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O terreno fértil para o massacre aos católicos: o retrato do Chile em chamas.

Por Rodrigo Müller do Valle

O terrível acontecimento que, hoje, chocou a Cristandade foi a destruição da Igreja da Assunção no Chile. Os responsáveis pelas atrocidades cometidas contra o catolicismo, novamente, foram os sectos progressistas marcusianos que, desde o ano passado, articulam protestos para a mudança da constituição e implementação de uma agenda abortista, anti-católica, laica e liberal. À medida que o plebiscito se aproxima, os movimentos esquerdistas tendem a ficarem mais articulados e realizarem protestos semelhantes aos que aconteceram no dia 18 de outubro de 2019. Apesar de ser um evento catastrófico para a Cristandade, esse ato é mais um ingrediente de todo o processo de afastamento da fé pelo qual passa o Chile.

O crescimento da esquerda latino-americana acontece, de forma mais intensa, a partir da década de 1950. Anteriormente, o que se tinha era a formação de alguns partidos comunistas e tentativas malogradas de se tornar o poder. Isso pode ser visto em casos no Brasil, com a fundação do Partido Comunista Brasileiro (PCB), em 1922 e na tentativa frustrada de Luiz Carlos Prestes em realizar um levante contra o governo constitucional do maçom Getúlio Vargas, em 1935, no episódio da Intentona Comunista. No Chile, os marxistas fundaram o partido, também, em 1922, porém os comunistas não lograram êxito em fazer com que o comunismo fosse implementado no país, apesar da década de 1930 e 1940 serem bastante tumultuadas.

Como o progressismo funciona de forma dialética e o Chile, desde 1910, constitui-se de uma república liberal maçônica, houve uma nova abordagem no processo de implementação de uma cultura anticristã e revolucionária no país. Em primeiro lugar, a esquerda moderada chega ao poder, em 1938, e começa a implementar um projeto industrialista de poder, contando com o suporte dos liberais e grandes empresários do país. Como consequência, o país começa a sair da crise econômica que, desde a Crise de 1929, assolava as exportações chilenas. Assim sendo, um país majoritariamente extrativista e rural passa pela urbanização e Santiago experimenta um boom demográfico, chegando a ter 1 milhão de habitantes no início de 1941.

À medida que a cidade cresce e enriquece, a cultura burguesa e progressista começa a tomar lugar. Nesse momento, surge dois grandes poetas chilenos que vão ditar a cultura do país: Vicente Huidobro e Augusto D’Halmar. Com base nas vanguardas europeias, esses dois escritores difundiram as ideias naturalistas, darwinistas e comunistas em toda a capital chilena. Para a implementação do projeto educacional, o governo de Pedro Aguirre Cerda fez uma grande transformação curricular, acabando com a necessidade de ensino católico nas escolas, fim do apoio à Santa Igreja Católica e colocando um currículo de matriz liberal para dar apoio ao projeto industrialista do país. Assim sendo, as bases estavam sedimentadas para que, após a Segunda Guerra Mundial, o Chile entrasse na última onda revolucionária: o marcusianismo.

No contexto de Guerra Fria, a política chilena passa a ser vista em dois eixos: apoio ao EUA ou manutenção de neutralidade e liberdade de ação. Em um primeiro momento, o governo de Gonzales Videla era composto por marxistas e trotskistas, fazendo com que os EUA pressionassem o presidente chileno para a mudança de orientação. Nesse sentido, Videla realiza uma mudança drástica e passa a perseguir os antigos aliados, levando os sindicados a realizarem greves e pararem o país. Como consequência, o Partido Comunista é jogado na ilegalidade e a luta passa para outro campo de batalha.

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Na década de 1950, o presidente Carlos Ibañez de Campo tenta acalmar a situação dos sindicatos, fazendo com que seja possível a criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e tenta cooptar antigos comunistas. No entanto, o processo de consolidação de um projeto nacionalista-socialista naufraga, pois o processo de Substituição de Importações (PSI) não consegue recuperar o dinamismo econômico. Como consequência, o Chile é obrigado a tomar medidas econômicas liberais, impostas pelos EUA, em troca de dólares para a solvência do país. Assim sendo, o projeto progressista precisa encontrar novas formas de atuação.

Assim como no Brasil, as ideias progressistas começam a ganhar corpo na academia. Os marxistas tomam a Federação de Estudantes da Universidade do Chile, organização fundada em 1906, e passam a propagar os discursos da Escola de Frankfurt que, entre os anos 1950-1960 estava no seu auge, principalmente com a elaboração da Teoria Crítica. O progressismo toma conta de todas as universidades, inclusive na Pontifícia Universidade Católica do Chile. O movimento estudantil, então, passa a demandar diversas reformas na Universidade Católica do Chile e, na segunda metade da década de 1960, com as forças progressistas estabelecidas no Concílio Vaticano II, acontece uma série de debates sobre o futuro universitário.

É dentro desse contexto da década de 1960 que Salvador Allende começa a ganhar força dentro das universidades, da mídia e de setores mais à esquerda. Nesse sentido, a população chilena que, naquele momento, detinha devoção católica, passou a apoiar os liberais e o centro democrático. Nesse sentido, observa-se o crescimento do Partido Democrata Cristão, porém esse partido não tem compromisso com a Doutrina Social da Igreja, mas se baseia, em seus fundamentos, numa posição defendida por Jacques Maritain e aqueles que querem conciliar o estado moderno com a Sã Doutrina. É, portanto, ineficaz para conter o avanço progressista.

