais qualquer coisa desde Jesus Cristo.

O que tentam fazer com Francisco é uma espécie de damnatio memoriae ao contrário: não se tenta apagar um nome, mas reescrevê-lo.

A verdade é que o maior promotor do latim depois do Concílio não foi Francisco, nem Paulo VI, nem mesmo João Paulo II — foi Bento XVI, o Papa de voz serena e coração monástico. Bento não apenas falava o latim — ele sonhava em latim. Ele não apenas o permitiu: ele o ergueu. Fundou a Pontifícia Academia de Latinidade, libertou a Missa tradicional, reavivou a Veterum Sapientia, e, sobretudo, rezava como quem sabia que cada palavra latina é uma relíquia viva.

Mas mesmo se ninguém o tivesse feito — mesmo se todos os Papas o tivessem deixado de lado — o latim ainda voltaria. Pois ele não vive por decreto, mas por milagre. Ressurgiu com Leão XIV e ressurgirá em catacumbas e capelas, em seminários esquecidos e corações fiéis. Porque o latim é a língua da memória da Igreja — e uma Igreja sem memória não é Igreja, mas construção em areia.

Compartilhar

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Telegram

Seja Membro Patrocinador

Cursos Exclusivos | Acesso a Artigos Restritos |
eBook/Leitura (Em breve) | Desconto na Loja

Assinatura Anual:
R$ 119,90
(R$ 10,00 por mês)

Assinatura Semestral:
R$ 89,90
(R$ 15,00 por mês)

Picture of Leandro Monteiro

Leandro Monteiro

Todos os posts do autor
Papa Francisco consagração da Rússia e da Ucrânica ao Imaculado Coração de Maria
Opinião sobre a consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria
A pedido de vários leitores, faço esta reflexão acerca da consagração da Rússia à Virgem Maria que o...
A Grande Apostasia e o Katejon
A Missa Tridentina e o Katejon
A Reforma Litúrgica, os abusos na missa absolutamente fora de controle e a perseguição ao Rito Romano...
Moças de véu na missa
O reavivamento da tradição católica segundo a revista Veja
Esta semana um afamado veículo de imprensa brasileiro publicou uma matéria sobre a expansão do catolicismo...
Andrea Grillo, teólogo liturgista progressista
Messa in Latino entrevista prof. Andrea Grillo sobre a Liturgia Tradicional: "A Igreja não é um clube de notários ou de advogados"
Não é todo dia em que vemos a entrevista de um tradicionalista com um dos progressistas mais influentes...
Dom Odilo coloca Nossa Senhora aos pés de Buda (evento de 2017)
Dom Odilo Scherer on fire!
Eis que em seu twitter, o Cardeal Dom Odilo Scherer, responsável pela arquidiocese de São Paulo, fez...

Comentários

Deixe um comentário

Search

Últimos ISA Cursos

Curso - Tópicos sobre a Oração
Filotéia ou Introdução à Vida Devota de São Francisco de Sales
I Seminário de Psicologia Tomista do Instituto Santo Atanásio
Curso - A Mística do Templo na Espiritualidade Beneditina
Curso Mistagogia Cristã - Instituto Santo Atanásio - ISA MEMBROS

Eventos presenciais

Carrinho de compras