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O PHN é um avivamento católico? Uma breve reflexão.

26ª edição do acampamento PHN ("Por Hoje Não")

No último 14 de julho, foi encerrada a 26ª edição do acampamento PHN (“Por Hoje Não”) em Cachoeira Paulista – SP cujo tema foi “Ou Santos ou Nada”.

O evento contou com um recorde de público contando com cerca de 187 mil fiéis. O acampamento teve ainda a participação de católicos influentes como Frei Gilson, Pe. Roger Luis, Pe. Paulo Ricardo, Pe. Marcelo Rossi, entre outros.

Em nosso artigo “Conservadores católicos se rendem à imodéstia” destacamos que duas características da vibe católica do momento são a indiferença à crise litúrgica e a mundanização da santidade:

Indiferença à crise litúrgica. Abandonou-se o debate sobre a qualidade das missas. Jargões como “Domingo sem missa, semana sem graça”, mesmo numa celebração cheia de abusos litúrgicos e música insuportável, passaram a ser a tônica do momento. De repente, os abusos não têm mais importância, desde que haja muita “devoção” na liturgia. Sem nenhuma surpresa, o carismatismo ganhou grande força entre católicos conservadores nos últimos anos. 

Mundanização da santidade. O arquétipo de santo para esses católicos é o que chamaremos de “santo de calça jeans”, isto é, aquele que se parece mais mundano do que cristão; aquele que pouco renuncia às coisas mundo. É santo, mas vai à praia, à balada, aos shows, etc. Santo não é mais aquele que pratica a caridade e a penitência com heroísmo, e sim aquele que é “feliz por ser católico” e também por ser mundano.

Vemos no carismatismo brasileiro algo semelhante. É comum ouvir de pregadores carismáticos exortações à santidade com dizeres do tipo “Precisamos ser santos”, “Nascemos para a santidade” seguindo-se por inúmeras frases de santos. Todavia, ignoram os instrumentos ordinários que forjaram os santos durante a História da Igreja.

A grande forja de santos e maior fonte de vida da Igreja é a Sagrada Eucaristia. O amor à Eucaristia pode-se traduzir em piedade litúrgica. Um autêntico avivamento católico precisa necessariamente passar pelo avivamento litúrgico. Esta é a conclusão mais manifesta que se extrai do  ensino da Sacrosanctum Concilium:

“Contudo, a Liturgia é simultaneamente a meta para a qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte de onde promana toda a sua força. Na verdade, o trabalho apostólico ordena-se a conseguir que todos os que se tornaram filhos de Deus pela fé e pelo Batismo se reúnam em assembleia para louvar a Deus no meio da Igreja, participem no Sacrifício e comam a Ceia do Senhor.

A Liturgia, por sua vez, impele os fiéis, saciados pelos «mistérios pascais», a viverem «unidos no amor»; pede «que sejam fiéis na vida a quanto receberam pela fé»; e pela renovação da aliança do Senhor com os homens na Eucaristia, e aquece os fiéis na caridade urgente de Cristo. Da Liturgia, pois, em especial da Eucaristia, corre sobre nós, como de sua fonte, a graça, e por meio dela conseguem os homens com total eficácia a santificação em Cristo e a glorificação de Deus, a que se ordenam, como a seu fim, todas as outras obras da Igreja.” (n. 10)

“Avivamento”, portanto, só pode ter como causa a fonte de vida da Igreja, isto é, a Liturgia, visto que é dela é que a Igreja retira toda a sua força.

Contudo, quando observamos as missas do PHN ou carismáticas em geral, constatamos que a missa, muitas vezes, é apenas um apêndice dos shows carismáticos.

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Nota-se, por exemplo, a Missa do Pe. Marcelo Rossi no PHN deste ano: 

Verificamos nesta missa os mesmos erros que citamos no artigo “Sobre o Tradismatismo“:

A Renovação Carismática ainda possui muitos trejeitos protestantes. Ela não consegue separar muito bem, por exemplo, o que é próprio para grupos de oração do que é adequado para a liturgia.

