O discurso do presidente Jair Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU no último dia 24 provocou reações incrivelmente díspares. Não. Não me refiro à repercussão do discurso na grande mídia nem à sua recepção por chefes de Estado e outros representantes políticos das nações. Estou falando da sua repercussão dentro da Igreja, no meio dito católico, onde deveria ser habitual avaliar tudo “não pela aparência, mas conforme a reta justiça” (S. João VII, 24). Enquanto muitos católicos o celebraram como uma intrépida defesa da soberania nacional e de louváveis valores cristãos, como fez o Príncipe Dom Bertrand de Orlans e Bragança, outros execraram o discurso como um ataque aos direitos humanos e até ao futuro da humanidade ou, no mínimo, como um desastre diplomático.
A revista eletrônica do Instituto Humanitas Unisinos (IHU) reproduziu na íntegra um artigo publicado no site do jornal Brasil de Fato, órgão informativo ligado ao MST, à Comissão Pastoral da Terra e ao Partido dos Trabalhadores, com trechos de uma entrevista do ex-ministro Rubens Ricupero ao jornal O Estado de São Paulo. Nos trechos destacados pelo site, Ricupero dispara que o discurso de Bolsonaro foi nada menos que “o mais desastroso” de todos os discursos já proferidos na Assembleia Geral da ONU, asseverando que a fala do líder brasileiro “confirma o que há de pior” e que ele “desperdiçou o único trunfo que o Brasil tinha”, que seria sua “diplomacia proativa em matéria ambiental”. A revista eletrônica do IHU é tida como um portal informativo de referência para a Teologia da Libertação no Brasil e está vinculada a uma importante universidade jesuíta sediada na região metropolitana de Porto Alegre/RS.
Já o site do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), organismo vinculado à CNBB, trouxe nesta quinta, 26, as reações emotivas e injuriadas de um cacique da etnia caiapó citado pelo presidente quando fez alusão a líderes indígenas que são usados como “peças de manobra” por governos estrangeiros que fazem “guerra informacional” para “avançar seus interesses na Amazônia”. No artigo, o órgão CNBBista tratou as declarações do presidente como ataques pessoais ao cacique Raoni e a todos os indígenas. O CIMI também não deixou de louvar a ruidosa homenagem que parlamentares de partidos como PT e PSOL fizeram ao cacique na Câmara dos Deputados, em afetada reação de protesto contra Bolsonaro, e também sublinharam a recepção do líder caiapó pelo presidente da casa, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ).
O bispo que preside o CIMI, Dom Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho/RO, falou de “agressividade”, “sentimento preconceituoso” e “racismo” no discurso do presidente, sugerindo que suas palavras incitam violência contra os indígenas. Em nota oficial, o prelado manifestou repúdio pelas declarações do chefe de Estado do Brasil e solidariedade aos povos supostamente agredidos. Nas redes sociais, diversos leigos identificados com a “ala progressista” da Igreja também atacaram o discurso do presidente.
Mas o que é particularmente interessante na reação da “esquerda católica” ao discurso presidencial?
É que no discurso não há absolutamente nada que se poderia acusar de “xenofóbico”, “homofóbico”, “machista”, “sexista”, “fascista”, ou mesmo “antiambientalista”, “etnocêntrico”, “supremacista”, etc., etc., etc. Em seu pronunciamento, Bolsonaro não defendeu o irrestrito desmatamento da Amazônia em prol do desenvolvimento econômico. Ao contrário, enfatizou o seu “compromisso solene com a preservação do meio ambiente” e com o “desenvolvimento sustentável”.
Quanto aos povos indígenas, o presidente não pregou o extermínio ou a supressão das liberdades fundamentais de nenhum deles, mas até advogou pelo direito dos índios à sua autodeterminação (inclusive pelo direito de não serem manipulados e usados como “peças de manobra”). Afirmou ainda que “se preocupa com aqueles que estavam lá antes da chegada dos portugueses” e indicou que eles também têm direito ao desenvolvimento de suas comunidades, enaltecendo ainda as “tradições”, “costumes” e “formas de ver o mundo” daqueles povos.
