Hoje a Igreja recorda o testemunho de São João Maria Vianney, o “Cura de Ars”, que é o santo padroeiro dos párocos.
João Vianney nasceu em 1786, apenas dois anos antes do arroubo revolucionário varrer a França. A Revolução Francesa significaria o fim da cultura católica que perdurava há séculos.
Em 1790, foram promulgadas leis que essencialmente tornaram a prática da fé católica ilegal. Uma igreja pseudo-católica patrocinada pelo Estado foi estabelecida, mas isso era mais um ministério do governo do que de Cristo. Seu propósito era fazer bons cidadãos, não gerar santidade cristã. Era um simulacro da Igreja, em vez da real.
A prática da Fé da Igreja tornou-se subterrânea, e João Vianney acompanhou-a. Com a maior parte do clero exilado ou preso, ele trabalhou com os fiéis católicos que permaneceram, principalmente leigos, para evangelizar e catequizar o melhor que pudessem, sabendo que suas ações os tornavam traidores e inimigos do Estado francês.
O governo revolucionário da França deu lugar à tirania de Napoleão, e em 1809, João Vianney foi convocado para o exército de Napoleão. Mas sua consciência não lhe permitia apoiar a luta em nome de um poder que ele acreditava que se opunha a Cristo, e assim ele deixou o exército antes que este pudesse ser arregimentado.
No ano de 1812, ele entrou no seminário e foi ordenado sacerdote no ano de 1815. Em 1818, João Vianney foi enviado por seu bispo para a paróquia de Ars, um lugar abandonado com uns 230 habitantes. O lugar era basicamente uma vila em ruínas. Seu bispo lhe disse que “há pouco amor a Deus naquela paróquia; você terá que incuti-lo lá”.
Foi o que ele fez. Em 1855, quatro anos antes da morte de João Vianney, cerca de 20.000 peregrinos se reuniram em Ars na esperança de apenas ter um vislumbre do santo sacerdote.
João Vianney foi canonizado como santo pelo Papa Pio XI em 1925.
O que podemos aprender com a sua vida?
Na minha experiência limitada, há duas abordagens que caracterizam a forma como os párocos podem viver a sua vocação – uma orientada para a administrativa e outra para a vida ascética ou atlética.
A abordagem administrativa favorece as formas estruturais e institucionais de vida paroquial, enfatizando a manutenção de edifícios e terrenos. Essas coisas são valiosas, mas a grande fraqueza dessa abordagem é que, por ela, não se conhece a Cristo, pretendendo-se alguém ser seu discípulo simplesmente porque se habita estruturas baseadas na fé ou se matricula através de instituições.
Uma das duras lições que a Igreja enfrentou na esteira de 1789 (e até hoje!) foi precisamente esta. Ela vinha sendo tão enfatizada como uma entidade administrativa que, quando uma crise veio – uma que privou a Igreja de suas estruturas -, a Igreja quase entrou em colapso. Aqueles padres que estavam tão imersos na administração mostraram-se mal equipados para lidar com a situação e a Igreja quase desapareceu da França.
A outra abordagem sacerdotal é aquela assumida por João Vianney – o atlético ou asceta. Esta abordagem coloca uma ênfase não tanto na administração das estruturas e dos edifícios, mas no anúncio do Evangelho, no encontro com o Cristo que leva à conversão e às práticas singulares da vida cristã.
A abordagem atlética exige que um padre se acostume com as agruras, as dificuldades e o desapontamento. Implica uma vida de sacrifício e atende às exigências da missão com uma abertura ao que o Senhor quer, mesmo que se surpreenda com o que o Senhor lhe pede para fazer.
Não é como se a administração fosse desnecessária ou inútil, mas sim a consciência de que o primeiro passo em termos de esforços para servir a missão da Igreja não é este.
A administração de estruturas sempre surge em decorrência da abordagem atlética / ascética, mas não pode pretender tomar a frente desta. Primeiro as pessoas devem conhecer o Senhor Jesus, e só depois saberão o que o Senhor quer que elas construam e façam. E tudo o que as pessoas constroem e fazem deve estar sempre a serviço da missão que Cristo dá, não de causas ou ideologias que nós elaboramos para nós mesmos.
Possa São João Maria Vianney interceder por nós e ajudar-nos a compreender que não só os sacerdotes da Igreja, mas todos os fiéis de Cristo podem servir melhor a missão que Ele dá à sua Igreja.
Fonte: World on Fire