A RCC, ordinariamente, ao invés de se render ao sensus perennis universalis Ecclesiae da tradição musical católica, promove na liturgia, via de regra, a marca e o estilo dos seus próprios grupos, geralmente gospel, e assim massificam o seu produto musical.

Toda a missa do Pe. Marcelo é envolvida por músicas não litúrgicas, pedido de palmas, conversações intermináveis, performances, isto é, imersa em abusos litúrgicos.

Note-se ainda que, ao pronunciar as Palavras da Consagração, Pe. Marcelo envolve o ato de certa teatralidade sorrindo o tempo todo para as espécies eucarísticas e apenas narrando  a Última Ceia como um fato histórico [01:03:34]. Não se vê traços de assertividade em suas palavras. Este modo de consagrar pode ocasionar defeito na forma do sacramento como bem observa o teólogo moral Merbelbach em  sua “Summa Theologiae Moralis”:

“As Palavras da Consagração devem ser pronunciadas não apenas como se ditas por Cristo historicamente, narrativamente ou recitativamente, como propósito de narrar aquelas coisas que Cristo fez… mas elas devem também ser ditas assertivamente ou significativamente, com o propósito de imitar Cristo e aplicar as palavras ao que está presente [o pão e o vinho]”

O clima festivo que toma conta do ars celebrandi das missas da RCC, muitas vezes, é uma grave distração para o sacerdote que, no instante da consagração, não pronuncia das Palavras da Consagração com a seriedade que deveria pronunciar.

Do exposto, como é possível haver um avivamento católico quando se despreza quase que por completo a piedade litúrgica?

Digamos já a resposta: não é possível.

O avivamento por meio da piedade litúrgica é o que distingue especificamente o avivamento católico do protestante. Façamos a distinção.

Avivamento protestante: É orientado unicamente como uma forma de (1) “libertar os protestantes do imanenismo ateu ou experiências religiosas meramente individuais”, (2) ajudá-los a suportar as carências de uma vida sem os sacramentos da Igreja e (3) prepará-los para receber a Evangelização da Igreja (Evangelii Gaudium, 284). Ou seja, fora da Igreja Deus pode suscitar a religiosidade natural do ser humano para que a desgraça do mundo e das pessoas não seja completa. Não há orientação litúrgica desses avivamentos.

Avivamento católico: Toda a espiritualidade não-litúrgica está ordenada para a espiritualidade litúrgica, para que esta seja o principal motor de santificação dos fiéis. É isto o que ensina, novamente, a Sacrosanctum Concilium:

“A participação na sagrada Liturgia não esgota, todavia, a vida espiritual. O cristão, chamado a rezar em comum, deve entrar também no seu quarto para rezar a sós ao Pai, segundo ensina o Apóstolo, deve rezar sem cessar. E o mesmo Apóstolo nos ensina a trazer sempre no nosso corpo os sofrimentos da morte de Jesus, para que a sua vida se revele na nossa carne mortal. É essa a razão por que no Sacrifício da Missa pedimos ao Senhor que, tendo aceite a oblação da vítima espiritual, faça de nós uma «oferta eterna» a si consagrada.

São muito de recomendar os exercícios piedosos do povo cristão, desde que estejam em conformidade com as leis e as normas da Igreja, e especialmente quando se fazem por mandato da Sé Apostólica.

Gozam também de especial dignidade as práticas religiosas das Igrejas particulares, celebradas por mandato dos Bispos e segundo os costumes ou os livros legitimamente aprovados.

Importa, porém, ordenar essas práticas tendo em conta os tempos litúrgicos, de modo que se harmonizem com a sagrada Liturgia, de certo modo derivem dela, e a ela, que por sua natureza é muito superior, conduzam o povo.” (n. 12-13)

São Pio X em Tra Le Sollicitude também ensinou que, para o renascimento do espírito cristão no mundo, seria necessário promover a piedade litúrgica:

“Sendo de fato nosso vivíssimo desejo que o espírito cristão refloresça em tudo e se mantenha em todos os fiéis, é necessário prover antes de mais nada à santidade e dignidade do templo, onde os fiéis se reúnem precisamente para haurirem esse espírito da sua primária e indispensável fonte: a participação ativa nos sacrossantos mistérios e na oração pública e solene da Igreja.”