O governo do Partido Democrata Cristão consegue o poder, em 1965, porém passa a sofrer graves problemas nos primeiros anos. Em primeiro lugar, o partido começa a rachar entre os apoiadores da Teologia da Libertação e os partidários do Americanismo, uma heresia combatida pelo Papa Leão XIII na Carta Apostólica Testem Benevolentiae, de 1899. Nesse sentido, observa-se que os católicos estavam sofrendo os problemas da falta de formação e a tentativa de conciliação com o modernismo gerou a incapacidade de combater a propagação da esquerda no país. Esse era o quadro que se colocava dentro do grande partido católico às portas dos anos mais intensos da política chilena.

Entre os anos de 1967-1968, o Chile passa por grandes protestos e a convulsão social é intensa. Em primeiro lugar, os progressistas conseguem a Reforma Universitária. Assim sendo, a primeira grande mudança foi na escolha dos reitores de todas as universidades católicas do país. O Estado Liberal aprovou uma mudança na constituição que dava a primazia na escolha para o voto democrático e não pela hierarquia da Santa Igreja. Além disso, os radicais de esquerda se aproveitaram da Teologia da Libertação para infiltrar o programa revolucionário. Em 1968, os movimentos estudantis conseguiram os seus objetivos e, na esteira de Maio de 1968, fizeram a grande revolução educacional no país,

Esse movimento fez com que as universidades tivessem terreno fértil para a propagação de ideias contrárias ao cristianismo e ao tradicionalismo. É preciso salientar, no entanto, que os católicos tradicionais se organizaram para fazer frente a essas mudanças no movimento “gremialista”. Inspirados em Francisco Franco e Salazar, esses católicos queriam a defesa do Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo e conseguiram impedir que a Universidade Católica tivesse caminho livre para a esquerda.

No entanto, o final da década de 1960 foi dominado pela esquerda que conseguiu emplacar Salvador Allende como presidente do país, inaugurando o Governo de La Unidad Popular (GUP). À medida que o governo avança e que as medidas socialistas são implementadas pelo governo de esquerda, uma aliança contrária passa a se organizar, envolvendo os EUA, grupos conservadores e a atuação de padres tradicionais. A situação no Chile passa a se agravar, inclusive pela nacionalização de empresas multinacionais e de intervenção na constituição e, como consequência, as forças armadas são obrigadas a atuar. Em 1973, Augusto Pinochet toma o Palácio de La Moneda e assim tem-se início ao período militar no país.

O regime militar de Augusto Pinochet (1973-1990) é marcado pela tentativa de desenvolvimento econômico liberal, aos moldes da Escola de Chicago. Nesse sentido, houve um grande processo de privatizações e, ao mesmo tempo, liberdade econômica. No entanto, toda a cultura foi deixada de lado, sendo que, nas universidades houve a privatização e a intervenção, por meio do governo, na escolha dos reitores. Assim sendo, o regime de Pinochet, recheado de maçons, conseguiu colocar os seus principais intelectuais nas universidades. Do ponto de vista político, o governo foi responsável por atrocidades que incentivaram a revolta da esquerda. No período final, o governo de Pinochet estava completamente desmoralizado e, em 1987, durante a visita de São João Paulo II ao país, o Papa orientou para que Pinochet ouvisse os líderes católicos para iniciar um processo de transição, mas não foi o que o líder chileno fez.

Assim sendo, a década de 1990 foi de transição para um regime liberal-democrático. Os governos de Patrício Aylwin, Eduardo Frei Ruiz-Tegle e Ricardo Lagos foram responsáveis pela abertura política, pelo crescimento do progressismo e pela preparação para volta do socialismo no país. Em 2006, o projeto estava todo consolidado, uma vez que Michele Bachelet assume o poder e passa, claramente, a defender as pautas identitárias, abortistas e um discurso anticatólico. É importante notar que Bachelet foi formada pelos quadros dos globalistas, obedecendo a agenda da ONU e dos grandes financiadores da agenda anticatólica.

Mesmo com o governo de Sebastian Piñera, em 2010, o avanço das agendas progressistas não foi interrompido, pelo contrário, o financiamento de diversas empresas multinacionais para a reconstrução do Chile, por conta do terremoto de 2011, fez com que o país precisasse garantir a penetração de ideologia de gênero na escola e acabasse com a proibição do aborto. O primeiro objetivo foi garantido, mas o aborto continua sendo proibido, graças a atuação da Santa Madre Igreja, principalmente nos grupos de leigos com profunda devoção Mariana.

Com a crise econômica chilena de 2015, ocasionada pelos escândalos de corrupção no segundo governo de Bachelet e pela falência do modelo da constituição, movimentos esquerdistas passaram a se articular e, desde 2019, iniciaram protestos em Santiago, Valparaíso e Viña del Mar. Esses movimentos, formados nas universidades, querem o fim de todo o traço católico no país. Nesse sentido, os rebeldes, desde o ano passado vem realizando ataques contra a Santa Madre Igreja e perseguindo os fiéis à Tradição. Hoje, mais um evento acontece no Chile e choca toda a Cristandade, mas esse é mais um evento na longa marcha de secularização do Chile.

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