Do ponto de vista católico, apenas estas loas do presidente às primitivas peculiaridades culturais dos nativos poderia ser criticada, já que nós cremos profundamente que o Evangelho deve plasmar e redimir todas as culturas, fertilizando-as com a Verdade e o Amor de Cristo e purificando-as de crenças e costumes degradantes e/ou pagãos. Porém, não foi esse ponto do discurso que a “ala progressista” pôs em questão. Até porque grande parte dela é inacreditavelmente favorável à permanência daqueles povos no paganismo, como vimos em artigo anterior.
Em linhas gerais, o pronunciamento não teve, do ponto de vista cristão, nada de condenável em si. Ali foi dita apenas a verdade dos fatos, nua e crua, exposta sem aquela linguagem politicamente correta, sem aqueles clichês que giram em torno de “fome”, “pobreza”, “injustiça social”, “desigualdade” e outros lugares comuns que, em gestões anteriores, sempre fizeram sucesso na ONU e na grande mídia, apesar da vacuidade moral e da hipocrisia de quem os proferia.
Como sublinhou Dom Bertrand, Bolsonaro ainda teve a coragem de erguer o broquel de princípios cristãos há muito menosprezados na ONU, mas desde sempre defendidos pela Santa Igreja e por todo cristão digno desse nome: a integridade da família, a dignidade humana, a condenação ao totalitarismo socialista e o repúdio à corrupção da infância.
Não obstante, mesmo não havendo absolutamente nada de realmente condenável, mas até muita coisa de elogiável no discurso, há “progressistas católicos” esperneando incrivelmente! Eles odeiam um discurso que simplesmente não dá pra rotular de “fascista”, “nazista”, “machista” ou “homofóbico”, mas ainda assim o odeiam com todas as forças.
E por que?
Ora, porque ele expõe a verdade! Simplesmente por isso. Assim, mediante essa reação de hostilidade desproporcional, eles mesmos se expõem, mostrando que o que eles odeiam, no fundo, não é o “machismo”, a “homofobia” e o “fascismo”, como davam a entender, por exemplo, no processo eleitoral. Odeiam, isto sim, que a realidade das coisas venha à tona, odeiam que o bem, a justiça, a moral cristã legítima e a verdade prevaleçam. Ou odeiam que a estultice daqueles que sempre apoiaram a podridão da esquerda seja escancarada, desmascarada, desnudada diante do mundo inteiro! Odeiam, enfim, que o Brasil tenha saído de um tétrico ciclo vicioso, de uma escalada de caos e autodestruição com a esquerda no poder, para entrar numa senda mais propícia à ordem moral e num processo mais favorável ao desenvolvimento do país no sentido de uma prosperidade mais estável e duradoura.
Não sabemos se o governo Bolsonaro irá entregar tudo o que foi prometido na campanha ou o quão fiel ele será pelo menos aos genéricos princípios cristãos que diz representar. É notório que o reinado social de Cristo Rei que almejamos dificilmente virá desta gestão, que se manifesta ainda débil e acomodatícia na defesa de certos princípios morais perante os outros poderes da república. Mas reconhecemos que houve no seu mandato, sim, uma substancial melhora, não só no discurso oficial, mas também nas diretrizes políticas e nas definições das prioridades de diversos ministérios, secretarias e agências do governo, embora muito aquém do que gostaríamos.
Porém, não importa que até o fim da gestão Bolsonaro o nosso IDH e outros índices positivos possam subir consideravelmente. A sinistra “ala progressista” continuará odiando o fato de haver um homem avesso ao comunismo na presidência e continuará saudosa do caos, da imoralidade e da decadência socialista! E o mais difícil de engolir é que os membros desta “ala” continuarão se passando por “católicos”. Melhor se diriam “caóticos“, como Dom Eusébio Scheid classificava o ex-mandatário hoje condenado e preso em nossa querida urbe.