Portanto, uma avivamento católico cheio de pregações, orações e louvor devem suscitar maior piedade litúrgica. Se não houver este resultado, o avivamento simplesmente não é verdadeiro.

Sabe-se que o PHN não é conhecido pela dignidade das missas, mas por reunir figuras conhecidas do meio carismático para shows e pregações, não sendo muito diferente em essência dos retiros protestantes. Assim, não é irrazoável concluir que o sucesso do PHN se dê principalmente enquanto espetáculo para massas e não propriamente pela ação da graça divina.

A respeito, bem pontuou o filósofo Joathas Bello em suas redes sociais:

A efusividade do carismatismo, as grandes concentrações das JMJ’s, o sucesso dos “padres cantores”… nada disso é sinal de qualquer vitalidade católica.

Este tipo de manifestação é o de uma alegria exterior, que em muitos casos pode até não ser pecaminosa (carnal), mas que não é signo particular da alegria da conversão. Em si mesma, é só uma alegria explicável humanamente.

Que o conteúdo (do evento, das canções, da intenção psicológica ou subjetiva) sejam católicos não tem nada a ver com o ser uma expressão da alegria cristã propriamente dita. Em si mesma, essa expressões não são índice algum da Verdade do Catolicismo ou da presença do Espírito Santo.

O mesmo equívoco “exteriorista” se passa até com certos motivos da apologética clássica: a “rápida expansão” ou o “morrer pela causa” não são indícios de verdade alguma, à parte do contexto integral e dos motivos reais.

A Fé é uma “forma” interior de ser (a partir de um modo de entender e amar profunda e espiritualmente); ela tem de alcançar estas formas humanas exteriores, por óbvio, mas isto não se faz, por exemplo, com expressões “carismatistas” que justapõem às formas de alegria no mundo um teor católico meramente lógico e imaginado (não transformante da mente e do coração).

Do mesmíssimo modo que, por exemplo, um fiel do Opus Dei (ou qualquer católico) não “santifica o trabalho” só por fazer sucesso ou cumprir tecnicamente bem sua tarefa e justapor uma intenção psicológica católica ao que faz; mas o santifica apenas e tão somente se o cumpre como penitência, sem ambição de riqueza, para colaborar com sua casa e o próximo mais do que com “o desenvolvimento da humanidade” (sic) etc. 

Ou seja, nunca se é católico simplesmente juntando um conteúdo cristão ao que já se faz (entenda-se, que não seja pecado objetivo, obviamente), mas somente mudando essencialmente a forma espiritual que anima a atividade exterior. 

E como o lugar por excelência para aprender a forma interior católica é o culto, a ideia de “adaptá-lo ao homem moderno” (que é  essencialmente “homem exterior”) é uma tragédia anunciada.

Para aprender a ser católico “por dentro” temos que aprender a adorar retamente como os santos de todos os tempos. Nos santos do nosso tempo, o “nosso tempo” é acidental. Ele não pode refluir sobre a forma celebrativa, excluir a atitude contemplativa e o espírito expiatório, mas tem de ser interiormente modificado desde a posse da Fé interior de sempre.

Por isso, a principal tarefa pastoral católica é a preservação e expansão da Missa Romana Tradicional e do Canto Gregoriano.

Estamos dizendo com isso que Deus nunca suscita outras formas de avivamento além do litúrgico? Não. Arguimos que todos os avivamentos autênticos dentro da Igreja devem reforçar a piedade litúrgica.

Por que o Movimento Litúrgico na sua fase final não foi um avivamento autêntico dentro da Igreja? Porque ele desembocou na Revolução e na impiedade litúrgica.

Por que o PHN não é um avivamento autêntico? Porque todos os anos ele acontece, mas em nenhum há um sacerdote que se digne a realizar uma única missa de acordo com as normas e a Tradição litúrgica da Igreja.

Como pode ser verdadeiro um avivamento, se ele não se orienta pela principal fonte de santificação da Igreja, a Liturgia?

Impossível.

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